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Brexit: o que a União Europeia ganha com a saída do Reino Unido, seu integrante incômodo:sortudo 777
Após três anos e meio e muitas idas e vindas, o divórcio será finalmente consumado às 23h desta sexta-feira, 31sortudo 777janeiro (20h no horáriosortudo 777Brasília).
'Um pé dentro e um fora'
Inicialmente relutantesortudo 777fazer partesortudo 777uma instituição que integrava economicamente o Velho Continente, o Reino Unido finalmente ingressou na Comunidade Econômica Europeia (CEE), embrião da atual União Europeia,sortudo 7771973, 16 anos após ela ter sido criada com a assinatura do Tratadosortudo 777Roma,sortudo 7771957.
A decisão dos britânicos foi tomada quando a CEE passava por um boom econômico, enquanto a economia britânica estava estagnada.
A adesão não ocorreu sem percalços. Charles De Gaulle vetou dois pedidos feitos pelos britânicos,sortudo 7771961 e 1967. Mas apóssortudo 777renúncia à Presidência francesa,sortudo 7771969, o Reino Unido enviou um terceiro pedido, que acabou sendo aprovado.
Desde seus primeiros anos como membrosortudo 777pleno direito da CEE, o Reino Unido sempre manteve um pé dentro e outro fora.
Para muitos, os britânicos nunca acreditaram realmente na integração europeia completa pelo "euroceticismo" dasortudo 777classe política e seu povo.
Em 1985, os britânicos não aderiram ao Acordosortudo 777Schengen, que aboliu os controles nas fronteiras, nemsortudo 7771988 à União Econômica e Monetária (UEM), pela qual a maioria do bloco adotou o euro como moeda.
Além disso, apenas dois anos depoissortudo 777ingressar na então CEE, o Reino Unido realizou um plebiscito, o primeiro da história do país, sobresortudo 777permanência na instituição. Naquela época, a grande maioria da população apoiou a ideia.
Mas o amor dos britânicos pela Europa durou pouco.
'Quero meu dinheirosortudo 777volta'
Antessortudo 777se tornar primeira-ministra, Margaret Thatcher (1979-1990) promoveu uma maior integração econômica com o continente. Mas depoissortudo 777se tornar inquilina do número 10sortudo 777Downing Street (a residência oficial do premiêsortudo 777Londres), suas posições mudaram radicalmente.
Em 1980, a Damasortudo 777Ferro pediu à CEE para ajustar as contribuiçõessortudo 777seu país e ameaçou reter pagamentossortudo 777imposto sobre valor agregado se isso não acontecesse, com uma frase que marcou a História: "Queremos nosso dinheirosortudo 777volta".
"Seria um grande alívio se o Reino Unido deixasse a CEE", disse o então presidente grego da época, Andreas Papandreou, na tensa cúpulasortudo 777Fontainebleau,sortudo 7771984,sortudo 777que Thatcher finalmente alcançou seu objetivo.
Ela negociou o que seria chamadosortudo 777"cheque britânico", uma espéciesortudo 777reembolso — baseadosortudo 777um cálculo complexo — que o Reino Unido recebe da União Europeia.
Naquela época, o Reino Unido lutava para sairsortudo 777uma crise, mas era um dos países que mais contribuíam para o orçamento comunitário.
E maissortudo 777dois terços do orçamento europeu eram destinados à Política Agrícola Comum, da qual o Reino Unido se beneficiava pouco, diferentemente da França, por exemplo.
O episódio deteriorou as relações entre o Reino Unido e outros países da CEE e ainda desperta polêmica.
Brexit nasceusortudo 777Bruges
Em 1986, com a Espanha e Portugal recém-integrados ao projeto europeu, os 12 membros do bloco assinaram o Ato Único Europeu, a primeira grande revisão do Tratadosortudo 777Roma.
Esse novo documento procurou criar um "mercado interno" na Europa, com livre circulaçãosortudo 777pessoas, bens e serviços.
Mas no Reino Unido, tudo isso foi visto com desconfiança.
Os ministros das Relações Exteriores da França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Alemanha e Itália assinaram dois tratados vitaissortudo 777Roma para a criação da atual União Europeia.
Margaret Thatcher fez um controverso discursosortudo 777Bruges (Bélgica)sortudo 7771988 que transformou para sempre o debate sobre a Europa no Reino Unido.
Em seu discurso, a premiê alertou para uma suposta intenção da Europasortudo 777eliminar a soberania nacionalsortudo 777seus membros e concentrar o podersortudo 777suas instituições.
"Não revertemos com sucesso as fronteiras do Estado no Reino Unido para vê-las reinseridas no nível europeu, com um superestado europeu exercitando um novo domíniosortudo 777Bruxelas."
Quatro anos depois, o Reino Unido decidiu abandonar o Mecanismo Europeusortudo 777Taxassortudo 777Câmbio, que daria vida ao euro.
Em seu livro Statecraft: Strategies for a Changing World (A artesortudo 777governar: Estratégias para Mudar o Mundo,sortudo 777tradução livre), Thatcher argumentou que a moeda única europeia era uma tentativasortudo 777criar um "superestado" e previu que ela fracassaria "econômica, política e socialmente".
Esortudo 7771995, entrousortudo 777vigor o Acordosortudo 777Schengen, um tratado internacional por meio do qual vários países europeus aboliram os controles entre suas fronteiras internas, e o Reino Unido também não quis participar deste projeto.
