O homem que cruza fronteira a pé com 70 kgbrinquedos para alegrar crianças na Síriaguerra:

Legenda do vídeo, O homem que cruza fronteira a pé com 70 kgbrinquedos para alegrar crianças na Síria

O sírio-finlandês Rami Adham se dedica a fazer crianças sorrirmeio à tristezauma guerra que parece não ter fim.

Nos últimos quatro anos, foram 28 viagens à Síria. Ele distribui brinquedos entre meninos e meninasAleppo, no norte do país. Em troca, recebe sorrisos muitas vezes tímidos, mas recompensadores.

Mas a iniciativa requer uma grande operação logística - ele cruza a fronteira entre a Turquia e a Síria carregando malas com até 70 kgbrinquedos. O trajeto é feito a pé e às vezes demora 16 horas.

Por causaseu trabalho, Rami ficou conhecido como o "contrabandistabrinquedosAleppo".

"O sorriso que elas (crianças) te dão, a gratidão... você as ajuda a esquecer que elas perderam suas casas, suas escolas, seus brinquedos".

Segundo Rami, as bonecas Barbie são pesadas - ele diz colocar até cem embagagemmão. Também diz empacotar brinquedos mais maléaveis porque se acomodamembalagens a vácuo e não correm o riscoquebrar.

Rami Adham durante a viagem
Legenda da foto, Rami chega a levar 70 kgbrinquedos - e parte do trajeto é feito a pé

Rami ainda ajuda a fornecer comida e outros suprimentos básicos por meio da Associação Síria-Finlandesa, que fundou por meiodoações. Agora, se dedica a construir escolascamposrefugiados.

A reação das crianças, diz, encoraja seu retorno.

"Esse é o tiposentimento que me alimenta, que recarrega minhas baterias", diz ele.

Traumas da guerra

Rami diz que nunca conseguiu se esqueceruma meninaseis anos que, traumatizada, não falava uma única palavra.

Forças do governo sírio haviam invadidocasa, prendido seu pai dentroum armário e ateado fogo nele, conta. Sua mãe foi sequestrada, e ninguém sabe o paradeiro dela.

"Ela gritou tanto que perdeuvoz", afirma Rami, que diz tê-la visitado várias vezes e lhe dado uma Barbie e um pôneibrinquedo. "A reação dela foi sempre a mesma: um sorriso lindo".

Muitas outras crianças que Rami encontrou ficaram órfãs pela guerra. “Não há escola, nada para elas fazerem”, explica.

"As crianças ali não têm medo mais da morte. Elas preferem morrer a se ferir - dizem que quando você morre não temse preocupar com mais nada."

Rami com crianças sírias
Legenda da foto, Muitas das crianças são órfãs e estão traumatizadas, conta ele

Sem acesso

Rami voltou recentementeuma viagem12 dias na Síria. Ele levou brinquedos e suprimentos para várias áreas, incluindo um campo que abriga as pessoas que recentemente abandonaram a cidadeDarayya.

Mas não conseguiu encontrar uma rota segura no leste sitiadoAleppo, cidade onde cresceu e que visita constantemente.

Depoisuma semanacessar-fogo, voltou à Finlândia. Foi quando o local onde ele estava na Síria foi severamente atingido por um ataque aéreo - nove pessoas morreram, incluindo dois amigos dele.

"Agora, as crianças estão literalmente nadando na cratera que a bomba formou", afirma.

Ele espera poder retornar à Síria dentro das próximas semanas, mas se diz pessimista.

"Fiquei sabendo que várias pessoas que conheço estão mortas. Estou bem apavorado, nervoso sobre a próxima viagem."

Caso consiga ir, porém, não faltarão brinquedos. "São a primeira coisa na lista", garante.