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Talebã já ameaça 70% do território do Afeganistão:2 bwinner net
Em resposta, tanto autoridades afegãs quanto os Estados Unidos têm descartado a possibilidade2 bwinner netdiálogo. No ano passado, Trump anunciou que as tropas americanas ficariam no país sem previsão2 bwinner netretirada.
O levantamento levou2 bwinner netconta ataques registrados entre agosto e novembro2 bwinner net2017, e retrata a situação2 bwinner netsegurança2 bwinner netcada um dos 399 distritos do Afeganistão.
Repórteres da BBC entrevistaram mais2 bwinner net1,2 mil pessoas2 bwinner nettodos os distritos para fazer uma análise mais aprofundada dos ataques registrados no país no período.
As conversas foram feitas pessoalmente ou por telefone, e todas as informações coletadas foram checadas com pelo menos duas ou até com seis fontes diferentes. Em alguns casos, repórteres da BBC foram a estações rodoviárias para encontrar pessoas viajando2 bwinner nete para regiões remotas e distritos2 bwinner netdifícil acesso na tentativa2 bwinner netconfirmar a situação narrada pelos entrevistados.
Os resultados desse levantamento mostram como 15 milhões2 bwinner netpessoas, o equivalente a metade da população, estão vivendo2 bwinner netáreas controladas pelo Talebã ou2 bwinner netlocais onde o grupo atua abertamente e comanda ataques regulares.
O levantamento indica2 bwinner netforma clara como o Talebã avançou do sul, seu tradicional reduto,2 bwinner netdireção ao leste, oeste e norte do país.
Desde 2014, o Talebã vem ampliando o controle2 bwinner netáreas da província2 bwinner netHelmand como Sangin, Musa Qala e Nad-e Ali, locais onde as forças estrangeiras haviam desbancado o grupo2 bwinner net2001. Mais2 bwinner net450 militares britânicos morreram2 bwinner netHelmand entre 2001 e 2014.
"Quando eu saio2 bwinner netcasa, não sei se vou voltar vivo", diz Sardar,2 bwinner netSjondand, um distrito a oeste que tem sofrido ataques semanais. "Explosões, terror e o Talebã são parte do nosso dia a dia".
O levantamento da BBC também indica que o Estado Islâmico está mais ativo no Afeganistão, apesar2 bwinner netter menos poder que o Talebã.
Qual fatia do território está nas mãos do Talebã?
A coleta2 bwinner netdados precisos e confiáveis sobre o conflito no Afeganistão tem ficado cada vez mais difícil desde que as tropas estrangeiras deixaram o país e que as estatísticas ficaram sob a responsabilidade das forcas2 bwinner netsegurança afegãs.
Avaliações anteriores da força do Talebã nem sempre levavam2 bwinner netconta informações2 bwinner nettodos os quase 400 distritos do país, e muitas vezes eram criticadas por estarem subestimando a realidade.
O levantamento da BBC mostra que atualmente o Talebã controla 14 distritos (4% do país) e tem presença ativa e declarada2 bwinner netoutras 263 áreas (66% do território). Isso significa uma proporção mais elevada do que qualquer outra estimativa já feita sobre a força do grupo extremista.
Nessas áreas onde há presença ativa, são frequentes os ataques contra o governo, desde ações coletivas2 bwinner netbases militares a emboscadas ou atos direcionados2 bwinner netcomboios ou pontos2 bwinner netcontrole oficiais.
No período analisado, ataques foram contabilizados com graus2 bwinner netfrequência variados. Há desde áreas com uma presença mais esparsa do Talebã, que registraram um ataque a cada três meses, até locais com maior atuação do grupo, que sofrem pelo menos dois ataques por semana.
Por questões metodológicas, definiu-se que os distritos controlados pelo governo são os que têm chefe, comandante da polícia ou corte que representam Cabul - sede do governo.
Amruddin, que comanda uma empresa2 bwinner nettransporte local, mora2 bwinner netBaharak, região classificada pela BBC como nível médio2 bwinner netrelação à presença do Talebã. Ele também narra a rotina diária2 bwinner nettensão,2 bwinner netespecial porque vive perto da área2 bwinner netconfronto.
"Quando o governo começa a lutar contra o Talebã, estamos na linha2 bwinner netfogo cruzado, deixando a vida2 bwinner netsuspenso. Está calmo no momento, mas o Talebã ainda está aqui".
Em Sangin, área controlada pelo grupo, Mohammad Reza, pai2 bwinner netoito filhos, diz que a vida é melhor porque há paz.
"Só ficou violento quando as forças governamentais chegaram".
A BBC identificou 122 distritos, o equivalente 30% do Afeganistão, que não tinha uma presença aberta do Talebã. Essas áreas foram classificadas como controladas pelo governo, mas isso não significa que estão livres2 bwinner netviolência.
Cabul e outras cidades grandes, por exemplo, têm sofrido ataques massivos perpetrados a partir2 bwinner netáreas adjacentes ou pelas chamadas células adormecidas - isso aconteceu não apenas durante o período analisado, mas também antes e depois.
