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Fernanda Montenegro é eleita para a ABL: conheça os bastidores da disputa pelo títuloapostas siteimortal:apostas site
A atriz é apenas a nona mulher eleita para a ABL ao longo dos 124 anosapostas sitehistória da academia.
Antesapostas sitedela, tornaram-se imortais Rachelapostas siteQueiroz (1977), Dinah Silveiraapostas siteQueiroz (1980), Lygia Fagundes Telles (1985), Nélida Piñon (1989), Zélia Gattai (2001), Ana Maria Machado (2003), Cleonice Berardinelli (2009) e Rosiska Darcyapostas siteOliveira (2013).
"Posso estar enganada, mas acho que é inédito algo como o que está acontecendo agora,apostas siteninguém concorrer com Fernanda Montenegro", observa a acadêmica Ana Maria Machado, ocupante da cadeira 1 e presidente da instituição entre 2012 e 2013.
"Talvez seja um sinalapostas sitecomo ela se constitui num ícone cultural, embora seja uma atriz - a rigor um perfil algo insólito para a Casaapostas siteMachadoapostas siteAssis. Dá ideiaapostas siteseu valor simbólico hoje".
Muito antesapostas siteRachelapostas siteQueiroz (1910-2003) se tornar a primeira mulher a vestir o fardãoapostas siteramosapostas sitecafé bordados com fiosapostas siteouro, outras mulheres tentaram.
A primeira delas foi a jornalista Améliaapostas siteFreitas Beviláqua (1860-1946). Em 1930, escreveu uma carta ao então presidente da casa, Aloísioapostas siteCastro (1881-1959), propondoapostas sitecandidatura. Em vão.
Quarenta anos depois, Dinah Silveiraapostas siteQueiroz (1911-1982) também cumpriu os protocolos da academia: entregou uma carta oficializandoapostas siteinscrição e disponibilizou suas obras para os acadêmicos. De nada adiantou. Um ano depois, tentou novamente. E,apostas site1979, mais uma vez. Só foi eleitaapostas site1980.
"Historicamente, as candidaturas femininas foram não só reiteradamente condenadas e rejeitadas pela esmagadora maioria dos membros da academia, comoapostas siteproibição foi incorporada ao regimento interno da ABLapostas site1951", afirma Michele Asmar Fanini, doutoraapostas sitesociologia pela Universidadeapostas siteSão Paulo (USP) e autora da tese Fardos e Fardões: Mulheres na Academia Brasileiraapostas siteLetras (1897-2003).
"A proibição regimental às candidaturas femininas vigorou até 1976. Em seus primeiros 80 anosapostas siteexistência, tornar-se 'imortal' correspondia a uma prerrogativa exclusivamente masculina". Hoje, apenas cinco dos 40 acadêmicos, o que corresponde a 12,5% do total, são do sexo feminino.
Em agostoapostas site2018, Conceição Evaristo bem que tentou, mas não conseguiu se eleger. Ela concorreu à cadeira 7, que pertenceu ao cineasta Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), mas só obteve um voto. Cacá Diegues conquistou 22 votos e Pedro Corrêa do Lago, 11.
De nada adiantaram, entre outras iniciativas, o "tuitaço" usando a hashtag #ConceiçãoEvaristonaABL e uma petição online com 40 mil assinaturas. Se tivesse conseguido se eleger, Conceição seria a primeira mulher negra a se tornar uma imortal da ABL.
Vagasapostas sitedisputa
Fundadaapostas site20apostas sitejulhoapostas site1897, a ABL sempre vira notícia quando umapostas siteseus membros morre e a cadeira que ocupava torna-se alvo da cobiçaapostas siteaspirantes a "imortais".
Atualmente, além da que será agora ocupada por Fernanda Montenegro, outras quatro são disputadas por 22 candidatos - há desde cantor e advogado até médico, economista e representante indígena.
E esse número não é maior porque dois pretendentes adiaram suas candidaturas: o jornalista Edney Silvestre e a professora universitária Raquel Naveira.
"Quero muito representar meu estado, o Mato Grosso do Sul, mas, por motivos pessoais, deixei para uma próxima oportunidade", justifica Naveira.
