Apoio do governo, cotas e festivais: como a Coreia do Sul reinventou seu cinema e fez história no Oscar com 'Parasita':cornelius slot

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Legenda da foto, 'Parasita', do diretor Bong Joon-ho, ganhou quatro Oscars

O cinema sul-coreano não havia recebido até então uma única indicação sequer ao Oscar, apesarcornelius slotse reinventado a partir dos anos 1990, tornando-se um sucessocornelius slotbilheteria e crítica e conquistando prêmios nos mais importantes festivais do mundo.

O Oscar foi a formacornelius slotHollywood, após ter ignorado os filmes da Coreia do Sul por tanto tempo, finalmente reconhecercornelius slotqualidade, diz Marc Raymond, professor do Departamentocornelius slotComunicação da Universidade Kawngwoon,cornelius slotSeul, na Coreia do Sul.

"Parasita é um filme excelente, feito por uma indústria excelente. Era vergonhoso que nenhum filme sul-coreano tivesse sido ainda indicado ao Oscar. E,cornelius slotrepente, veio uma enxurradacornelius slotprêmios. Foi um reconhecimento dos trabalhos feitos há quase duas décadas pelo país", afirma Raymondcornelius slotentrevista à BBC News Brasil.

Ditadura militar e redemocratização

A Coreia do Sul começou a produzir seus primeiros filmes no começo do século 20, diz Raymond, ecornelius slotindústria atingiu um pontocornelius slotexcelência nos anos 1950, que podem ser considerados "uma eracornelius slotouro" do cinema no país. Apesarcornelius slotnão ter sido reconhecido internacionalmente na época, o movimento daquela década foi bem sucedido nacionalmente.

Em 1961, um golpe militar deu início a um longo períodocornelius slotditadura, que durou 26 anos e teve impacto bastante negativo sobre a indústria cinematográfica.

"A censura se instalou. Leis dificultavam a criaçãocornelius slotestúdios e restringiam a quantidadecornelius slotfilmes independentes e mais criativos que eram financiados e produzidos. Nos anos 1970, a qualidade caiu bastante, e, nos anos 1980, piorou ainda mais. Os filmes não eram populares nem entre os coreanos, que preferiam os estrangeiros", afirma Raymond.

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Legenda da foto, Longa sul-coreano foi o primeiro não faladocornelius slotinglês premiado como melhor filme

Um movimento amparado na crescente insatisfação popular com o regime militar levou à convocaçãocornelius sloteleições diretas e à restauraçãocornelius slotdireitos civiscornelius slot1987, quando teve início a redemocratização da Coreia do Sul.

Parte dos integrantes desse movimento pró-democracia ecornelius slotesquerda passaram a ter mais poder na sociedade e um interesse maior pelas artes e pelo cinema, explica Raymond.

"Estas pessoas buscaram criar um novo cinema nacional com filmes que tratam das questões sociais e políticas que ocorrem no país. Assim, o cinema sul-coreano cresceu gradualmente e ser tornou mais respeitado até que, no início do século 21, passou a fazer filmescornelius slotsucesso que competem domesticamente com Hollywood."

Incentivo público, cotas, investimento privado e festivais

Algumas medidas do governo contribuíram para transformar a produção cinematográfica sul-coreana. Uma das principais políticas foi um sistemacornelius slotcotas para filmes nacionais nos cinemas do país.

Criadocornelius slot1966, ainda durante o regime militar, o programa previa um mínimocornelius slotdiascornelius slotexibição para produções nacionais — a exigência foi progressivamente ampliada até atingir seu pico,cornelius slot146 dias,cornelius slot1985, dois anos antes do fim da ditadura e mantida neste patamar pelo regime democrático até 2006.

"Depois do período militar, também foram criados um conselho cinematográfico, uma academiacornelius slotcinema e um arquivo do cinema coreano, para uma valorização do cinema por meio do incentivo e financiamento público da produção, distribuição e exibiçãocornelius slotfilmes do país", diz Josmar Reyes, professor do cursocornelius slotRealização Audiovisual da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e pós-doutorandocornelius slotcinema sul-coreano na Universidade Sorbonne,cornelius slotParis.

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Legenda da foto, 'Oldboy' foi um dos primeiros filmes no cinema sul-coreano a se destacar desdecornelius slotretomada

Isso fez partecornelius slotuma política mais ampla do paíscornelius slotpromover a chamada "onda coreana", ou hallyu, ao investircornelius slotdiferentes setores do culturais do país, como música pop, quadrinhos, sériescornelius slotTV e novelas, além do cinema.