"As pessoas não têm outra opção senão abandonar suas casas, fazendas, ranchos ou viver sob o domínio talebã", diz uma professora2 bwinner netum distrito no norte2 bwinner netCabul.
Ela disse que a família saiu da vila2 bwinner netoutubro. Foram buscar refúgio no centro do distrito, área ainda controlada pelo governo. Mas seu irmão acabou morto2 bwinner netum ataque2 bwinner netum homem-bomba dois dias depois da mudança.
Do lado oeste da capital, Jamila, mãe2 bwinner netcinco, diz: "Dois foguetes talebãs caíram nos fundos do nosso jardim no mês passado. Moramos a poucos metros do escritório do chefe do distrito. Não é seguro aqui", relata.
A apuração também revelou que o Talebã passou, subitamente, a cobrar taxas dos moradores das áreas onde controla. Os extremistas forçam fazendeiros, comerciantes locais e até quem transporta mercadorias a pagar taxas, apesar2 bwinner netdeixar o governo no controle2 bwinner netserviços básicos como escolas e hospitais.
"Eles estão cobrando pessoas pela energia elétrica que a gente fornece", diz o chefe2 bwinner netum dos distritos no sul do país.
O levantamento feito pela BBC foi avaliado pela Rede2 bwinner netAnalistas do Afeganistão, organização2 bwinner netpesquisa sem fins lucrativos baseada2 bwinner netCabul. A co-diretora da entidade, Kate Clark, disse ser tão bem vinda quanto rara "uma pesquisa tão bem apurada sobre a guerra afegã".
"As descobertas são chocantes, mas infelizmente não nos surpreendem. São verdadeiras e o mapeamento sobre a extensão do conflito é preciso", avaliou Clark.
"Mas é incômodo perceber que cada ponto laranja no mapa se traduz2 bwinner netvidas perdidas e prejudicadas".
O que é o Talebã?
- Grupo islâmico que atua no Afeganistão e Paquistão
- Surgiu a partir2 bwinner nettribos que vivem na fronteira entre os dois países, depois da ocupação soviética do Afeganistão (1979-89)
- A "linha dura" talebã assumiu o comando do Afeganistão2 bwinner net1996 e foi afastada do poder cinco anos depois pela ação comandada pelos EUA
- No poder, o Talebã impôs uma interpretação radical da "sharia", a lei islâmica, com execuções públicas, amputações e mulheres banidas da vida pública
- Homens foram obrigados a usar barbas e mulheres, a vestir burcas cobrindo todo o corpo. Televisão, música e cinema foram proibidos.
- O Talebã deu abrigo aos líderes da al-Qaeda antes e depois2 bwinner netterem sido afastados do poder e, desde então, têm lutado na tentativa2 bwinner netrecuperar poder e território
Qual o nível2 bwinner netviolência nas cidades?
A violência tem aumentado desde que as tropas internacionais deixaram o país há três anos. Mais2 bwinner net8,5 mil civis foram mortos ou feridos nos nove primeiros meses2 bwinner net2017,2 bwinner netacordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). As estatísticas oficiais que contabilizam o total2 bwinner netvítimas no passado ainda não foram divulgadas.
A maioria dos afegãos morre nos ataques dos insurgentes, mas também sofre com as contraofensivas apoiadas pelos americanos, com operações tanto por terra quanto por ar.
Boa parte dos atos2 bwinner netviolência não é reportada, mas os ataques maiores nas médias e grandes cidades ganham as manchetes. A frequência desses ataques está aumentando e as forças2 bwinner netsegurança afegãs parecem enfrentar dificuldade para contê-los.
Durante a coleta2 bwinner netdados feita pela BBC, homens armados invadiram a sede da TV Shamshad2 bwinner netCabul, deixando um integrante da equipe morto e 20 feridos. O Estado Islâmico reivindicou o ataque. Houve outras ações violentas2 bwinner netKandahar, Herat e Jalalabad.
Nos últimos 10 dias deste mês, três ataques deixaram mais2 bwinner net130 pessoas mortas. Em maio passado, Cabul experimentou o mais fatal ataque perpetrado por único combatente desde 2001, com 150 mortos e mais2 bwinner net300 feridos. Nessa ação, um caminhão bomba explodiu onde deveria ser a parte mais segura da cidade. Nesse caso, contudo, nenhum grupo reivindicou autoria.
Mas a onda2 bwinner netviolência crescente deixa os moradores da capital vulneráveis.
Quão forte é o Estado Islâmico na região?
Diferentemente do Talebã, o Estado Islâmico tem atuação restrita a uma área relativamente pequena próximo à fronteira com o Paquistão. Ainda assim, tem dado mostras2 bwinner netque pode atingir seus alvos2 bwinner netlugares como Cabul.
Durante o levantamento conduzido pela BBC, pelo menos 50 pessoas morreram2 bwinner netJalalabad. Algumas das vítimas foram mortas a tiros e outras vítimas2 bwinner netexplosões. Três foram decapitadas, uma marca do EI.
