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Coronavírus: 'O presidente revelou meu diagnósticobethhhcovid-19 ao vivo na TV':bethhh
O anúncio, realizado na frentebethhhrepórteres do ladobethhhfora do palácio presidencial, confirmou que o coronavírus havia chegado à Indonésia.
'Soco no estômago'
Exibida nas telasbethhhTV do hospital, a declaração do presidente deixou Tyasutami ebethhhmãe incrédulas. Widodo estava falando sobre duas pacientes no mesmo hospital onde estavam, exatamente com seus perfis, idade, sintomas e históricobethhhcontatos.
Mas o presidente não informou a identidade das mulheres.
Com uma pulga atrás da orelha, Tyasutami perguntou a uma enfermeira se o hospital estava tratando outros pacientes com suspeitabethhhcoronavírus. Quando a enfermeira disse que não, sentiu como se tivesse recebido um soco no estômago.
Ela e a mãe haviam acabadobethhhserem descritas como os dois primeiros casos confirmados do novo coronavírus na Indonésia. "Fiquei confusa, fiquei com raiva, fiquei triste", conta Tyasutami à BBC. "Não sabia o que fazer porque a notícia estava por toda a parte".
Antesbethhhseu diagnóstico, Tyasutami era dançarina profissional, gerentebethhhartes cênicas, irmã, filha e amiga. Depois, diz ela,bethhhidentidade foi reduzida a um rótulo humilhante: o primeiro caso. Seus prontuários médicos vazaram. Os detalhes do seu caso foram deturpados. Falsos rumores se espalharam nas redes sociais.
Em questãobethhhhoras, ela se tornou o rosto do surtobethhhcoronavírus na Indonésia.
bethhh Os bethhh primeiros bethhh sintomas
Tudo começou com uma coceira na garganta.
Tyasutami ignorou o sintoma. Não havia com que se preocupar, pensou ela. Então, na manhãbethhh17bethhhfevereiro, Tyasutami acordou sentindo-se muito mal.
Sua mãe, Darmaningsih, professorabethhhdança no InstitutobethhhArtesbethhhJacarta (JIA), havia adoecido no fimbethhhsemana. A saúdebethhhDarmaningsih piorou após uma apresentaçãobethhh23bethhhfevereiro, deixando-a "muito doente".
Na ocasião, Darmaningsih e Tyasutami fizeram um check-up médico no hospital localbethhhDepok, nos arredoresbethhhJacarta.
Inicialmente, o médico diagnosticou Darmaningsih com tifo - uma doença bacteriana transmitida por piolhos ou pulgas - e Tyasutami, com broncopneumonia.
"Solicitamos o teste do covid-19, mas nosso pedido foi rejeitado porque, na época, o hospital não tinha a estrutura adequada", diz Tyasutami.
Dias depois,bethhh27bethhhfevereiro, elas voltaram ao hospital e ali permaneceram. Os médicos não sabiam o patógeno que havia invadido seus corpos. Foi preciso uma dicabethhhuma amiga, 24 horas depois, para soar o alarme.
A amiga telefonou para Tyasutami para lhe dizer que havia participado do mesmo eventobethhhdança que uma japonesa que havia recebido diagnóstico positivo para covid-19.
Tyasutami entendeu a gravidade da situação.
"É por isso que insisti mais uma vez com o médico para fazer o teste", diz.
Os médicos, então, cederam. Ela e a mãe foram transferidas para o hospitalbethhhdoenças infecciosasbethhhSulianti Saroso,bethhhJacarta, onde foram submetidas a um teste para diagnosticar covid-19.
Tyasutami e Darmaningsih esperavam que um médico lhes informasse os resultados. Em vez disso, seus diagnósticos foram lidos pelo presidente Widodobethhh2bethhhmarço. Foi uma surpresa para elas tanto quanto para o país. Alguns dias se passaram antes que Tyasutami e Darmaningsih soubessem que,bethhhcasobethhhsurtobethhhdoença, o presidente deveria ser informado sobre isso, por lei.
Achmad Yurianto, porta-voz do governo indonésio, disse à BBC que não houve nadabethhherrado com o anúncio do presidente. Ele lembra que uma lei promulgadabethhh2009 determina que a privacidade do paciente não se aplica a questõesbethhhinteresse público.
Neste sentido, a declaraçãobethhhWidodo foi legal,bethhhacordo com o jurista Bivitri Susanti.
Mas foi a coisa certa a fazer, dada a proteção legal dos registros médicos? "Acho que não", diz Susanti.
Ataques online
Certo ou errado, o anúncio colocou os dois primeiros casosbethhhcoronavírus no país no centro das atenções. Em poucas horas, mensagens mostrando as iniciais, endereço completo e registros médicos do caso um (Tyasutami) e caso dois (Darmaningsih) vazaram e foram amplamente compartilhadas no WhatsApp.
A reação nas redes sociais e a disseminaçãobethhhinformações errôneas sobre suas vidas foram imediatas, cruéis e implacáveis.
