Os 70 anosreinadoElizabeth 2ª: quando a jovem princesa percebeu que se tornaria rainha:

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Legenda da foto, A jovem princesa Elizabeth (direita) comirmã Margaret e seus pais, quando eles eram duque e duquesaYork

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Legenda da foto, Bebê princesa Elizabeth comavó, a rainha Mary,1926

Mas a jovem princesa estava realmente tão despreparada?

"Papai vai ser rei", Elizabeth informou airmã Margaret Rose,seis anos, naquele diadezembro, explicando a repentina festa da multidão que se reunia do ladoforasua casaPiccadilly.

"Isso significa que você vai ser rainha?", perguntou Margaret.

"Sim", respondeu Elizabeth friamente. "Suponho que sim."

"Coitadinhavocê!", respondeuirmã mais nova com humor ao relatar o incidente a Elizabeth Longford no início1980.

Mas Margaret optou por omitir a piada quando recontou a história duas décadas depois ao historiador Ben Pimlott. Concentrou-secomo a nova herdeira parecia pouco inclinada a brincar sobre o assunto. "Ela não mencionou issonovo", disse a princesa a Pimlott.

Então, o que a princesa Elizabeth10 anos sabia?

O primeiro modelo da rainha Elizabeth 2ª para o que se tornou seu destino foi seu amado avô, o barbudo rei George 5º (1865-1936). Ela o chamava"vovô Inglaterra", o que mostrava como a garotinha já compreendia a essência dos negócios reais.

George 5º é lembrado por não ter "nenhum exercíciodons sociais, nenhum magnetismo pessoal, nenhum poder intelectual", admitiu seu biógrafo oficial John Gore.

"Ele não era espirituoso e nem um contadorhistórias brilhante."

O velho rei,outras palavras, era exatamente como a maioriaseus súditos. Mas ele tinha um senso aguçadosobrevivência — e tambémsimbolismo.

Foi George 5º quem sabiamente abandonou o sobrenome germânico da família realSaxe-Coburg-Gotha1917. Portanto, não ésurpreender que, maisum século depois, o mundo tenha tanta admiração pelas habilidades que a rainha implantou por meiosua reinado excepcionalmente longo e distinto.

Ela os aprendeuprimeira mão com o fundador da CasaWindsor.

George 5º foi a origem do famoso apelidofamíliasua neta "Lilibet". Em abril1929,seu terceiro aniversário, ela foi capa da revista TIME como "Princess Lilybet".

A grafia preferidaseu avô, no entanto, era "Lilibet" sem o "y", conforme estabelecidofrequentes referências carinhosasseu diário meticulosamente mantido — uma das delícias dos Arquivos ReaisWindsor.

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Legenda da foto, Princesa 'Lilibet'foto tirada por volta1929

Naquela primavera1929, o velho rei insistiu queamada neta,apenas três anos, fosse trazida para vê-loBognor Regis, na costaSussex, como um dos dois estímulos cruciais pararecuperaçãouma operação pulmonar quase fatal (o segundo estímulo era que ele pudesse "ser autorizado a fumar um cigarro").

Nesses primeiros meses1929, George 5º compartilhou pela primeira vezesperançaqueneta um dia ascendesse ao trono britânico.

"Você verá", disse ele ao paiLilibet, que o visitava duranterecuperação, "seu irmão nunca se tornará rei".

"Eu lembro que pensamos: 'Que ridículo'. . .", a rainha-mãe lembrou anos mais tarde. "Nós dois nos olhamos e pensamos: 'Bobagem'."

Mas o velho rei tinha convicção. "Ele vai abdicar", insistiu o rei a umseus confidentes — com extraordinária visão, considerando que a previsão foi feita sete anos antes do evento.

George 5º estava preocupado não apenas que seu filho mais velho David pudesse sabotar seu próprio reinado quando herdasse a coroa, mas também que o próximo na linha, "Bertie", ele próprio frágil e sofrendocongestão pulmonar, também não durasse muito.

O velho monarca aparentemente temia que o gago duqueYork pudesse desmoronar sob a pressão da responsabilidade real,modo que a pequena Lilibet pudesse vir a ser colocada no trono quando criança. Nesse caso, o regente lógico provavelmente seria o impassível terceiro filhoGeorge 5º, Henry, DuqueGloucester (1900-1974).

A possibilidadeuma Elizabeth ainda jovem ascender ao trono sob a tutelaseu tio Henry pode simplesmente ter refletido a preocupaçãoum rei doente.

Mas ficandoBalmoral no outono anterior, Winston Churchill, então chanceler do Tesouro (e mais tarde o primeiro primeiro-ministro da rainha) parecia endossar a ideiaque a criança seria a futura rainha. A jovem princesa, ele escreveu paraesposa Clementine, "é uma figura. Ela tem um arautoridade e reflexão surpreendentesuma criança".

