Cada vez mais brasileiros veem pets como filhos, tendência criticada pelo papa:casino mobile bonus

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Legenda da foto, Casais sem filhos são grupo cada vez mais presente entre os donoscasino mobile bonusbichinoscasino mobile bonusestimação, segundo pesquisa Radar Pet

Andreza é casada há 13 anos, quase o mesmo tempocasino mobile bonusvidacasino mobile bonussua "dog" ("cachorro"casino mobile bonusinglês), como ela chama, a bull terrier Kirah,casino mobile bonus14.

Embora relate sofrer "muita" pressão social por isso, ela e o marido decidiram não ter filhos — humanos, porque Andreza considera Kirahcasino mobile bonusfilha.

"Eu nunca quis ter filhos. Não me vejo mãe, com a responsabilidadecasino mobile bonuscriar uma pessoa,casino mobile bonuster que abrir mão da liberdade e da tranquilidade", explica a funcionária pública, que vivecasino mobile bonusuma casacasino mobile bonusEldorado do Sul (RS) com o marido e Kirah.

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Legenda da foto, Andreza e o marido escolheram não ter filhos (humanos)casino mobile bonusprolcasino mobile bonusum estilocasino mobile bonusvida com mais liberdade

"Quanto a essa fala do Papa, eu discordei. Primeiro, ele não tem filhos. E ele teria que ver que hoje não é fácil colocar uma pessoa no mundo, está tudo muito difícil. Não é procriar por procriar."

"Esse deveria ser um temacasino mobile bonussaúde públicacasino mobile bonusum país como o nosso, com tanta desigualdade, tanta gente passando fome. As crianças vêm ao mundo e não têm culpacasino mobile bonuspassar pelo que passam", defende.

Andreza faz partecasino mobile bonusuma tendência que tem sido capturada pela pesquisa anual da Comissãocasino mobile bonusAnimaiscasino mobile bonusCompanhia (Comac) do Sindicato Nacional da Indústriacasino mobile bonusProdutos para a Saúde Animal (Sindan), a Radar Pet. O levantamento representa o universo dos lares brasileiros nas classes A, B e C e tem margemcasino mobile bonuserrocasino mobile bonus3,6%casino mobile bonusintervalocasino mobile bonusconfiançacasino mobile bonus95%.

Realizada por uma consultoria, a ediçãocasino mobile bonus2021 desta pesquisa mostrou que, das casas que têm cachorros, 21% delas sãocasino mobile bonuscasais sem filhos (contra 9%casino mobile bonuscasas com pessoas morando sozinhas e 65%casino mobile bonuscasas com filhos). Das casas que têm gatos, 25% delas sãocasino mobile bonuscasais sem filhos (contra 17%casino mobile bonuscasas com pessoas morando sozinhas e 55%casino mobile bonuscasas com filhos).

"Nas nossas últimas pesquisas, a gente vê que esse (grupo) casais sem filhos vem aumentando, é uma tendência", afirmou o coordenador da Comac, Leonardo Brandão, ao apresentar os resultados da pesquisa Radar Pet 2021.

Em 2019, por exemplo, 20% dos lares com cães eramcasino mobile bonuscasais sem filhos, e 22% dos domicílios com gatos eramcasino mobile bonuscasais sem filhos — percentuais menores do quecasino mobile bonus2021.

A Radar Pet 2021 mostrou ainda que o principal perfilcasino mobile bonuscasas que adquiriram um gato durante a pandemiacasino mobile bonuscoronavírus foi ocasino mobile bonuscasais sem filhos, responsáveis por 60% das aquisições destes animais no período. Para cães, o perfil predominante foicasino mobile bonuspessoas morando sozinhas. A pandemia foi, aliás, um momentocasino mobile bonusforte aquisiçãocasino mobile bonusbichinhoscasino mobile bonusestimação, segundo a pesquisa: 30% dos pets (termocasino mobile bonusinglês para "animalcasino mobile bonusestimação") contabilizados no estudo foram adquiridos neste período.

A pesquisa também pergunta aos donoscasino mobile bonusanimaiscasino mobile bonusestimação como enxergam seus pets: como filho, membro da família, amigo, companhia, bichocasino mobile bonusestimação ou uma formacasino mobile bonusassistência.

