Copa do Mundo: o histórico da FIFA com governos autoritários:betfair site

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Legenda da foto, Na vésperabetfair sitepartida nesta quarta-feira (23/11), jogadores da Alemanha posaram para foto com a mão na boca,betfair siteprotesto contra restrições a que atletas têm sido submetidos embetfair siteexpressão política

Na quarta-feira (23/11), jogadores da Alemanha taparam as próprias bocas durante a foto oficial do primeiro jogo do timebetfair siteprotesto contra a proibição. Muitos integrantes do time queriam usar a braçadeira com as cores do arco-íris "One Love",betfair siteapoio à causa LGBT, mas seu uso foi proibido pela entidade.

"A Fifa não se importa com direitos humanos, isso não é relevante para o negócio", afirma o historiador do futebol Fláviobetfair siteCampos, professorbetfair siteHistória da USP e coordenador do Ludens, núcleo interdisciplinarbetfair sitepesquisas sobre jogos. "Ela é muito pragmática no sentidobetfair siterealizar as atividades e os eventos independente dessas questões."

Campos se refere não somente à Copa do Catar, mas ao fato da FIFAbetfair sitese relacionar sem problemas com governos autoritários e que ferem direitos humanos desde os primeiros campeonatos.

Entenda o histórico da entidade com governos autoritários.

A Copabetfair site1978 na Argentina

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Legenda da foto, Copabetfair site1978 na Argentina, quando a anfitriã foi também a campeã; na época, país sofria uma brutal ditatura militar

Em 1978, a Argentina era governada por uma brutal ditadura militar que havia chegado ao governo dois anos antes atravésbetfair siteum golpe militar. Mas a FIFA decidiu realizar a Copa no país mesmo assim.

"Havia um mundial transcorrendo enquanto a tortura era praticadabetfair sitegrande volume na Argentina", diz Fláviobetfair siteCampos. "Não existe nenhum limite do que um governo pode fazer desde que o negócio esteja dando dinheiro, desde que se alimente esse complexo econômico."

O clima político no país era bastante conturbado, com inúmeros protestos sendo feitos pelas Mães da Praçabetfair siteMaio, que buscavam seus filhos desaparecidos.

A organização do torneio foi marcada por muitos problemas e polêmicas. Muitos estádios ficaram prontos no último minuto, com gramados recém-plantados se soltando durante os jogos. O governo foi acusadobetfair sitefavorecer o time da Argentina, já que os jogos dos anfitriões aconteceram todosbetfair siteBuenos Aires, com os adversários precisando viajar pelo país.

A escolha da Argentina tinha acontecido anos antes, mas diante dos crimes da ditadura, o então chefe da Fifa, João Havelange, foi pressionado para mudar a sede do torneio para a Europa, o que não aconteceu.

A mudança não seria algo impossível, afirma Campos, tanto que aconteceu algumas copas depois,betfair site1986, quando a Colômbia desistiubetfair sitereceber o Mundial e a Copa foi realizada no México.

A realização do torneio não aconteceu sem protestos.

Houve uma forte campanha pelo boicote da Copa, explica Mateus Gamba Torres, professorbetfair sitehistória da Universidadebetfair siteBrasília. "Houve bastante protesto internacional. Alguns jogadores boicotaram, não foram. E outros, que foram, participaram das manifestações da Praçabetfair siteMaio", afirma Torres.

"O time da Holanda, que foi para a final, afirmou que se ganhasse não iria receber a taça das mãos do Videla (o ditadorbetfair site1978)", diz o historiador. O campeonato acabou sendo vencido pelo time da casa — e a taça foi entregue pelo ditador.

A Copabetfair site1934 na Itália

A segunda Copa do Mundo FIFA da história,betfair site1934, foi realizada na Itália governada pelo ditador fascista Benito Mussolini.

Mussolini queria tanto que o país fosse o anfitrião que destacou um general, Giorgio Vaccaro, presidente da Federação Italianabetfair siteFutebol, para negociar com a FIFA.

Vaccaro prometeu um grande investimento no evento (3,5 milhõesbetfair siteliras). E, 1932, a Itália venceu a disputa contra a Suécia para sediar a Copa.

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Legenda da foto, Selo postal da Copa do Mundobetfair site1934, na Itália comandada por Mussolini

A Copabetfair site2018 na Rússia

Campos também cita a administraçãobetfair siteVladimir Putin como um governo autoritário com quem a FIFA decidiu fazer parceria para realizar a Copa — no caso, a Copabetfair site2018 na Rússia.

Nominalmente uma democracia, a Rússia ainda tem eleições. "No entanto, pode ser considerado um governo autoritário pelos inúmeros mecanismosbetfair siteperpetuaçãobetfair sitepoder criados por Vladimir Putin, que lidera o país (como presidente ou primeiro-ministro) há 22 anos", diz Campos.

