Como o punk e o heavy metal desafiaram a polícia secreta da Alemanha Oriental e ajudaram a derrubar o Muroaeapostas esportivasBerlim:aeapostas esportivas

Legenda da foto, Die Toten Hosenaeapostas esportivas1989 (Foto: Alamy)

Música Subversiva

Na décadaaeapostas esportivas960, a explosão da beatlemania deixou muita gente perplexa. Entre eles, o então líder da República Democrática Alemâ (RDA), Walter Ulbricht. Em um discurso para membros do Partido Comunista na época, ele declarou,aeapostas esportivastomaeapostas esportivasescárnio: "Será que realmente temosaeapostas esportivascopiar todas as besteiras que vêm do ocidente… esse 'yeah yeah yeah' monótono? "

Ulbricht tinha 70 anos. E seus comentários, na verdade, não eram muito diferentes dosaeapostas esportivasmuitos políticos ocidentais no período, diz Hovestaedt.

Legenda da foto, A Stasi fez fotos da multidão reúnida para ouvir os Rolling Stones (Foto: BSTU)

"A geração mais velha, a geração da (Segunda) Guerra, era contrária ao que a juventude estava fazendo."

Mas para os líderes da Alemanha Oriental havia muito maisaeapostas esportivasjogo. Eles temiam que o gosto pela música ocidental viesse acompanhado do gosto pela política ocidental. Para evitar isso, uma das estratégias adotadas pelas autoridades foi criar "sua própria versãoaeapostas esportivascultura jovem".

Na tentativaaeapostas esportivasimpedir que passosaeapostas esportivasdança associados ao rock virassem moda na RDA, as autoridades criaram seus próprios passosaeapostas esportivasdança. Como o Lipsi. Também havia um sistemaaeapostas esportivascotas determinando quanta música ocidental podia ser tocadaaeapostas esportivasfestas. Mas "não se pode organizar cultura jovem", diz Hovestaedt. "Não funciona assim."

De ouvido grudado no rádio, jovens alemães orientais tentavam sintonizar as últimas novidades transmitidas por rádios ocidentais. E a Stasi fazia o que podia para impedi-los.

Rolling Stones

Um episódioaeapostas esportivasparticular exemplifica a paranoia da RDAaeapostas esportivasrelação à música ocidental - e a triste sina dos fãsaeapostas esportivasmúsica no país: o concerto dos Rolling Stones que não houve.

Diz a lenda que a história começouaeapostas esportivas1969, quando um DJ da emissoraaeapostas esportivasrádio RIAS, sediada na Alemanha Ocidental mas muito ouvida do outro lado do muro, fez o seguinte comentário: Imagine, teria dito o radialista, se a nova editora do empresário Axel Springer, com sede bem ao lado do Muroaeapostas esportivasBerlim, decidisse fazer um concerto dos Rolling Stones no telhado? Os alemães orientais poderiam ouvir o show também!

Legenda da foto, A Stasi também registrava manifestações, como essa mensagem sobre os Rolling Stones escrita com gis na rua (Foto: BSTU)

Na Alemanha Oriental, o concerto imaginário do DJ rapidamente se transfomouaeapostas esportivasum boato - e, depois,aeapostas esportivasfato.

Milharesaeapostas esportivasjovens alemães orientais se convenceramaeapostas esportivasque os Rolling Stones iriam definitivamente tocar ao lado do muro. E tinham certezaaeapostas esportivasque o concerto iria acontecer no diaaeapostas esportivasque as autoridades da RDA planejavam comemorar,aeapostas esportivasBerlim Oriental, os 20 anos da fundação do país.

A notícia preocupou a Stasi. A polícia secreta da RDA não gostavaaeapostas esportivasSpringer, tido como um perigoso capitalista determinado a convencer jovens alemães orientais a abandonar seus ideais comunistas.

Os arquivos da Stasi daquele período estão cheiosaeapostas esportivasfotosaeapostas esportivasfrases escritas a giz nas ruas da Alemanha Oriental dizendo aos fãs dos Rolling Stones que viessem a Berlim - e relatos detalhando como a Stasi identificou e prendeu os subversivos autores dos slogans.

Legenda da foto, Eckart Mann foi preso há 48 anos

Ainda assim, centenasaeapostas esportivasjovens foram para Berlim no dia anunciado. Entre eles estava Eckart Mann, na época com 16 anos. Ele falou à BBC.

Mann tinha ouvido os boatos. E tinha pensado: "Os Rolling Stones,aeapostas esportivasBerlim? Que incrível!"

Os Stones não apareceram, mas a policia, sim. Quando a multidão se aproximou do Portãoaeapostas esportivasBrandenburg, a polícia chegou. Mann foi espancado e preso.

