A incrível jornadaaplicativo apostaAsia Bibi,aplicativo apostanove anosaplicativo apostasolitária por blasfêmia à vida nova no Canadá:aplicativo aposta

Legenda da foto, Asia Bibi foi presa e condenada por blasfêmia depoisaplicativo apostabeber um copoaplicativo apostaágua antesaplicativo apostaseus colegas muçulmanos

Os colegasaplicativo apostaAsia disseram que ela era "suja" e não era dignaaplicativo apostabeber no mesmo copo que eles. Houve discussão, e termos fortes foram ditos por ambos os lados.

Cinco dias depois, a polícia invadiu a casaaplicativo apostaAsia e a acusouaplicativo apostainsultar o profeta Maomé, principal símbolo do Islã, acusação feita também por um clérigo da aldeia.

Reunidaaplicativo apostafrente à residênciaaplicativo apostaAsia, uma pequena multidão começou a agredi-la diante dos policiais, e ela acabou presa sob acusaçãoaplicativo apostablasfêmia. Durante o julgamento,aplicativo aposta2010, ela se disse inocente, mas acabou sentenciada à morte.

No Paquistão, a punição por blasfêmia contra o Islã e seu profeta pode ser a prisão perpétua ou a morte. Mas muitas vezes essas acusações são utilizadas como formaaplicativo apostavingança por conflitos pessoais. Acusadosaplicativo apostablasfêmia, juntamente com as famílias, sofrem represálias e ataques mesmo antesaplicativo apostairem a julgamento.

Asia passou os últimos nove anosaplicativo apostasua vida no corredor da morte,aplicativo apostaconfinamento solitário. Mas, depoisaplicativo apostauma intensa mobilização social, conseguiu reverter a sentença e foi absolvidaaplicativo apostaoutubroaplicativo aposta2018.

Ainda assim, custou a ganhar a liberdade. Foi mantida num lugar secreto por meses por causaaplicativo apostaameaçasaplicativo apostamorte. Agora, autoridades paquistanesas confirmam que ela embarcouaplicativo apostasegurança para o Canadá.

'Agonia infinita'

Desde a prisão dela a famíliaaplicativo apostaAsia vive escondida e fugindo.

"Se um parente querido está morto, o coração consegue se curar depoisaplicativo apostaalgum tempo. Mas quando uma mãe está viva, e ela se separaaplicativo apostaseus filhos… A maneira como a Asia foi tiradaaplicativo apostanós, a agonia é infinita", explicou Ashiq, maridoaplicativo apostaAsia, à BBC News.

Legenda da foto, O maridoaplicativo apostaAsia Bibi, Ashiq Masih, e as filhas do casal, Esham e Esha

Enquanto conversávamos na varanda, Ashiq tentava se manter calmo, mas seu rosto tinha um ar sombrio. "Nós vivemos sempre com medoaplicativo apostaalguma coisa acontecer conosco, há sempre um sentimentoaplicativo apostaansiedade e insegurança. Eu deixo as crianças irem à escola, mas não deixo elas brincarem do ladoaplicativo apostafora. Nós perdemos nossa liberdade", afirmou.

Apesaraplicativo apostaanosaplicativo apostainsegurança e incerteza, Ashiq nunca desistiu da esposa. "Perdi minha liberdade, meu sustento e minha casa, mas não estou pronto para perder a esperança. Vou continuar lutando pela liberdadeaplicativo apostaAsia", disse, há quase um ano.

No ano passado,aplicativo aposta31aplicativo apostaoutubro, nove anos depois da prisãoaplicativo apostaAsia, o desejoaplicativo apostaAshiq foi finalmente realizado.

Contra as expectativasaplicativo apostamilharesaplicativo apostamuçulmanos conservadores, a Suprema Corte do país revogou sentença anterior por faltaaplicativo apostaprovas e permitiu que Asia Bibi fosse libertada.

