Como e por que as gangues dominaram as prisões dos Estados Unidos e do Brasil:bwin live

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Legenda da foto, Presídiobwin liveManaus (à esq.), cadeia nos EUA e integrante do PCC envolvidobwin livesequestrobwin live2006: gangues se tornaram 'governo paralelo'bwin livepresídios, argumenta professor

Pelo contrário: tais grupos, afirma ele, se mantêm exatamente para bwin live criar ordem e lucrar onde o Estado não quer ou não consegue atuar.

Das gangues étnicas da Califórnia (Máfia Mexicana, Irmandade Ariana, Família Negra) ao PCC (Primeiro Comando da Capital) no Brasil, o pesquisador descreve no livro ebwin liveoutros estudos organizações sofisticadas que bwin live criam hierarquias, controlam o contrabando nas prisões e solucionam conflitos internos.

Como sujeitos econômicos racionais, sustenta Skarbek, esses grupos fazem tudo isso por um motivo básico: bwin live dinheiro. Por ele, vale até moderar o uso da violência.

"Quando as prisões estão calmas e estáveis, as gangues fazem muito dinheiro. Elas podem vender drogas quando não há confusõesbwin livelarga escala, então têm incentivo para prevenir homicídios e rebeliões. bwin live Elas querem lucrar e reconhecem que mantendo certa ordem podem fazer isso", afirmou Skarbekbwin liveentrevista à BBC Brasilbwin liveLondres.

Isso permite entender, diz ele, como lugaresbwin liveque a população carcerária explodiu passaram a ter sistemas prisionais mais "calmos", com menos motins e homicídios.

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Legenda da foto, David Skarbek e o premiado livrobwin liveestreia: "Gangues prisionais acabam provendo governançabwin liveuma maneira brutal, porém efetiva"

Um retrato desse fenômeno, diz Skarbek, se dá na bwin live Califórnia, foco principalbwin livesua pesquisa. bwin live O Estado americano quintuplicoubwin livepopulação carcerária desde 1970 (de 25 mil para 130 mil), mas a taxabwin liveassassinatosbwin livepresos caiu quase 100% no mesmo período, que coincide com o boom das gangues.

Oubwin liveSão Paulo, também alvo dos estudosbwin liveSkarbek, que bwin live diz ver sentido na hipótese que identifica o PCC como principal responsável pela quedabwin live73% nos homicídios no Estado desde 2001 - nessa interpretação, a facção transpôs às ruas as regrasbwin livecontrole da violência que criara nas cadeias.

No casobwin liveSão Paulo, por exemplo, bwin live não houve rebeliões nas 82 penitenciárias do Estadobwin live2014 ebwin live2015, e apenas duas neste ano. O governo não forneceu dadosbwin liveanos anteriores, e bwin live nega que a paz relativa nas cadeias do Estado seja resultado da açãobwin livegangues - cita medidas como treinamentobwin liveagentes, regime diferenciado para presos perigosos e uso intensivobwin livetecnologia.

Como a economia explica a sociedade

Skarbek é um discípulobwin liveuma escolabwin livepensamento conhecida como bwin live teoria da escolha racional, que busca explicar o comportamento humano como resultadobwin livedecisões tomadas por atores econômicos.

Ele já tinha usado a teoria econômica, por exemplo, para entender bwin live por que escravos africanos iniciavam poucas revoltas quando eram transportados aos montesbwin livenavios negreiros - dados mostram que apenas 2% a 10% das viagens transatlânticas registraram motinsbwin live1750 a 1775.

Quanto mais escravos, mais provável seria uma revolta, certo? Na verdade era o contrário: barcos menores e com menos escravos registravam mais motins. Isso se explica, diz Skarbek, por uma questão básicabwin liveeconomia: bwin live o bwin live problema do caroneiro (free rider), aquele que se beneficiabwin livealgo sem ter arcado com os custos daquilo.

"Num grande navio, a possibilidadebwin liveum escravo sozinho ser a pessoa decisiva (numa revolta) é quase zero. E como os castigos eram brutais, o escravo se colocavabwin livealto risco ao se revoltar", afirma. bwin live Em barcos menores e com menos escravos, portanto, era mais fácil evitar os "caroneiros" e incentivar a participaçãobwin livemotins.

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Legenda da foto, Navio negreirobwin livereprodução do século 19 do pintor Johann Rugendas; para escravos, era mais fácil superar entrave à ação coletivabwin livebarcos menores, afirma autor

Origem das gangues

Aplicando essas ferramentas ao mundo do crime, o professor procurou responder uma questão básica: bwin live por que existem gangues nas prisões hoje e não havia no passado?

