Como a ciência explica a embriaguez e a ressaca:brabet como entrar

No livro A história e a química da cachaça (Athena Editora, 2021), que publicou recentemente, o pesquisador Leinig Antonio Perazolli, do Institutobrabet como entrarQuímica do campusbrabet como entrarAraraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que, assim como diversas outras drogas e medicamentos ansiolíticos, a principal ação do álcool etílico ou etanol é a inibição do sistema nervoso central.

De acordo com ele, após ser consumido,brabet como entrarmetabolização se dá pela açãobrabet como entrarduas enzimas, a álcool desidrogenase e a aldeído desidrogenase. A primeira, explica no livro, converte o etanolbrabet como entraracetaldeído, que também é uma substância tóxica para o organismo. Por isso, a segunda enzima entrabrabet como entraração, convertendo esse compostobrabet como entrarácido acético.

O químico Carlos Alberto da Silva Riehl, coordenador do Laboratóriobrabet como entrarQuímica Forense, do Institutobrabet como entrarQuímica da Universidade Federal do Riobrabet como entrarJaneiro (UFRJ), explica por que ocorre a embriaguez.

De acordo com ele, quando consumido o álcool entra na corrente sanguínea, se difundindo por todo o corpo, chegando até o cérebro.

"Como é uma molécula menos polar que a água, porém muito solúvel neste meio, ao chegar nas fendas sinápticas (local onde um neurônio troca informações químicas com outro), ele dificulta que os neurotransmissores se desloquem entre eles, causando uma certa lentidãobrabet como entrarnossas ações, o que gera assim o que chamamosbrabet como entrarembriaguez", diz.

Riehl também explica por que, num primeiro momento, as pessoas ficam desinibidas e com sensaçãobrabet como entrarbem-estar geral. Depoisbrabet como entrarabsorvido pelo estômago, o etanol entra na corrente sanguínea, indo rapidamente para o fígado, onde é metabolizado.

"Inicialmente, esse órgão o transformabrabet como entrarácido acético, que é utilizado para gerar energia nas células, o que nos confere inicialmente uma sensaçãobrabet como entrarbem-estar", diz. "Aos poucos, ele chega aos neurônios e inibebrabet como entrarforma sutil a trocabrabet como entraralguns neurotransmissores, o que gera a desinibição, a euforia e, consequentemente, uma maior sociabilidade (normalmente a pessoa fica muito falante)."

O também químico e doutorandobrabet como entrarCiências Farmacêuticas, Diego Defferrari, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), acrescenta que o álcool é um sedativo e um anestésico leve.

"Ao ser ingerido, ele libera no cérebro neurotransmissores como dopamina e serotonina, que estão relacionados com a ativação dos centrosbrabet como entrarprazer e recompensa", diz. "Devido a essa liberação exacerbada, ocorrem mudanças fisiológicas no organismo, como sensaçãobrabet como entrarbem-estar, relaxamento, desinibição e euforia."

'Inibir a inibição'

Segundo o farmacêutico bioquímico e doutorbrabet como entrarToxicologia, Maurício Yonamine, do Departamentobrabet como entrarAnálises Clínicas e Toxicológicas da Faculdadebrabet como entrarCiências Farmacêuticas da Universidadebrabet como entrarSão Paulo (USP), a ação do etanol no cérebro é complexa.

"Em pequenas concentrações (por exemplo, no início da ingestãobrabet como entrarbebida alcoólica), o álcool inibe regiões do cérebro que naturalmente inibem sensaçõesbrabet como entrareuforia", explica. "É o que chamamosbrabet como entrar'inibir a inibição', ou seja, provoca euforia."

Mas nem tudo é alegria e felicidade. O doutorbrabet como entrarbioquímica Guilherme Andrade Marson, do Institutobrabet como entrarQuímica da USP, alerta que, nessa fasebrabet como entrareuforia e desinibição, também podem ocorrer comportamento violento, imprudência e dificuldadebrabet como entraravaliar riscos.

"Além disso,brabet como entraralguns indivíduos, pode disparar crisesbrabet como entraransiedade, delírio persecutório, depressão ou ataque epilético, entre outros problemas", diz.

