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1 anogoverno Bolsonaro: 6 momentos-chave que revelam guinada na política externa brasileira:
"É uma política externa marcada por uma tensão permanente entre ideologia e pragmatismo", explica Fernanda Magnotta, professoraRelações Exteriores da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
"O MinistérioRelações Exteriores, comandado pelo chanceler Ernesto Araújo e o assessor especial da Presidência Felipe Martins seriam os representantes da ala ideológica ou olavista. Militares e a equipePaulo Guedes, ministro da Economia, representam a ala pragmática. Dependendoqual dos grupos conquista mais espaço e consegue mais sucesso e mais êxito na horabarganhar aagenda, o Brasil vai para uma linha mais pragmática ou mais ideológica.""
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Alguns episódios marcantes revelam claramente que o Brasil tem adotado novos rumos naestratégiapolítica externa.
A BBC News Brasil reúne aqui seis momentos2019 que reposicionam o país no xadrez internacional — bem como as oportunidades e riscos que cada um desses episódios trazem para o Brasil.
#1 VisitaEstadoBolsonaro a Washington,março
A primeira grande guinada na política externa brasileira foi a tentativaforte aproximação do Brasil com os Estados Unidos. Em março2018, Bolsonaro visitou Washington para se reunir pessoalmente com o presidente americano, Donald Trump.
Nos encontros e coletivasimprensa na capital americana, os dois líderes trocaram elogios e declararam que a relação entre Brasil e Estados Unidos nunca esteve melhor.
Desde então, sempre que se encontrarameventos internacionais, eles trocaram elogios — com Bolsonaro deixando sempre muito clara a admiração que sente pelo americano.
No encontro do G20, no Japão, o próprio Trump disse que Bolsonaro tem orgulhoser amigo dele, Trump.
"Estamos com um cavalheiro que teve uma das maiores vitórias eleitorais do mundo. E ele estava muito orgulhososua relação com o presidente Trump. Ele é um homem especial, que está se saindo muito bem e que é muito amado pelo povo brasileiro. E podemos dizer que Brasil e Estados Unidos estão mais próximos do que nunca", declarou Trumpreunião bilateral com o presidente brasileiro durante a cúpulaOsaka que reuniu líderes das 20 maiores economias do mundo.
Mas para alémtrocapalavras generosas, o Brasil pôsprática uma sérieconcessões para conquistar a confiança dos Estados Unidos.
Uma das principais delas foi abrir mão do tratamento diferenciado que o nosso país recebia na Organização Mundial do Comércio, a OMC. Essa foi uma exigência do governo americano para que apoiasse o pleito do Brasilentrada na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
O tratamento diferenciado na OMC prevê benefícios para países emergentesnegociações com nações ricas. O Brasil tinha, por exemplo, prazos mais longos para cumprir determinações e margem maior para proteger produtos nacionais.
Por pressão dos Estados Unidos, o governo brasileiro voluntariamente abriu mão desses benefícios que favoreciam nosso paísnegociações comerciais.
Em mais um gestogenerosidade a Trump, o Brasil recentemente ampliou as cotasimportação e as isenções tributárias para importaçãoetanol e trigo americanos.
Essas duas decisões preocuparam produtores brasileiros e outros parceiros comerciais do nosso país, como a Argentina, que temem não conseguir competir com os produtos americanos.
A expectativa era que o governo dos EUA liberasse,troca, o seu mercadoaçúcar, um dos mais protegidos do mundo, mas, por enquanto, essa contrapartida não aconteceu.
Outros acenos do Brasil aos EUA incluem o fim da exigênciavisto para os americanos, a permissão para que o país lance foguetes da base espacialAlcântara, no Maranhão, e o voto nas Nações Unidas contra uma resolução que condena o embargo do governo americano a Cuba — só Brasil e Israel se aliaram aos EUA nessa votação da ONU.
Para o americano Christopher Sabatini, professorRelações Públicas Internacionais da Universidade Columbia,Nova York, o governo brasileiro acerta na intençãoaumentar as relações com os Estados Unidos, corrigindo o que ele chamauma política antiamericana implementada pelos governos do PT.
