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Evo Morales tenta reeleição: quais as diferenças dos modelos econômicos da Bolívia e da Venezuela?:google betano
A derrocada econômica do país se tornou uma crise humanitária: maisgoogle betano4 milhõesgoogle betanopessoas fugiram, muitas delas para o Brasil.
Mas se ambos os governos se dizem socialistas, como é possível que suas economias tenham resultados tão diferentes?
'Evonomics'
Para responder a essa pergunta, é preciso voltar no tempo e entender o sucesso das políticasgoogle betanoMorales. Também não se pode esquecer do trauma dos bolivianos com a hiperinflação dos anos 80, história semelhante à do Brasil.
Quando chegou ao governogoogle betano2006,google betanoum momentogoogle betanoprofunda revolta política, a esquerda boliviana se manteve conscientegoogle betanoquegoogle betanopermanência dependeria da estabilidade macroeconômica.
A equipe econômica do ministro Luis Arce Catacora idealizou um modelo misto baseadogoogle betanodois pilares.
O primeiro e mais importante é o setor estatal. Em 2006, Morales nacionalizou por decreto o petróleo e o gás, além da energia elétrica. Esses ativos estratégicos geram dividendos que são, então, destinados a políticas sociais.
A outra parte é o setor privado, que inclui o agronegóciogoogle betanoSanta Cruz (leste do país) e o setor informal: artesãos e pequenos comércios empregam maisgoogle betano60% da forçagoogle betanotrabalho.
Com a nacionalização dos hidrocarbonetos, o dinheiro que antes se destinava aos cofres das multinacionais permaneceu dentro do país e se multiplicou, bem como aumentou o poder do Estado que o redistribui.
"Isso tem gerado um mercado interno muito maior, possibilitando, por exemplo, que setores como ogoogle betanoconstrução e entretenimento tenham se tornado muito mais rentáveis", explica o jornalista boliviano Fernando Molina à BBC News Mundo, o serviçogoogle betanonotíciasgoogle betanoespanhol da BBC.
"E a outra consequência é que o setor informal, que não deixougoogle betanoser pobre, melhorou a atividade, cria mais emprego."
É precisamente esse segundo pilar, o setor privado que gera emprego, que falta à Venezuela, um país cuja crise é tão profunda que milhõesgoogle betanopessoas tiveram que fugir.
Os que tinham mais dinheiro foram para a Espanha ou para Miami. Os que não, saíram a pé, atravessando as fronteiras, como a do Brasil.
E, algo impensável há dez anos, também houve venezuelanos que emigraram para a Bolívia.
Nos últimos meses, muitos bolivianos ficaram surpresos com a chegadagoogle betanomigrantes venezuelanos.
Vários deles trabalham como garçons ou vendedores ambulantes.
Eles também fazem malabarismosgoogle betanotrocagoogle betanomoedas nas principais ruasgoogle betanoLa Paz.
Como na Colômbia, Chile ou Peru, mulheres venezuelanas são vistas carregando crianças pequenas pedindo dinheiro, enquanto outras seguram cartazes com as cores da bandeira venezuelana.
Nacionalizações diferentes
Mas, ao contrário da Venezuela, as nacionalizações bolivianas foram limitadas a setores estratégicos.
Essa ideia estabelece uma fronteira clara entre o modelo misto boliviano e o expansionismo estatal imposto por Chávez na Venezuela e aprofundado por Maduro.
Já na Venezuela, a nacionalização teve relação estreita com o Caracazo, a ondagoogle betanoviolência desencadeada por um pacotegoogle betanoajuste neoliberalgoogle betano1989.
Assim, com o preço do petróleo nas nuvens, Chávez chegou a ordenar a desapropriação das instalações ao redor da praça Bolívar, no centrogoogle betanoCaracas, ao vivo durante o "Olá, Presidente", seu programagoogle betanotelevisão.
"E este edifício?", pergunta Chávez enquanto aponta para o prédio. "Trata-segoogle betanoum edifício com comércio privadogoogle betanojóias", responde o então prefeitogoogle betanoCaracas, Jorge Rodríguez, atual ministro das Comunicações.
"Exproprie", diz o presidente enquanto fala sobre transformar a áreagoogle betanoum "centro histórico".
O advogado Carlos García Soto, coautor do livro "Exproprie: a Política Expropriadora do 'Socialismo do Século XXI'", descreve as expropriaçõesgoogle betanoChávez como "uma política desordenada".
"Não foi o produtogoogle betanoum plano estratégico para a nacionalizaçãogoogle betanosetores econômicos", diz García Soto à BBC News Mundo.
Não surpreende que,google betanomuitos casos, expropriações tenham ocorrido devido a circunstânciasgoogle betanonatureza social ou retaliação política.
Por exemplo,google betanojulhogoogle betano2015, na primeira desapropriação ordenada por Maduro, algumas terras foram confiscadas para beneficiar as famílias que foram assentadas ali.