De 2019 para 2020, cresceram os percentuaiscasino mobile bonusdonos que veem seus animais como filho e membro da família e, curiosamente, diminuiu a parcelacasino mobile bonuspessoas que identificam seus pets como bichoscasino mobile bonusestimação.

Por exemplo: na Radar Pet 2019, 24% dos donoscasino mobile bonuscães os consideravam filhos; na ediçãocasino mobile bonus2021, o percentual chegou a 31%. Para os gatos, o percentual ficou o mesmo nestes dois anos: 27%.

Entre 2019 e 2021, o percentualcasino mobile bonuspessoas que veem seus pets como bichoscasino mobile bonusestimação caiucasino mobile bonus23% para 7% entre donoscasino mobile bonuscachorros ecasino mobile bonus29% para 13% entre donoscasino mobile bonusgatos.

Famílias 'multiespécie'

Nas ciências humanas, essa tendência já ganhou até um nome: humanos, cães e gatos, alémcasino mobile bonusoutros pets, estão formando as chamadas "famílias multiespécies".

A psicóloga Cássia Alves acabacasino mobile bonuspublicar,casino mobile bonusdezembrocasino mobile bonus2021, um artigo sobre o assunto,casino mobile bonuscoautoria comcasino mobile bonusorientada na graduação, Melaniecasino mobile bonusAguiar. As autoras consideram as famílias multiespécies aquelascasino mobile bonusque o animal fica dentro da casa, participando da rotina da família.

Elas fizeram entrevistascasino mobile bonusprofundidade com quatro casais (três heterossexuais e um homossexual) no Rio Grande do Sul para entender a relação entre ter pets e a escolhacasino mobile bonuster ou não filhos.

Todos entrevistados identificaram seus bichinhos como membros da família, e dois casais, como filhos. Apenas um casal já havia definido que não queria ter crianças, e os outros viam a aquisiçãocasino mobile bonuspets como uma etapa anterior a isso — até mesmo como "treinamento" para serem pais.

Mas as pesquisadoras observaram que, na frentecasino mobile bonusoutras pessoas, esses paiscasino mobile bonuspets não se identificavam abertamente assim, algo atribuído ao preconceito social com essa misturacasino mobile bonuspapéis.

"Muitos relataram que tinham uma certa vergonhacasino mobile bonusfalar na frentecasino mobile bonusoutras pessoas que o pet era filho. Eles entendiam que é uma relação diferente, mas muito importante (a ligação com os pets)", diz Alves, doutoracasino mobile bonuspsicologia e professora no Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG).

Embora possa haver uma resistência na sociedade quanto ao reconhecimento dessas relações como familiares, essa demanda já está chegando à Justiça, com contratos e litígios sobre a guarda dos animais após um divórcio, por exemplo. Cartórios e serviços virtuais também já oferecem certidõescasino mobile bonusnascimento para animaiscasino mobile bonusestimação.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Andreza Alcântara e o marido são casados há 13 anos — a bull terrier Kirah tem 14

Andreza Alcântara, "mãe" da bull terrier Kirah, diz que não chega a comemorar o dia das mães, mas anualmente prepara com o marido uma festinhacasino mobile bonusaniversário para a "dog".

"Considero uma filha porque tem um afeto, uma troca muito amorosa. Ela é muito dependentecasino mobile bonusmim, pra onde eu vou ela vai atrás. Isso cria uma certa proteção", explica a funcionária pública. "A gente às vezes deixacasino mobile bonusviajar, se o lugar não aceita (animais). No máximo, se viajamos no fimcasino mobile bonussemana, alguém fica com ela."

Andreza brinca que, quando conheceu o marido, Kirah ainda era pequena e tratada como cachorro: "Ela dormia no canil, tinha até pulga!".

Mas com a chegadacasino mobile bonusAndreza à casa, Kirah foi se aproximando: do quintal para dentrocasino mobile bonuscasa, depois para o quarto, e durante um tempo à cama. Hoje, a cadela dormecasino mobile bonusuma caminha ao lado da cama do casal.

Kirah tem a horacasino mobile bonusbrincar e antes da pandemia tinha a rotinacasino mobile bonustodo dia ir para a casa da "avó". Mesmo com essa agenda e exigências que podem guardar algumas semelhanças com os cuidadoscasino mobile bonusuma criança, Andreza reconhece que a demandacasino mobile bonusum pet é bem menor. Embora nunca tenha escutado comentários diretos, ela acredita quecasino mobile bonusdedicação a Kirah pode gerar críticas externas.