Em poucas horas, indignados com a decisão histórica, manifestantes tomaram as ruas exigindo a morteaplicativo apostaAsia Bibi.

Por três dias consecutivos, os manifestantes tentaram submeter o governo e a nação àaplicativo apostavontade. As principais estradas foram bloqueadas, carros e ônibus foram incendiados, pedágios, saqueados e policiais acabaram atacados pela multidão. Particularmente na província orientalaplicativo apostaPunjab, muitos escritórios, empresas e até mesmo escolas foram forçados a fechar as portas.

O país assistiu às cenasaplicativo apostaviolência com horror enquanto o governo pouco aparecia. No início, o primeiro-ministro Imran Khan,aplicativo apostaum discurso na televisão, emitiu uma advertência aos manifestantes, dizendo para eles não "entraremaplicativo apostaconflito com o Estado".

Mas depoisaplicativo apostatrês diasaplicativo apostacaos crescente, o governo disse que, para evitar qualquer derramamentoaplicativo apostasangue, seria feito um acordo com os líderes da revolta.

Imediatamente após a libertação da Asia, o líder religioso Khadim Hussain Rizvi e seu partido políticoaplicativo apostaextrema-direita Tehreek-e-Labbaik Pakistan (TLP) usaram as mídias sociais para defender a desordem civil e a violência.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Caso controversoaplicativo apostaque Asia Bibi foi acusadaaplicativo apostablasfêmia teve inícioaplicativo aposta2009

Rizvi e seus partidários pediram que os juízes que absolveram Asia fossem mortos e encorajaram um motim entre os militares, declarando que o chefe do Exército era um apóstata – ou seja, ele teria renunciado ao islamismo.

O líder também conseguiu apoio fora do círculoaplicativo apostaseu partido. Vídeos nas redes sociais convocaram mais protestos, levando às ruas milharesaplicativo apostapessoasaplicativo apostadiferentes segmentos sociais do Paquistão.

Rizvi também acusou o Ocidenteaplicativo apostaencorajar a blasfêmia contra o Islã e seu profeta Maomé. Em umaplicativo apostaseus tuítes, ele disse que as pessoas deliberadamente cometiam blasfêmia para conseguir dinheiro e receber asilo dos países ocidentais.

Em outubro, depoisaplicativo apostatrês diasaplicativo apostademonstraçõesaplicativo apostaforça do TLPaplicativo apostatodo o Paquistão, o governo cedeu: concordouaplicativo apostanão se opor a uma petição para um novo julgamentoaplicativo apostaAsia e a proibiuaplicativo apostadeixar o país.

A petição foi promulgada e os protestos cederam. Asia foi libertada da prisão, mas foi levada sob custódia protetiva.

Ainda demorou três meses para ela ser finalmente postaaplicativo apostaliberdade. E, mesmo livre, foi mantida num lugar secreto por questõesaplicativo apostasegurança até que a saída dela do Paquistão fosse acertada.

O líder conservador e o político liberal

Poucos anos antes, Khadim Hussain Rizvi não tinha tanta influência, pois trabalhava como clérigoaplicativo apostauma pequena mesquita local. Apesaraplicativo apostatrabalhar para o governo, era tido como uma figura marginal. Mas ele começou a chamar a atenção por seus sermões controversos.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Khadim Hussain Rizvi, radical religioso, acabou virando um dos líderes dos protestos contra a libertaçãoaplicativo apostaAsia Bibi

Enquanto faziaaplicativo apostaorações, Rizvi frequentemente glorificava o assassinatoaplicativo apostaSalman Taseer, um proeminente político paquistanês que chegou a ser ministro das Indústrias e governador da provínciaaplicativo apostaPunjab. Ele acabou assassinadoaplicativo aposta2011 por defender a liberdadeaplicativo apostaAsia e mudanças na legislação que prevê penaaplicativo apostamorte por blasfêmia ao Islã.