Mas, segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro errafocar na relação pessoal com Trump, não na relação entre governos, eentregar demais aos Estados Unidos, sem exigir compensações.
"Eu acho que,fato, havia uma necessidadecorrigir a política anti-Estados Unidos do governo do PT. Então, essa é uma mudança bem-vinda. O problema é que ela foi completamente para o extremo da outra direção. Abraçou-se não a agenda dos Estados Unidos, mas a agendaum presidente. E um presidente que é muito inconstante e muito intempestiva", avalia Sabatini, que também é consultor para América Latina da Chatham House, institutopesquisa mais prestigiado do Reino Unido.
"O que acontece é que,veztentar se tornar um aliado dos EUA, Bolsonaro tentou se tornar um aliadoTrump. E Trump não é uma pessoa consistente. Nós vimos, na prática, Trump frustrar Bolsonaro repetidas vezes,questões como a entrada do Brasil na OCDE e, mais recentemente, nas tarifas sobre aço e alumínio."
Embora o presidente americano tenha anunciado apoio o pleito do Brasilentrar na OCDE durante a visitaBolsonaro a Washington, uma carta do secretárioEstado, Mike Pompeo, divulgadaoutubro, deixou claro que o governo americano não está disposto a bancar, pelo menos agora, o ingresso do nosso país na organização.
No documento, ele defende abertamente apenas a entradaArgentina e Romênia no grupo36 países que compõem a OCDE. O Brasil é um dos seis países na fila para entrar no organismo e o apoio expresso dos EUA à adesão poderia acelerar o processo, mas isso não ocorreu.
Além disso, mais recentemente, no iníciodezembro, Trump acusou Brasil e Argentinadesvalorizarem suas moedas frente ao dólar e anunciou aumentos sobre as tarifasaço e alumínio importados do nosso país.
#2 VisitaBolsonaro a Israel,abril
Depois da ida a Washington, Bolsonaro fez uma visitaEstado a Israel,abril, que quebrou alguns protocolos e tradições da diplomacia brasileira. A viagem atendeu a dois grupos da base eleitoral do presidente — parte da comunidade evangélica e da comunidade judaica — e agradou aos Estados Unidos, principal aliado do governo israelense.
Havia a grande expectativaque Bolsonaro cumprisse a promessa feita na campanhatransferir a embaixada do BrasilTel Aviv para Jerusalém. Isso atenderia a uma pressão dos Estados Unidos e a uma reivindicaçãoevangélicos brasileiros que, com baseinterpretações da Bíblia, acreditam que Jerusalém é uma terra prometida aos judeus.
A questão é polêmica, porque Israel reivindica Jerusalém comocapital, enquanto palestinos querem que a parte oriental da cidade seja capitalum futuro Estado palestino. A ONU e a comunidade internacional como um todo, com exceçãoEstados Unidos e Guatemala, mantêm suas embaixadasTel Aviv e defendem que a propriedadeJerusalém seja decididanegociaçõespaz.
Apesarter dito que reconhece Jerusalém como capital israelense, o governo Bolsonaro acabou recuando da promessatransferir a embaixada brasileira, após forte pressão da área econômica e militar do governo.
Representantespaíses árabes, que são importantes parceiros comerciais do nosso país, ameaçaram retaliar caso o presidente seguisse adiante com o plano original.
A ameaça assustou: os países islâmicos são destino6% das nossas exportações. Mas é quando se olha para o setor agrícola que a importância desses parceiros fica mais clara. Naçõesmaioria muçulmana recebem cerca70%todo o açúcar exportado pelo Brasil, 37% do nosso frango, e 27% da carneboi.
Ou seja, esses setores produtivos brasileiros ficariam numa situação difícil se as nações árabes decidissem compraroutros países. No final das contas, Bolsonaro acabou abrindo um escritório comercialJerusalém, sem representação diplomática.
Por outro lado, rompendo uma tradição internacional, o presidente brasileiro visitou, acompanhado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados do judaísmo.
Como o muro ficaJerusalém Oriental — ocupada por Israel1967, na Guerra dos Seis Dias, e desde então reivindicada pelos palestinos como capitalseu futuro Estado —, líderes internacionais preferem visitá-lo sem o acompanhamentogovernantes israelenses, dando à visita um caráter mais pessoal do queEstado.