O jovem foi acusadoaeapostas esportivasser um "elemento antisocialista". Os arquivos secretos revelam que o então chefe da Stasi, Erich Mielke, tinha interesse particular no casoaeapostas esportivasMann. Ele passou dois anos na prisão e depois foi expulso do país e enviado à Alemanha Ocidental, para longeaeapostas esportivassua família.

Prisão

Eckart não diz muito ao ser perguntado sobreaeapostas esportivasexperiência na prisão. "Não foi bom, mas o que eu podia fazer", responde.

Foi assim que a paixão pelo rock acabou custando muito caro para um adolescente alemão oriental.

Legenda da foto, Jovens suspeitosaeapostas esportivasouvir música ocidental eram fotografados pela polícia secreta (Foto: BSTU)

A punição brutal tinha como objetivo impedir que jovens da Alemanha Oriental balançassem ao som do rock "imperialista".

Ainda assim, a febre da música ocidental só crescia na RDA, alcançando lugares distantes das grandes cidades.

Outro adolescente, Alexander Kuehne, louco para ter acesso àquela música, encontrou uma brecha na lei. Alemães orientais já aposentados, que não eram considerados importantes pelo Estado - tinham permissão para visitar o lado ocidental. Kuehne decidiu entregar uma listinhaaeapostas esportivascompras à avó. Infelizmente para ele, o plano não deu certo: ela confundiu The Clash com Johnny Cash. Tantos anos depois, o rostoaeapostas esportivasKuehne ainda mostra a decepção que sentiu ao receber a encomenda.

No entanto, ele logo se refez. E decidiu transformar o vilarejo onde moravaaeapostas esportivasum espaço para shows.

Atrás do Bar

A cidade ficava pertoaeapostas esportivasuma estradaaeapostas esportivasferro e ele persuadiu fãs e bandasaeapostas esportivastodo tipo a se reunirem na "sala atrás do bar da cidade".

"Ali, fizemos as maiores festas da Alemanha Oriental", conta.

Legenda da foto, A vóaeapostas esportivasAlexander Kuehne contrabandeava discos pela fronteira

Fazendeiros que frequentavam o bar olhavam, sem entender, enquanto centenasaeapostas esportivasfãsaeapostas esportivasNew Wave e Glamrock passavam pela porta e se dirigiam à "casaaeapostas esportivasshows". Às vezes, a sala - que, segundo o regulamento da polícia tinha capacidade para cem pessoas - chegava a abrigar mil fãs, ele diz.

Como o vilarejo era muito remoto, a polícia e a Stasi demoravam para reagir. Com exceçãoaeapostas esportivasuma ocasiãoaeapostas esportivasque Kuehne foi preso, levado para a delegacia e informadoaeapostas esportivasque a Stasi viria buscá-lo no dia seguinte.

"Fiquei apavorado."

Por sorte, a mãe do jovem tinha sido professoraaeapostas esportivasum policial da região. Ela ordenou ao policial que soltasse o filho e, quando a Stasi chegou, foi tirar satistações com os agentes.

Ela nunca disse ao filho o que exatamente aconteceu. "Ela é minha heroína", diz.

Na Igreja

O objetivo da polícia secreta era impedir que aquela música se alastrasse e ficasse conhecida por todo o país, explica Jurgen Breski, um ex-oficial da Stasi encarregadoaeapostas esportivasinfiltrar e monitorar o circuitoaeapostas esportivasrock na RDA.

(Meus chefes) "queriam inculcar no povo um estiloaeapostas esportivasvida socialista, então tentávamos combater qualquer coisa que não pertencesse àquilo", diz Breski.

Para atingir seu objetivo, a Stasi recrutava informantes. Outra tática era convocar integrantesaeapostas esportivasbandas ilegais para o serviço militar obrigatório. "De repente, a banda não tinha mais músicos", conta o ex-agente.

Alguns grupos, no entanto, conseguiram driblar a polícia secreta.

Legenda da foto, O Museu da Stasi,aeapostas esportivasBerlim, exibe fotoaeapostas esportivasregistro policialaeapostas esportivasum punk preso

O Museu da Stasi,aeapostas esportivasBerlim, exibe fotoaeapostas esportivasregistro policialaeapostas esportivasum punk preso pela polícia.

Dirk Kalinowski, do grupo punk Zerfall, disse à BBC queaeapostas esportivasbanda sobreviveu graças a uma inusitada aliança com uma Igreja Evangélicaaeapostas esportivasBerlim que deu abrigo ao grupo. As autoridades da RDA não queriam atrair a atenção internacional com interferências diretasaeapostas esportivasatividades da Igreja.

O espaço da igreja era protegido, ele diz.

"Eles podiam te prender ao entrar ou sair. Mas lá dentro você estava seguro", conta o roqueiro.

Assim, os Zerfall - banidos pelo Estado - se apresentavam no meio das missas evangélicas. O pastor fazia uma pausa e pedia à congregação, a maioria já idosa, que ouvisse algo "um pouco diferente".