Como governador, Taseer visitou Asia Bibi na prisãoaplicativo apostaSheikhupuraaplicativo aposta2010. Em uma coletivaaplicativo apostaimprensa na TV, com Asia sentada ao seu lado, Taseer apelou ao presidente do Paquistão para perdoá-la.

Algumas semanas depois,aplicativo apostaum dia frioaplicativo apostajaneiro, Taseer foi assassinado por seu próprio segurança. No meio do movimentado mercadoaplicativo apostaKohsaar,aplicativo apostaIslamabad, Malik Mumtaz Hussain Qadri, um jovem policial, atirou no governador à queima-roupa, 27 vezes.

Qadri se tornou um herói para milhõesaplicativo apostamuçulmanos conservadores. Logo depois do crime, ele se entregou à polícia, mas disse não ter qualquer arrependimento – estava cumprindo um "dever religioso", disse.

"A punição para a blasfêmia é a morte", afirmou aos policiais.

Crédito, AFP

Legenda da foto, O político paquistanês Salman Taseer foi assassinado por seu próprio segurançaaplicativo aposta2011 depoisaplicativo apostase posicionar contra a lei da blasfêmia

Em seu julgamento, que foi realizado dias depois, Qadri foi aplaudido por centenasaplicativo apostafãs e regado com pétalasaplicativo apostarosa. Ele foi condenado à morte e executadoaplicativo aposta2016.

Já Rizvi acabou sendo demitidoaplicativo apostaseu trabalho como clérigo por causa dos sermões que elogiavam Qadri como se ele fosse mártir. Então Rizvi se voltou para a política e fundou seu próprio partido, o TLP.

Meses depoisaplicativo apostaestabelecer o partido, os ativistasaplicativo apostaRizvi bloquearam uma rodovia principal, paralisando a capital Islamabad por 20 dias. Rizvi acusou o governoaplicativo apostablasfêmia depois que uma referência ao profeta Maomé foi deixadaaplicativo apostaforaaplicativo apostauma versão revisada do juramento eleitoral.

Assim, na eleição do ano passado, o até então pequeno partido populista, declarando-se defensor da honraaplicativo apostaMaomé, atraiu maisaplicativo aposta2 milhõesaplicativo apostavotos. Ao longo da campanha, seus cartazes e faixas exibiam fotografiasaplicativo apostaQadri, idolatrado como um mártir da causa religiosa.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Manifestantes pediram penaaplicativo apostamorte para acusadosaplicativo apostablasfêmia; leis sobre o tema remontam à história do Paquistão

Blasfêmia como crime

Nos últimos 30 anos, blasfêmia contra o profeta Maomé levava à penaaplicativo apostamorte no Paquistão, mas ninguém havia sido executado.

Há ao menos 1.549 casos conhecidosaplicativo apostapessoas acusadas por blasfêmia contra Maomé ou profanação do Alcorão, segundo o Centro Paquistanêsaplicativo apostaJustiça Social.

Desses casos, 75 pessoas acusadas por esses crimes foram assassinadas antes mesmoaplicativo apostaserem julgadas. Muitas foram mortas sob custódia da polícia ou linchadas pela multidão.

Um desses incidentes ocorreu quase perto da cidadeaplicativo apostaLahore, no pequeno municípioaplicativo apostaKot Radha Kishan, nomeaplicativo apostahomenagem a dois deuses hindus.

Na região, os campos são verdes e exuberantes. A cada 800 metrosaplicativo apostatodas as direções, estão as altas chaminés fumegantes dos fornos das olarias onde se fabricam tijolos. Em cada um, centenasaplicativo apostablocos são empilhadosaplicativo apostafileiras.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Malik Mumtaz Hussain Qadri, um jovem policial, assassinou o ex-governador Salman Taseer

Foiaplicativo apostaum desses fornos que Shahzad e Shama Maseeh, um casal cristão acusadoaplicativo apostablasfêmia, foi queimado vivo por uma multidão,aplicativo aposta2014.