"Eles atacaram Sita, culpando-a por levar o vírus para a Indonésia", diz à BBC a irmã mais velhabethhhTyasutami, Ratri Anindyajati. "Eles a culparam por perder o emprego ou por se separarbethhhsuas famílias. Eles questionaram como ela poderia parecer tão bonita depoisbethhhficar doente. Eles disseram que era uma farsa".
Tyasutami foi julgada publicamente, embora seja provável que a Indonésia já tivesse casosbethhhcoronavírus antesbethhh2bethhhmarço. O governo nega essa possibilidade. Mas, no iníciobethhhfevereiro, um estudo da UniversidadebethhhHarvard, nos Estados Unidos, indicou que poderia haver "casos não detectados" no país, que tem ligações estreitas com a China, onde o primeiro surto foi detectado.
Agora, a Indonésia é um dos países mais atingidos no sudeste da Ásia, com cercabethhh12 mil casos confirmados e quase 900 mortes até o momento. As origens da covid-19 na Indonésia podem nunca ser conhecidas. Os casos um e dois, no entanto, estão registrados.
"Antes do meu diagnóstico, tinha menosbethhh2 mil seguidores no Instagram", diz Tyasutami. "Não tinha ninguém me enviando mensagensbethhhódio. Em poucos dias (depois do meu diagnóstico), esse número subiu para 10 mil seguidores. As pessoas estavam comentando sobre tudo, especialmente fotos minhasbethhhroupasbethhhdança sexy e reveladoras".
'Me chamarambethhhprostituta'
Em 3bethhhmarço, o presidente Widodo pediu aos funcionários do hospital e do governo que respeitassem a privacidade dos pacientes com covid-19, mas, a essa altura, o dano já estava feito.
O vazamento deu o tom do que estava por vir. Comentários imprecisos do ministro da Saúde da Indonésia, Terawan Agus Putranto, pioraram ainda mais a situação.
Em uma entrevista a jornalistas no dia 2bethhhmarço, o ministro insinuou erroneamente que o caso 1 (Tyasutami) contraiu a doençabethhhum cidadão japonês , um "amigo íntimo", enquanto dançavabethhhuma boatebethhhJacarta.
"As pessoas me chamarambethhhprostituta", lembra Tyasutami. "Minha história foi distorcida tantas vezes. Foram feitas suposições sobre mim", acrescenta.
Questionado pela BBC, o ministro da Saúde da Indonésia não respondeu ao pedidobethhhentrevista.
Tyasutami disse que a mídia também deve assumir a responsabilidade pela maneira como seu diagnóstico foi relatado. "Existe essa culturabethhhculpar as vítimas", diz ela. Um grupobethhhliberdadebethhhimprensa, a Alliance of Independent Journalists, instou a mídia a evitar reportagens "sensacionalistas" e a respeitar a privacidade dos pacientesbethhhcovid-19. A mídia foi longe demais, segundo Tyasutami. Enquanto assistia à TV no hospital, ela podia ver repórteres "cercando"bethhhcasa.
Todos embethhhcasa tiveram que fazer o teste para covid-19, incluindobethhhirmã mais velha, Anindyajati. A gerente artísticabethhh33 anos, que vivebethhhViena, na Áustria, já estava doente e se recuperou depoisbethhhchegar à Indonésia para passar férias no iníciobethhhfevereiro.
O teste confirmou o que Anindyajati já suspeitava. Ela acabaria por se juntar àbethhhfamília no mesmo hospital e seria conhecida como o "caso três" do país.
Apesarbethhhalgumas complicações, as três se recuperaram.
No dia 13bethhhmarço, após 13 diasbethhhisolamento, Anindyajati e Tyasutami receberam alta do hospital. Foi um momentobethhhalegria misturada à tristeza, pois a mãe - que ainda não havia se recuperado completamente - teve que permanecer internada por mais três dias. Ela foi acompanhada à distância por suas filhas.
Eles disseram que a experiência mudou suas vidas para sempre. "Sinto que ganhei uma segunda chance para viver", diz Darmaningsi.
Elas têm apoiado famílias que não tiveram tanta sorte, oferecendo conselhos quando solicitados. Chegaram até a doar seu sangue a pesquisadores que estão estudando um possível tratamento para a covid-19.
Agora que o surto se espalhou, elas são apenas três das milharesbethhhpessoas cujas vidas foram viradasbethhhcabeça para baixo por causa da doença. Mas o estigma persiste.
Foram chamadas, por exemplo,bethhh"mulheres satânicas"bethhhuma mensagem alguns dias atrás, diz Tyasutami. Anindyajati tenta ignorar o ódio, concentrando-sebethhhseu bem-estar mental.
"Acreditamos que já houve muitos casos suspeitos", diz ela. "Quando nosso diagnóstico foi confirmado, pelo menos, ajudou o governo a tomar medidas".
Colaborou Resty Woro Yuniar, da BBC Indonésia
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