A complexa e misteriosa trama por trás do assassinato da 1ª mulher a governar um país muçulmano:x2 betano

Na ocasiãox2 betanosua morte, ela tentava voltar a governar o país pela terceira vez. Seu assassinato causou uma agitação civil generalizada no Paquistão. Seus correligionários foram às ruas protestar, bloqueando ruas, queimando pneus e cantando slogans anti-Paquistão.

O general e o telefonema 'ameaçador'

Uma década depois, o presidente do Paquistão à época, Pervez Musharraf, sugere que pessoas no establishment paquistanês poderiam estar por trás da mortex2 betanoBhutto.

Questionado se autoridades paquistanesas poderia ter mantido contato com o Talebã para planejar o assassinato, o general Pervez Musharraf disse à BBC: "Possibilidade, sim. Porque a sociedade está polarizadax2 betanolinhas religiosas".

E, acrescentou ele, esses elementos podem ter influenciado na mortex2 betanoBhutto.

Trata-sex2 betanouma declaração surpreendentex2 betanoum ex-chefex2 betanoEstado do Paquistão. Normalmente, líderes militares do país negam qualquer alegaçãox2 betanocumplicidade estatalx2 betanoataques jihadistas violentos.

Questionado se tinha alguma informação específica sobre possíveis 'maus elementos' do governo envolvidos no assassinato, Musharraf afirmou: "Não tenho nenhuma prova. Mas minha avaliação é muito precisa, eu acho...Uma mulher sabidamente próxima do Ocidente é vista com suspeita por esses elementos".

O ex-presidente foi acusadox2 betanouma sériex2 betanocrimesx2 betanorelação ao assassinatox2 betanoBhutto. Promotores afirmam que ele telefonou a Benazir Bhuttox2 betanoWashington no dia 25x2 betanosetembro, três semanas antes do fimx2 betanoseu exíliox2 betanooito anos.

Os americanos Mark Siegel - ex-assessorx2 betanoBhutto - e o jornalista Ron Suskind afirmam que ambos estavam com Bhutto quando ela recebeu o telefonema. Segundo Siegel, imediatamente depois do telefonema, Bhutto disse: "Ele me ameaçou. Ele me disse para não voltar. Ele fez um alerta para que eu não volte".

Musharraff alegou que não poderia ser responsabilizado pelo que aconteceria com Bhutto caso ela decidisse retornar ao Paquistão, disse Siegel à BBC. "E ele disse que a segurança dela era resultado da relação dela com ele".

O ex-presidente paquistanês negou ter feito o telefonema e rejeitou a ideiax2 betanoque teria ordenado o assassinatox2 betanoBhutto. "Honestamente, eu rio disso", disse ele. "Por que eu a mataria?"

A trama mortal

O processo contra Musharraf foi interrompido quando ele se auto-impôs um exíliox2 betanoDubai, nos Emirados Árabes Unidos, após renunciar ao cargo. O filhox2 betanoBhutto e seu herdeiro político, Bilawal, sempre rejeitou a inocência do ex-presidente.

"Musharraf explorou toda a situação para assassinar minha mãe", disse ele. "Ele sabotoux2 betanopropósito o esquemax2 betanosegurança para que ela fosse assassinada e retiradax2 betanocena".

Enquanto o casox2 betanoMusharraf está aguardando desfecho, outros foram absolvidos do crime. Semanas após o assassinato, cinco suspeitos confessaram ter ajudado o jovem Bilal a assassinar Bhutto a mando do Talebã e da al-Qaeda.

A primeira pessoa a ser presa, Aitzaz Shah, foi informado pelo Talebã paquistanês que ele teria sido escolhido como homem-bomba para matar Bhutto.

Para o seu desagrado, ele foi mantido na reserva no casox2 betanoo atentado fracassar.

Dois outros, Rasheed Ahmed e Sher Zaman, confessaram participação e dois primos baseadosx2 betanoRawalpindi (vizinha à capital do Paquistão, Islamabad), Hasnain Gul e Rafaqat Hussain, afirmaram às autoridades que providenciaram acomodação a Bilal na noite anterior ao crime.

Apesarx2 betanoessas confissões terem sido posteriormente retiradas, registros telefônicos das comunicações e das localizações dos suspeitos horas antes do assassinatox2 betanoBhutto parecem corroborar suas versões iniciais. Hasnain Gul também levou a polícia a encontrar provas materiaisx2 betanoseu apartamento.