"É uma políticacornelius slotsoft power do governo para fazer com que a cultura coreana seja mais conhecida mundialmente e ampliar assim a influência do país sobre o que acontece no mundo", diz Cecília Mello, professoracornelius slotcinema da Escolacornelius slotComunicação e Artes da Universidadecornelius slotSão Paulo (USP).

Reyes também destaca o projetocornelius slotreforma educacional promovido pelo governo que, entre outras coisas, incluiu o cinema no currículo escolar. "Os alunos estudam cinema, é um assunto cobrado no vestibular, o acesso dos estudantes aos filmes é facilitado. Isso cria um público para o cinema e as artescornelius slotgeral", afirma o pesquisador.

A aberturacornelius slotescolas e cursoscornelius slotcinema a partir dos anos 1990 também teve um papel importante nesta reinvenção do cinema sul-coreano, ao promover uma mudança geracional na indústria.

"Hoje é mais comum as pessoas saírem dos cursos e já fazerem um filme,cornelius slotvezcornelius slotirem galgando postos até se tornarem diretores. Isso rejuvenesceu e revitalizou as produções da Coreia do Sul", diz Mello.

Com a popularização do cinema e o sucessocornelius slotbilheteriacornelius slotalguns filmes, grandes conglomeradores empresariais, como Samsung e Hyundai, passaram a investircornelius slotproduções cinematográficas ao perceber que eram negócios lucrativos.

Também houve um apoio relevante do poder público e da iniciativa privada para a criaçãocornelius slotfestivaiscornelius slotcinema locais, como ocornelius slotBusan, um dos mais importantes da Ásia atualmente.

"Estes festivais deram uma chance para os novos cineastas se desenvolverem e exibirem seus trabalhos e a elevar o patamar do cinema sul-coreano", diz Raymond.

Uma políticacornelius slotsucesso

Desde então, produções como Oldboy (2003), O Hospedeiro (2006), A Criada (2016) e Em Chamas (2018) se destacaram no mercado internacional, conquistaram prêmios e atraíram atenção para o cinema que é produzido na Coreia do Sul.

"Há no cinema sul-coreano uma conciliação entre o cinema mais comercial e aquele ditocornelius slotautor. O trabalhoscornelius slotBong Joon-ho são um grande exemplo disso. Ele e outros cineastas do país conseguem ser apreciados ao mesmo tempo pelo público mais geral e também aquele mais crítico e seletivo", diz Reyes.

Esta reinvenção foi tão bem sucedida que,cornelius slot2006, diantecornelius slotuma participaçãocornelius slotmaiscornelius slot50% das produções sul-coreanas no totalcornelius slotingressos vendidos no país — ecornelius slotuma pressão do governo americano para que houvesse mais espaço para as produçõescornelius slotHollywood nos cinemas sul-coreanos —, o limite mínimo do sistemacornelius slotcotas foi reduzido pela metade.

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Legenda da foto, Bong Joon-ho faz partecornelius slotuma levacornelius slotcineastas do país que concilia o cinema autoral com o comercial

"Ao menos um filme nacional é lançado por semana. Todos os anos, quando se olha os dez maiores sucessoscornelius slotbilheteria da Coreia do Sul, ao menos metade são filmes nacionais", diz Raymond.

Atualmente, afirma o pesquisador, a discussãocornelius slottorno das cotas no país não se dá mais entre filmes coreanos e estrangeiros, mas entre grandes lançamentos nacionais e filmes independentes.

"O objetivo é manter telas livres para produções menores. É uma tentativa da indústriacornelius slotse regular para garantir que haja diversidade e que novos talentos surjam."

Raymond diz que o exemplo sul-coreano deixa clara a importânciacornelius slotum país dar o apoio necessário para quecornelius slotindústria cinematográfica se fortaleça e consiga conquistar seu espaço globalmente. No entanto, a Coreia do Sul tem algumas características peculiares que tornam difícil replicar esse esforço.

"Talvez o mais difícil seja criar um público para o cinema. A Coreia do Sul é um país onde as pessoas não vivemcornelius slotcasas grandes e muitos jovens moram com os pais. Por isso, buscam ir para a rua para fazer alguma coisa, e o cinema se encaixa perfeitamente nisso. Não sei se ainda há sede pela experiência do cinemacornelius slotoutros países como aqui."

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