Em seu livro, Perazolli usa uma linguagem mais técnica para explicar esse processo, que tem a ver com os neurotransmissores, que são moléculas relativamente simples, como a serotonina, dopamina, glutamato e o ácido gama-aminobutírico (GABA). "Esses transmissores interagem com os receptores e estimulam ou inibem funções e sensações do corpo", explica na obra.

Aindabrabet como entraracordo com ele, diferentes tiposbrabet como entrarreceptores podem interagir com um transmissor para gerar sensações específicas, uma vez que cada área do sistema nervoso central regula diferentes funções e percepções.

"Ao entrarbrabet como entrarcontato com os receptores, esses transmissores exercerão um efeito excitatório ou inibitório,brabet como entraracordo com a carga do transmissor enviado", escreve. Tanto um como o outro são determinados pelo tipobrabet como entrarinteração iônica que ocorre nos receptores, que podem interagir com os íonsbrabet como entrarsódio (Na+) oubrabet como entrarcloreto (Cl-).

O efeito excitatório, explica Perazolli no livro, é provocado por neurotransmissores como a acetilcolina, o glutamato, a serotonina e a adrenalina, que abrem os canais seletivosbrabet como entrarsódio e entram na membrana, o que porbrabet como entrarvez leva o sítio receptor a ficar com uma carga positivabrabet como entrarrelação ao exterior. "Assim, o neurônio fica mais propício a gerar um potencialbrabet como entraração devido ao aumento da neurotransmissão", diz. É a fasebrabet como entrareuforia.

Em contrapartida, "os efeitos inibitórios provocados pela abertura dos receptores do GABA estão relacionados com a dos canais iônicos seletivos dos íons Cl-".

Neste caso, o cloreto está mais concentrado fora do neurônio, "até que com a abertura dos sítios receptores, os íons entram e tornam o interior mais negativobrabet como entrarrelação ao exterior, reduzindo a neurotransmissão e o potencialbrabet como entraração naquela região". É a hora da sonolência e lentidão.

Segundo o médico André Brooking Negrão, do Programabrabet como entrarEstudos sobre Álcool e Drogas (GREA) do Instituobrabet como entrarPsiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdadebrabet como entrarMedicina da USP, isso ocorre na medidabrabet como entrarque vai aumentando a concentraçãobrabet como entraretanol no sangue. "Inicialmente, doses baixas desinibem o comportamento, a tensão e a ansiedade", explica.

"Na medida que se bebe mais, somam-se os efeitos que chamamosbrabet como entrardepressores do álcool. Depressor no sentidobrabet como entraranular a atividade dos neurônios. Daí, teremos sinais iniciaisbrabet como entrarsonolência (tendência a dormir), sedação (tirar a excitação), lentidão do pensamento e das atividade cognitivasbrabet como entraratenção e memória."

Se a ingestão continuar, poderá ocorrer até um "apagão neural", ou seja, a dose será tão alta que atingirá uma grande parcela dos neurônios. "O resultado final ébrabet como entrarintensa sedação ou pré-coma, que se sobrepõe aos efeitos iniciasbrabet como entrardesinibição ou euforia", diz Negrão. "Num grau mais extremo, o álcool reduz a atividadebrabet como entrarneurônios que controlam a respiração e a pessoa pode ter uma parada respiratório, que pode ser fatal."

Se o sujeito que abusou da bebida superar todos esses efeitos e chegar vivo ao outro dia, poderá ainda se ver às voltas com outra consequência nefasta do etanol - que poderá fazer alguns jurar nunca mais beber: a ressaca.

Perazolli explicabrabet como entrarseu livro,brabet como entrartermos científicos, que ela ocorre devido, principalmente, ao acúmulobrabet como entraracetaldeído não convertidobrabet como entrarácido acético. Indivíduos que possuam alguma deficiência na atividade da enzima aldeído desidrogenase "estão mais suscetíveis a estes efeitos e costumam exibir alguns sintomas característicos, como vermelhidão no rosto, dorbrabet como entrarcabeça, enjoo e taquicardia".