Para muitos observadores, o fatoBolsonaro ter ido ao local com Netanyahu sinaliza uma espéciereconhecimento tácito da soberaniaIsrael sobre Jerusalém Oriental e, novamente, uma mudança na postura até agora equidistante no conflito entre israelenses e palestinos.
É, nesse sentido, uma guinada significativa na política externa brasileira.
#3 Anúncio do acordocomércio do Mercosul com a União Europeia,junho
Esse foi um momentodestaque para o governo brasileiro e visto por analistas como uma conquista importante. O acordo entre Mercosul e União Europeia derruba uma sérietarifas e barreiras comerciais entre o bloco sul-americano e o europeu.
Segundo estimativas do Ministério da Economia do Brasil, ele vai representar um aumento no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro equivalente a R$ 336 bilhões15 anos, com potencialchegar a R$ 480 bilhões, se forem levadosconta aspectos como a reduçãobarreiras não tarifárias.
É um acordo que vinha sendo negociado havia 20 anos, sem ser assinado.
"A negociação do acordo entre Mercosul e a União Europeia, acho que isso é importante. A ratificação desse acordo está no limbo, mas essa negociação foi relevante e provavelmente (o acordo) não seria concretizado no governo do PT", avalia Christopher Sabatini, UniversidadeColumbia
"O governo interino (de Michel Temer) e o governo Bolsonaro se comprometeram com a abertura internacional e com reformas econômicasmaneiras que o PT nunca fez."
Mas esse acordo ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos europeus e pelos Legislativos dos países que integram o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
E o próximo ponto que a BBC News Brasil aborda nesta reportagem pode representar um empecilho para essa aprovação — a mudança na política ambiental do governo brasileiro.
#4 Reação às queimadas na Amazônia
Desde que tomou posse, Bolsonaro deixou claro que a política ambiental do Brasil mudou e que a Amazônia não deve ser tratada como um "santuário". Ele passou a defender mineraçãoterras indígenas, reduçãomultas ambientais e a expansão das atividades econômicas na maior floresta do mundo.
Essa mudança na política externa foi destaque na imprensa internacional e gerou reaçõeslíderes internacionais. A chanceler alemã, Angela Merkel, chegou a dizer que considera "dramática" a atuação do governo brasileiro na área ambiental.
"Pode ter certezaque eu, assim como você, vejo com preocupação muito grande a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E, na medida do possível, vou usar a oportunidade durante a cúpula do G20 para falar diretamente sobre o tema, porque vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil", disse Merkel ao ser questionada durante sessão do Parlamento alemão sobre se seria oportuno levar adiante o acordo do Mercosul com a União Europeia num momentoque o comprometimento do governo brasileiro com o meio ambiente era questionado.
Mas foi a enorme repercussão do alto númeroincêndios florestais no Brasilagosto que colocou a política ambiental do governo no centro das atenções internacionais. Bolsonaro reagiu, inicialmente, minimizando as queimadas e sugerindo que ONGs internacionais estavam por traz do fogo. O governo só enviou tropas do Exército para combater as chamas na Amazônia depois que o caso gerou protestosvárias cidades do Brasil e críticas internacionais.
O assunto proteção da Amazônia foi levado pelo presidente Francês, Emmanuel Macron, para ser discutido na cúpula do G7Paris, sem a participação do Brasil. Naquele momento, o problema das queimadas ganhou outra dimensão.
Bolsonaro reagiu afirmando que isso representava um ataque à soberania brasileira sobre a floresta. E a situação escalou depois que o presidente brasileiro reforçou uma piada machista sobre a primeira-dama francesa.
"É triste, triste. Mas triste sobretudo para o povo brasileiro", respondeu Macron, numa coletivaimprensa.
Além do mal-estar internacional, houve repercussões nos setores produtivos do Brasil, que começaram a sofrer perdas comerciais por causaum boicote a produtos brasileiros. Marcas como Timberland e a giganteroupas H&M chegaram a suspender a compracouro brasileiro.
