'Speed watching': o que você perde quando acelera a velocidade do filme?:brabet com login

Crédito, Pexels

Legenda da foto, A Netflix é uma das plataformas que permitem alterar a velocidade dos filmes

Hoje,brabet com loginmeio à explosão do mercadobrabet com loginstreaming, que dá a possibilidadebrabet com loginse assistir o que se quer e quando se quer, esses limites se dissolveram. Na pandemia, com mais gente estudando e trabalhandobrabet com logincasa, o efeito foi ainda maior e impulsionou fenômenos como o "binge watching", que pode ser traduzido como o hábitobrabet com login"maratonar" séries.

"Estamos jogados no ilimitado da informação e submetidos ao funcionamentobrabet com loginalgoritmos que deliberadamente trabalham para gerar uma adição", defende Aguiar.

É diante desse fluxo frenético que as pessoas se veem impelidas a consumirbrabet com loginpouco tempo a maior quantidadebrabet com loginconteúdo possível. Isso pode levar à chamada síndromebrabet com loginFOMO, sigla do inglês "fear of missing out": aquele medo desesperadobrabet com loginperder alguma coisa frente a uma avalanchebrabet com logindados. O "speed watching" se insere nesse contexto.

Crédito, Reprodução/Netflix

Legenda da foto, O filme 'Bastardos Inglórios' (2009) utiliza o tempo como recurso para atribuir tensão às cenas e cinismo ao seu vilão

Informação e reflexão

Assistir a um filmebrabet com loginvelocidade acelerada ajuda a ganhar tempo. Por outro lado, um hábito que serviria para descansar a mente acaba alimentando a ansiedade, conforme explica a psiquiatra e professora da Universidade Positivo Raquel Heep.

O cérebro do ansioso pode operarbrabet com loginum sistemabrabet com loginrecompensa: consumindo maisbrabet com loginmenos tempo e sentindo os ganhos disso, terá dificuldadebrabet com logindesfrutarbrabet com loginuma obra no ritmo original.

Esse foi o caso da servidora pública Kelly Cristine Milanez, 40, adepta ao hábito desde o início da quarentena. "Acelerando filmes e vídeos lentos, senti um alívio momentâneo na minha ansiedade. Mas percebo que já não tenho paciênciabrabet com loginassistir algobrabet com loginvelocidade normal", admite.

Para Heep, há uma confusão entre absorver fatos e ter um momentobrabet com logincontemplação. O cineasta Alexandre Rafael Garcia concorda. Ele argumenta que receber informações é diferentebrabet com loginassimilá-las mediante a reflexão que um filme ou série promovem sob um ritmo determinado.

"Eu sei que o homembrabet com loginferro morre, mas ver o homembrabet com loginferro morrendo é outra coisa. E a nossa sociedade está muito centrada no volume do que se consegue absorver", diz Garcia, que é também professorbrabet com logincinema da Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Quem já aderiu ao "speed watching" sabe bem do que diz o especialista. Depoisbrabet com loginentender as limitações dessa funcionalidade, a assistente administrativa Dianety Silva Batista, 30, estabeleceu uma velocidade fixa para consumir diferentes produtos audiovisuais.

Ela vê tutoriais no Youtube na velocidade acelerada 1,75x e considera aceitável assistir a sitcoms e comédias românticas no 1,5x. Mas quando procura uma experiência profunda, abre mão do "speed watching". "Em um musical, por exemplo, não dá porque o som perde totalmente a conexão com as imagens", diz.

O professorbrabet com logincinema Gláucio Moro, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica o porquê do incômodobrabet com loginDianety: cada velocidadebrabet com logináudio está conectada ao entendimento e à dramaticidadebrabet com loginuma ação.

É por isso que qualquer alteração no ritmo impacta significativamente o que se ouve. "Imagine um narradorbrabet com loginfutebol declamando uma poesia. Agora, imagine um poeta narrando um jogobrabet com loginfutebol. O entendimento seria diferente, só pela velocidade", diz Moro, que é também produtor audiovisual.

O ritmo das imagens também impõe sentido. Um exemplo é a chamada distensão temporal, comum nos filmes do diretor italiano Sérgio Leone e do estadunidense Quentin Tarantino.

Esse recurso implicabrabet com logincriar trechos longos com conclusões rápidas. Em Três Homensbrabet com loginConflito (1966),brabet com loginLeone, personagens se encarambrabet com loginuma longa cena, que termina com um tiroteiobrabet com loginapenas dois segundos.

Em Bastardos Inglórios (2009),brabet com loginTarantino, um oficial do exército nazista passa seis minutos fumando cachimbo e tomando leite com um camponês que esconde judeusbrabet com loginseu porão. O diálogo longo e angustiante poderia ser acelerado, mas aquele ritmo é fundamental para a construção do vilão, cuja crueldade é apresentadabrabet com loginum discurso lento e cínico.

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Para o diretor Fernando Meirelles, as pessoas buscam mais agilidade porque o cérebro humano deve estar mais veloz

Cérebros a mil

Embora acelerar um filme atrapalhe a experiênciabrabet com loginassistir a um grande clássico, cineastas e neurocientistas concordam que o cérebro humano pode estar ficando mais rápido e, com isso, os filmes também.

O premiado diretorbrabet com logincinema Fernando Meirelles está entre os que enxergam esse movimento. Para ele, o fatobrabet com loginnossa cabeça estar ficando mais veloz impacta a recepção das produções cinematográficas agora. "A quantidade do que processamos hoje é muitas vezes maior do que o que recebíamos há 40 anos", diz.

Ao comparar filmes atuais com osbrabet com logindécadas atrás, Moro também nota essa transformação. "Um personagem recebia uma ligação para ir até a casabrabet com loginoutro. Saía, pegava o carro, chegava, tocava a campainha, entrava, sentava e conversava. Na maioria dos filmes mais recentes, a pessoa simplesmente bate o telefone e há um corte para a cena seguinte com o personagem já sentado no sofá depoisbrabet com loginter conversado", exemplifica.

O neurocientista Marcelobrabet com loginMeira Santos Lima explica que, embora não haja estudos comprovando a influência do "speed watching" no cérebro, esse órgão pode, sim, sofrer impactosbrabet com loginlongo prazo, a começar pelas sinapses.

Lima, que é coordenador do Laboratóriobrabet com loginNeurofisiologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que elas podem ser estruturais ou funcionais. As primeiras se comportam como vigasbrabet com loginsustentação do cérebro.

As segundas possuem características que favorecem modificações e, portanto, são mais plásticas. Para o especialista, é possível supor que as funcionais sejam as primeiras a se modificarem nesse novo contexto.

Coletivamente, a formaçãobrabet com loginnovas redes neurais poderia originar cérebros mais eficientes e rápidos, embora com uma demandabrabet com loginenergia atípica e capazbrabet com loginimpulsionar quadrosbrabet com loginansiedade, insônia, distúrbiosbrabet com loginatenção e depressão.

Enquanto a ciência não decifra esse mistério, muitos seguirão acelerando conteúdos. Ao menosbrabet com loginvezbrabet com loginquando, como faz o próprio Fernando Meirelles.

Ele confessa quebrabet com loginalguns casos, quando um filme lhe parece previsível ou desinteressante, opta por escaneá-lo, na expectativabrabet com loginque alguma cena para frente o prenda.

"Acelerar para mim é o estágio que vem antesbrabet com loginabandonar".

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