Nas cadeias dos EUA, por exemplo, não havia gangues nos anos 1950. Em 1985, eram 114 gangues ativasbwin live49 Estados, com quase bwin live 13 mil membros. Em 1992, essa população havia triplicado para bwin live 46 mil, e hoje é estimadabwin live bwin live 308 mil - quase 15% do totalbwin livedetentos.

Ao analisar uma montanhabwin livedados (estudos e relatórios, históriasbwin livepresídios, dados desclassificados do FBI, biografiasbwin livepresos e carcereiros, inquéritos e peças judiciais), Skarbek concluiu que, no caso da Califórnia, houve uma bwin live mudança na "gestão" das prisões pelos detentos.

À medida que a população carcerária cresceu e as prisões se tornaram maiores e mais diversas racial e etnicamente, bwin live uma forma mais descentralizadabwin liveautocontrole, baseada no antigo "código do prisioneiro", perdeu espaço para a mãobwin liveferro centralizada das gangues.

"O Código do Prisioneiro era basicamente um bwin live guia informalbwin livecomportamento: não roube, pague suas dívidas, não mexabwin liveassuntos dos outros. Se você o seguia, estava numa posição boa, tinha apoio mútuo. O que importava era a reputação do preso. Mas isso se tornava frágil e falhobwin liveprisões com milharesbwin livedetentos, onde é impossível acompanhar todos", diz Skarbek.

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Legenda da foto, Detentos brancos reunidosbwin livepresídio americano; decadênciabwin livesistema que regulava informalmente o comportamento dos detentos deu margem para gangues florescerem.

Um novo detento pode se surpreender com o nívelbwin livecontrole das gangues. No norte da Califórnia, por exemplo, a gangue hispânica Nuestra Família usa linhasbwin livepescar para enviar questionários às celas dos novatos.

Sem saída

O livro conta uma históriabwin liveum detento latino para ilustrar o dilemabwin livepresos quando chegam a presídios tomados por gangues.

Com pouco conhecimentobwin liveinglês, Juan Pablo Reyes bwin live cumpria uma sentença curta por ter ameaçado a mulher. Como não era membrobwin livegangue nem criminoso perigoso, foi encarregadobwin livefazer pequenos serviços no presídio.

Um dia, um carcereiro o acusoubwin livefurtar cartas alheias. Ele negou, mas agentes disseram que só o perdoariam se ele delatasse presos que portavam drogas. Reyes disse que não conhecia ninguém e bwin live foi espancado pelos agentes.

Depois foi levado, nu, a uma ala com membrosbwin liveuma gangue hispânica que tinha como regra atacar detentos latinos não-americanos. Acabou sofrendo agressões tão graves que foi colocadobwin liveliberdade dois meses antes do previsto.

"O incidente ilustra uma das razões pelas quais presos buscam formas alternativasbwin livegestão: bwin live você não pode sempre confiar nos guardas", escreve Skarbek.

Como muitos outros grupos mafiosos, as gangues prisionais surgiram para oferecer proteção. Cadeias são ambientes hostis (em 2011, bwin live 64% dos presos na Califórnia tinham condenações por crimes violentos, como estupro e homicídio) e muitos criminosos fora do sistema prisional preferem pagar "taxasbwin liveproteção" para gangues mesmo antesbwin liveir - ou voltar - para a prisão.

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Legenda da foto, "Gangues não mantêm a ordembwin livepresídios porque são boazinhas. Não estão fazendo isso do nada, mas para prever alguma ordem e o incentivo do lucro", afirma David Skarbek.

No casobwin livebandidos perigosos, como tendem a cumprir sentenças mais longas, há forte interessebwin livegarantir proteção a longo prazo na cadeia. As bwin live altas taxasbwin livereincidência (acimabwin live50%bwin live1994) também oferecem incentivos para criminosos continuarem a pagar essas taxasbwin liveliberdade.

"Na Califórnia, bwin live o detento não tem alternativa a não ser se ligar a seu grupo racial, que está organizadobwin liveganguesbwin liverua ou prisões. Se você tentar seguir sozinho, será logo alvobwin liveataques. Esse é o dilema que leva as pessoas a se aproximar dessas gangues", afirma Skarbek.

"Quando são presos, hispânicos no sul da Califórnia sabem que a máfia mexicana controla as cadeias. As gangues, basicamente, bwin live conseguem ameaçar pessoas que não estão na prisão: vocês sabem que estarão detidosbwin livealgum ponto, colocaremos seu nome na lista, se não pagar taxas sobre suas vendas, vamos te atacar quando for preso", completa.

Mecanismo semelhante atua no caso do PCC, que tem bwin live presençabwin live22 das 27 unidades da Federação e arrecada ao menos US$ 50 milhões por ano, segundo dados mencionados por Skarbek. A facção possui seus próprios "tribunais do crime" e os "disciplinas", membros designados para lidar com filiados que não obedecem suas regras.