Segundo Yonamine, além do acúmulobrabet como entraracetaldeído, a ressaca pode ter várias outras causas. "Os mecanismos físicos pelos quais ela ocorre ainda não estão completamente entendidos cientificamente", diz.

"Múltiplos fatores devem estar envolvidos, como a própria ação direta do etanol na produçãobrabet como entrarurina (aumentando a diurese e provocando desidratação); como irritante da mucosa gástrica (aumentando a secreçãobrabet como entrarsuco gástrico e secreções intestinais, provocando sensaçãobrabet como entrarqueimação, náuseas e diarreia) e o seu efeitobrabet como entrardiminuir a concentraçãobrabet como entrarglicose no sangue (podendo gerar hipoglicemia)."

O que se sabe com certeza é que os efeitos e as consequências da ingestãobrabet como entrarálcool variambrabet como entrarpessoa para pessoa. "Antesbrabet como entrarmais nada, é importante ressaltar que a química do etanol no organismo é complexa e envolve duas áreas da ciência: bioquímica e enzimologia", diz Defferrari.

"Lembrando também, que estamos tratando do organismo humano, que é extremante complexo, gerando respostas diferentesbrabet como entrarcada pessoa. Características como massa corporal, sexo biológico e idade, também são fatores que devem ser levadosbrabet como entrarconta."

No caso da ressaca, por exemplo, há uma outra peculiaridade. "Embora as explicações potenciais sejam numerosas, as diferenças genéticas podem explicar grande parte da variação nas ressacas entre os indivíduos", diz o pesquisador Jemmyson Romáriobrabet como entrarJesus, da Universidade Federalbrabet como entrarViçosa (UFV).

"Por exemplo, muitas pessoasbrabet como entrarascendência chinesa, japonesa e coreana têm uma mutação que impede seus corposbrabet como entrarefetivamente metabolizar o etanol, levando ao acúmulobrabet como entraracetaldeído, e, por consequência, a ressacas piores."

Mas, segundo Jesus, há uma recompensa para essa população: ela apresenta menor chancebrabet como entrartranstorno por usobrabet como entrarálcool (alcoolismo), devido à aversão que ela pode criarbrabet como entrarrelação à bebida. Independentemente da etnia, também existem outros fatores que podem potencializar a ressaca ou não, tais como, alimentação, idade, massa corpórea, tolerância alcoólica e nívelbrabet como entrarconsumo, por exemplo", acrescenta.

Os efeitos e consequências do consumo abusivo do álcool não afetam apenas quem bebe, no entanto. O problema é coletivo. Segundo a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS), o braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, o seu uso abusivo também pode resultarbrabet como entrardanos a outras pessoas, como membros da família, amigos, colegasbrabet como entrartrabalho ou estranhos. Além disso, resultabrabet como entrarum fardo significativobrabet como entrartermos sociais, econômicos ebrabet como entrarsaúde para toda a sociedade.

Aindabrabet como entraracordo com a OPAS, o uso abusivobrabet como entrarálcool é responsável por 3 milhõesbrabet como entrarmortes por anobrabet como entrartodo o mundo, o que representa 5,3%brabet como entrartodas as mortes. Além disso, é a causabrabet como entrarcercabrabet como entrar200 doenças e lesões. Em geral, 5,1% do total delas são atribuídas à bebida, conforme calculadobrabet como entrartermosbrabet como entrarAnosbrabet como entrarVida Perdidos Ajustados por Incapacidade (DALY, siglabrabet como entraringlês).

O consumobrabet como entraretanol também causa morte e incapacidade relativamente cedo na vida,brabet como entraracordo com a OPAS. Na faixa etáriabrabet como entrar20 a 39 anos, aproximadamente 13,5% do totalbrabet como entraróbitos são atribuíveis à bebida. Além disso, existe uma relação causal entre o uso abusivo do álcool e uma sériebrabet como entrartranstornos mentais e comportamentais, alémbrabet como entrardoenças não transmissíveis e lesões.

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