Nós atualizamos nossa PolíticaPrivacidade e Cookies
Nós fizemos importantes modificações nos termosnossa PolíticaPrivacidade e Cookies e gostaríamos que soubesse o que elas significam para você e para os dados pessoais que você nos forneceu.
Bandeira únicarejeição a Trump enfraquece movimentos nos EUA, diz pesquisador:
Autor18 livros sobre sociologia - vários voltados à influênciamovimentos sociais na política - McAdam falou à BBC Brasil sobre possíveis desdobramentos das manifestações no sábado. Confira os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - A Marcha das Mulheres é comparável a outros grandes protestos da história americana, como as manifestações contra a Guerra do Vietnã e as marchas pelos direitos civis?
Douglas McAdam - Considerando a natureza da eleição e a frustração da esquerda com o resultado, não fiquei surpreso que o público tenha sido tão grande.
Obviamente há alguns paralelosrelação a grandes manifestações históricas, mas também algumas diferenças importantes. A MarchaWashington1963 [onde Martin Luther King fez um famoso discurso contra o racismo] foi muito menornúmero, mas nunca houve nada como ela no passado, então ela teve um impacto muito maior do que as marchas que vimos no sábado.
Com o tempo, esses protestosmassa ou marchas se tornaram mais comuns, quase institucionalizados nos EUA. Eles não têm a mesma capacidadegerar tensão ou pressão como a MarchaWashington ou algumas das grandes marchas da época da Guerra do Vietnã.
BBC Brasil - Por quê?
Douglas McAdam - Historicamente, o podermovimentos sociais derivasua capacidadeperturbar a normalidade. Eles ainda podem fazer isso, mas marchas como as que vimos no sábado não perturbam - elas servem mais para expressar valores e, nesse sentido, podem ser úteis para o movimento.
Podem dar uma impressãocrescimento e ajudar a comprometer as pessoas com a luta no longo prazo. Mas, sozinhas, não têm podercriar nenhuma pressãoparticular.
BBC Brasil - Elas não poderão influenciar o governo Trump?
Douglas McAdam - Eu duvido. Nos últimos dias, ele argumentou queposse tinha mais pessoas que as marchas. Se houve algum impacto, foi no sentidoendurecer as visões do governorelação à oposição.
BBC Brasil - No sábado, muitos grupos diferentes - como ambientalistas, feministas, o movimento negro e ativistas pró-imigração - marcharam juntos. Esses grupos conseguirão se manter unidos?
Douglas McAdam - No fim dos anos 1960 e começo dos 1970, houve uma aglutinaçãotorno da questão dos direitos civis e depoistorno da Guerra do Vietnã. A esquerda era uma coalizão ampla e pragmáticagrupos diferentes. Mas isso não ocorreu desde aquela época.
Não sei se uma nova coalizão sólida e duradoura vai se formar. A eleição do Trump parece ter criado, pelo menos no curto prazo, uma solidariedade real entre gruposesquerda, apesardiferençasclasse, raça etc.
Essa é a força e a fraqueza do movimento: a única coisa que eles realmente têmcomum é a rejeição a Trump. Fora Trump, não há necessariamente algo que os una.
Vimos isso no Egito. No começo da Primavera Árabe, havia uma raiva compartilhada contra [o então presidente} Mubarak, e muitas pessoas foram à Praça Tahir protestar. Mas quando Mubarak saiu, essa coalizão colapsou muito rapidamente.
BBC Brasil - Qual o poder dos movimentos sociais na política dos EUA hoje?
Douglas McAdam - Eles são extremamente influentes na épocaeleição, mais até do que eram no passado. O nosso sistemaprimárias, que são eleições com baixo comparecimento, é perfeito para mobilizar grupos organizados. Candidatos tradicionais das bases partidárias enfrentam cada vez mais dificuldade para sobreviver às primárias.
Trump gerou um movimento, [Bernie] Sanders gerou um movimento, Hillary [Clinton] não gerou. Jeb Bush tentou montar uma campanha tradicional baseada no partido e perdeu quase imediatamente.
BBC Brasil - Em 2014, você afirmou numa entrevista que os EUA estavam vivenciando a maior polarização desde a Reconstrução (período após a Guerra Civil Americana, no fim do século 19). O cenário se mantém?
Douglas McAdam - Estamos ainda mais divididos agora. Há uns dez, doze anos atrás, havia uma grande divisão na classe política, formada por políticos eleitos e militantes partidários. Não era tão claro se o público geral estava tão dividido. Acho que hoje o país todo está dividido, provavelmente como nunca antes.
BBC Brasil - Em seu último livro, você argumenta que o movimento pelos direitos civis nos anos 1960 gerou uma forte reação contrária entre americanos brancos. Houve alguma reação parecida por trás da vitóriaTrump?
Douglas McAdam - No livro, eu argumento que a partir do movimento pelos direitos civis os republicanos, que antes eram mais liberaisrelação a raça, se moveram bruscamente para a direita para cortejar os votoseleitores brancos conservadores, especialmente no sul.
Até então, o sul tinha sido solidamente democrata. E nos últimos 50 anos, os republicanos vêm se movendo mais e mais para a direita.
Hoje o partido se tornou basicamente um partidoconservadores raciais brancos. Donald Trump se aproveitou disso. Não que ele não tenha recebido votosoutros grupos, mas o apoio a ele veio sobretudoeleitores brancos - muitos dos quais tinham visões muito conservadoras sobre assuntos raciais e imigração.
BBC Brasil - A vitóriaTrump se alimentou da reação contrária ao movimento Black Lives Matter (vida negras importam, que combate a violência policial contra negros)?
Douglas McAdam - Provavelmente houve alguma reação ao Black Lives Matter. Mas a maior reação parece ter sido à eleiçãoBarack Obama. Vimos um aumento significativo no que alguns chamamracismo à antiga - um racismo mais explícito. É possível que o Black Lives Matter tenha contribuido com isso também.
BBC Brasil - No início do governo Obama, o movimento Tea Party se tornou muito influente, mas parece ter perdido força desde então. O que houve com o grupo?
Douglas McAdam - Os movimentos não são como organizações, eles têm fluidez. Para onde foram os simpáticos ao Tea Party? Não sabemos, mas não acho que o movimento tenha desaparecido.
Acho que muitos dos que simpatizam ou se identificavam com o Tea Party tiveram um papel na última eleição. Muitos provavelmente tornaram-se eleitores do Trump.
Principais notícias
Leia mais
Mais lidas
Conteúdo não disponível