No dia 11, será escolhido o sucessor do jornalista Murilo Melo Filho (1928-2020). São três os pretendentes à cadeira 20: Gilberto Gil, Salgado Maranhão e Ricardo Daudt.
"Seguindo um certo protocolo informal, não pretendo falar sobre a campanha", respondeu Maranhão, por e-mail. O atual presidente da ABL também declinou do convite. "Por tradição, presidentes não falam da eleição. É uma regra", justificou Marco Lucchesi, por correio eletrônico.
No dia 18, a disputa será pela cadeira 12, que pertenceu ao crítico literário Alfredo Bosi (1936-2021). Mais três candidatos: Paulo Niemeyer, Joaquim Branco e Daniel Munduruku. "Sou um educador que escreve ou um escritor que educa", define Munduruku.
"Sempre tive como meta dar visibilidade à temática dos povos indígenas para tentar aproximar nossos saberes dos saberes da cultura ocidental. Ambos têm uma riqueza muito grande e podem se ajudar a construir uma visãoapostas sitesociedade capazapostas siteestabelecer um caminho novo para o Brasil que queremos".
Para Joaquim Branco, outro candidato à cadeira 12, a parte mais difícil da campanha é "advogarapostas sitecausa própria". "Como alguém dizer que é merecedor disso ou daquilo?", indaga. "Sei que sou um autor mineiro com 35 livros publicados e alguns prêmios literários no Brasil e no exterior. Escrevi, comoapostas sitepraxe, a cada acadêmico dando meus motivos e pretensões à vaga. Resta aguardar para ver".
No dia 25, seis candidatos disputam a vaga deixada pelo advogado Marco Maciel (1940-2021). São eles: José Paulo Cavalcanti, Ricardo Cavaliere, Godofredoapostas siteOliveira Neto, Luiz Coronel, Camilo Martins e Leandro Gouveia.
"Estar na Casa onde estiveram o autorapostas siteBrás Cubas e oapostas siteGrande Sertão: Veredas é uma honra para qualquer escritor. Conviver com intelectuais por quem tenho admiração e respeito, idem. E,apostas sitequebra, uma oportunidade para representar literariamente o estadoapostas siteSanta Catarina", afirma Oliveira Neto.
No casoapostas siteRicardo Cavaliere, quem o estimulou a candidatar-se foi o acadêmico Evanildo Bechara. Pertoapostas sitecompletar 94 anos, Bechara está preocupado com o futuro do setorapostas siteFilologia e Lexicografia da ABL. "Os estatutos da Academia conferem-lhe o deverapostas sitecultivar a língua e a literatura nacional. Trata-seapostas siteuma vocação que a Casaapostas siteMachadoapostas siteAssis não pode olvidarapostas siterespeito à vontadeapostas siteseu patrono maior. Creio poder contribuir para o cumprimento deste compromisso".
Por último, mais dez nomes disputam o voto dos acadêmicos: Sérgio Bermudes, Gabriel Chalita, Eduardo Giannetti da Fonseca, Sâmia Macedo, Antônio Hélio da Silva, José Humberto da Silva, Eloi Angelos Ghio D'Aracosia, Jeff Thomas, José William Vavruk e Joana Rodrigues Alexandre Figueiredo.
A eleição será no dia 16apostas sitedezembro e quem vencer ocupará a cadeira 2, do filósofo Tarcísio Padilha (1928-2021).
"A campanha por uma cadeira na Academia é árdua porque são muitos os pretendentes e poucos os lugares", sintetiza Bermudes.
Aindaapostas sitedezembro, outra eleição: a do próximo presidente da ABL. O nome mais cotado para substituir Lucchesi é o do jornalista Merval Pereira. O ocupante da cadeira 31, se confirmado, será o 47º presidente da ABL. Quem ocupou o cargo por mais tempo foi Austregésiloapostas siteAthayde (1898-1993): 34 anos.
Como ocorre a votação
Cada um dos candidatos precisou enviar carta, telegrama ou e-mail ao atual presidente da instituição, Marco Lucchesi, no cargo desde 2018. Para ser eleito, o postulante precisa ter metade dos votos mais um. O voto, a propósito, é secreto e a sessão, híbrida.