A polêmica expansão
Se houve um aspecto da UE que sempre interessou ao Reino Unido desde o início, esse foi o mercado comum — e, quanto mais ele crescia, melhor se tornava para os britânicos.
O governo trabalhistasortudo 777Tony Blair se tornou um dos grandes impulsionadoressortudo 777uma expansão do bloco para o leste do continente e, graças à influência britânica e à aprovação alemã, o númerosortudo 777membros da UE passousortudo 77715 para 25sortudo 7771ºsortudo 777maiosortudo 7772004, com a incorporação da Polônia, República Tcheca e países bálticos, criando assim um espaço político e econômicosortudo 777cercasortudo 777450 milhõessortudo 777pessoas.
A expansão foi alvosortudo 777muita polêmica, pois foi a maior da história da organização.
A maioria dos Estados-Membros estabeleceu um períodosortudo 777transiçãosortudo 777sete anos antessortudo 777abrir suas fronteiras aos trabalhadores dos novos membros do bloco, com exceção da Irlanda, Suécia e Reino Unido, que as abriram imediatamente e sem restrições.
Essa medida controversa fez com que muitos britânicos, especialmente entre as classes socioeconômicas mais baixas, sentissem que estavam sendo "invadidos" por um contingentesortudo 777trabalhadores que recebiam menores salários e tiravam seus empregos, sentimento que seria explorado pelos eurocéticos.
'Chegou a hora dos britânicos opinarem'
De acordo com um estudo realizado pela Unidadesortudo 777Pesquisa sobre Migração do professor John Salt, da University Collegesortudo 777Londres, uma das mais prestigiadas do Reino Unido, 129 mil migrantes do chamado grupo EU8 — que inclui Polônia, Hungria, República Tcheca, Estônia, Lituânia, Letônia, Eslováquia e Eslovênia — entraram no território britânico entre 2004 e 2005.
Essa onda migratória exacerbou a retórica antieuropeia no Reino Unido e, juntamente com a crise financeirasortudo 7772008, que atingiu a economia britânica e o resto do continente, lançou dúvidas sobre a permanência do país na UE.
Após 13 anossortudo 777governos trabalhistas, o Partido Conservador, então liderado por David Cameron, venceu as eleiçõessortudo 7772010, e,sortudo 777janeirosortudo 7772013, o ex-premiê disse que era "horasortudo 777os britânicos opinarem" sobre o assunto.
Com essa filosofia e buscando a reeleiçãosortudo 7772015, Cameron baseousortudo 777campanha eleitoral na promessasortudo 777organizar um plebiscito sobre a permanênciasortudo 777seu país no bloco.
E apenas um ano apóssortudo 777vitória, ele a cumpriu, acreditando que os britânicos votariam pela permanência na UE. Estava enganado — e acabou tendo que renunciar.
'Uma oportunidade para a UE'
Para Jean Pierre Maury, vice-diretor do Institutosortudo 777Relações Internacionais e Estratégicassortudo 777Paris, o Reino Unido nunca esteve "completamente" na UE.
"Ele ingressousortudo 777uma parte do bloco: a relacionada ao livre comércio. Mas ele sempre se sentiu desconfortável com uma maior integração", disse ele à BBC Mundo, o serviçosortudo 777notíciassortudo 777espanhol da BBC.
Maury diz acreditar que após o Brexit "nos daremos contasortudo 777que o Reino Unido estava atrasando o progresso do bloco" e, embora lamente a saída dos britânicos da UE, sugere que a integração será mais fácil sem os britânicos.
Segundo um estudo publicadosortudo 7772014 pela empresa Deloitte, 40% das multinacionais com sede na Europa escolheram Londres para montarsortudo 777sede ou simplesmente abrir um escritório, seguido por Paris (8%), Madri (3%), Amsterdã e Bruxelas (2,5% cada).
Com o Brexit, a UE não apenas perde um membro, mas tambémsortudo 777segunda economia mais importante, que representa cercasortudo 77715% do seu PIB e que contribui com maissortudo 777US$ 13 bilhões por ano ao seu orçamento.
Também perde um país com assento permanente no Conselhosortudo 777Segurança da ONU e, um Estado cuja capital, Londres, é um dos maiores centros financeiros do mundo.
No entanto, líderes continentais — como o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe — veem o Reino Unido deixando o bloco como uma ocasião para fortalecer a competitividadesortudo 777seus países e atrair empresas atualmente instaladassortudo 777Londres.
"A França tem uma oportunidade única, aproveitando o potencial do nosso centro financeiro,sortudo 777fazersortudo 777Paris o principal centro financeiro europeu após o Brexit", disse Philippesortudo 777discurso na capital francesasortudo 7772017.
As autoridades holandesas e alemãs expressaram desejos semelhantessortudo 777relação a Amsterdã e Frankfurt, respectivamente.
Outra vantagem do Brexit para os outros países da UE, segundo Maury, é que, com medo da organização esfacelar, seus líderes serão forçados a comunicar objetivos mais claramente aos seus cidadãos e estabelecerão melhor suas prioridades, o que poderia reforçar seu caráter democrático.
Mas o futuro não será fácil, devido, sobretudo, à ascensão do populismo no continente.
A partir do Brexit, haverá um períodosortudo 77711 meses, durante o qual Reino Unido e União Europeia terão que definir como serásortudo 777relação no futuro. Todos concordam que o mais benéfico seria um divórcio amigável. Não está claro que issosortudo 777fato acontecerá.
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