"Meu tio foi morto na porta2 bwinner netcasa", disse o comerciante Mashriqiwal. "Ele era um oficial2 bwinner netsegurança na cidade. Eu tive que sair2 bwinner netJalalabad", conta. "Minha casa ainda está lá, mas virou um lugar perigoso demais para morar e para ir a lugares públicos", observa o comerciante.
Moradores e autoridades locais com quem a BBC conversou disseram que o EI está presente2 bwinner net30 distritos, não apenas no leste, mas2 bwinner netlugares mais ao norte como Khanabad e Kohistanat.
O grupo tem lutado tanto contra o exército afegão quanto contra o Talebã por território.
Em 2017, o número2 bwinner netataques atribuídos ao EI cresceu. A maioria deles tinha como alvos centros urbanos e muçulmanos xiitas,2 bwinner netações sectárias quase nunca vistas2 bwinner net40 anos2 bwinner netconflitos no Afeganistão.
O EI, no entanto, não tem controle absoluto2 bwinner netnenhum distrito no momento. Mas o grupo já conseguiu ocupar território no norte do distrito2 bwinner netDarzab, expulsando centenas pessoas2 bwinner netcasa.
O que diz o governo local?
Ao ser confrontado com os dados coletados pela BBC, Shah Hussain Murtazavi, porta-voz do presidente Ashraf Ghani, declarou: "Algumas áreas dos distritos podem ter mudados2 bwinner netmão, mas, se você olhar a situação nos anos2 bwinner net2017 e 2018, as atividades do Talebã e do EI reduziram consideravelmente".
Segundo o porta-voz, as forças2 bwinner netsegurança afegãs têm ganhado a guerra nos vilarejos. "Não é mais possível que os combatentes assumam o controle2 bwinner netuma província, um distrito ou2 bwinner netuma rodovia. Não resta dúvidas que eles mudaram a natureza da guerra e passaram a atacar Cabul, mesquitas e mercados", disse.
Murtazavi afirmou ainda que o levantamento da BBC foi influenciado por conversas com pessoas que podem ter sido vítimas2 bwinner netincidentes, "talvez2 bwinner netalgum momento um dia". "Mas as atividades conduzidas e serviços prestados pelos nossos administradores locais nos distritos mostram que o governo está no controle na maioria absoluta das áreas. A exceção é um número pequeno2 bwinner netáreas onde o Talebã está presente", salientou o porta-voz.
Entretanto,2 bwinner netuma sinalização2 bwinner netque a situação da segurança no país tem se deteriorado, o presidente Donald Trump enviou no ano passado outros 3 mil soldados ao Afeganistão. Com o reforço, o efetivo americano no país chegou a 14 mil.
O tema das vitórias militares e2 bwinner netquem está controlando o território afegão é controverso.
Na véspera da publicação do levantamento da BBC, militares dos EUA negaram tentar impedir que um órgão2 bwinner netfiscalização do governo local divulgasse a estimativa oficial2 bwinner netquanto do território está sob controle do Talebã. Em relatório, a Inspetoria Geral para a Reconstrução do Afeganistão (Sigar, na sigla2 bwinner netinglês) definiu essa possibilidade como preocupante.
Enquanto isso, não há previsão2 bwinner netum fim do conflito na região. Uma nova geração2 bwinner netafegãos cresce ameaçada pela violência.
"Minhas crianças não estão seguras fora2 bwinner netcasa, então não os deixo sair", disse Pahlawan, vendedor2 bwinner nettapetes2 bwinner netCabul que tem 13 filhos. "Eles basicamente estão presos2 bwinner netcasa. Montei uma escola2 bwinner netcasa. O mundo deles é2 bwinner netparedes e tapetes. Apesar2 bwinner netestarmos2 bwinner netCabul, é como se fosse uma selva".
Relato: 'Vou voltar para casa hoje?'
Karim Haidari, serviço afegão da BBC, Cabul
'Não tenho dormido bem nessa semana. Acontece toda vez que uma tragédia ocorre na nossa cidade. Meu filho2 bwinner net7 anos entra no meu quarto e me fala que estou mais velho, lembrando-me2 bwinner netque é o dia do meu aniversário. Como se eu fosse esquecer. Rio e me levanto da cama.
Quando eu saio2 bwinner netcasa, paro para olhar para trás e ver minha família tomando café da manhã. Vou voltar para casa hoje? Essa é a última vez que vou vê-los? Todos nós pensamos assim2 bwinner netCabul atualmente.
Meus colegas da BBC estão me esperando no carro. Trocamos informações sobre os últimos ataques. Um deles, uma mãe2 bwinner netduas crianças pequenas começa a chorar. Diz que às vezes gostaria2 bwinner netexplodir para acabar com tudo2 bwinner netuma vez por todas. Mas não quer machucar ninguém.
Digo a ela que podemos buscar ajuda. Mas ela não me ouve. O motorista está trocando2 bwinner netestação2 bwinner netrádio, na tentativa2 bwinner netmelhorar o clima. Uma música pop com letra sem sentido começa a tocar. É só mais um dia2 bwinner netCabul. Apenas mais um dia2 bwinner netque a gente espera que vai sobreviver.'
Os nomes2 bwinner netalguns dos entrevistados foram alterados para proteger suas identidades.
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