Amostrasx2 betanoDNAx2 betanopartes do corpox2 betanoBilal recolhidas depois do ataque e examinadasx2 betanoum laboratório dos EUA correspondiam às encontradas nos tênisx2 betanocorrida, boné e lenço deixados pelo assassino na casax2 betanoHasnain quando ele vestiu seu colete suicida.

Alguns meses atrás, os promotores estavam confiantesx2 betanoque esses supostos conspiradores seriam condenados. Mas,x2 betanosetembro deste ano, o caso teve uma reviravolta, depois que o juiz apontou erros na forma como as provas foram recolhidas e apresentadas às autoridades. Dessa forma, todos foram inocentados.

No entanto, os cinco ainda permanecem na prisão à esperax2 betanouma nova decisão da Justiça.

O marido que se tornou presidente

No Paquistão, corre a lendax2 betanoque o viúvox2 betanoBenazir Bhutto, Asif Zardari, organizou seu assassinato. A acusação se baseia no fatox2 betanoque ele teria sido o que mais se beneficiou comx2 betanomorte, pois acabou se tornando presidente.

Zardari havia sido elevado à condiçãox2 betanocopresidente do Partido Popular do Paquistão (PPP), então liderado por Bhutto. Ele assumiu a Presidência do país depois que Musharraf renunciou ao cargo,x2 betano2008,x2 betanomeio a uma campanha por seu impechment lançada pelos partidos da oposição. Zardari deixou o postox2 betano2013.

Os teóricos da conspiração, no entanto, não têm provas que indiquem que Asif Zardari tenha qualquer envolvimento com a mortex2 betanosua mulher. Ele sempre negou fortemente quaisquer alegações nesse sentido. Aqueles que o acusam do crime, diz ele, deveriam "calar a boca".

Asif Zardari enfrenta outra acusação: ax2 betanoque, embora presidente, falhoux2 betanoinvestigar o assassinatox2 betanosua mulher. Documentos secretos do governo relacionados à investigação e obtidos pela BBC mostram que os inquéritos policiais foram mal geridos a pontox2 betanoindicar que não houve vontade das autoridadesx2 betanoencontrar outros culpados do que aqueles inicialmente presos.

As lacunas nas investigações ficaram especialmente evidentes depoisx2 betanoum atentado mal-sucedido contra Bhutto no dia 18x2 betanooutubrox2 betano2007 - dois meses e meio antesx2 betanoela ser morta. Dois homens-bomba atacaram o comboio dela e mataram maisx2 betano150 pessoas. O ataque foi um dos mais mortais perpetrados por jihadistas violentos no Paquistão.

O trabalho da polícia foi tão ruim que os criminosos nunca foram identificados.

O responsável pelas investigações, Saud Mirza, disse que um dos perpetradores do ataque tinha características específicas, sugerindo que ele seriax2 betanouma pequena, mas antiga comunidadex2 betanopessoas com descendência africana localizadax2 betanoKarachi. Essa pista potencialmente emblemática sobre os suspeitos nunca foi divulgada ao público.

O ex-presidente Zardari responde às críticas destacando que incentivou a cooperação com policiais britânicos e garantiu a nomeaçãox2 betanouma comissãox2 betanoinquérito da ONU para examinar as circunstânciasx2 betanosua morte.

No entanto, integrantes da delegação dizem que tiveram o trabalho repetida e abertamente obstruído não só pelos militares, mas também pelos ministrosx2 betanoZardari. "Havia muitas pessoas dentro do governo que queríamos entrevistar, mas se recusaram", disse Heraldo Muñoz, chefe da comissão da ONU.

Segundo Muñoz, alguns dos obstáculos vieramx2 betanopolíticos e tambémx2 betanomilitares. À medida que a investigação avançava, afirmou ele, a equipe da ONU perdeu o abrigo secreto onde permanecia assim como o pessoal especializadox2 betanocontraterrorismo que faziax2 betanosegurança.

Queimax2 betanoarquivo?

