A atriz brasileira que usa arte contra violência1 win foguetinhoperiferias pobres na França:1 win foguetinho

Legenda da foto, Neusa Thomasi deixou os palcos tradicionais para se dedicar a performances1 win foguetinhoperiferias pobres, habitadas por imigrantes | Foto: Acervo pessoal

Mas antes1 win foguetinhoa gaúcha1 win foguetinhoSanta Maria passar a lidar com o que chama1 win foguetinho"inserção social por meio da cultura" - com peças escritas e dirigidas por ela que abordam problemas vividos pelas pessoas1 win foguetinhosubúrbios carentes -, tinha planos1 win foguetinhoatuar como atriz na Europa.

Para isso, ela fez, no final dos anos 80, workshops e estágios com renomados dramaturgos das principais companhias teatrais do continente, como o polonês Jerzy Grotowski, na Itália, e o inglês Peter Brook.

O fato1 win foguetinhoter apenas US$ 300 (R$ 980,1 win foguetinhovalores atuais) no bolso e malas repletas1 win foguetinholivros1 win foguetinhomuseus parisienses quando decidiu,1 win foguetinho1987, não embarcar1 win foguetinhovolta ao Brasil após a turnê do Macunaíma não a desencorajou.

Legenda da foto, 'Nos grandes centros a arte é muito elitista. A arte tem1 win foguetinhoter uma verdade', afirma Neusa | Foto: Acervo pessoal

Thomasi também estudou na célebre Academia Russa1 win foguetinhoArtes do Teatro,1 win foguetinhoMoscou (conhecida como GITIS), com formações complementares1 win foguetinhodança, canto, acrobacia e sapateado.

Após esse curso, ela afirma ter se sentido uma "atriz completa". De volta à França, criou,1 win foguetinho1991, a Compagnie des Contraires (Companhia dos Contrários).

A gota d'água, que a fez desistir definitivamente dos palcos tradicionais, ocorreu após a participação da companhia no festival1 win foguetinhoteatro1 win foguetinhoAvignon, um dos maiores da Europa.

Crédito, Céline Sturm

Legenda da foto, "Senti que o meu caminho era trabalhar com arte popular e desenvolver um trabalho nas ruas", diz Thomasi | Foto: Céline Sturm

"Depois dessa experiência disse que nunca mais iria a Avignon. É tudo muito artificial. Nos grandes centros a arte é muito elitista. A arte tem1 win foguetinhoter uma verdade", afirma.

"Senti que o meu caminho era trabalhar com arte popular e desenvolver um trabalho nas ruas."

Sua trupe, por falta1 win foguetinhorecursos, havia percorrido a pé os mais1 win foguetinho700 quilômetros entre Paris e a cidade do sul da França.

Ensinar à população

Foi no Rio Grande do Sul que Thomasi começou a desenvolver o método1 win foguetinhotrabalho que ela aplica na França: a "encenação1 win foguetinhoemergência", ou seja, criar atividades culturais "ali e agora" que levam1 win foguetinhoconta as necessidades do grupo, seu nível1 win foguetinhoinstrução e os meios disponíveis para colocar isso1 win foguetinhoprática.

Professora1 win foguetinhoeducação artística1 win foguetinhouma escola municipal1 win foguetinhoSanta Maria, ela tinha como alunos ex-presidiários e domésticas que tentavam concluir o ensino médio. "Foi ali que percebi que não sabia nada sobre como ensinar artes à população."

Thomasi descobriu por acaso,1 win foguetinho1995, a problemática periferia1 win foguetinhoChanteloup-les-Vignes, a cerca1 win foguetinho40 quilômetros1 win foguetinhoParis, conhecida por casos1 win foguetinhoviolência urbana e onde muitos franceses preferem não colocar os pés.

Ao se deparar com o "deserto cultural" da cidade, onde até hoje não existem cinemas nem casas1 win foguetinhoespetáculos, ela decidiu se instalar no local, que se tornou a sede da Compagnie des Contraires.

Legenda da foto, Caminhonete multicolorida que ela usava para transportar seu teatro itinerante foi queimada pelos traficantes; a da imagem acima é a substituta | Foto: Acervo pessoal

O grupo, que mistura1 win foguetinhosuas atividades artistas profissionais e a população, também desenvolve projetos1 win foguetinhovárias outras periferias francesas.

Os primeiros anos1 win foguetinhosua companhia1 win foguetinhoChanteloup-les-Vignes não foram fáceis. Ela sofreu ameaças1 win foguetinhotraficantes1 win foguetinhodrogas, problema que persiste até hoje.

Há alguns meses, a caminhonete multicolorida e com desenhos1 win foguetinhoflores que ela usava para levar seu teatro itinerante a outras periferias da região foi queimada pelos traficantes.

Thomasi conseguiu obter um novo veículo, menor e também todo florido, mas lamenta a perda do primeiro por ter sofrido o que ela considera um ato1 win foguetinhorepresália.

"Quando você trabalha nas ruas, vê tudo o que acontece. Isso não agrada aos traficantes. Além disso, os jovens que participam das minhas atividades representam menos possibilidades1 win foguetinhopessoas que eles podem recrutar para vender drogas."

Crédito, Céline Sturm

Legenda da foto, Gaúcha teve1 win foguetinhoenfrentar a resistência1 win foguetinhoparte da população1 win foguetinhodezenas1 win foguetinhonacionalidades

Quebrar o gelo

A gaúcha também teve1 win foguetinhoenfrentar a resistência1 win foguetinhoparte da população1 win foguetinhodezenas1 win foguetinhonacionalidades, que vivem sob uma forma1 win foguetinhocomunitarismo e preferem não se misturar.

