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Coronavírus nos EUA: 3 mudanças drásticas causadas pela pandemia no país que chegou a 100 mil mortos:
Quando o novo coronavírus se expandiasilêncio nos Estados Unidos no início do ano, o crescimento econômico do país e o baixo índicedesemprego eram figuras-chave da campanhareeleição do presidente Donald Trump. Na época, ele havia firmado um acordo que encerrava a guerra comercial com a China, algo aguardado há tempos.
Mas aquele panoramameses atrás mudouforma radicalrazão da pandemia da covid-19 e do efeito devastador que ela causou nos Estados Unidos.
Na quarta-feira (27/05), o país ultrapassou a marca100 mil mortos pelo vírus, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.
É uma marca que nenhum outro país registroudecorrência do novo coronavírus até o momento. O dado é superior a outros episódios trágicos que marcaram a política nacional e internacional dos Estados Unidos na história recente.
O númeroóbitos por covid-19 no país é superior até mesmo à somamortostodas as tragédias recentes dos Estados Unidos: as guerras do Vietnã e da Coreia, os atentados11setembro2001Nova York eWashington, e o furacão Katrina,2005.
O Sars-Cov-2, nome oficial do novo coronavírus, e as medidas para enfrentá-lo estão alterando, ao menos temporariamente, o ritmograndes cidades dos EUA. Em Nova York, o epicentro das infecções no país, restaurantes, bares, teatros, cinemas e outros comércios que não são essenciais seguem fechados.
Assim como a pandemia alterou hábitos e costumes sociais, também transformou o cenário econômico, eleitoral erelações exteriores da nação mais rica e poderosa do planeta.
Abaixo, listamos três dessas mudanças mais drásticas dos últimos meses:
1. Colapso econômico e aumento do desemprego
O coronavírus forçou um giro180 graus na economia americana,especial nos empregos.
Até os dois primeiros meses2020, os Estados Unidos passavam por seu melhor cicloexpansão econômica dos últimos anos. Em fevereiro, a taxadesemprego no país estavaumseus níveis mais baixos das últimas décadas: 3,5%.
Então, surgiu a pandemia do novo coronavírus. Os americanos tiveramficarsuas casas para reduzir a propagação do vírus e a economia do país encolheu 4,8% no primeiro trimestre do ano.
Para diversos economistas, o segundo trimestre2020 trará uma queda de, aproximadamente, 30% no PIB. É a pior marca desde a Grande Depressão, após o crash da bolsa1929.
A taxadesemprego no país disparou para 14,7%abril e, segundo especialistas, segue crescendo. Desde meadosmarço, mais40 milhõespessoas recorreram ao seguro-desemprego, conforme dados oficiais.
"Este momento é único,razão da parada repentinatodos os tiposatividades econômicas. Em geral, as crises econômicas começam no sistema financeiro e se expandem a outras partes da economia. Desta vez, porém, todos os setores da economia sofreram, principalmente a áreaserviços, que é uma grande parte da economia americana", diz Jonathan Levy, especialistahistória econômica na UniversidadeChicago.
Levy acrescenta que,comparação a outros países, os Estados Unidos têm a vantagemque o dólar é a moeda mais buscadamomentoscrises.
Mas o especialista ressalta que a situação sanitária dos Estados Unidos é um fator que prejudica o paísrelação a outras nações.
"Em muitos aspectos, talveztodos, os Estados Unidos estão piores e isso tem um impacto terrível nas atividades econômicas gerais do país", diz Levy à BBC News Mundo, serviçoespanhol da BBC.
Agora que as atividades começam a ser reabertas, fica a pergunta: quanto tempo a economia americana demorará para se recuperar?
A resposta dependefatores que ainda são incertos, como o tempo que o coronavírus seguirá presente, se haverá uma segunda ondainfecções, se a população será imunizadarazão do contágio ou por uma nova vacina e quanto o governo será eficazreduzir as crises sanitária e econômica.
Os assessores da Casa Branca admitem que é possível que a taxadesemprego continuedois dígitos até novembro.
2. Novo cenário eleitoral
Antes da crise do coronavírus, Trump parecia ter acampanha eleitoral bem encaminhada para as eleiçõesnovembro, quando buscará a reeleição.