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Legenda da foto, Policial chegabwin livelocal onde mascarados haviam incendiado ônibusbwin liveSão Paulo na ondabwin liveataques do PCCbwin live2006; facção projeta poder para além dos presídios, diz pesquisador

Comércio ilegal

Gangues florescem quando o governo não consegue suprir suas necessidades - sejam elasbwin livesegurança oubwin liveconsumo. Em um ambientebwin liveescassez, o comércio -bwin liveitens como telefones, cigarros e outras drogas - adquire uma importância chave. O departamento prisional da bwin live Califórnia confiscou 12.151 celulares sóbwin live2013, o que dá uma ideia da dimensão desse mercado.

"Na Califórnia, você não pode fumar nem usar celular nas cadeias. Significa que se você quiser usar tabaco, terá que recorrer à economia subterrânea, controlada pelas gangues. bwin live Ao proibir o fumo, criamos uma oportunidadebwin livelucro para gangues. Presos demandam certas amenidades, e se a prisão não provê, seja tabaco, segurança ou telefone, presos irão canalizar essa demanda para a economia subterrânea, mandando mais dinheiro e influência para as gangues."

Campeõesbwin liveencarceramento, com respectivamente a primeira (2,2 milhões) e quarta (622 mil) maior população carcerária do mundo, bwin live Estados Unidos e Brasil estão usando a receita errada para combater as gangues, avalia Skarbek.

A estratégia equivocada, diz ele, é motivada pela crençabwin liveque o problema das gangues, para usar o jargão econômico, ébwin liveoferta, ou seja, pessoas más que fazem coisas ruins. Nesse raciocínio, a saída seria "suprimir" essas pessoas, colocando-as em bwin live unidades separadas,bwin livealta segurança.

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Legenda da foto, Penitenciária Desembargador Raimundo Vidal Pessoa, inauguradabwin live1904bwin liveManaus. Com capacidade para 250 pessoas, unidade abrigava 700 presosbwin live2015.

"Transferir essas pessoas, e conheço resultados no Brasil e nos EUA, não resolve o problema. Pode levar as gangues para outras cadeias, como num câncerbwin livemetástase, e outros assumem o lugar dos que são transferidos. Temos gangues por todo o sistema, apesar dessas estratégias. bwin live É um fracasso."

Para Skarbek, bwin live é preciso que as prisões sejam menores e mais seguras. E ele vai além ao afirmar que é preciso pensar soluções para cortar as fontesbwin liverecursos das gangues.

"Acho, por exemplo, que devemos deixar presos fumarem ou usarem cigarros eletrônicos. Tecnologicamente podem criar telefones especiais para detentos", afirma o especialista.

No caso das drogas ilegais, ele reconhece que é um assunto polêmico, mas cita o casobwin liveum ex-carcereiro que defende a liberação nas prisões e cita unidadesbwin livepaíses nórdicos que oferecem opiáceos a detentos viciados.

"Não estou defendendo isso, mas se fosse o caso, agentes prisionais poderiam prover maconha e opiáceosbwin livegraça,bwin liveforma legal e num ambiente controlado, com efeitos negativos limitados para quem está fora. bwin live Quando a receita diminui, membrosbwin livegangues teriam menosbwin livejogo. Parece algobwin liveficção científica, mas é preciso pesar todos os custos e benefícios", diz ele.

Procurada pela BBC Brasil, a SAP (Secretariabwin liveAdministração Penitenciária)bwin liveSão Paulo diz que as consideraçõesbwin liveSkarbek sobre o caso do Estado " bwin live não refletem a realidade atual do sistema prisional paulista".

A pasta diz que a bwin live presença do Estado é "constante" bwin live nas unidades, e que tudo que entra nos presídios passa por revistas. Afirma ainda que São Paulo é o único Estado brasileiro a contar com unidadebwin liveRDD (Regime Disciplinar Diferenciado),bwin liveisolamento para presos com alto potencialbwin liverisco.

A secretaria também considera bwin live "leviana" a hipótese que responsabiliza "qualquer facção criminosa" pela queda nos homicídios no Estado. Diz que desde 2006 São Paulo elevou os gastosbwin livesegurançabwin live94% acima da inflação, e que esse crescimento do investimento foi proporcional à queda nos homicídios.

A SAP menciona também que o bwin live "aumento constante do investimento" permitiu ampliar o uso da tecnologia no combate ao crime, e que isso já se refletiu na produtividade das polícias - cita, por exemplo, um aumentobwin live80% nas prisões no Estadobwin live2006 a 2015.

A pasta diz também que o bwin live emprego da tecnologia é "crescente" nas prisões do Estado, que dispõembwin live"bloqueadoresbwin livecelulares, scanners corporais, monitoramento por câmeras, portas automáticasbwin livecelas, equipamentosbwin liveraio-X e detectoresbwin livemetalbwin livealta sensibilidade".