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Akihito, o imperador que tentou curar cicatrizes da guerra e humanizou trono do Japão:fut band aposta
Uma senhora estava reclamando com um policial. "Por que eles passaram tão rápido?", questionou. "Normalmente eles dirigem bem mais devagar. A gente mal pode vê-los", lamentou. O policial sorriu pacientemente. Ele não tinha controle da velocidade da comitiva.
Eu esperava ver centenasfut band apostafãs mais entusiasmados na última visita oficial do casal aos túmulos imperiais – depoisfut band aposta30 anos no poder, Akihito abdicou nesta terça-feira ao trono do Japãofut band apostafavor do filho Naruhito,fut band apostauma cerimônia histórica no Palácio Imperial,fut band apostaTóquio.
Mas cercafut band aposta5 mil pessoas foram ao evento. Muitos choravam; aos poucos, a multidão se dispersou.
"Eu sou muito grata pelo que eles fizeram para o povo japonês", disse uma mulher que vestia um belo quimono primaveril. "Eu acenei pra eles com uma enorme gratidão por todos esses anos".
"Eu estou emocionada", disse a amiga dela. "Espero que possam descansar e ter paz depoisfut band apostatantos anosfut band apostaserviço".
Kaoru Sugiyama, com um enorme chapéufut band apostaverão, também foi ao último evento do imperador japonês com um grupofut band apostaamigos.
"Não soufut band apostauma geração que experimentou a guerra, mas quando olhamos para trás, foi o imperador que manteve a paz no Japão durante seu reinado. Então, eu queria vir e vê-lo na última visita, para mostrar minha gratidão. Queria dizer a ele: obrigada."
Mas o que imperador Akihito fez no Japão para despertar esses sentimentos?
Em janeirofut band aposta1989, Akihito chegou ao tronofut band apostaCrisântemo, após a mortefut band apostaseu pai.
Eram temposfut band apostaotimismo no Japão. O país estava no auge do boom econômico do pós-guerra. A Sony estava prestes a comprar a Columbia Pictures e a Mitsubishi a arrematar o Rockefeller Centerfut band apostaNova York.
Grande parte do mundo via o Japão como a nova "superpotência".
Mas, após um anofut band apostareinado, Akihito viu o país mergulhar numa profunda crise. A bolhafut band apostaativos estourou e a bolsafut band apostavaloresfut band apostaTóquio entroufut band apostacolapso, desvalorizandofut band aposta35%. Quase 30 anos depois, as ações e preçosfut band apostaterras continuam abaixo dos níveis registradosfut band aposta1990.
Para muitos japoneses, a era Heisei, palavra que significa "atingindo a paz", foi umafut band apostaestagnação econômica. Também foi uma marcada por tragédias.
Em janeirofut band aposta1995, um terremotofut band apostamagnitudefut band aposta6.9 varreu a cidadefut band apostaKobe, derrubando prédios e viadutos da autoestrada e causando incêndio que duraram dias, tornando negro o céu acima da cidade. Cercafut band aposta6 mil pessoas morreram.
Em 2011, um terremoto ainda mais devastador atingiu a costa noroeste japonesa. Dessa vez,fut band apostamagnitude 9, o quarto mais forte terremoto já registrado. O terremoto provocou um tsunami gigante, que causou um rastrofut band apostadestruiçãofut band apostavárias cidades e matou cercafut band aposta16 mil pessoas.
Após o segundo desastre, o imperador japonês fez algo que nenhum ocupante do trono havia feito antes: se sentoufut band apostafrente uma câmerafut band apostatelevisão e falou diretamente ao povo.
Duas semanas depois, o imperador e a imperatriz chegaram a um centro para desabrigados,fut band apostaum estádio nos arredoresfut band apostaTóquio.
As pessoas estavam acampadas no chão, com poucos pertences empilhadosfut band apostavolta deles. A maioria havia fugido da nuvemfut band apostaradiação da usina nuclearfut band apostaFukushima, que ficou comprometida com o terremoto.
Eram pessoas que haviam deixado quase tudo para trás, incertosfut band apostaquando, ou se, seriam capazesfut band apostaretornar a suas cidades natais. O imperador e a imperatriz se ajoelhavam no chão com cada família, conversando com elesfut band apostavoz baixa, fazendo perguntas, expressando preocupação.
Os japoneses jamais viram um imperador agir assim.