O jornalista local Rana Khalid relembra os eventos que levaram aos assassinatos. Ele aponta para uma pequena estrutura perto do fornoaplicativo apostatijolos. "O casal estava trancado nessa sala se protegendo da multidão", ele conta.

Liderada por um clérigo local, a multidão estava furiosa: vários membros subiram no telhado e abriram caminho pelo teto. O casal foi arrastado para fora.

"Eles foram brutalmente espancados com paus e tijolos e arrastados pelos homens raivosos da aldeia até o fornoaplicativo apostatijolos e jogados lá dentro", descreve o jornalista.

Shama estava grávidaaplicativo apostaquatro meses.

A multidão acreditava que um dia antes Shahzad e Shama haviam queimado várias páginas do Alcorão, junto com o lixo. A família do casal nega, dizendo que eles estavam queimando documentos antigos.

Cinco pessoas da aldeia, incluindo o clérigo local, foram condenadas à morte por terem assassinado o casal cristão. Outros oito moradores foram condenados a dois anosaplicativo apostaprisão por incitar a violência.

Perseguição a muçulmanos

Mas não são apenas os cristãos que suportam o peso da controversa lei contra a blasfêmia do país. Ela também é usada para perseguir os muçulmanos do grupo Ahmadi. Essa comunidade é considerada pelo governo como uma minoria religiosa não-muçulmana. Por lei, os ahmadis não podem chamar seus locaisaplicativo apostacultoaplicativo apostamesquitas, são proibidosaplicativo apostarecitar do Alcorão ou mostraraplicativo apostaféaplicativo apostapúblicoaplicativo apostaqualquer maneira.

Aslam Jameel (nome fictício), um fazendeiro ahmadi, estava trabalhandoaplicativo apostaseus camposaplicativo apostatrigo no sulaplicativo apostaPunjabaplicativo aposta2009, quando foi abordado por um casalaplicativo apostamoradores locais. Eles disseram que ele precisava correr.

Aslam tinha sido acusadoaplicativo apostainsultar o profeta Maomé por um líder religioso local e a multidão estava atrás dele.

"O clérigo alegou que, Deus me livre, eu tinha levado quatro meninos ahmadis a escrever o nome do profetaaplicativo apostaum banheiro", diz Aslam, com a voz embargada pelas lágrimas.

Ele esperouaplicativo apostacasa até depois do anoitecer. Então conseguiu se esgueirar pela porta dos fundos e fugir. Não chegou muito longe antesaplicativo apostaperceber que fugir provavelmente o colocariaaplicativo apostamais problemas. Para onde ele iria?

Na manhã seguinte, ele se entregouaplicativo apostauma delegacia da polícia local. Demorou quase dois anos até seu caso ir a julgamento - ele ficou seis meses na prisão.

"O juiz estava sob imensa pressão", conta Aslam, emocionado. "O tribunal estava lotadoaplicativo apostaclérigos, mas ele [juiz] demonstrou uma grande coragem."

Aslam foi inocentado por faltaaplicativo apostaprovas. Quando voltou para casa, ele viu que seus pertences e animais haviam sido furtados. Ele então decidiu sair do Paquistão, e pediu asilo ao Canadá.

"Minha família foi ameaçada e assediada, minha vida e meu sustento, arruinados. Tivemos que abandonar a aldeia para salvar nossas vidas", diz.

Legenda da foto, Aslam Jameel (nome fictício), fazendeiro ahmadi, também foi acusadoaplicativo apostablasfêmia e precisou deixar o país

O estigma da blasfêmia

Para aqueles que são levados a julgamento e considerados culpadosaplicativo apostablasfêmia, o estigma os acompanha do tribunal até as grades da prisão.

