De Auschwitz a SP, a trajetóriaaposta lay betfairum sobrevivente: 'No Brasil, você se sente abraçado':aposta lay betfair
Andor Stern,aposta lay betfair91 anos, é o único brasileiro nato a sobreviver aos horroresaposta lay betfairAuschwitz, na Polônia, então ocupada pelos nazistas alemães. O conjuntoaposta lay betfairmaisaposta lay betfair40 camposaposta lay betfairconcentração foi libertado por tropas russas há 75 anos,aposta lay betfair27aposta lay betfairjaneiroaposta lay betfair1945.
Auschwitz é considerado o epicentro do Holocausto: estima-se que 1,1 milhãoaposta lay betfairpessoas (judeus emaposta lay betfairgrande maioria) tenham morridoaposta lay betfairfome, doenças ouaposta lay betfaircâmarasaposta lay betfairgás no local onde, antesaposta lay betfairser ocupado pelos nazistas, funcionava um enorme quartel militar. Outras vítimas incluíam prisioneiros russos, poloneses, ciganos e gays.
Andor nasceuaposta lay betfairSão Pauloaposta lay betfair1928, mas passou a adolescência na Hungria onde, junto com a família, foi preso e levado para Auschwitzaposta lay betfair1944. Nesta entrevista à BBC News Brasil, ele relata o que passou e também as lições que carrega até hoje. Veja os destaques do depoimento abaixo e também no vídeo:
A vida me deu péssimos momentos. Mas também me deu momentos maravilhosos. E talvez atéaposta lay betfairexcesso. Se você tem o domaposta lay betfairsentir gratidão, já é um grande presente. E eu sinto quase diariamente gratidão.
Sou grato por você estar aqui. Você deuaposta lay betfairatenção,aposta lay betfaircuriosidade. Ainda por cima, se isso for útil para alguém, não é uma maravilha?
Sobreviver àquilo (Holocausto) te dá uma liçãoaposta lay betfairvida que você fica tão humilde. Quer que eu te conte uma coisa que aconteceu hoje? Talvez isso nunca tenha te ocorrido, e essa vantagem eu levoaposta lay betfaircimaaposta lay betfairvocê. Imagina a minha cama cheirosa,aposta lay betfairlençóis limpos. Chuveiro fumegante no banheiro. Sabonete. Pastaaposta lay betfairdente, escovaaposta lay betfairdente. Uma toalha maravilhosa. Descendo (a escada), uma cozinha cheiaaposta lay betfairremédio, porque velhinho precisa tomar para viver melhor; comida à vontade, geladeira cheia. Peguei meu carrinho, fui trabalhar pelo caminho que eu quis, ninguém me enfiou uma baioneta. Estacionei, fui recebido com calor humano pelos meus colegas. Gente, eu sou um homem livre.
Eu me lembro como se fosse hoje. Imagine 80, 100 pessoas dentroaposta lay betfairum vagão que leva gado para matadouro. Você não tem nem pinico nem banheiro. Pessoalaposta lay betfair90 anos, garotoaposta lay betfairtrês meses vivendo lá dentro. O cheiro, a sujeira. Levou mais ou menos uma semana entre Budapeste e Auschwitz. Minha família foi junto. Aí fomos separados. Depoisaposta lay betfairseparados, começou o calvário deles. Foram direto para a câmaraaposta lay betfairgás. Meus avós, meus tios, minha tia grávida. Abaixoaposta lay betfair12 e acimaaposta lay betfair55 era câmaraaposta lay betfairgás direto.
Você chega lá, tiramaposta lay betfairroupa, tiram o tudo o que você está carregando. Me pintaramaposta lay betfaircreolina. Sabe o que é creolina? Dói e arde. Te dão uma roupa listrada que não é do teu tamanho, ou menor ou maior, às vezes, até a certa. Tiram teu sapato, cortam teu cabelo, raspam todo pelo que você tem, seguram teu braço, botam o número lá. De uma forma dolorosa, te tatuam. Depois inflama, fica cheioaposta lay betfairpus. Leva um mês para ficaraposta lay betfairdia.
E você descobre num discurso,aposta lay betfairuma barraca, onde o cara diz: "Está vendo aquela fumaça lá. Tua família está saindoaposta lay betfairlá. Teus avós, teus tios, tua mãe". No dia seguinte, quando vem a comida, pegam a baciaaposta lay betfairlavar rosto que algum infeliz trouxe com ele no vagão e que eles depois guardaram para essa finalidade, queaposta lay betfairnoite fica penico eaposta lay betfairdia fica teu prato para comer. Você tem que comer como cachorro. Você não tem garfo, faca, colher, não tem nada. O camarada grita: "Porção para três". E três coitados vão lá comer que nem cachorro. Você tem eczema, tem sarna que nem cachorro, você carrega com você tudo isso.