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Legenda da foto, Artista CE Turner capturou esta imagem da jovem princesa com seu avô Rei GeorgeBognor Regis1929

Enquanto ela construía castelosareia com seu avô que se recuperava lentamente, a criança evidentemente havia absorvido alguma seriedade real do imperador-rei.

Antes do fim do reinadoGeorge 5º,1936, a extraordinária expansãopresentes públicos não solicitados paraneta — e até mesmo pedidos para a presença da criançafunções públicas — atingiu tal volume que uma damacompanhia foi contratada para cuidar dos assuntos da jovem ElizabethYork.

No CasteloWindsor, no final da década1920, a jovem princesa Elizabeth (nascida21abril1926) foi observada pelo bibliotecário real Owen Morshead sendo levadaseu carrinho para assistir à troca da guarda, quando o oficial comandante marcharia para saudá-la.

"Permissão para marchar, por favor, senhora?"

Sentadaseu carrinho, a princesa inclinou a cabeça com gorro,acordo com Morshead, depois acenou com a mão para dar permissão. Nesta tenra idade, a garotinha que já compreendia o peso do papel nacionalseu avô como "Vovô Inglaterra", estava claramente desenvolvendo uma noção própria também...

Que efeito temuma mentetrês anos descobrir que você só tem que acenar com a mão e acenar com a cabeça para a banda tocar ou todo o pelotão marchar a seu pedido?

Legenda da foto, Jovem princesa Elizabethum seloseis centavos da Newfoundland1932

Logo após seu quarto aniversário, no verão1930, uma efígiecera da princesa Elizabeth fezestreia no Madame Tussauds, sentadaum pônei.

Dois anos depois, a princesa foi apresentadaum seloseis centavosNewfoundland — e perto do Polo Sul, a Union Jack (bandeira britânica) foi erguida sobre os 900 mil quilômetros quadrados da "Princess Elizabeth Land", reivindicada pela Austrália (e um total258 quilômetros quadrados maior do que todo o Reino Unido).

"Toda vez que ela sai para dar uma volta no parque", relatou o Belfast News Letter no verão1932, as "pessoas reconhecem a meninaseis anos". "Chapéus são levantados e lenços são levantadostodos os lados."

Para seu sétimo aniversário,abril1933, a princesa enviou convites para a festaseu próprio papelcarta azul gravado com um "E" maiúsculo abaixouma coroa real. Uma coroa!

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Legenda da foto, Princesa Elizabeth, à direita, eirmã, a princesa Margaret,1933

Seus pais contrataram o artista da sociedade PhilipLászló para pintar um retratosua filha, a quem o pintor descreveu como "uma garotinha muito inteligente e bonita... Ela é muito popular e... atualmente vista como a futura Rainha da Grã-Bretanha."

Esta notícia repercutiuum relatório dos EUAmaio1934,que o futuro Edward 8º era conhecido por ser "mornorelação ao trabalho para o qual nasceu".

Pessoas próximas do príncipe diziam que ele não demonstrava nenhuma alegria com a perspectivavirar rei.

Como resultado, a princesa estava agora recebendo "a educação estritaalguém que é considerada sucessora direta da coroa da Inglaterra".

A provável fonte dessas revelações norte-americanas — que foram cuidadosamente ignoradas pela imprensa britânica ainda respeitosa da família real na época — foi a jovem governanta recém-recrutada da princesa Marion Crawford, que foi descrita como "muito bonita", "muito severa" e "muito escocesa".

Apelidada"Crawfie" por seus jovens pupilos, a governanta se tornaria notória por suas revelações no best-seller The Little Princesses ("As Princesinhas",tradução literal) — no qual relatou, por exemplo, como conspirou com a rainha Mary para subverter o desejosua mãe que suas filhas passassem menos tempo dentro da salaaula.

A governanta e a avó trabalharam juntas para dar mais rigor na educação das irmãs. A severa matriarca real achava que a princesa Elizabeth deveria ler apenas "o melhor tipolivros infantis", muitas vezes selecionando-os ela mesma — enquanto também sonhava com "divertimentos instrutivos" para a futura monarca, como visitas à TorreLondres.

O "vovô Inglaterra", porvez, tinha metas mais simples. "Pelo amorDeus", vociferou para a governanta, "ensine Margaret e Lilibet a escrever com uma letra decente — é tudo o que eu lhe peço! Nenhum dos meus filhos sabe escrever direito. Todos fazem exatamente da mesma maneira. Eu gostouma letra com algum tipopersonalidade."