Os mais conservadores ficaramfut band apostachoque. Não era como o descendente direto do deus do sol Amaterasu deveria se comportar, diziam eles. Mas muitos outros japoneses ficaram profundamente comovidos com a demonstração pública, e muito humana,fut band apostaempatia.
"Ele tinha autoridade moral", explica o professor Jeff Kingston, da Universidade Temple,fut band apostaTóquio. "E ele ganhou isso. Ele era o chefe que dava o consolo. Ele conecta com o públicofut band apostauma forma que o pai dele jamais foi capaz", diz Kingston.
"Quando vai aos abrigos, não é como um políticofut band apostabusca da oportunidadefut band apostatirar uma foto,fut band apostaacenar e partir. Ele senta com as pessoas, bebe chá e se envolvefut band apostaconversasfut band apostauma forma que era inimaginável na era pré-1945."
Os 'pecados' do pai
O imperador Akihito não tem aparênciafut band apostarevolucionário. Ele é franzino, modesto e tem fala macia.
Suas palavras e ações são fortemente limitadas pela Constituição pós-guerra do Japão e, ao contrário da rainha Elizabeth 2ª, do Reino Unido, ele não é o chefefut band apostaEstado do Japão.
Seu papel é bem mais vago e definido como "símbolofut band apostaum estado e da unidade do povo". Ele é proibidofut band apostaexpressar qualquer opinião política.
E mesmo preso ao seu papel cerimonial, Akihito conseguiu fazer algumas coisas notáveis.
A primeira coisa que é preciso lembrar é que Akihito é o filhofut band apostaHirohito, o imperador tido como um deus no Japão durante os quase 15 anosfut band apostaque o país, sob seu comando, ocupou grande parte da Ásia, nos anos 1930 e 1940. Akihito tinha 12 anos quando a Segunda Guerra terminou, após as bombas atômicasfut band apostaHiroshima e Nagasaki.
Em algum momentofut band apostasua formação - alguns dizem que sob a influência da tutora norte-americana Elizabeth Gray Vining -, Akihito se transformou num pacifista convicto. E permanece assim até hoje. Ele diz a pessoas mais velhas que a maior alegria dele vemfut band apostasaber que durante seu reinado nenhum soldado japonês morreu numa guerra ou conflito armado.
O imperador assumiu o papelfut band apostase aproximarfut band apostaex-inimigos e vítimas do Japão. De Pequim a Jacarta,fut band apostaManila (Filipinas) a Saipan (nas Ilhas Marianas do Norte, dos EUA), ele procurou curar as feridas abertas pelo pai dele.
"Ele criou um novo papel para o imperador, e foi o principal emissário da nação pela reconciliação, cruzando a região, fazendo gestosfut band apostacompensação e pedindo desculpas. Basicamente, tentando curar as cicatrizes do passado da guerra", diz Kingston.
Nos anos 1990s, esse comportamento não causava controvérsias. Políticos japoneses até encorajavam o imperador, organizando uma histórica viagem à Chinafut band aposta1992.
Mas à medida que ele envelhecia, a política japonesa foi dando uma guinada à direita.
A velha "diplomacia da desculpa" caiufut band apostadesuso, assim como o pacifismo.
O atual primeiro-ministro, Shinzo Abe, prometeu livrar o Japãofut band apostasua Constituição pacifista. Ele e outros políticosfut band apostadireita querem trazerfut band apostavolta a educação patriótica e por um fim ao que chamamfut band aposta"masoquismo histórico" do pós-guerra.
De forma sutil, mas determinada, o imperador Akihito tem, reiteradamente, demonstrado desdém com revisionistas. Em 2015, no aniversáriofut band aposta70 anos do fim da guerra, o primeiro-ministro fez um discurso,fut band apostaque, segundo Kingston, "basicamente disse que a paz e a prosperidade que desfrutamos hoje se deve ao sacrifício dos três milhõesfut band apostajaponeses que morreram na guerra".
"No próximo dia, Akihito respondeu, com um discurso dizendo que a prosperidade que desfrutamos hoje se deve ao trabalho duro e sacrifício do povo japonês após a guerra".
Para milhõesfut band apostapessoas assistindo à TV, foi uma dura reprimenda.
Em outra ocasião, numa festa no jardim realfut band apostaTóquio, um integrantefut band apostadireita do governo metropolitanofut band apostaTóquio disse com orgulho ao imperador que era o responsável por garantir que todos os professores ficassemfut band apostapé e olhassem para a bandeira enquanto cantavam o hino nacional.