Mesmobetfair site2018, muito antes dos embargos e reprimendas internacionais por ter invadido a Ucrânia, a Rússiabetfair sitePutin já enfrentava críticas pela perseguição a opositores políticos, pelo controle da imprensa, pelo ambiente hostil ao público LGBT e por usar mecanismosbetfair sitevigilância e controlebetfair siteinformações. Também já havia acusaçõesbetfair siteinterferência nas eleições americanas.

'Democracia demais'

A realização destes Mundiaisbetfair sitepaíses com governos autoritários mostram que a faltabetfair sitedemocracia não só não é considerada um problema, mas pode ser vista como um ponto positivo pela FIFA, dizem os historiadores.

A própria FIFA já admitiu que considera "democracia demais" uma "dificuldade".

Em 2013, o então secretário geral da entidade, Jérôme Valcke, disse que "democracia demais" pode atrapalhar a organização do mundo.

"Vou dizer algo que é maluco, mas menos democracias às vezes é melhor para organizar a Copa do Mundo", afirmou Valckebetfair siteum evento.

"Quando você tem um chefebetfair siteEstado forte que pode tomar as decisões, como talvez o (presidente russo Vladimir) Putin possa fazerbetfair site2018... Isso é mais fácil para nós organizadores", afirmou Valcke.

O dirigente falava sobre o que considerava as dificuldadesbetfair siteorganizar o evento no Brasil, que teve protestos contra a Copa e grevebetfair sitetrabalhadores na construção dos estádios antes do Mundialbetfair site2014.

"(No Brasil) há várias pessoas, vários movimentos e vários interesses e é bastante difícil organizar uma Copa do Mundo nessas condições", afirmou.

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Legenda da foto, O presidente da FIFA, Gianni Infantino (ao centro), ao lado do presidente Vladimir Putin (à dir.) e do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (à esq.)

A BBC procurou a FIFA para comentar tanto a falabetfair siteValcke quanto as críticas sobrebetfair siterelação com governos autoritários, mas não teve resposta.

No entanto,betfair sitediversas ocasiões, o atual presidente da FIFA, Gianni Infantino, rebateu críticas sobre a postura da entidade e sobre a forma como o Catar trata os trabalhadores imigrantes, a população LGBT e as mulheres.

Infantino, que é italiano e suíço, dissebetfair siteum pronunciamentobetfair site19betfair sitenovembrobetfair siteDoha, um dia antes da abertura da Copa, que sabe o que é ser discriminado porque "sofreu bullying na escola por ser ruivo e ter sardas".

"Hoje eu me sinto catariano, me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Me sinto gay, me sinto uma pessoa com deficiência. Me sinto como um trabalhador imigrante", disse ele.

Infantino também afirmoubetfair siteoutra ocasião que a realização da Copa no Catar é uma coisa positiva porque "foram feitos diversos avanços"betfair sitedireitos humanos no país por causa da atenção que o país ganhou com o evento.

O que a FIFA ganha

Campos afirma que há um motivo financeiro para a FIFA escolher países com governos autoritários, já que eles tendem a investir grandes somasbetfair sitedinheiro no evento —betfair sitepaíses democráticos, tende a haver mais transparência e escrutínio sobre o usobetfair sitedinheiro público para o mundial.

"Governos autoritários gastam muito mais dinheiro, sem ter quem fiscalize. É só olhar o quanto o Catar investiubetfair site2022 (US$ 220 bilhões, a Copa mais cara da história). A Argentina investiu muito mais que outros países que fizeram o evento 4, 8 anos depois", afirma Mateus Gamba Torres, da UNB.

"Em um país autoritário tem censura para tudo, os dados não são divulgados. Os trabalhadores nem cogitam fazer greve, e na hipótesebetfair sitehaver uma, ela é duramente reprimida", diz Torres.

"A Fifa não se importa com direitos humanos. Quer estádios prontos para vender ingresso, para vender patrocínio."

Ao mesmo tempo, lembra ele, há um risco envolvido até mesmo do pontobetfair sitevistabetfair sitenegócios.

"O que menos existebetfair siteditadura é estabilidade e cumprimentobetfair sitecontrato", afirma. "Veja a proibiçãobetfair sitecerveja que o Catar anunciou dois dias antes da Copa começar. Isso não deve ter caído nem um pouco bem com os patrocinadores", diz.

"Eles podem dar discursos que os direitos humanos avançaram por causa da Copa, mas é hipocrisia, porquebetfair sitenenhum momento a FIFA exigiu essas melhoras", diz Flávio Campos. "E ao decidir fazer o evento ali, dá um destaque, dá uma legitimação ao governo."

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