Refugiados cubanos contam com solidariedade e iguaria baiana para sobreviver na pandemia:jogo de luta

A Lei Brasileirajogo de lutaRefúgio considera como refugiado qualquer pessoa que saiu do seu paísjogo de lutaorigem por temer perseguição por motivosjogo de lutaraça, religião, nacionalidade, grupo social, opiniões políticas imputadas ou por uma situaçãojogo de lutagrave violaçãojogo de lutadireitos humanos. Mesmo se a entrada no país for feitajogo de lutaforma ilegal, enquanto o pedido for analisado, os indivíduos não podem ser investigados ou multados.

Aindajogo de lutaacordo com a lei brasileira, toda pessoa com processojogo de lutarefúgiojogo de lutaandamento tem direito a documentosjogo de lutaidentidade (protocolo provisório) e carteirajogo de lutatrabalhado provisória. Além disso, os solicitantes podem frequentar escolas públicas e receber atendimentojogo de lutasaúdejogo de lutaquaisquer hospitais públicos do país.

Para trazer a filha para o país, Patrícia e Fernando precisam ter o processojogo de lutarefúgio aprovado para, então, solicitar também no Conare a reunião familiar. Na letra fria da lei, "a pessoa refugiada, que tenha sido reconhecida como tal pelo governo brasileiro, pode solicitar a reunião familiarjogo de lutaseus familiares que dependam economicamente e estejam fora do país".

A vontadejogo de lutadeixar Cuba era antiga, mas o casal não tinha condições financeiras para fazer a viagem e, por isso, o sonho foi adiado por alguns anos. Moradores da cidadejogo de lutaCamaguey, região central da ilha e capital da provínciajogo de lutamesmo nome, os dois tem diploma universitário. Patrícia é formadajogo de lutainformática e Fernando,jogo de lutapsicologia.

Eles contam, no entanto, que a renda do casal mal dava para o orçamentojogo de lutauma semana. Para complementar, Patrícia ainda trabalhava como uma espéciejogo de lutaadministradorajogo de lutauma lanchonete. Somados os dois empregos eram jornadasjogo de luta12 a 15 horas diárias, para ganhar 75 pesos cubanos (CUP), o equivalente a, mais ao menos, três dólares por dia. Ela lembra que com o que ganhava conseguia ao menos comer, mas nem sempre.

"Eu preferia comprar a merenda para a escola dos meus dois filhos", diz.

A faltajogo de lutaperspectivas fez com que eles decidissem,jogo de luta2019, vender o único bem que tinham: a casajogo de lutaque moravam, herdada por Fernando após o falecimento da mãe, vítimajogo de lutaum câncer.

"O dinheiro não foi o suficiente para pagar a passagem dos quatro, eu, minha esposa e nossos dois filhos. A minha filha,jogo de lutadez anos, precisou ficarjogo de lutaCuba com os avós maternos. O que pensávamos era chegar no Brasil, trabalhar e poder trazê-la para cá. Mas já tem nove meses que estamos aqui e ainda não conseguimos isso", lamenta Fernando.

A viagem para o Brasil

Foram precisos exatos e exaustivos 21 dias para que a família conseguisse superar os maisjogo de lutacinco mil e setecentos quilômetrosjogo de lutadistância que separam Camaguey,jogo de lutaCuba,jogo de lutaSalvador.

Apesarjogo de lutalaços religiosos e políticos entre a ilha socialista e a capital baiana, que incluem a relação entre a santeria e o candomblé (duas religiões com divindades iorubás), e a insólita amizade entre Fidel Castro (1926-2016) e o ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), nos anos 1990, nenhum destes fatores impulsionou a escolha do destino do casal.

A decisão foi uma indicação familiar. Um primojogo de lutaFernando imigrou para Salvador meses antes e, nas conversas, propagandeava que rapidamente conseguiu alcançar uma vida confortável, com casa e emprego bem remunerado. Buscando objetivos semelhantes, o casal partiu com o filho até a Guiana, no dia 7jogo de lutasetembrojogo de luta2019.

De lá, foi feita a travessia da fronteira com o Brasil. Já dentro do país, a primeira capital na qual pisaram foi Boa Vista,jogo de lutaRoraima. Até chegar a Salvador, foram necessários mais voos e horasjogo de lutaônibus por todo tipojogo de lutaestrada. Em 24jogo de lutanovembro do ano passado, o périplo finalmente terminou com a chegada ao destino - marcada por decepção.

"Quando chegamos na casajogo de lutameu primo nos demos contajogo de lutaque tudo era mentira. Tudo que ele falava que estava bem, não era verdade. Ele moravajogo de lutauma situação ruim, não tinha condição nemjogo de lutamorarmos com ele temporariamente", relembra Fernando.

Decepcionados, com o dinheiro acabando e sofrendo com a separação da filha, a família quase desistiujogo de lutafixar residência no Brasil e pensoujogo de lutaretornar imediatamente ao país natal. A vontadejogo de lutamelhorar as condiçõesjogo de lutavida, no entanto, falou mais alto. Patrícia e Fernando decidiram persistir e começaram a busca por uma moradia. Foi quando as coisas começaram a mudar.

A sorte na Bahia

A donajogo de lutaum dos imóveis que eles tentaram alugar ficou comovida com a história da famíliajogo de lutarefugiados. Dona Cica, como é chamada pelos dois, decidiu acolher a família sem fazer muitas perguntas.