No inverno, por exemplo, olha onde o homem consegue deixaraposta lay betfairser homem. Você se alimenta com uma comida que te causa uma eterna diarreia. Aliás, é um dos motivos que mais matam a pessoa.
No inverno, abaixoaposta lay betfair22, 24, 26 graus, quando você está vazando, desculpa, você até gosta porque é quentinho. E você não tem como tomar banho depois disso.
E você aceita. Faz parte daaposta lay betfairvida essa sujeira, essa imundice.
No inverno, o corpo congela, quebra como chocolate.
Se você encontra uma casquinhaaposta lay betfairbatata, você devora na mesma hora.
Você só pensa na fome.
Fome não é só fisiológica, é psicológica também. Te enlouquece se você não sabe se controlar.
Não tem perspectivaaposta lay betfairfuturo.
Não, você é um zumbi
Essa degradação é gradual.
Se não você enlouquece ou corre para o arame. Sabe o que é dizer "corre para o arame"? É uma solução também.
Você se frita e acabou.
Aí tem as defesas do ser humano. Eu criei um sistema para mim. Não foi logo, logo, mas eu consegui.
Eu percebi que, quando eu pensava na minha mãe, era uma dor física, uma dor indescritível. Então, dentro da minha barriga, não sei se era uma máquinaaposta lay betfairfurar, uma chaveaposta lay betfairfenda, um alicate... Quando eu começava a pensar na minha mãe, eu conseguia produzir uma dor maior.
Minha mãe era minha maior amiga, mas usei ela pouquinho. Não me dói, mas faz uma falta incrível.
A guerra estava já adiantada. Era depois do Dia D. Os aliados ocupando a França, libertando a Itália. Os alemães já estavam apanhando. Eles enfiaram a gente num vagão para eliminar a gente. Mas a guerra não permitiu. Onde eles iam nos levar, não chegamos.
Eu fiquei livre pertoaposta lay betfairum lugar maravilhoso. Os americanos ocuparam esse espaço. Isso foi dia primeiroaposta lay betfairmaio. No meioaposta lay betfairjulho, eu já tive coragemaposta lay betfairtirar minha camisa e entrar num lago maravilhoso onde fui libertado. No sul da Alemanha, pertoaposta lay betfairMunique. Se chama Starnberger See. A guerra terminou e eu sobrevivi, estava vivo. Pesava 28 quilos. Mas estava vivo. Não tinha mais unha, estava cobertoaposta lay betfairfurúnculos.
Retorno ao Brasil
Cheguei com 20 aninhos. O que eu queria da vida? Aí eu estabeleci o seguinte: Um paraposta lay betfairsapatos que não entre água e me aqueça no inverno e não machuque meus pés. E por luxo ter uma meia lá dentro. No inverno, uma meiaaposta lay betfairlã e, no verão, uma meiazinha. Uma roupa que seja isentaaposta lay betfairqualquer bicho, inseto e que me cubra no inverno. Um paletó com um bolso que tenha um bolso desse tamanho que possa colocar, sabe aquele pão, fatia grossa. E ter um relógio. Olhar no relógio e falar. "Eu vou comer esse pão amanhã às duas e meia da tarde. E minha fome vai resistir eu devorar aquele pão. Vou ter controle porque não estou passando fome e vou comer só no dia seguinte."
E, podendo me movimentar para frente para trás, para esquerda, para direita, eu vou ser o homem mais realizado do mundo. Aí isso passa. Você volta para o Brasil, entra nessa vida pujante. 20 aninhos, cheioaposta lay betfairideias. Dá certoaposta lay betfairvida e você fica cheioaposta lay betfairfrescura. O sapato tem que seraposta lay betfaircromo alemão, o terno,aposta lay betfaircasimira inglesa, a camisa,aposta lay betfairvoile suíço, a gravata,aposta lay betfairseda italiana, o relógio,aposta lay betfairouro. E você esquece. E eu não esqueci. Tudo isso para mim era um presente extra.
Com todas as nossas mazelas, é muita sorte viver no Brasil. Povo humano... Você se sente abraçado, acarinhado.
Eu costumo dizer que cada dia que eu vivo e uma sobremesa, é muito gostoso. Então, talvez daí venha essa imensa, essa intensidadeaposta lay betfairquerer viver e também querer que os outros vivam. E não só as pessoas. Tudo que é vivo. Eu tenho o máximo respeito pela vida.