"Eu não duvido que falem, principalmente as pessoas que têm filho e acham a gente exagerado, muito apegado."

'Pelucização' e 'petichismo'

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Legenda da foto, Papelcasino mobile bonusanimaiscasino mobile bonusestimação como membros da família tem desafiado a Justiça

A socióloga Kênia Gaedtke estudou emcasino mobile bonustesecasino mobile bonusdoutorado a "antropormofização" dos animaiscasino mobile bonusestimação, ou seja, as transformações delescasino mobile bonusdireção a algo mais próximo dos humanos.

Ela diz que as controvérsiascasino mobile bonustorno da identificaçãocasino mobile bonuspets como filhos se tornam mais evidentes no dia das mães, já que a grita parece ser maiorcasino mobile bonusrelação às "mãescasino mobile bonuspets" do que aos "paiscasino mobile bonuspets".

Embora Gaedtke defenda que esta denominação faça partecasino mobile bonusum processocasino mobile bonusse repensar os conceitoscasino mobile bonusmaternidade, chegando até às "mãescasino mobile bonusplantas", ela diz ter uma postura crítica quanto a esta "antropomorfização" dos animaiscasino mobile bonusestimação.

"Existem alguns conceitos como 'pelucização' dos animaiscasino mobile bonusestimação (como se fossem animaiscasino mobile bonuspelúcia), ou 'petichisimo' (traduçãocasino mobile bonusconceitocasino mobile bonusJean-Pierre Digard) — um fetiche com o pet como um bichinho completamente controlado: seus cheiros, instintos, vida sexual reprodutiva", enumera Gaedtke, professora Instituto Federalcasino mobile bonusSanta Catarina (IFSC).

Estas tendências caminhamcasino mobile bonusmãos dadas com o consumo,casino mobile bonusque o mercado pet é muito promissor: no Brasil, seu faturamentocasino mobile bonus2020 foicasino mobile bonusR$ 40,8 bilhões, segundo o Instituto Pet Brasil. Este valor inclui a atividadecasino mobile bonuspet shops, clínicas e hospitais veterinários, entre outros.

Kênia Gaedtke diz que, embora os cães e gatos sejam domesticados há milharescasino mobile bonusanos, nos séculos mais recentes essa proximidade chegou a um formato inédito,casino mobile bonusparte devido à urbanização.

"Existia uma função para esses animais na área agrária, então quando a gente sai do campo e vai para as cidades, eles vêm pra dentrocasino mobile bonuscasa. Nessa dinâmicacasino mobile bonusuma vida cada vez mais regrada pela lógica da vida na cidade, vai aumentado a escolaridade, que é uma questão importantíssima quando a gente pensa na diminuição do númerocasino mobile bonusfilhos por família", aponta a socióloga.

Cássia Alves também destaca que "muitos estudos" mostraram uma relação entre maior escolaridade e diminuição no númerocasino mobile bonusfilhos.

No Brasil, a taxacasino mobile bonusfertilidade foicasino mobile bonus1,7 filhos por mulhercasino mobile bonus2019, segundo dados compilados pelo Banco Mundial. Década após década, o gráfico mostra uma linhacasino mobile bonusclaro decréscimo:casino mobile bonus1960, esta taxa no país eracasino mobile bonus6 filhos por mulher. Uma análisecasino mobile bonusdados do Censocasino mobile bonus2010 mostrou também que as mulheres mais escolarizadas têm menos filhos e mais tarde. Enquanto mulheres com até 7 anoscasino mobile bonusestudo tinhamcasino mobile bonusmédia 3,19 filhos, para aquelas com oito ou mais anoscasino mobile bonusestudo, o valor era quase a metade: 1,68 filhos por mulher.

"A entrada da mulher no mercadocasino mobile bonustrabalho foi uma transição importante, além da própria chegada da pílula anticoncepcional, dos métodos contraceptivos", aponta Alves como mais fatores que explicam a redução no númerocasino mobile bonusfilhos.

Kênia Gaedtke ressalva que a relação entre não ter filhos e ter pets nem sempre é direta: muitas pessoas têm bichinhos independente da escolhacasino mobile bonuster filhos ou não. Inclusive, o maior percentualcasino mobile bonuscasas com cães e gatos segundo as pesquisas Radar Pet é daquelas com filhos — embora este grupo esteja perdendo espaço para outros perfis, como casais sem filhos e idosos.