Na época, a situação econômica e os índicesemprego eram favoráveis para o presidente, e a isso se somava a absolviçãoTrump no processoimpechament que enfrentava no Senado por abusopoder, no iníciofevereiro.
Mas a covid-19 destruiu os índices econômicos que o presidente sempre ressaltava como uma das grandes conquistassua gestão.
Além disso, a pandemia também causou uma ondacríticas a Trump porresposta tardia e errada à crise sanitária, situação que havia sido apontada por especialistas do governo antes do início da pandemia.
Quando a covid-19 já se propagava pelos Estados Unidos, Trump previu, no finalfevereiro, que o vírus iria desaparecer como se fosse um "milagre".
Em 10abril, ele logo descartou que o país pudesse chegar ao trágico recorde que alcançou. "Parece que teremos um número (de mortes) substancialmente inferior a 100 mil", disse.
A postura adotada pelo presidentemeio à pandemia deu muita munição para a oposição democrata, que agora tem o ex-vice-presidente Joe Biden como principal pré-candidato. Atualmente, o adversário aparece à frenteTrumpalgumas pesquisas eleitorais.
Assim, os Estados Unidos se encaminham para uma eleição muito diferente do que se imaginava até o início do ano.
"De alguma maneira, a pandemia mudou drasticamente a campanha, já que os candidatos não estão viajando pelo país, não estão organizando manifestações e é possível que nem possam celebrar as convençõesnomeação (que oficializam os candidatos)", afirma Alan Abramowitz, estudiosopolítica da Universidade Emory e autorlivros sobre eleições nos EUA e a ascensãoTrump.
O especialista acrescenta que, ao contrário do que aconteceumuitos países durante a pandemia, o presidente não teve uma melhora sustentadaseus índicesaprovação nos EUA, que estão abaixo dos 50%, como antes da crise.
"(Trump) não está ganhando terreno. Ele não está expandindocoalizão e pode estar fazendo que parte dela acabe se afastando, principalmente os eleitores mais velhos", relata Abramowitz à BBC News Mundo. "Ele está um pouco mais fraco", declara o especialista.
Porém, o estudioso declara que ainda está longe para assegurar a vitória dos democratas.
"Continua sendo uma eleição acirrada e incerta. (Trump) tem tempo para se recuperar", diz.
3. Enfrentamento com a China
A pandemia também elevou a tensão entre os Estados Unidos e a China ao seu maior nível desde que os dois países normalizaram suas relações, quatro décadas atrás, apontam especialistas.
À medidaque cresceram as críticas pelo modo como conduziu a crise sanitária nos EUA, Trump acusou a Chinafalhar na contenção do início do coronavírusseu território, onde foram registrados os primeiros casoscovid-19 no mundo, no fim2019.
Estrategistas do Partido RepublicanoTrump estimam que isso pode favorecer as possibilidadesreeleição do presidente, pois pesquisas apontam que os americanos veem a Chinaforma cada vez mais negativa.
Mas também há indíciosque a tensão entre as maiores economias do mundo pode trazer graves riscos.
"O propósito dos EUA neste momento é usar essa crise para criar uma nova Guerra Fria intencionalmente", disse o economista estadunidense Jeffrey Sachsuma recente entrevista à BBC News Mundo. "É uma situação perigosa e ridícula."
A China reagiu às declaraçõesTrump e acusou os Estados Unidospromover "conspirações e mentiras" sobre o vírus.
Outro pontotensão recente entre os dois países foi a decisão do presidente chinês, Xi Jinping,adotar uma leisegurança nacionalHong Kong,meio à crise — a medida é duramente criticada, pois especialistas dizem que ela acabará com a autonomia da região, que foi cenáriodiversas manifestações pró-democracia no ano passado.
Alguns especialistas acreditam que a pandemia acelerou a concorrência que os EUA e a China possuíamáreas como comércio, tecnologia e capacidade militar.
De toda forma, o imbróglio atual entre as duas potências contrasta com os presságiosuma nova relação bilateral que havia sido firmada com a trégua na guerra comercialjaneiro, justamente quando o vírus começava a dar a volta pelo mundo.
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