Mesmo com a resistência do casal, ela não tem cobrado o valor do aluguel, cabendo aos estrangeiros às despesas da casa.

"Quando ela conversou conosco e nos conheceu um pouco mais, ela não quis cobrar o aluguel. Porque ela sabia que estava difícil conseguir um emprego, e ela queria ajudar. Ela é como se fosse uma mãe para a gente aqui, temos qualquer problema e ela logo corre para nos dar assistência", conta Patrícia.

A expectativa inicial erajogo de lutaque,jogo de lutano máximo três meses, eles conseguissem encontrar um emprego e pudessem assumir definitivamente as contas. Muitos currículos foram entregues. Patrícia chegou a fazer entrevistas, mas não foi contratada.

Uma das soluções foi vender bolos, café e leite pelas ruasjogo de lutaSalvador. Com a chegada da pandemia e o consequente fechamento do comércio, a partirjogo de lutamarço, a situação piorou. Foi neste momento que a redejogo de lutaapoio iniciada por dona Cica cresceu, ganhando novos adeptos.

Tocada pela penúria enfrentada pelos cubanos, a vizinha Luísa Caetano organizou uma vaquinha na internet para arrecadar dinheiro para a família. Eles conseguiram juntar R$ 3,5 mil, que seriam usados inicialmente para bancar a vindajogo de lutaMaria Fernanda e o reencontro da família. Mas eles descobriram que teriamjogo de lutaaguardar o final do processo burocrático do Conare.

"Então, decidi que a melhor opção seria usar o dinheiro para profissionalizá-losjogo de lutaalguma forma", relata Luísa. "E o que mais estamos consumindojogo de lutameio a essa pandemia é comida. Entreijogo de lutacontato com uma famosa donajogo de lutauma escolajogo de lutagastronomia aquijogo de lutaSalvador, contei a história deles e ela se prontificou a ajudar Patrícia."

O pão delícia baiano, com toque cubano

Embora o acarajé, vatapá e moqueca sejam as iguarias mais conhecidasjogo de lutaSalvador e do Recôncavo Baiano, o legítimo soteropolitano sabe que um dos quitutes mais consumidosjogo de lutaaniversários, batizados e cerimônias festivas é o pão delícia.

O pãozinho, geralmente recheado com queijo ou patê, foi criadojogo de lutaSalvador pela cozinheira Elíbia Portela,jogo de luta1970 (embora nunca tenha patenteado a criação). Na culinária cubana, segundo Patrícia, não há nada que se aproxime do pãozinho delícia.

"Eu já cozinhava. Mas pão, não. Muito menos um pão baiano. Mas depois da aula, eu chegueijogo de lutacasa com a receita e os ingredientes e falei para Luísa, hoje é o dia, vou fazer uma tentativa. Não sei se foi coisajogo de lutaDeus, mas deu certo", conta.

Deu tão certo que Luísa criou uma página no Instagram, chamada Patrípan - Pãozinho Delícia. Eles começaram a vender o produto por meio das redes sociais, contando com serviçojogo de lutaentrega. Poucos dias depois, as encomendas começaram a chegarjogo de lutatodos os lugaresjogo de lutaSalvador. Para dar conta das entregas, eles estão tendo que trabalhar durante todo o dia e até à noite.

Durante a entrevista por chamadajogo de lutavídeo para a BBC News Brasil, Patrícia contou que já tinha feito 130 pãezinhos e teve até que recusar pedidos, porque, por enquanto, não tinham estrutura suficiente para dar conta da crescente demanda — eles têm apenas um fogão, doado por uma pastoral.

Pastoral e procura por emprego

Com a ajudajogo de lutadona Cica, Fernando e Patrícia conheceram o padre Manoel Filho, que coordena a Pastoral do Migrante, da Paróquia Ascensão do Senhor. O projeto acolhe os refugiados que chegam até Salvador, alémjogo de lutafazer encaminhamentos para diversos serviços, como a busca por advogados, médicos e por emprego. Eles já receberam pessoasjogo de lutaCuba, Venezuela, Haiti e Senegal. Atualmente, o projeto ajuda cercajogo de luta60 pessoas.

O casal cubano começou a receber ajuda, e por um grupojogo de lutaWhatsApp do próprio projeto, souberam que a paróquia estava doando um fogão. Patrícia manifestou interesse e pode levar para casa o eletrodoméstico, que hoje está ajudando a garantir a renda da família.

Com a venda dos pãezinhos, os cubanos estão melhorando as condiçõesjogo de lutavida. Fernando continua procurando um emprego, e não apenas na áreajogo de lutaque é formado. O objetivo é ficarjogo de lutaSalvador, conseguir pagar o aluguel, as contas e juntar dinheiro. Voltar para Cuba não faz mais parte do horizonte.

"Eu sei que eu tenho que ficar aqui, mesmo ainda não tendo emprego fixo. Tenho esperançajogo de lutaquejogo de lutaalgum momento algo aconteça. Aqui se tem liberdade, você pode viajar, passear, isso não tem preço. Em Cuba você é uma pessoa presa, e a liberdade é o mais importante que uma pessoa pode ter. E é uma coisa que lá ninguém tem", conta Patrícia.

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