A Pesquisa Nacionalcasino mobile bonusSaúdecasino mobile bonus2019, do Instituto Brasileirocasino mobile bonusGeografia e Estatística (IBGE), estimou que 46,1% dos lares brasileiros tinham ao menos um cachorro, o equivalente a 33,8 milhõescasino mobile bonusdomicílios. Em 2013, o percentual eracasino mobile bonus44,3%.

Quanto aos gatos, 19,3% dos lares tinha ao menos um deles, o equivalente a 14,1 milhõescasino mobile bonuscasas. O percentual eracasino mobile bonus17,7%casino mobile bonus2013.

Segundo as entrevistadas, a crescente presença dos animaiscasino mobile bonusestimação é uma tendênciacasino mobile bonusvários outros países, como os Estados Unidos.

Novas possibilidadescasino mobile bonusvida

No artigo recém-publicado por Cássia Alves e Melaniecasino mobile bonusAguiar, as autoras relacionam a tendência das famílias multiespécies a um contextocasino mobile bonusnovas configurações familiares na contemporaneidade, como as famílias monoparentais, homoafetivas e recasadas.

"A gente não sabe como vai ser daqui para frente, mas eu entendo que essas novas configurações, por exemplo a inclusão dos pets nas famílias multiespécie, permite que as relações sejam mais efetivas, que as pessoas possam decidir o que elas querem. Efetivas no sentido da escolha do seu desejo, o que você quer paracasino mobile bonusvida. Muitas famílias (no passado) tiveram filhos por ser algo esperado, e hoje a gente tem mais possibilidadescasino mobile bonusescolha", diz Alves, que é mãecasino mobile bonusum bebê e um cachorro.

"Não mais se pensa, hoje culturalmente, que o filho é a única possibilidadecasino mobile bonustrazer uma felicidade para o casal — como um destino. Hoje a gente pensa a vivência das mulheres, dos homens, para além da maternidade e da paternidade."

Kênia Gaedtke aponta que, evidentemente, a fala do papacasino mobile bonus5casino mobile bonusjaneiro se relaciona com um imagináriocasino mobile bonusque ter filhos é cumprir o "desejocasino mobile bonusDeus". Ela critica que "as instituições religiosas parecem dar um passo a frente e dois para tráscasino mobile bonusrelação a certos progressismos".

Crédito, EPA

Legenda da foto, Fotocasino mobile bonus5casino mobile bonusjaneiro, quando o papa Francisco faloucasino mobile bonusum 'determinado egoísmo' dos casais que não têm filhos

Na audiência geralcasino mobile bonusque criticou um "determinado egoísmo" dos casais que não têm filhos, o papa Francisco falava sobre São José, o pai putativo, e não biológico,casino mobile bonusJesus segundo esta fé. A partir daí, o papa defendeu a adoçãocasino mobile bonuscrianças e,casino mobile bonusseguida, criticou a opçãocasino mobile bonusnão ter filhos.

"Peço a São José a graçacasino mobile bonusdespertar as consciências e pensar nisto:casino mobile bonuster filhos. A paternidade e a maternidade são a plenitude da vidacasino mobile bonusuma pessoa", disse.

Para Gaedtke, esta fala tem um viés pejorativo ao vincular ter um pet a uma ausência, uma falhacasino mobile bonusnão ter filhos.

"Fiquei pensando muito no termo 'egoísmo' usado pelo papa. Então todas as pessoas que não têm filhos e têm cachorros e gatos foram atacadas, foram chamadascasino mobile bonusegoístas. Que egoísmo é esse, se a gente pensar que uma pessoa sem filhos vai ter uma disponibilidadecasino mobile bonustempo e energia muito maior para por exemplo participarcasino mobile bonuspautas coletivas. Ela pode ter uma postura profundamente altruísta e mesmo assim não ter filhos", exemplifica a socióloga.

"Incomoda muito porquecasino mobile bonusnovo a gente cai na ideiacasino mobile bonusque a lógica da vida é a da família nuclear. Como se a nossa sociabilidade, nosso lugar no mundo, não fosse muito maior do que isso. Isso me incomoda como mãe mesmo, porque eu preciso me situar no mundo também como alguém que vai participarcasino mobile bonuspautas e associações coletivas", diz Gaedtke, mãecasino mobile bonusuma filha pequena e sem pets.

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