Em setembro, na estreiaBolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas, havia uma grande expectativaque ele usasse aquele momento para apresentar dados que comprovassem que o Brasil estava comprometido com o combate aos incêndios. Em vez disso, o presidente adotou um tom belicoso e acusou a imprensa internacional e países europeus"alimentarem o sensacionalismo".
Mais recentemente, o presidente acusou o atorHollywood Leonardo Di Caprioparticipação nos incêndios da Amazônia.
Segundo especialistas, tudo isso representa uma grande guinada da política externa brasileira, já que, desde 1992, quando sediou a primeira conferência da ONU sobre clima, o Brasil tem se posicionado como líder internacionalquestões ambientais.
A preocupação agora é que a atual política sobre meio ambiente seja usada por países europeus que competem com o Brasil no setor agrícola, como França e Irlanda, para barrar o acordo do Mercosul com a União Europeia.
O presidente da AssociaçãoComércio Exterior do Brasil (AEB), José AugustoCastro, disse à BBC News Brasil que a "comunicação falha" do governo quando surgiram as primeiras notícias sobre os incêndios na Amazônia serviucombustível para que países concorrentes se utilizassem das queimadas para atacar as exportações brasileiras.
"A gente vê que a comunicação do governo brasileiro nesse caso não foi das melhores. Se tivesse tomado medidas anteriormente, não estaríamos na situaçãohoje. A gente tem que admitir que a comunicação falhou", disse Castro.
Procurado pela BBC News Brasil, o MinistérioRelações Exteriores disse que "versões" sobre a política ambiental do governo "que circularam por veículos da imprensa nacional e internacional desinformaram o público".
"O Brasil manteve2019 todos os seus compromissos internacionais no campo ambiental, tendo sido um dos países que apresentou maior avanço no cumprimentometas do AcordoParis e da Agenda 2030".
Sobre as queimadas, o Itamaraty disse que "várias iniciativas do governo, como a Operação Verde Brasil, aumentaram o nívelcombate a queimadas e a crimes ambientais no Brasil".
Perguntado se as ameaçasboicote a produtos brasileiros preocupam, o ministério respondeu que "não houve, nem há, qualquer boicote a produtos brasileiros."
#5 VisitaBolsonaro a Pequim,outubro
Em outubro, Bolsonaro fez uma viagem a Pequim, capital da China, onde manteve reuniões com empresários, com o presidente chinês, Xi Jinping, e outros políticos do Partido Comunista.
Dessa vez o governo demonstrou, segundo analistas internacionais, pragmatismo e colocou o interesse comercial brasileiro acima das posições ideológicas. Teria sido uma vitória da chamada ala pragmática do governo Bolsonaro, formada pelos militares e a área econômica.
Há 10 anos, a China é o principal parceiro comercial do Brasil no mundo. E mais: as trocas com os chineses é superavitária para o lado brasileiro. Isso significa que o Brasil tem exportado mais para a China do que importalá. Ou seja, mais dinheiro entra do que sai.
Mas,outubro2018, um discursocampanhaBolsonaro virou manchete no mundo todo, quando ele disse que a "China está comprando o Brasil". Houve uma preocupaçãoque o governo, com Bolsonaro presidente, fosse romper ou reduzir as relações com os chineses.
Esse temor se reforçou com a aproximaçãoBolsonaro com Trump logo no início2019. Será que o Brasil tomaria partido na guerra comercial entre China e Estados Unidos?
Apesar da retórica inicial do presidente, o que se viu na prática foi diferente. O vice-presidente, Hamilton Mourão, visitou a Chinamaio para assegurar que o Brasil tem interessemanter relações comerciais próximas com o país asiático. Em outubro, foi a vezBolsonaro, que foi recebido por Xi Jinping com honrarias máximasPequim.
No encontro, os dois líderes assinaram 11 acordos comerciais, entre eles, o que libera a carne processada brasileira para a China. E,vezdeclaraçõesdesconfiança sobre a China, Bolsonaro defendeu uma presença maiorinvestimentos e empresas chinesas no Brasil.