O imperador gentilmente advertiu o burocratafut band apostaforma enfática. "Sou a favor da escolha individual", disse ele.
A longa despedida
Durante seu reinado, Akihito sempre teve ao seu ladofut band apostacompanheira e principal conselheira, a imperatriz Michiko. Ela nasceu plebeia e, às vezes, achou a vida na casa imperial extremamente difícil. Em 1993, a imperatriz entroufut band apostacolapso por exaustão mental e, por dois meses, perdeu a capacidadefut band apostafalar.
Num texto recente, ela falou sobrefut band apostaadmiração pela determinação do marido.
"Seus deveres exigem prioridade todo o tempo e questões pessoais sempre ocupam o segundo lugar", escreveu ela. "E é exatamente assim que ele viveu esses quase 60 anos".
Mas há algum tempo, a saúde do imperador Akihito tem ficado cada vez mais frágil. Ele teve câncer e foi submetido a uma cirurgia cardíaca importante. Os mais próximos dizem que ele teme cada vez mais que a saúde debilitada o incapacite e impossibilitefut band apostadesempenhar suas funções oficiais.
Desde 2009, o imperador vinha articulando nos bastidores para que pudesse passar o trono a seu filho. Não foi uma tarefa fácil.
A Constituição pós-guerra do Japão deixa claro que imperadores devem servir a vida toda. Segundo Takeshi Hara, da Universidade Aberta do Japão, os políticos ignoraram os pedidos do imperador.
"Durante nove anos, nenhum dos governos mostrou simpatia com os sentimentos do imperador", diz Hara. "Eles achavam que, se aceitassem o desejo do imperadorfut band apostaabdicar (ao trono), estariam dando um sinalfut band apostaque o imperador tem poder para tomar decisões importantes, e isso é contra a Constituição."
Foi uma questão complicada, bem japonesa. Hara diz que, cada vez mais desesperada, a corte imperial tevefut band apostaarmar um esquema.
"O imperador e a Agência Imperial estavam ficando cada vez mais impacientes", diz ele. "Foi quando alguém da Agência vazou a informação para a NHK (emissora nacional do Japão). A NHK então deu a notícia sobre o pedido do imperador."
Foi um grande furo jornalístico da emissora e acabou quebrando o impasse. Um mês depois, o imperador foi à televisão para fazer um apelo direto ao povo japonês, explicando seu desejofut band apostadeixar o trono para o filho.
Pesquisasfut band apostaopinião mostraram que a esmagadora maioria dos japoneses apoiava o desejo do imperador.
Abe e os conservadores não tiveram escolha senão aceitar. Demorou quase dois anos, mas agora o imperador Akihito finalmente poderá desfrutarfut band apostasua aposentadoria.
Aos 85 anosfut band apostaidade, ele recebeu permissão para abdicar depoisfut band apostadizer que se sentia incapazfut band apostacumprir seu papel por causafut band apostasua idade e saúdefut band apostadeclínio. Ele é o primeiro monarca japonês a se afastar do cargofut band apostamaisfut band aposta200 anos.
'Paz e prosperidade'
O país começará oficialmente uma nova erafut band aposta1ºfut band apostamaio, quando o príncipe herdeiro Naruhito ascenderá ao trono do Crisântemo como novo imperador.
Em seu último discurso público como imperador, nesta terça-feira, Akihito entregou os símbolos do poder e agradeceu ao público por seu apoio durante seu reinado.
Pela manhã, ele participoufut band apostauma cerimônia xintoísta – crença religiosa que surgiu no Japão, formada por uma sériefut band apostalendas e mitos que explicam a origem do mundo – para relatar seus planos aos ancestrais mitológicos da família imperial do Japão.
A principal "cerimôniafut band apostaabdicação" ocorreufut band apostaum salão do Palácio Imperial, diantefut band apostacercafut band aposta300 pessoas, incluindo o primeiro-ministro Shinzo Abe, o príncipe herdeiro Naruhito e a princesa herdeira Masako.
Numa breve cerimônia, o primeiro ministro Shinzo Abe dirigiu-se ao imperador, dizendo: "Mantendofut band apostanossos corações o caminho que o imperador tem percorrido, faremos os maiores esforços para criar um futuro brilhante para um Japão cheiofut band apostapaz e esperança. "
Em seu discurso final, Akihito, vestindo um casaco matinal ao estilo ocidental, disse que "desejava ao Japão e ao mundo paz e prosperidade".
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