Em 2017, o presidente do Instituto Nacionalgoogle betanoTerras (INTI), Carlos Albornoz, denunciou o confiscogoogle betanouma fazenda cujos donos participaramgoogle betanoprotestos da oposição.
O governo também desapropriou empresasgoogle betanoconstrução devido a conflitos com incorporadoras e, mais recentemente, as posses da multinacional americana Kellogg no país.
Controle do câmbio e outros pecados capitais da Venezuela
Mas esse expansionismo estatal, por si só, não é a única explicação para o desaparecimento da iniciativa privada na Venezuela.
Os controlesgoogle betanocâmbio e preços é outro "pecado capital" que os críticos atribuem aos governantes da economia venezuelana.
Estabelecidos por Chávezgoogle betanoface das greves gerais e paralisaçõesgoogle betano2002 e 2003, logo se tornaram um obstáculo ao desenvolvimento econômico e uma fontegoogle betanocorrupção.
Funcionou assim: para conter a inflação, o governo tabelou certas mercadorias, que logo desapareceram das lojas.
O que se concebeu como uma medida para proteger os consumidores contra os excessosgoogle betano"empreendedores gananciosos", por causa da hiperinflação, logo causou prejuízos.
Afinalgoogle betanocontas, se o preço imposto pelo Estado é menor que o custogoogle betanoprodução da mercadoria, não há interesse comercialgoogle betanoproduzi-la.
O resultado, como se sabe, foi a faltagoogle betanoprodutos nos supermercados.
Por outro lado, o controle cambial, pelo qual o Estado monopoliza o acesso à moeda estrangeira , também se tornou uma fontegoogle betanoescassez e corrupção.
Caso simbólico ocorreu com o papel higiênico. Para produzi-lo na Venezuela, é necessário importar a cola usada para grudar as folhasgoogle betanopapel ao tubogoogle betanopapelão e não há acesso a dólares, assim, o produto não se torna economicamente viável.
Além disso, foi criado o incentivo perfeito para o surgimentogoogle betanoum mercado negro (o dólar paralelo) devido às crescentes restrições ao acesso a moedas estrangeiras, à medida que o preço do petróleo estava caindo.
"O governo decide vender os dólares abaixo do mercado com a ideiagoogle betanogarantir que os preços permaneçam baixos. O que aconteceu? Um grande incentivo para os detentoresgoogle betanodólares vendê-los no mercado paralelo", afirma à BBC News Mundo Luis Vicente León, presidente do institutogoogle betanopesquisa Datanálisis.
Nesse contexto, segundo León, o governo decide quem se torna um milionário e quem está arruinado, e é isso que destrói a economia.
"A discricionariedade na formação dos preços corrompe tudo. Tudo termina na mesma coisa, uma cascatagoogle betanocorrupção que destrói a capacidade econômica do país", diz Leon.
Guerra econômica
Outra diferença é que, enquanto na Bolívia o governo lutava para "desdolarizar" a economia e construir a confiança do consumidor emgoogle betanomoeda, na Venezuela, a solução dos problemasgoogle betanofluxogoogle betanocaixa passou pela impressãogoogle betanomais dinheiro.
O dinheirogoogle betanocirculação na Venezuela passougoogle betano127 bilhõesgoogle betanobolívares no finalgoogle betano2017 para 8 trilhões atualmente.
E issogoogle betanoum contextogoogle betanocontração econômica.
Essa impressãogoogle betanomoeda sem respaldo na economia real, dinheiro "inorgânico", afundou o valor do bolívar, tornando-se combustível para a inflação.
Apesar disso, o governo venezuelano nunca reconheceu seus erros e alega que a hiperinflação que o país sofre é "induzida e criminosa".
De fato, o governo venezuelano tem uma explicação para todos os problemas do país: uma "guerra econômica".
Desde que chegou ao poder após a mortegoogle betanoChávezgoogle betano2013, Maduro diz que a Venezuela é vítimagoogle betanouma "guerra econômica" e sabotagem orquestrada por empresáriosgoogle betanodireitagoogle betanoconluio com os EUA.
Mais recentemente, culpou as sanções decretadas pelo governo do presidente americano, Donald Trump, contra funcionários do alto escalão do seu governo e contra o setorgoogle betanopetróleo.
"É claro que não é verdade que a crise é culpa das sanções. A crise é culpa do modelo produtivo", diz Leon. Ele reconhece, no entanto, que "as sanções são impossíveisgoogle betanoafetar apenas o governo".
"A sanção amplia o problema, algo que é visto como um sacrifício que deve ser feito para tentar tirar Maduro do poder", diz o analista.
O problema para Washington e os setores da oposição que apoiam as sanções surge, como Leon destaca, quando elas não são suficientes para remover o governante venezuelano. A mesma estratégia, acrescenta ele, não deu certo "nemgoogle betanoCuba, nem no Irã, nem na Síria, nem no Zimbábue...".