Há muitas suspeitasx2 betanoque houve encobrimento por parte das autoridades paquistanesas. Uma investigação da BBC descobriu provas indicando que dois homens que ajudaram o jovem Bilal a se aproximarx2 betanoBenazir Bhutto foram mortosx2 betanoum postox2 betanocontrole militar no dia 15x2 betanojaneirox2 betano2008. Em entrevista à BBC, um membro do alto escalão do governox2 betanoZardari afirmou acreditar se tratarx2 betanouma "queimax2 betanoarquivo".

Nadir e Nasrullah Khan eram estudantes do seminário religiosox2 betanoHaqqania no noroeste do Paquistão. Outros estudantes associados à congregação que estavam envolvidos na trama também apareceram mortos. Um dos mais detalhados documentos oficiais obtidos pela BBC é uma apresentaçãox2 betanoPowerPoint feita na assembleia da Provínciax2 betanoSindh.

A apresentação faz referência a Abad ur Rehman, um ex-estudante do seminário e desenvolvedorx2 betanobombas que ajudou a providenciar o colete usado para matar Bhutto. Ele foi mortox2 betano2013,x2 betanouma das áreas tribais mais remotas do Paquistão.

Já, segundo o mesmo documento, um Abdullah estava envolvido no transporte dos coletes suicidas antes do ataque que resultou na morte da ex-premiê paquistanesa. Ele foi morto no norte do Paquistão durante uma explosão no dia 31x2 betanomaiox2 betano2008.

Mas uma das mortes mais emblemáticas relacionadas ao assassinatox2 betanoBhutto foi ax2 betanoKhalid Shahenshah, umx2 betanoseus guarda-costas. Shahenshah estava a poucos passosx2 betanoBhutto quando ela fez seu derradeiro pronunciamentox2 betanoRawalpindi. Imagens gravadas por celular mostram Shahenshah fazendo uma sériex2 betanomovimentos inexplicáveis.

Embora mantendo a cabeça completamente parada, ele levanta seus olhosx2 betanodireção a Bhutto enquanto passava seus dedos porx2 betanogarganta ao mesmo tempo. Fotosx2 betanoseus gestos viralizaram e, no dia 22x2 betanojulhox2 betano2008, Shahenshah foi morto à queima roupa na portax2 betanocasa,x2 betanoKarachi.

A próxima vítima foi o promotor estadual Chaudhry Zulfikar. Advogado com larga experiência na área criminal, ele confidenciava a amigos que estava avançando com as investigações.

No dia 3x2 betanomaiox2 betano2013, porém, ele foi morto nas ruasx2 betanoIslamabad no caminhox2 betanouma das audiências do caso.

Finalmente, há um homem que todos acreditavam estar morto, mas que, na verdade, ainda está vivo. Em suas confissões, os supostos criminosos disseram que no dia do assassinato, um segundo homem-bomba, chamado Ikramullah, acompanhava Bilal. Uma vez que Bilal cumpriux2 betanotarefa, os serviçosx2 betanoIkramullah não foram mais necessários e ele deixou a cena do crime totalmente ileso.

Durante anos, as autoridades do Paquistão reafirmaram que Ikramullah havia sido mortox2 betanoum ataque com drone. Em 2017, o procurador-geral do país, Mohammad Azhar Chaudhry, afirmou à BBC que provas recolhidasx2 betanoagênciasx2 betanosegurança do país, familiares e autoridades indicavam que "Ikramullah está morto".

Em agostox2 betano2017, no entanto, as autoridades do Paquistão publicaram uma listax2 betano28 páginas dos extremistas mais procurados do país. Na nona posição, estava Ikramullah, morador do Waziristão do Sul, acusadox2 betanoenvolvimento, segundo o documento, no ataque suicida que vitimou Benazir Bhutto.

A BBC apurou que Ikramullah está morando agora no leste do Afeganistão onde teria se tornado um comandante do Talebã paquistanêsx2 betanomédio escalão.

Até agora, as únicas pessoas punidas pelo assassinatox2 betanoBenazir Bhutto foram dois policiais que determinaram que a cena do crime fosse lavada.

Muitos paquistaneses veem essas condenações como injustas. Eles dizem acreditar que a polícia nunca teria feito o que fez sem ordem prévia dos militares.

Isso revela, mais uma vez, uma tentativax2 betanoencobrimento do caso pelas profundezas do Estado paquistanês - uma rede escondidax2 betanomilitares da ativa e aposentados que protegem o que considerar ser os interesses nacionais do país.