Shakeel Wajid (nome fictício), outro ahmadi, diz que a multidão se reúne para acompanhar os julgamentos. "Os juízes dos tribunais inferiores estão sob grande pressão dos tribunais superiores e dos extremistas religiosos, que se reúnemaplicativo apostagrande número durante as audiências", explica Shakeel. "Os juízes têm pouca segurança e também temem por suas próprias vidas."

Depoisaplicativo apostaser considerado culpadoaplicativo apostablasfêmia, Shakeel passou dois anosaplicativo apostatrês prisõesaplicativo apostasegurança máxima na provínciaaplicativo apostaPunjab.

Ele diz que condenados por blasfêmia são mantidosaplicativo apostaseparado,aplicativo apostaalasaplicativo apostasegurança máxima. Algumas vezes eles têm como companheirosaplicativo apostacela prisioneiros com doenças mentais.

Na maioria das vezes, os detentos por blasfêmia são mantidos trancadosaplicativo apostasuas celas e, paraaplicativo apostaprópria segurança, são proibidosaplicativo apostacomer com os outros detentos, pois há riscoaplicativo apostaenvenenamento.

"Um dos meus companheirosaplicativo apostaprisãoaplicativo apostaRawalpindi era um professor universitário. Um aluno não concordou comaplicativo apostainterpretaçãoaplicativo apostacéu e inferno e o denunciou por blasfêmia", conta Shakeel.

Ele acredita ter tido sorte por conseguir a liberdade. Mas, acimaaplicativo apostatudo, Shakeel estava desesperado para conseguir limpar seu nome das acusações.

"O rótuloaplicativo apostablasfemo é pior que o medo da morte. É uma acusação tão séria que eu não queria morrer com isso. Eu queria que meu nome fosse limpo para que minha família pudesse sobreviver com dignidade na sociedade", diz ele.

Penaaplicativo apostamorte

A lei paquistanesa contra a blasfêmia ficou mais severa na décadaaplicativo aposta1980,aplicativo apostaum cenárioaplicativo apostacrescente polarização no país.

Em 1979, o Paquistão era aliado dos americanos quando o vizinho Afeganistão foi invadido pela União Soviética e os Estados Unidos iniciaram operações secretas para ajudar combatentes islâmicos.

O país teve ganhos econômicos significativos poraplicativo apostaparticipação na jihad afegã, mas acabou impulsionando fanatismo religioso. Durante a década seguinte, a influência política e social dos grupos religiosos radicais aumentou dramaticamente.

Eles ganharam visibilidade e voz. O Estado promoveu abertamente a ideologia islâmica ultraconservadora Wahhabi, sob liderança do general Zia ul-Haq, presidente do país entre 1978 e 1988.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A ideologia islâmica ultraconservadora foi intensificada com a presidência do general Zia ul-Haq entre 1978 e 1988

Leis foram promulgadas e adaptadas para reforçar a chamada sharia (legislação islâmica) e fazer do Paquistão uma nação "verdadeiramente islâmica". Nesse contexto, as regras sobre blasfêmia foram alteradas pelo Parlamentoaplicativo aposta1986.

Originalmente, uma legislação que respeitava diferenças religiosas havia sido criada pelos britânicosaplicativo aposta1860. O objetivo era conter conflitos religiosos entre hindus, muçulmanos, cristãos e siquesaplicativo apostatoda a Índia governada pelo Reino Unido na época.

A lei protegia locaisaplicativo apostaculto e objetos sagrados e tornava crime perturbar assembleias religiosas, invadir locaisaplicativo apostasepultamento e insultar deliberadamente crençasaplicativo apostaqualquer pessoa. Os infratores eram punidos com até dez anosaplicativo apostaprisão.

Em 1927, durante uma tensão política e antagonismo entre diferentes comunidades, a lei foi reforçada.

As leisaplicativo apostablasfêmia não favoreciam nenhuma religião específica até 1986, quando o Parlamento paquistanês introduziu novas emendas e incluiu uma cláusula que punia com a morte quem ofendesse o profeta Maomé.

