O que faz a economia do Peru crescer forte mesmo após escândalo Odebrecht arrastar 4 ex-presidentes:slot era

Os números mostram que a economia peruana não saiu dos trilhos, mesmo com ramificações locais dos escândalos envolvendo obras públicas, campanhas políticas e propinas que ocorreram no Brasil.

Alémslot eraAlan García (1949-2019), que governou o país duas vezes (1985-1990) e (2006-2011), os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) respondem judicialmente a processos decorrentes das investigações da Lava Jato. Uma das principais líderes da oposição, Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, também foi acusadaslot erareceber irregularmente dinheiro da Odebrecht para suas campanhas políticas.

Nesse cenário conturbado, no ano passado a economia peruana completou vinte anos consecutivosslot eracrescimento e estabilidade, como observaram analistas e fontes do governo ouvidos pela BBC News Brasil. Ou seja, a queda do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, que foi substituído, no ano passado, pelo seu vice, Martín Vizcarra, também não teve impacto significativo sobre a saúde da economia.

Entrevistados apontaram como uma das razões para a trajetóriaslot eracrescimento o fatoslot eraque Toledo, García, Humala e Kuczynski terem mantido os principais pilares econômicos do país: abertura do mercado, ambienteslot eraprevisibilidade para investimentos estrangeiros, livre comércio, inflação e gastos baixos.

Outra chave para a estabilidade estaria no comércio exterior.

País com cercaslot era32 milhõesslot erahabitantes e Produto Interno Bruto (PIB)slot eracercaslot eraUS$ 211 bilhões, segundo dados oficiais, o Peru diversificouslot eralistaslot eraexportações nos últimos anos.

Além do seu histórico setor da mineração, passou a exportar ouro, incrementado por empresas chinesas instaladasslot eraseu território, e produtos do ramo agroindustrial - o Peru é hoje um dos maiores exportadores mundiaisslot eraabacate, aspargos e uvas.

"Há quem diga que o problema é que estamos dependentes demais do mercado asiático, para onde são enviadas 47% das exportações do país. Sendo que somente cercaslot era30% deste total vão para a China. Mas também é verdade que nestes vinte anos, passamos a exportar para outros mercados como o europeu, por exemplo. A economia peruana ganhou diversidade nesses anosslot eraestabilidade", explicou o economista Carlos Aquino, da Universidadeslot eraSan Marcos,slot eraLima.

Segundo ele, ao contrário da Venezuela, que depende do petróleo, e do México, que se apoia nos EUA para suas exportações, a economia peruana diversificouslot eraprodução e mercados.

Outro setor que cresceu bastante foi o do turismo.

Infraestrutura

Mas Aquino acredita que houve impacto, sim, da Lava Jato sobre os rumos da economia do país.

"Se não fosse a Lava Jato, poderíamos estar crescendoslot eratornoslot era6% e não 4%", disse.

Ele observou que o setorslot eraobras públicas não está entre as principais atividades do país, mas que não deixaslot eraser um motor para o crescimento.

"O setorslot eraobras públicas não chega sequer a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) peruano e este é um dos motivos para que a economia continue crescendo, mesmo que menos do que poderia alcançar se não fosse (a Lava Jato)."

Uma fonte do governo observou que as obras afetadas pela operação seriam fundamentais para melhorar a fraca infraestrutura do país. "Com mais estradas e portos, o país poderia ampliar suas exportações", observou.

O analista político Alfredo Torres, diretor do instituto IPSOSslot eraPeru, no entanto, disse à BBC News Brasil acreditar que "foram feitas obras que não eram prioridade".

"Foram gerados empregos, masslot eraestradas pouco usadas, por exemplo. Agora, com as investigações, algumas obras foram paralisadas e o processoslot eralicitações ficou mais complexo, o que estancou o investimento público e as associações público-privadas na áreaslot erainfraestrutura."

Para ele, "naturalmente" este freio tem consequências econômica e social. Ele explica: "um ponto a menos no Produto Interno Bruto (PIB), como resultado deste freio nas obras públicas, significa menos emprego e menor arrecadação fiscal para programas sociais, por exemplo".

Informalidade

Apesar do crescimento estável, o Peru enfrenta problemas profundos, que vão além da faltaslot erainfraestrutura, como altos índicesslot erapobreza eslot erainformalidade, mesmo num ambiente propício para investimentos e taxas baixasslot erainflação eslot erajuros.

Em 2004, o índiceslot erapobreza eraslot era58,7% no país, segundo dados oficiais do Instituto Nacionalslot eraEstatística e Informática (INEI). No ano passado, 2018, este índice eraslot era21,7% - muito mais baixo queslot era2004, porém acima dos 20,7%slot era2016, o que gerou preocupaçãoslot erasetores públicos do país.

Outro desafio permanente para os peruanos é o mercadoslot eratrabalho informal. Em 2004, a informalidade chegava a 80%. No ano passado, estavaslot era65%, aindaslot eraacordo com dados oficiais.

"A informalidade vinha caindo todos os anos desde 2004. A má notícia é que parouslot eracairslot era2018", disse ao jornal El Comercio,slot eraLima, o economista Elmer Cuba, da consultoria Macroconsult.

A economia local conta com inflação baixa (cercaslot era2% anual) e o câmbio tem histórico recenteslot erapouca variação.

Obras da Odebrecht no Peru

Entre as obras da Odebrecht citadasslot eracasosslot eracorrupção no Peru está a rodovia Interoceânica Sul, que liga o país ao Brasil e foi concluídaslot era2010. O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, revelou ter pago propinas para conseguir os contratos do projeto durante o governo do ex-presidente Toledo, segundo a imprensa peruana. Toledo mora nos Estados Unidos e,slot eramaio do ano passado, o Peru apresentou aos EUA um pedidoslot eraextradição do ex-presidente.

Além da Interoceânica e do metrôslot eraLima, cujas acusações envolviam o ex-presidente Alan García, a Odebrecht tem "em tornoslot eravinte obras públicasslot eratodo o país", segundo fontes do governo peruano. A lista inclui o gasodutoslot eraCasemira e o porto petroquímico, cujas obras ficaram congelados depois do início das investigações contra a empresa.

Procurada, a Odebrecht não respondeu aos contatos da reportagem para esclarecer que obras possui no país e quais estariam paralisadas ou foram modificadas após as investigações.

Fontes do governo disseram à BBC News Brasil que a empresa "vem colocando freio" nos seus investimentos no Peru desde que as autoridades passaram a investigar o chamado "Clube da Construção", como ficou conhecido um cartel que envolveria a empreiteira brasileira e representantes locais do setorslot eraobras públicas.

A Odebrecht admitiu ter pago US$ 29 milhõesslot erapropina no Peru, entre 2005 e 2014,slot eratroca da obtençãoslot eracontratos.

Em fevereiro deste ano, a empreiteira assinou um acordoslot eracolaboração com os promotores da Lava Jato no país, no qual se comprometeu a fornecer informações e pagar uma indenizaçãoslot eracercaslot eraUS$ 230 milhões.

Para o analista político Alfredo Torres, "é uma novidade" o fatoslot eraa Justiça não ter recebido "interferência" dos setores políticos.

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