"Então você amplia o processogoogle betanodeterioração interna e destrói a infraestrutura, a produção, a capacidade da indústria... E o mais afetado é o povo."
Em contrapartida, o "socialismo boliviano" nacionalizou os setores estratégicos principalmente com o objetivogoogle betanorenegociar contratos com empresas internacionaisgoogle betanopetróleo para, então, aumentar os royalties detidos pelo Estado.
Essa renegociação proporcionou enormes somas ao governo, que possibilitaram uma políticagoogle betanoredistribuiçãogoogle betanoriquezagoogle betanoolhogoogle betanotrês setores da sociedade: os idosos, as criançasgoogle betanoidade escolar e as gestantes.
De fato, com essa decisãogoogle betanolimitar as nacionalizações a setores estratégicos, também explica como, ao contrário da Venezuela, o governogoogle betanoMorales operava para garantir o suprimento internogoogle betanoalimentos.
E, além da agriculturagoogle betanosubsistência que pode ser encontradagoogle betanotodo o país, a sede do setorgoogle betanoagronegócios ficagoogle betanoSanta Cruzgoogle betanola Sierra, berço dos movimentosgoogle betanooposição a Morales.
O agronegócio é o segundo item na pautagoogle betanoexportação da Bolívia,google betanotornogoogle betano10%, mas o setor está crescendo a uma taxa superior a 8%, portantogoogle betanocontribuição para o PIB está aumentando.
Coexistência pacífica
Durante os primeiros e turbulentos anos do presidente Morales no poder, o setor do agronegócio aliou-se à oposição e suas aspirações autonomistas e até separatistas.
O governo decretou o controle das exportaçõesgoogle betanoalimentos e exigiu um "certificadogoogle betanosuprimento interno" para garantir a disponibilidadegoogle betanoprodutos no mercado doméstico.
Mas, ao contrário do amargo confronto entre governo e empresários que ocorreu na Venezuela,google betano2011, Morales conseguiu costurar uma coexistência pacífica com os chefões do agronegócio.
"Eles perceberam que a opção pelo confronto com a oposição representariagoogle betanoderrocada, então começaram a cooperar com o governo", lembra Molina.
O analista ressalta que o governo "também fez uma concessão" ao substituir o discurso contra os transgênicos por outro "de desenvolvimento agrícola".
"Com esse acordo, se resolveu o problemagoogle betanoalimentos e produtos básicos", diz Molina.
Problemas à vista
Mas nem tudo são boas notícias na economia da Bolívia.
De fato, existem motivosgoogle betanopreocupação.
A prometida industrialização dos recursos naturais não ocorreu durante os anos do boom do petróleo e os críticos acusam o governogoogle betanoaprofundar o modelo rentista extrativista.
Molina falagoogle betanosinaisgoogle betanouma "doença holandesa" que, embora não tenha chegado ao pontogoogle betanodestruir a economia, impediu a diversificação e a industrialização, tornando-a fortemente dependente da exportaçãogoogle betanorecursos naturais.
Além disso, a situação mudou radicalmentegoogle betano2014 com a queda nos preços dos hidrocarbonetos.
A Bolívia começou a registrar déficit fiscal, ou seja, passou a gastar mais do que arrecada. Ao mesmo tempo, há um déficit comercial, importando mais do que exporta.
Ambos os déficits,google betanocercagoogle betano6 e 8%, não levaram o governo a fazer nenhum tipogoogle betanoajuste e foram pagos com dinheiro das reservas internacionais, aumentando a dívida externa.
E embora a dívida externa (cercagoogle betano25% do PIB) e as reservas internacionais (20% do PIB) permaneçamgoogle betanonúmeros que podem ser considerados saudáveis, o mesmo não se pode dizer do ritmo com o qual elas se deterioram.
Em cinco anos, as reservas internacionais caíramgoogle betano50% do PIB para 20%.
Muitos veem inevitavelmente uma desvalorização futura do boliviano, a moeda da Bolívia, mas isso se refletirá na inflação e não parece ser uma receita mágica que servirá para corrigir a situação.
"No caso boliviano, considerando que 70-80% das exportações são minerais e hidrocarbonetos, dificilmente uma desvalorização levaria ao aumento das exportações", diz José Pérez-Cajías, historiador da economia boliviana da Universidadegoogle betanoBarcelona, na Espanha.
Isso porque o preço dessas matérias-primas é determinado internacionalmente.
O vice-presidente, Álvaro García Linera, diz que a chave para deixar o atoleiro é diversificar as exportações com a industrialização do lítio, a "economia do conhecimento" e até o turismo.
E isso é algo que os governantes da Bolívia e Venezuela têmgoogle betanocomum: maisgoogle betanouma década falando sobre diversificar a economia sem que isso realmente aconteça.
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