"É do interesse da China e nosso também (aumentar investimentos). Faremos contatos necessários para que seja ampliado o nosso comércio. (A guerra comercial) não é briga nossa. Nós queremos nos inserir, sem qualquer viés ideológico, nas economias do mundo", disse o presidentecoletiva, na capital chinesa.
Para o professor Marcus ViniciusFreitas, da UniversidadeRelações Exteriores da China,Pequim, o governo deveria ter priorizado, desde o princípio, as relações com a China e não com os Estados Unidos. Na avaliação dele, o Brasil tem muito mais a ganhar com os chinesestermoscomércio e atraçãoinvestimentos do que com americanos e europeus.
Isso porque os produtos que o Brasil exporta, commoditiesparticular, encontram na China um mercado mais receptivo. Além disso, o gigante asiático continuaexpansão e tem interesseinvestirinfraestrutura e petróleo no mundo todo. Poderia ser, portanto, potencial fonteinvestimentos diretos no Brasil.
"O governo brasileiro, ao concentrarpolítica nessa aproximaçãocunho ideológico com os EUA, abandonou o princípio fundamental das relações internacionais, que é a preservação do interesse nacional. Em matériapolítica externa, você não tem amigo nem inimigo, somente interesses", disse à BBC News Brasil.
"Nesse sentido, o governo brasileiro descobriu tardiamente que o parceiro que o Brasil deveria ter afagado desde o primeiro momento e que corresponde às suas necessidades é a China."
Na mesma época da viagem à China, Bolsonaro passou pela Arábia Saudita, um dos países mais poderosos do Oriente Médio e grande aliado dos Estados Unidos. A viagem foi vista, também, como um sinalpragmatismo, mas também foi alvocríticas já que o país árabe está envolvidouma sériepolêmicas ligadas a violações aos direitos humanos, como perseguição a oponentes políticos e execuções.
Também chamou a atenção o fatoo Brasil ter votado junto com alguns paísesmaioria islâmica na ONUquestões relacionadas a família e sexo. O Brasil não tem aceitado mais, por exemplo, termos como "gênero" e "direito reprodutivo",resoluções das Nações Unidas.
#6 AusênciaBolsonaro na posseAlberto Fernández,dezembro
Outro episódio que deu o que falar na política externa brasileira foi a ausência do presidente Jair Bolsonaro na posse do peronista Alberto Fernández como presidente da Argentina eCristina Kirchner como vice. Durante o processo eleitoral, Bolsonaro fez repetidas críticas públicas a Fernández, o que foge da tradição brasileirase manter neutro nas disputas eleitorais dos países vizinhos.
Ele chegou a dizer que uma eventual vitória do candidatoesquerda colocaria a Argentinarisco"virar Venezuela".
"Povo gaúcho, se essa 'esquerdalha' voltar aqui na Argentina, nós poderemos ter, sim, no Rio Grande do Sul, um novo EstadoRoraima. E não queremos isso: irmãos argentinos fugindo pra cá", disse.
O peronista foi eleitoprimeiro turno, derrotando Mauricio Macri, aliado do presidente brasileiro. Bolsonaro inicialmente pretendia mandar somente o embaixador brasileiroBuenos Aires para a cerimôniaposse. Após pressão do setor militar e econômico do governo, decidiu enviar o vice-presidente, Hamilton Mourão.
De qualquer fora, é a primeira vez17 anos que um presidente brasileiro não comparece à posseum presidente argentino.
Mas será que isso vai afetar a nossa relação com a Argentina, que está entre os cinco maiores parceiros comerciais do Brasil e é o maior comprador das nossas commodities?
Para a professora Fernanda Magnotta, da FAAP, interesses econômicos devem prevalecer sobre a retórica.
"Muita gente aposta que, apesar dessa retórica contestatória, vai haver uma moderação desse discurso e um enquadramento do governo Bolsonaro pela dinâmica econômica que se impõe. A Argentina está no top 5 do comércio com o Brasil e tem papel importante no Mercosul", diz.
"Com Fernández ou sem Fernández, a Argentina continua impactando muito nossa economia. Então, num momentoque a gente não está podendo se dar ao luxoescolher parceiros, a gente vai ter que se adequar. Acho que deve acontecer um processo progressivonormalização."
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