Há acadêmicos que moramapostas siteoutros Estados, como Lygia Fagundes Telles,apostas siteSão Paulo, e países, casoapostas sitePaulo Coelho, na Suíça. No total, podem ser realizados até quatro escrutínios no mesmo dia. Se ninguém conquistar a maioria dos votos, a eleição é encerrada e tem início uma nova faseapostas siteinscrições. Terminada a contagem dos votos, as cédulas são queimadas.
Antes da pandemia, cada acadêmico podia receber até R$ 12 mil, considerando uma ajudaapostas sitecusto mensalapostas siteR$ 3 mil, mais participaçãoapostas siteduas reuniões semanais, uma às terças e outra às quintas, alémapostas siteum bom planoapostas sitesaúde. No chá das quintas-feiras, entre um gole e outro, histórias que mais parecem anedotas.
Como a vezapostas siteque Aurélio Buarqueapostas siteHollanda (1910-1989), vestidoapostas sitefardão, apanhou às pressas um táxi e ouviu do motorista que se acalmasse: "Do jeito que o senhor está vestido, a cerimônia não vai começar enquanto o senhor não chegar".
Segundo o artigo 2º do estatuto da ABL, "só podem ser membros efetivos da Academia os brasileiros que tenham,apostas sitequalquer dos gênerosapostas siteliteratura, publicado obrasapostas sitereconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livroapostas sitevalor literário".
"Para ser candidato, duas condições são essenciais: ser brasileiro e ter escrito pelo menos um livro", resume o acadêmico Arnaldo Niskier, o ocupante da cadeira número 18 e presidente da instituição entre 1998 e 1999. "Por causa disso, o teatrólogo Pedro Bloch (1914-2004) não pôde se candidatar. Era nascido na Ucrânia".
Machado ressalva que "não há a menor pretensão ou obrigaçãoapostas siteler todos os livrosapostas sitetodos os aspirantes". "Não precisamos ler todos os livrosapostas sitetodos os aspirantes a vagas para sabermos quem é quem. Levamosapostas siteconta outros aspectos. Como, por exemplo, a buscaapostas siteum certo equilíbrioapostas sitesaberes ou a possibilidadeapostas siteum convívio ameno. Isso pode eventualmente dificultar a entradaapostas siteum rabugento notório ouapostas siteum briguento insuportável".
Secchin afirma que "não há receita infalível" para ingressar na ABL. Até o ritual das visitas, pondera, deixouapostas siteser norma. "A convivência entre nós é vitalícia e compulsória, até que a morte nos separe: não há divórcio na Academia", diz.
"O ideal é que o postulante tenha algum convívio prévio com os acadêmicos, pois o voluntarismo quase sempre dá errado: alguém supor que temapostas siteentrar simplesmente porque se considere merecedor, independente das circunstâncias. E elas são importantíssimas. Saber perder com elegância hoje pode ser trunfo para uma vitória amanhã". Palavraapostas siteimortal.
Barrados na academia
A mais disputada eleição da história da ABL ocorreu no dia 21apostas siteagostoapostas site2008. Dezenove inscritos, como Antônio Torres e Ziraldo Alves Pinto, disputaram a cadeira 23, que pertencia à escritora Zélia Gattai (1916-2008). O escolhido foi o jornalista Luiz Paulo Horta (1943-2013).
Uma curiosidade: quando Horta morreu, cinco anos depois, quem assumiuapostas sitevaga foi Torres. "A ABL é uma das instituições culturais mais respeitadas do país. E falaapostas sitemodo muito intenso ao imaginário da nação", explica Ana Maria Machado.
"Celso Furtado (1920-2004) contava que os feirantes da rua onde ele morava se orgulhavamapostas sitedizer que ali residia um membro da ABL, como se nada mais do que ele fez na vida tivesse importância".
Ingressar na ABL não é nada fácil. Muitos tentaram e não conseguiram. Monteiro Lobato (1882-1948) foi um deles. O mais importante nome da literatura infanto-juvenil brasileira tentou duas vezes:apostas site1922, perdeu para Eduardo Ramos (1854-1923) e,apostas site1926, para Adelmar Tavares (1888-1963), ambos juristas.
"A ABL é uma confraria. Consegue votos suficientes para entrar nessa confraria quem cumpre certos rituaisapostas site'beija-mão' e se mostra afável e prestigioso o suficiente para ser aceito no 'clube'. E isso tem pouquíssimo a ver com a qualidade da obraapostas sitequem entra ou não ali", observa o jornalista e crítico literário Rodrigo Casarin.