Na votação, apenas um parlamentar se posicionou contra a cláusula 295-C. Seu nome é Muhammad Hamza.

Hoje com 90 anos, Hamza conta como foi aquele diaaplicativo apostaque a lei estava sendo discutida na Assembleia Nacional.

Em seu discursoaplicativo aposta1986, Hamza argumentou que os textos islâmicos citados pelos defensores da penaaplicativo apostamorte precisavam ser exaustivamente revisados ​​pelos estudiosos da religião antes que qualquer mudança na lei fosse aprovada. Ele alegou que o Parlamento estava sendo irresponsável, evitando um debate mais profundo sobre o assunto.

"Tenho uma opinião firme", diz Hamza. "Você não pode administrar o país com justiça seletiva. Qual é o propósito da lei se ela é destrutiva para a sociedade?"

"Nossa população não tem profundidade, é excessivamente emocional sobre religião, então eu sabia que a lei seria mal utilizada – é por isso que eu me opus", completa.

Hamza era a única voz da oposição no Parlamento naquele dia – a cláusula 295-C foi aprovada imediatamente. Ele ainda viveaplicativo apostaseu antigo distrito eleitoral, a cidadeaplicativo apostaGojra.

Legenda da foto, Muhammad Hamza foi o único parlamentar paquistanês a votar contra a lei da blasfêmia

Cristãos queimados vivos

Em 2009, no mesmo anoaplicativo apostaque Asia foi presa, Gojra ganhou as manchetes internacionais depoisaplicativo apostauma sérieaplicativo apostaataques que teve como alvo o maior assentamento cristão da cidade.

Provocada por rumoresaplicativo apostaque páginas do Alcorão haviam sido profanadas, uma multidão islâmica atacou e saqueou várias casas antesaplicativo apostaincendiá-las. Oito cristãos foram queimados vivos.

"Foi um dia triste. As acusações eram totalmente infundadas, mas a multidão estava furiosa. As pessoas não prestavam atenção no que as autoridades estavam tentando lhes dizer e a situação ficou foraaplicativo apostacontrole", conta o ex-parlamentar Muhammad Hamza.

Desde a introdução da penaaplicativo apostamorte, o númeroaplicativo apostapessoas acusadas por blasfêmia vem aumentando massivamente, segundo o Centro Paquistanêsaplicativo apostaJustiça Social.

"Sinto-me desanimado com a forma com que a lei está sendo usada contra pessoas vulneráveis", diz Hamza. "A religião se transformouaplicativo apostauma ferramenta política poderosa, não é mais uma bênção, tornou-se uma maldição, infelizmente."

Conservadorismo nas escolas

Os críticos da lei acreditam que a violência contra os acusados ​​de blasfêmia se deve a uma má interpretação dos textos sagrados já a partir da infância.

No Paquistão, milharesaplicativo apostacrianças são enviadas para madraças (escolas muçulmanas) e internatos islâmicos - uma alternativa gratuita à escola pública. Muitas dessas instituições ensinam uma profunda interpretação conservadora do Islã, incluindo uma constante retórica sobre a blasfêmia.

A vergonhaaplicativo apostauma possível blasfêmia é tamanha que alguns religiosos chegam a se flagelar como punição.

Aos 16 anos, Muhammad Anwar era um típico adolescente. Ele viviaaplicativo apostauma pequena aldeia do distritoaplicativo apostaOkara e, como outros jovensaplicativo apostasua idade, costumava ajudar seu pai na plantação.

Legenda da foto, Durante uma cerimônia, o jovem Muhammad Anwar, então com 16 anos, foi acusadoaplicativo apostaofender Maomé

Como é comumaplicativo apostamuitas partes rurais do Paquistão com baixos níveisaplicativo apostaalfabetização, o adolescente eaplicativo apostafamília veem o clérigo local como a autoridade máximaaplicativo apostatodos os assuntos religiosos.