"Era muito louco", lembra Kalinowski. "Eu podia ver nos olhos da congregação que estavam totalmente chocados. Os únicos que não se abalavam eram as crianças, que comaçavam a pular imediatamente. Vi um casal tampar os ouvidos e sair."

Uma outra igreja foi palcoaeapostas esportivasmais um concerto extraordinário: o da banda alemâ ocidental Die Toten Hosen, que foi "contrabandeada" para dentro da RDA peloprodutor britânico Mark Reeder.

"Eu disse aos meus amigos, 'Se eu for pego, vão me expulsar do país. Mas se vocês forem pegos, suas vidas vão mudar. Vão ser classificados como inimigos do Estado'", conta Reeder à BBC. O grupo foiaeapostas esportivasfrente, cruzando o Muroaeapostas esportivasBerlim sob disfarce.

Crédito, Alamy

Legenda da foto, Showaeapostas esportivaspunkaeapostas esportivasBerlim Orientalaeapostas esportivas1985

Apenas 25 pessoas puderam ir ao show secreto do Die Toten Hosen na igrejaaeapostas esportivasBerlim Oriental. "Mas todos sabiam que o que estava acontecendo ali era algo muito especial, que talvez nunca se repetisse", disse à BBC o cantor do grupo, Campino.

Falando à BBC, Campino disse ter ficado muito impressionado com a forma como os jovens alemães orientais criavam espaço paraaeapostas esportivascultura apesar - ou talvezaeapostas esportivasconsequência - da pressão das autoridades.

"Eles tinham um orgulho próprio. Diziam, 'vocês no Ocidente têm as melhores roupas, a moda, tudo isso. Mas nós temos amizade, ajudamos uns aos outros e não somos superficiais' ".

E essas amizades, diz Campino, importavam mais. "Porque eles tinham que pagar um preço muito mais alto se as coisas dessem errado".

Bowie no Muro

E assim, sem que o mundo ocidental tivesse conhecimento, o rock continuava a eletrizar a RDA. As autoridades criavam restrições, mas, pelas brechas, fãs criavam seus espaços e o espírito da música vivia por toda a Europa comunista.

A partir da décadaaeapostas esportivas1980, um novo líderaeapostas esportivasMoscou, Mikhail Gorbachev, começou a relaxar o controle soviético sobre a Alemanha Oriental.

Legenda da foto, Mark Reeder antes da queda do muro

Em 1987, o pop star David Bowie tocou ao lado do Muroaeapostas esportivasBerlim. Desta vez, os fãsaeapostas esportivasBerlim Oriental puderam se reunir ao lado da parede para tentar ouvir o show.

O showaeapostas esportivasBowie criou um dilema profissional e pessoal para o vice-chefeaeapostas esportivaspolíciaaeapostas esportivasBerlim Oriental, Dieter Dietze.

Ainda jovem, Dietze sabia que uma resposta policial violenta - como a ocorridaaeapostas esportivas1969, quando jovens se reuniram no local para ouvir um suposto show dos Rolling Stones - seria contraproducente. Por outro lado, como fãaeapostas esportivasrock e ex-integranteaeapostas esportivasbanda, tinha simpatia pelos fãsaeapostas esportivasBowie.

"Era óbvio para mim que música, (e particularmente o) rock, pertencia à juventude, e não havia como negar isso aos jovens. Então, eu e outros dois colegas fizemos uma proposta."

Crédito, Getty

Legenda da foto, Mikhail Gorbachev e o líder da Alemanha Oriental Erich Honecker cantam a Internacional Comunistaaeapostas esportivasBerlim,aeapostas esportivas1986

O plano era autorizar concertosaeapostas esportivasestrelas internacionais, entre elas, Bob Dylan e Bruce Springsteen, dentro do território da RDA. A ideia era que os shows funcionassem como uma válvulaaeapostas esportivasescape, diluindo o interesse pelo rock. Na prática, os concertos acabaram amplificando um novo espírito libertário no país.

Concertos como oaeapostas esportivasBruce Springsteenaeapostas esportivas1988, diz Dagmar Hovestaedt, "tornaram-se focos para manifestações reivindicando direitos humanos, direito a viagens e à livre expressão."

"Imagine cem mil alemães orientais cantando 'born in the USA' (nascido nos EUA)!", diz a pesquisadora.

aeapostas esportivas Rock x aeapostas esportivas Muro

A Guerra Fria terminou por várias razões, políticas e econômicas. E o espírito libertário que levou milhares às ruasaeapostas esportivas1989 para desafiar o regime comunista também contribuiu, diz Hovestaedt.

Para muitos, especialmente os jovens, o que nutriu e manteve vivo esse espírito foi a música.

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Legenda da foto, David Bowie no muroaeapostas esportivasBerlim (Foto: Denis O'Regan/Getty Images)