Lima Barreto (1881-1922) é outro bom exemplo. O autorapostas siteTriste Fimapostas sitePolicarpo Quaresma (1911) bateu à porta da ABLapostas sitetrês ocasiões. "Na última, desistiu", conta a historiadora Lilia Moritz Schwarcz, autoraapostas siteLima Barreto - Triste Visionário (2017).
"Penso que Lima não tinha o 'modelo moral e bem-comportado' da academia". Em compensação, o inventor Santos Dumont (1873-1932), o político Getúlio Vargas (1883-1954) e o empresário Assis Chateaubriand (1892-1968) conseguiram se eleger.
Em 1940, o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) tentou ingressar na ABL. Como manda o protocolo, redigiu carta ao então presidente da casa, o historiador Celso Vieira (1878-1954), se declarando candidato à sucessãoapostas siteLuiz Guimarães Filho (1878-1940).
Quando soube da decisãoapostas siteBandeira, Menotti Del Picchia (1892-1988) retirouapostas sitecandidatura. Com isso, sobrou, apenas, Oswaldapostas siteAndrade (1890-1954). Contados os votos, Bandeira ganhouapostas sitelavada: 21 a um. Há controvérsia sobre quem teria votadoapostas siteseu oponente: se Cassiano Ricardo (1895-1974) ou Guilhermeapostas siteAlmeida (1890-1969).
"Nesse ano, Oswaldapostas siteAndrade chamou a academiaapostas site'asiloapostas siteimpotentes'", escreveu Daniel Piza (1970-2011) no livro Academia Brasileiraapostas siteLetras - Histórias e Revelações (2003). "Certamente,apostas sitepouca aceitação vinhaapostas sitesua língua bipartida".
Em 1980, outro poeta, Mário Quintana (1906-1994), também tentou a sorte. Encorajado pelo Prêmio Machadoapostas siteAssis, que recebera um ano antes pelo conjunto da obra, anunciouapostas sitecandidatura à vaga aberta pela morteapostas siteOtávioapostas siteFaria (1908-1980).
Teria como concorrente o ex-ministro da Educação do governo Figueiredo, Eduardo Portella (1932-2017). Quintana, porém, não teve o mesmo êxitoapostas siteBandeira. Perdeu por 31 a 6. Abalado, deu entrada numa clínicaapostas siterepousoapostas sitePorto Alegre.
"Quintana apresentou-seapostas siteocasiões pouco propícias", avalia o acadêmico Antônio Carlos Secchin, ocupante da cadeira 19, "desconsiderando que muitos acadêmicos, que certamente votariam neleapostas siteoutro momento, não poderiam fazê-lo por já estarem previamente comprometidos".
A ideiaapostas site"academizar notáveis" partiuapostas siteJoaquim Nabuco (1849-1910), um dos fundadores da ABL. Em 1898, ele sugeriu a Machadoapostas siteAssis (1839-1908) o nome do Barãoapostas siteRio Branco (1845-1912), ministro das Relações Exteriores. Segundo relato do acadêmico Carlos Heitor Cony (1926-2018) no artigo A Academia e o Tempo Brasileiro, Machado hesitou, alegando que "o barão não tinha livro publicado". Nabuco argumentou: "Rio Branco está escrevendo o mapa do Brasil". E o barão tornou-se acadêmico.
Por outro lado, houve quem nunca sonhouapostas sitetomar o tradicional chá das quintas-feiras, com direito a bolo, suspiros e biscoitos, entre outros quitutes saborosos. Casoapostas siteGraciliano Ramos (1892-1953), Carlos Drummondapostas siteAndrade (1902-1987) e Clarice Lispector (1920-1977).
Em Todas as Cartas (2020), a escritora ucraniana naturalizada brasileira admite,apostas sitebilhete escrito a Lygia Fagundes Telles,apostas sitenovembroapostas site1977: "Quero dizer que, apesar do grande respeito que tenho pela Academia, eu jamais aceitaria entrar nela". "A gente dá um espirro, já pensam que estamos morrendo e querem a nossa vaga", completou a autoraapostas siteA Paixão Segundo G.H. (1964).
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