Em janeiroaplicativo aposta2016, ele participavaaplicativo apostaum culto na mesquita da aldeia. O clérigo que liderava a celebração,aplicativo apostauma tentativaaplicativo apostacriar um fervor religioso entre os fiéis, questionou: "Quem aqui é seguidor do profeta Maomé?"

Os fiéis levantaram as mãos enquanto Anwar estava cochilando. O clérigo continuou: "Quem aqui não acredita nos ensinamentoaplicativo apostaMaomé?"

O adolescente, meio adormecido, levantou a mão sem pensar.

A mesquita ficouaplicativo apostasilêncio. Então o clérigo acusou publicamente o garotoaplicativo apostadesonrar o profeta Maomé. Anwar ficou profundamente perturbado. Depoisaplicativo apostatodos os fiéis foram para casa, ele ficou atrás da mesquita, procurando um consolo.

"Eu queria provar meu amor a Maomé", diz ele, sincero.

Como um atoaplicativo apostaadoração aaplicativo apostareligião, o adolescente decidiu que o melhor a fazer era cortaraplicativo apostaprópria mão. Ele colocouaplicativo apostamão direitaaplicativo apostauma máquinaaplicativo apostacortar grama e decepou o membroaplicativo apostaapenas um golpe.

"Não foi uma questãoaplicativo apostador. Fiz isso pelo amor ao meu profeta, que a paz esteja com ele", conta.

Ele colocou a mão decepadaaplicativo apostauma bandeja, cobriu com um pano branco e voltou para a mesquitaaplicativo apostabuscaaplicativo apostaabsolvição do clérigo.

Nos dias que se seguiram, pessoasaplicativo apostavilarejos e cidades próximas foram até a vilaaplicativo apostaAnwar para prestar seus respeitos a ele, elogiando-o por seu amor ao profeta Maomé.

Dois anos depois, ele passa boa parte do tempo lendo o Alcorãoaplicativo apostauma madraça local. Ele afirma que não se arrependeaplicativo apostater amputado a própria mão. "Não me importo com o que as pessoas falam. Isso é entre mim e meu profeta. Você não vai entender", diz.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Grupo pediu condenaçãoaplicativo apostaAsia Bibiaplicativo apostaLahore, no Paquistão

Liberdade para Asia

O prédioaplicativo apostaque fica o Supremo Tribunalaplicativo apostaLahore é mais alto que os outros adjacentesaplicativo apostauma movimentada avenida da cidade. Com seus tijolos vermelhos e altas colunas brancas, o edifício é uma lembrança do passado colonial do Paquistão.

Ao redor do Supremo Tribunal, ruelas estreitas acomodam muitos gabinetesaplicativo apostaadvogados, muitas vezes escritórios bem apertados.

Em uma praça atrás do tribunal,aplicativo apostafrente a uma lojaaplicativo apostachá movimentada, fica o escritório do advogado Ghulam Mustafa Chaudhry. Ele é presidenteaplicativo apostaum associaçãoaplicativo apostaadvogados pró-lei da blasfêmia chamada Khayam-e-Nabuwat –aplicativo apostatradução livre, seria algo como "finalidade do profeta". Eles oferecem aconselhamento jurídico a qualquer muçulmano que apresentar um casoaplicativo apostablasfêmia.

A associação tem cercaaplicativo aposta800 advogados voluntários por todo o Paquistão.

"Sempre que descobrimos qualquer incidente desse tipo [de blasfêmia]aplicativo apostaqualquer lugar do país, procuramos os queixosos e oferecemos assistência jurídica gratuita", explica Chaudhry.

"Nós fazemos isso para agradar Alá e proteger o profeta Maomé, não há motivação material", diz.

Chaudhry criou a associação há quase 18 anos, logo depoisaplicativo apostacomeçar a trabalhar como advogado. Hoje com 50 anos, ele diz que está mais motivado que nunca emaplicativo aposta"missão".

