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O casoestupro e decapitaçãomulher da alta sociedade que deixou um paíschoque:
Quando a polícia chegou ao local, Noor Muqaddam, com 27 anosidade, já estava morta.
Segundo a polícia, Muqaddam havia sido mantida refém por dois dias por um homem seu conhecido - Zahir Zakir Jaffer, filhouma das famílias do setor industrial mais ricas do Paquistão.
Ela havia implorado porliberdade, segundo revelou o relatório da investigação policial, e imagenscâmerassegurança mostraram que ela tentou escapar pelo menos duas vezes.
O vídeo impressionante mostra Muqaddam pulandouma janela no primeiro andar, mas ela foi arrastadavolta para dentro da casa, onde foi torturada, estuprada, assassinada e, por fim, decapitada.
O "crime"Muqaddam, segundo seu assassino contou à polícia, foi recusar-se a se casar com ele.
Os terríveis detalhes do crime reverberaram por todo o Paquistão. Ativistas dos direitos das mulheres foram às ruas, houve vigílias à luzvelas e hashtags como #JustiçaParaNoor e #FimDoFeminicídio ganharam popularidade nas redes sociais. Muitas mulheres manifestaram-se e compartilharam suas próprias históriasviolência doméstica e abusos sexuais.
A 300 kmIslamabad, na cidadeLahore, no leste do país, a advogada Khadija Siddique não conseguiu dormirjulho passado, quando soube do assassinatoNoor Muqaddam. "Foi um grande choquerealidade e um retorno ao passado para mim porque eu poderia ter estado no lugarNoor", contou ela à BBC.
Khadija Siddique foi esfaqueada 23 vezes pelo namoradouma rua movimentadaLahore2016, depois do rompimento do casal. Seu agressor foi inicialmente condenado a sete anosprisão, massentença foi reduzida para apenas dois anos.
Em 2018, o Tribunal SuperiorLahore o absolveu, alegando que os tribunais não poderiam confiar apenas na declaração da vítima. A Suprema Corte do Paquistão restaurou a sentença posteriormente.
Ele foi libertado da prisão17julho2021, apenas três dias antes do bárbaro assassinatoNoor Muqaddam.
Khadija Siddique pôde contar com apoio familiar e seu caso conseguiu atenção da imprensa, mas muitas outras não têm a mesma sorte. O julgamento foi acelerado, mas,muitos casosagressão violenta contra as mulheres, segundo ela, a justiça nunca chega.
"Faltaconhecimento etreinamento adequado dos responsáveis pelos inquéritos gera investigações deficientes. Evidências importantes não são coletadas, normalmente são descartadas ou a coleta sofre atrasos, a pontoperderem seu valor como prova no tribunal", afirma ela.
Não há dados confiáveis sobre os crimes contra as mulheres no Paquistão, mas as Nações Unidas estimam que a taxacondenação nesses casos é1 a 2,5%, o que explica por que muitas vítimas decidem não se manifestar.
As vítimas que conseguem o julgamento podem acabar sendo atacadas - submetidas a longos interrogatórios que normalmente não têm relação com o crime, mas sim questionam a integridade das mulheres.
"Quando você começa a caluniar as mulheres, falando sobre o seu passado e seus relacionamentos, elas imediatamente se retraem", explica Siddique. "As mulheres receiam sofrer censura moral, que a culpa recaia sobre as vítimas, e esses medos as levam a não denunciar a violência que normalmente sofrem dos homens com quem têm relacionamento ou seus conhecidos."
'Um longo caminho a percorrer'
O Paquistão é o 153° colocado (entre 156 países) no índice mundialigualdadegênero, apesar dos esforços dos últimos anos para fazer aprovar novas leis para proteger as mulheres e criar tribunais especiais para ouvir casosviolênciagênero.
Mas as coisas estão melhorando, segundo Nilofer Bakhtiyar, presidente da comissão nacional do status da mulher. "Esses casosdestaque sempre existiram, mas agora eles estão sendo noticiados pela imprensa", segundo ela. "As famílias dessas vítimas também oferecem muito apoio. No passado, isso não acontecia."
Bakhtiyar acredita que o clamor público sobre o assassinatoNoor Muqaddam foi parte da mudança. "Existe urgência para combater esse tipoviolência contra as mulheres. Os homens agora estão falando sobre isso, especialmente os que ocupam cargos superiores. E os legisladores não querem mais empurrar a questão para debaixo do tapete", afirma ela.
Mas a violência contra as mulheres permanece sendo um problema muito sério no Paquistão. Um relatório recente da ONG Human Rights Watch estimou que cerca1 mil mulheres morrem nos chamados "crimeshonra" todos os anos. Os ativistas acreditam que o pensamento misógino está enraizado tão profundamente na sociedade que levará anos para ocorrer qualquer mudança real.
Um mês antes do assassinatoNoor Muqaddam, o primeiro-ministro do Paquistão Imran Khan foi acusadoculpar as vítimas e incentivar a misoginia quando sugeriu que o aumento das quantidadescrimes sexuais no país foi causado,parte, pelas roupas que as mulheres usavam.
"Uma mulher que usar poucas roupas causará impacto sobre os homens, a menos que eles sejam robôs", afirmou Khanentrevista à redeTV norte-americana HBO. Seus comentários irritaram as mulheres e desencadearam protestostodo o país. Um fio pedindo às sobreviventes que compartilhassem fotografias das suas roupas e históriasabuso tornou-se um dos assuntos mais comentados no Twitter.
Em defesa do primeiro-ministro, mulheres parlamentares do seu partido (PTI) afirmaram que a questão havia sido retiradacontexto e que ele deveria ser julgado pelas medidas que seu governo está tomando para proteger e dar poder às mulheres.
Mas será que o assassinatoNoor Muqaddam pode tornar-se um marco para o movimento das mulheres no Paquistão e poupar outras famílias do mesmo sofrimento?
"Ninguém no Paquistão, nenhuma família deveria precisar passar pelo que estamos passando", declarou à imprensa a irmãNoor Muqaddam, que liderou a campanha Justiça para Noor.
Mas Khadija Siddique é cética. "Nós somos mestres na arte do silêncio; as mulheres são forçadas a acreditar que o que quer que aconteça com elas éprópria culpa", segundo ela. "Justiça para Noor é um passo adiante, mas ainda temos um longo caminho a percorrer."
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