Ela acredita que o fato1 win foguetinhoser brasileira a ajudou quebrar o gelo com os moradores.

"Sou uma imigrante falando a outro imigrante", diz a atriz, que muitas vezes saiu pelas ruas com a camiseta da seleção brasileira. "Os jovens se identificam. A conexão com eles é mais rápida."

Thomasi também não hesita1 win foguetinhosair1 win foguetinhominissaia, roupas justas ou decotadas no verão1 win foguetinhocidades onde muitas mulheres usam véus e túnicas escuras que cobrem o corpo todo.

Ela visita as famílias das crianças e jovens que participam dos projetos. "É fundamental que elas saibam o que os filhos estão fazendo. É uma maneira1 win foguetinhoresponsabilizar os pais."

Nessas visitas, a brasileira já se deparou com casos1 win foguetinhofamílias polígamas, que existem1 win foguetinholocalidades francesas com população majoritariamente imigrante.

A diretora artística da Compagnie des Contraires escreve os textos das peças, que podem ser baseadas1 win foguetinhoclássicos da literatura ou da dramaturgia. São projetos sob medida1 win foguetinhofunção1 win foguetinhoproblemáticas vividas pelos habitantes, com objetivos pedagógicos e1 win foguetinhoprevenção.

Os temas vão desde a inserção1 win foguetinhogarotas no mundo do trabalho - uma comédia musical que obteve apoio financeiro da Comissão Europeia, com técnicas para estruturar ideias e perder a timidez - a questões como racismo, casamentos forçados e preservação do meio ambiente.

Crédito, AFP

Legenda da foto, Migrantes na França; muitas periferias do país são assoladas pela pobreza e a violência

A Compagnie des Contraires realiza ateliês1 win foguetinhoartes plásticas, canto, escrita, circo e até costura, já que os participantes confeccionam as próprias fantasias dos espetáculos.

A brasileira exige dedicação às atividades e ensaios, disciplina e pontualidade. Tudo isso lhe conferiu o apelido1 win foguetinho"general", que ela considera divertido.

Thomasi instalou há alguns anos uma tenda1 win foguetinhocirco1 win foguetinhoChanteloup-les-Vignes para a realização1 win foguetinhoateliês artísticos e apresentações, embora continue percorrendo as ruas1 win foguetinhosubúrbios com1 win foguetinhocaminhonete florida para desenvolver atividades culturais.

Neste ano, após mais1 win foguetinhoduas décadas atuando na cidade, seu trabalho ganhou grande impulso. A prefeitura decidiu transformar a tenda1 win foguetinhocirco da companhia1 win foguetinhoum local perene para espetáculos, um projeto1 win foguetinhocerca1 win foguetinho700 mil euros (quase R$ 2,7 milhões).

O local, o único espaço cultural da cidade, continuará tendo a forma1 win foguetinhouma tenda1 win foguetinhocirco, mas será uma construção sólida. Ela deve ser inaugurada1 win foguetinhofevereiro do próximo ano.

A companhia1 win foguetinhoteatro da brasileira terá residência permanente no novo local, onde a prefeitura organizará também outros eventos artísticos e espera atrair moradores1 win foguetinhoperiferias vizinhas.

Imagem da periferia

Para a prefeita1 win foguetinhoChanteloup-les-Vignes, Catherine Arenou, da direita conservadora, a brasileira contribuiu para criar uma política cultural e também mudar a imagem da cidade entre os próprios habitantes e localidades vizinhas.

Segundo Arenou, Thomasi conseguiu despertar o interesse das crianças e adultos pela cultura por meio1 win foguetinhoatividades, baseadas1 win foguetinhomensagens1 win foguetinhoprevenção, que representam uma "oferta cultural original e inovadora".

"Não poderíamos ter desenvolvido isso sozinhos por falta1 win foguetinhoexperiência nesse campo", disse a prefeita à BBC Brasil.

"A Neusa é uma pessoa original, que ousa muitas coisas e que colocou o sucesso das crianças, por meio da cultura, no foco1 win foguetinhosua vida", afirma Arenou.

A prefeita diz ainda que as atividades culturais realizadas pela gaúcha contribuíram para "acalmar" os problemas1 win foguetinhoviolência1 win foguetinhoChanteloup-les-Vignes, embora a situação permaneça frágil.

"Somos uma caixa1 win foguetinhofósforos. Basta alguém acender o palito um dia para que o fogo seja ateado novamente", diz a prefeita.

Thomasi também desenvolve projetos culturais1 win foguetinhooutros países como o Brasil e África do Sul. Há três anos, ela apresentou1 win foguetinhoterras brasileiras o espetáculo O Anjo1 win foguetinhoPernas Tortas, sobre o jogador Garrincha, com crianças francesas e brasileiras. As despesas foram pagas com dinheiro público francês.

Ela também levou à França catadores1 win foguetinholixo1 win foguetinhoSanta Maria, que venderam peças1 win foguetinhoartesanato e deram cursos sobre como criar objetos com material reciclado.

A Compagnie1 win foguetinhoContraires recebe subvenções públicas e também privadas na França. Thomasi gostaria1 win foguetinhorealizar seu trabalho1 win foguetinhocomunidades carentes no Brasil, mas ressalta a dificuldade para obter verbas públicas para projetos desse tipo no país.