"É muito lamentável. A blasfêmia se tornou excessiva. Há 40 casosaplicativo apostablasfêmiaaplicativo apostajulgamento apenas na cidadeaplicativo apostaLahore. As pessoas que cometem blasfêmia são celebradas como heróis, isso é muito triste.

Ele critica a forma como o casoaplicativo apostaAsia Bibi se desenrolou. "Ela insultou o profeta Maomé, mas virou uma heroína no Ocidente."

Chaudhry também era o advogadoaplicativo apostadefesaaplicativo apostaMumtaz Qadri, o antigo guarda-costas transformadoaplicativo apostaassassino do governador Salman Taseer. O advogado diz que a lei da blasfêmia é uma "bênção" e que ela impede que a população faça Justiça com as próprias mãos.

"Mumtaz Qadri procurou a polícia para apresentar uma queixaaplicativo apostablasfêmia contra o ex-governador, masaplicativo apostareclamação não foi acolhida", diz o advogado. "Ele não teria sido forçado a pegar uma arma nas mãos se a lei tivesse sido seguida", acrescentou.

O casoaplicativo apostaAsia chegou até a corte máxima do país. Ela foi inocentada por faltaaplicativo apostaprovas, mas, mesmo assim, os protestos violentos continuaram no Paquistão.

Ainda assim, o governo concordou que poderia haver uma revisão do julgamento da Suprema Corte sobre a absolviçãoaplicativo apostaAsia. O governo queria dispersar os manifestantes, e depois acabou reprimindo o partido TLP, do líder religioso ultraconservador Khadim Hussain Rizvi.

Rizvi foi levado sob custódia pela polícia.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O advogado Ghulam Mustafa Chaudhry tem uma associação para ajudar muçulmanos que denunciarem casosaplicativo apostablasfêmia

Já a famíliaaplicativo apostaAsia foi mantidaaplicativo apostaum local secreto por quase três meses. Ela foi absolvida, mas ainda não estava livre.

Finalmente, o Supremo Tribunal aceitou a petiçãoaplicativo apostarevisãoaplicativo aposta29aplicativo apostajaneiro deste ano. O julgamento durou algumas horas. Ghulam Mustafa Chaudhry representou Qari Salim, o denunciante no casoaplicativo apostaAsia.

O advogado não conseguiu demonstrar qualquer erro no veredito. O tribunal rejeitou a petição e reiterouaplicativo apostadecisão anterioraplicativo apostalibertar Asia.

O presidente da corte disse que houve inconsistências nas declarações das testemunhas que depuseram contra Asia. "Como poderíamos enforcar alguém usando declarações falsasaplicativo apostatestemunhas?", questionou.

Asia deixou o Paquistão e foi para o Canadá, onde já estariam o marido e as duas filhas dela. Autoridades paquistanesas não confirmam, contudo, onde ela está nem quando embarcou. Eles também a mantiveram num lugar secreto enquanto negociavam a saída dela do país.

A decisão da Suprema Corteaplicativo apostaanular a sentençaaplicativo apostaoutubro passado levou a violentos protestosaplicativo apostareligiosos que apoiam as severas leisaplicativo apostablasfêmia no Paquistão, enquanto setores mais liberais da sociedade pediam a libertaçãoaplicativo apostaAsia.

Em retrospectiva, é irônico como um caso baseadoaplicativo apostadeclarações falsas tumultuou o tecido social do Paquistão por oito anos. Mas, finalmente, o governo mostrouaplicativo apostaforça e o estadoaplicativo apostadireito prevaleceu.

Foi um momento decisivo para o Paquistão e a mensagem era clara: a justiça pelas próprias mãos não pode governar o país e a puniçãoaplicativo apostamorte por blasfêmia não deve ser permitida.

Apesar da mensagem, a lei ainda continua valendo e ninguém ainda se levantou para falar sobre revogá-la ou promover mudanças. O assassinato do governador Salman Taseer ainda assombra a mente dos paquistaneses.

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