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O que é o fascismo? Perguntamos a pensadores da Itália, berço do movimento:bet5 365
O fascismo foi criado por Benito Mussolini - um ex-socialista - há quase cem anos. Originário da palavra latina "fascio littorio", um conjuntobet5 365galhos amarrados a um machado, símbolo do poderbet5 365punição dos magistrados na Roma Antiga, o experimento nasceu oficialmentebet5 36523bet5 365marçobet5 3651919, quando Mussolini fundoubet5 365Milão o grupo "Fasci di Combattimento", que reunia ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial (1914-18).
Com a Itália imersa no caos - à beirabet5 365uma guerra civil, com crise política, econômica e social, num momentobet5 365que o poder fugiu do controle do Estado -, e à sombra da revolução russabet5 3651917 (temia-se que o comunismo chegasse também no país), o grupo fundado por Mussolini cresceu rapidamente.
Aindabet5 3651919, ocorreram ataquesbet5 365brigadas fascistas - que depois se tornariam efetivamente milícias paramilitares - contra políticosbet5 365esquerda, judeus, homossexuais e órgãos da imprensa. Eles ficariam conhecidos como os "camisas negras".
No finalbet5 3651921, nasceu o Partido Nacional Fascista (PNF), cujo símbolo era exatamente o "fascio littorio". Menosbet5 365um ano depois, Mussolini assume o poder. Ele fortaleceubet5 365influência na Itália angariando o apoiobet5 365industriais, empresários e do Vaticano, e tornou-se referência para regimes autoritários mundo afora - Francisco Franco na Espanha, António Salazarbet5 365Portugal e, sobretudo, Adolf Hitler na Alemanha (que por muito tempo manteve um busto do Duce italianobet5 365seu escritório) tiverambet5 365Mussolini e no seu regime uma grande fontebet5 365inspiração.
Regime totalitário baseado num partido único, a característica fundamental do fascismo foi a militarização da política, que era tratada como uma experiênciabet5 365guerra: além do projetobet5 365expansão imperial, com a supremacia fascista imposta no Estado e na sociedade, o regime tratava os adversários como inimigos que deveriam ser eliminados. No mês passado, a Itália lembrou os 80 anos da chamada lei racial, aprovada contra os judeus e que estavabet5 365consonância ao regime nazistabet5 365Hitler.
"O fascismo sempre negou a soberania popular, enquanto o nacionalismo populistabet5 365hoje reivindica o sucesso eleitoral. Esse políticosbet5 365agora se dizem representantes do povo, pois foram eleitos pela maioria. Isso o fascismo nunca fez", comenta Emilio Gentile.
Raízes fascistas
Para o sociólogo italiano Domenicobet5 365Masi, que conhece o Brasil há muitos anos, se não é possível falar num fascismo histórico como o implementado na Itália no século passado, não há dúvidas, por outro lado,bet5 365que Jair Bolsonaro (PSL) é um políticobet5 365inspiração fascista - o candidato à Presidência disse recentemente num comício no Acrebet5 365"metralhar a petralhada". A eliminação físicabet5 365adversários era exatamente uma das características do regimebet5 365Mussolini.
"Ele tem inspiração fascista no que diz respeito à relação do Estado com a economia, entre o poder civil e militar, política e religião. E com base num conceitobet5 365autoritarismo, acha que pode resolver problemas complexos com receitas fáceis", diz De Masi.
O sociólogo vê com inquietação a ascensãobet5 365governos e políticos com raízes "claramente fascistas". "Bolsonaro é como Salvini (Matteo Salvini, políticobet5 365direita e vice-premiê italiano hoje). Os dois têm uma visão autoritária da sociedade. Brasil e Itália são sociedades muito distintas, mas vejo os dois muito parecidos", completou.
Salvini, aliadobet5 365Steve Bannon, ex-estrategistabet5 365Donald Trump que já se reuniu com um dos filhosbet5 365Bolsonaro, declarou recentemente no Twitter torcer pela eleição do ex-capitão no Brasil.
Domenicobet5 365Masi ressalta que, enquanto na Europa o que alimenta esse tipobet5 365discurso é a imigração (e que tem, na Itália, o apoio das classes média e média-baixa), no Brasil o fenômeno é estimulado pelo ódio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores. "No caso brasileiro, o cidadão pobre do Nordeste é mais inteligente quanto ao perigobet5 365Bolsonaro do que os ricosbet5 365São Paulo, que apoiam o candidato".
Como o colega Emilio Gentile, o historiador Eugenio di Rienzo, professorbet5 365História Contemporânea da Universidade Sapienza,bet5 365Roma, afirma que o fascismo é um regime que nasceu e morreu no século passado -bet5 3651945, quando Mussolini foi assassinadobet5 365Milão.
"Não se pode fazer uma analogia entre aquele fenômeno e outro. O fascismo não se reproduz mais, é preciso cuidado com o uso da palavra, pois acaba provocando desinformação", disse. "Um racista não é sempre um fascista. O governobet5 365(Recep Tayyip) Erdogan na Turquia é autoritário, mas não fascista."
Di Rienzo reconhece que há muitos nostálgicos do fascismo na Itália, assim como do nazismo na Alemanha, mas para ele o processo atual (na Europa e nos Estados Unidosbet5 365Trump) não é uma "repetição do passado": "Há algumas semelhanças, mas os processos são muito diferentes. A analogia, muitas vezes, tem o propósitobet5 365propaganda".
Emilio Gentile concorda. "Na verdade, faz-se propagandabet5 365um fascismo que parece eterno, mas ao menos na Europa é um fenômeno novo que se relaciona à crise da democracia, ao medo da globalização e dos movimentos imigratórios que poderiam sufocar a coletividade nacional. Mexe com a imaginação das pessoas, mas não se tratabet5 365um perigo real."
Gentile lembra que o sucessobet5 365Bolsonaro no Brasil tem a ver com uma tradição latino-americana da participação dos militares na política, vistos como atores da "ordem e da competência", o que não acontece nos países europeus.
Madeleine Albright, ex-secretáriabet5 365Estado dos Estados Unidos, país onde chegou nos anos 1940 apósbet5 365família fugir do nazi-fascismo na Europa, publicou recentemente o livro Fascismo: Um Alerta,bet5 365que discute o tema e as formas atuaisbet5 365transmutação do que ela chamabet5 365"vírus do autoritarismo". "Definir fascismo é difícil. Primeiro, não acho que fascismo seja uma ideologia. É um método, um sistema", disse Albright recentemente numa entrevista.
O certo é que o debate sobre o que é fascismo ebet5 365quais situações se deve utilizar o conceito é tão antigo quanto o próprio regime.
Numa coluna para o jornal inglês Tribune,bet5 365marçobet5 3651944, o escritor e jornalista George Orwell escreveu - o artigo intitulava-se "O que é fascismo?" - que todo aquele que usa indiscriminadamente a palavra fascismo está agregando a ela um significado emocional. "Por fascismo, eles estão se referindo,bet5 365maneira grosseira, a algo cruel, inescrupuloso, arrogante, obscurantista."
Autorbet5 365livros clássicos sobre o totalitarismo (como 1984 e A Revolução dos Bichos), Orwell recomendava: "Tudo que se pode fazer no momento é usar a palavra com certa medidabet5 365circunspeção e não, como usualmente se faz, degradá-la ao nívelbet5 365um palavrão".
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