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Legenda da foto, A princesa Elizabethuma foto tirada no ano da abdicação, 1936 - é provável que ela já soubesse o que estava por vir

Reportagensjornais estrangeiros noticiaram que as chances da jovem princesase tornar "rainha regente" eram agora melhores do que as da rainha Vitória,oito anos, um século antes — filhaum quarto filho com dois tios pela frente.

"Se algum dia eu for rainha", disse ela a Crawfie, "farei uma leique não se deve haver cavalgadas aos domingos. Os cavalos também merecem descansar."

A rainha Mary sentiu o perigo. Percebendo comoneta estava se contorcendo impacientementeuma excursãoum concerto, a rainha perguntou se ela não preferia ir para casa.

"Ah, não, vovó", foi a resposta, "não podemos sair antes do fim. Pensetodas as pessoas que estarão esperando para nos ver lá fora" — ao que a vovó imediatamente instruiu uma damacompanhia a escoltar o criança pelos fundos e levá-la para casatáxi.

A rainha Mary não queria queneta mais velha ficasse viciadabajulação. A rainha e seu marido entendiam que modéstia, humildade e sensoserviço eram o preço que a realeza tinha que pagar porgrandezauma era democrática.

O dever era a palavraordem deles, e ambos passaram essa lição crucial para a neta —que ela era menos importante que o sistema. Eles garantiram que Lilibet crescesse como uma pessoa que pensa nos demais.

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Legenda da foto, Príncipe William quis que seu filho, príncipe George, desfrutealguns anosrelativa normalidade antesser informado sobre seu futuro

De todos os sinais, parece provável que a futura Elizabeth 2ª tenha adquirido uma ideia realista do que a esperava aos sete anosidade — pelo menos três anos antes da abdicação.

Curiosamente, a idadesete anos foi quando o príncipe William teria revelado a mesma realidade a seu filho George — no último momento antes que o menino fosse confrontado com a verdadeseu playground da escolaLondres.

Como Charles, seu pai, William expressou se mostrou dividido sobre a responsabilidade que herdou. Ele gostaria que seu filho George desfrutassealguns anosrelativa normalidade.

Chegando ao trono1952, Elizabeth 2ª presidiu um reinadoduas metades — relativamente monótono por quase três décadas, anteschegar ao conturbado casamentoCharles com Diana nos anos 1980. Foi quando as liçõesinfância que a jovem Elizabeth aprendeuseus avós ganharam importância.

A rainha precisoutoda a humildade para resistir à avalanchetremores semelhantes aos da abdicação: Charles, Diana, Camilla, o incêndioWindsor, Andrew-com-Fergie, Andrew-sem-Fergie — com a inesperada partida do neto Harry2020. Foi uma crise atrás da outra — e, apesartudo, a monarquia prevaleceu sob seu comando seguro.

Um sensohumor aguçado ajudou. Em 1992, a rainha brincou que o desastre do incêndioWindsor e o colapsotrês dos casamentosseus filhos havia sido seu "Annus Horribilis".

"Oh, querida", ela perguntou quando uma envergonhada ministra do Trabalho, Clare Short, teve que desligar seu celular durante uma reunião do Conselho Privado. "Espero que não tenha sido alguém importante?"

Desde cedo, a perspicaz Elizabeth parece ter compreendido a comédia do espetáculo real no qual ela estaria destinada a desempenhar um papelliderança.

"Não nos levemos muito a sério", ela declarouseu programaNatal1991. "Nenhumnós tem o monopólio da sabedoria."

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Legenda da foto, As jovens princesas Elizabeth e Margaret com seus pais e cãesWindsor1936

Em 1933,acordo com a "lenda" real, Lilibet informou confiantementeirmã Margaret, nascida1930: "Eu sou três e você é quatro".

Jovem e confusa, mas ainda capazfazer as contas, Margaret respondeu: "Não, você não é. Eu tenho três anos, você tem sete!"

Demorou para Margaret perceber queirmã mais velha não estava falando sobre idade. Ela estava se referindo às respectivas posições das duas meninas na ordemsucessão depoisseu avô — tio David, um; papai, dois; e Lilibet, três.

Depois da abdicação e tendo subido dois rankings para enfrentar o desafiose tornar a número um na linhasucessão, a princesa10 anos foi descrita poravó Lady Strathmore como "orando ardentemente por um irmão".

Mas não houve nenhum irmãozinho. A garotinha criada entre seus cavalos e cachorros agora tinha que se preparar para o desafiose tornar "Vovó Inglaterra" — e "Vovó" do PaísGales, Irlanda do Norte e Escócia também.

*Robert Lacey é um historiador e biógrafo britânico que fez um estudo sobre a monarquia constitucional britânica. Sua biografia Majesty: Elizabeth II and the House of Windsor foi publicada1977. Desde 2015 ele é consultor histórico da sérieTV The Crown, da Netflix.

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