O pouco conhecido impacto negativo da energia eólica no Nordeste:betfair 1 euro

"Analisamos basicamente a localizaçãobetfair 1 eurotodos os empreendimentos eólicos no bioma, desde os jábetfair 1 eurooperação até os que estão autorizados ebetfair 1 eurofasebetfair 1 europlanejamento", explica Melo. "Mostramos que há uma enorme quantidadebetfair 1 eurousinas eólicasbetfair 1 euroáreasbetfair 1 eurointeresse para a conservação. Concluímos também que existem 11 milhõesbetfair 1 eurohectaresbetfair 1 euroáreasbetfair 1 euroalta e extremamente alta importância para a conservação que possuem ou possuirão esses empreendimentos."

'Não é inofensiva'

Por isso, ele diz que as fazendas eólicas têm um lado ruim, que precisa ser entendido pela sociedade. "Gerar energia renovável mediante a força dos ventos é uma importante estratégia para que o Brasil cumpra com suas metasbetfair 1 eurodesenvolvimento sustentável e precisa ser estimulada", reconhece. "Mas, apesarbetfair 1 eurorenovável, ela não é inofensiva à natureza. Há impactos sobre a fauna, principalmente morcegos e aves, que controlam pragas. Eles se chocam contra as pás das hélices e morrem."

Além disso, há os impactos sobre ecossistemas sensíveis, como áreas montanhosas e dunas litorâneas, que são importantes e precisam ser mais bem avaliados, diz Melo. A construçãobetfair 1 eurolinhasbetfair 1 eurotransmissão e estradas para o estabelecimento dessas fazendas igualmente causam danos consideráveis, pois destroem vegetação nativa e facilitam o acessobetfair 1 europessoas a regiões, o que antes não ocorria.

"A perspectiva é que esse setor ganhe importância econômica e política no Nordeste, atuando nos Estados para conseguir incentivos parabetfair 1 euroinstalação (o que faz parte do jogo) e, eventualmente, derrubando condicionantes ambientais para seus estabelecimentos", alerta Melo.

Ele chama a atenção ainda para a possível ocorrênciabetfair 1 euroconflitos – o pesquisador cita o que o ocorreu no Boqueirão da Onça, na Bahia, uma região que aguardou maisbetfair 1 euro10 anos para que fosse criado ali, numa das porções mais importantesbetfair 1 euroCaatinga, um parque nacional. No final, o projeto teve seu desenho totalmente alterado, ficandobetfair 1 eurofora da áreabetfair 1 europroteção justamente aquelasbetfair 1 eurointeresse das empresas eólicas ebetfair 1 euromineração.

A Ponta Tubarão, no Rio Grande do Norte, é outro exemplobetfair 1 euroimpacto causado pela exploração da energia dos ventos. O problema no local foi que, após o estabelecimento dos parques eólicos, houve conflitos sérios com moradores, por causabetfair 1 euromudanças no acesso à praia e da poluição visual causada pelas torresbetfair 1 eurouma zona turística, o que prejudicou essa atividade.

Além disso,betfair 1 euroPernambuco, Melo diz que houve retrocessos ambientais, que atribui à atuação política das empresas eólicas. "O Estado praticamente extinguiu a proteçãobetfair 1 euroáreasbetfair 1 euroaltitude, com a justificativa explícitabetfair 1 eurofavorecer a implantaçãobetfair 1 euroempreendimentos privados para a geraçãobetfair 1 euroenergia a partir do vento", diz. "A Constituição estadual foi alterada. Antes, ela protegia locais acimabetfair 1 euro700 metrosbetfair 1 euroaltitude, limite que foi aumentado para 1.100 metros. Ora, o Estado deve ter uma área equivalente a dois camposbetfair 1 eurofutebol acima dessa altitude. Tudo o que está abaixo disso não está protegido."

Procurado na quinta e na sexta-feira para falar sobre a existênciabetfair 1 euroações para mitigar o impacto das usinasbetfair 1 euroenergia eólica, o governo do Estadobetfair 1 euroPernambuco afirmou que só poderia responder às perguntas da BBC News Brasil a partir desta segunda-feira (7).

Melo também critica o empresariado brasileiro, que "tem pouca tradiçãobetfair 1 eurocontribuir com agendas ambientais". Para ele, o caso das eólicas é uma grande oportunidade para virar esse jogo.

"Imagine sebetfair 1 eurovezbetfair 1 eurogerar conflitosbetfair 1 eurointeresse, o estabelecimento dessas usinas fosse um aliado na criação e implementaçãobetfair 1 euroáreas naturais protegidas", diz. "Precisamos pensar que esses locaisbetfair 1 eurointeresse para a conservação também geram energia para todo o Brasil, e, portanto, prestam um duplo serviço e precisambetfair 1 euromaior proteção e gestão responsável. Esse é o futuro que gostariabetfair 1 eurover entre Caatinga e empresas, mas precisamos mudar o paradigma vigente, no qual a proteção a esse bioma tem sido atacada para facilitar a entrada das geradorasbetfair 1 euroeletricidade a partir dos ventos."

Planejamento

A geógrafa Adryane Gorayeb, da Universidade Federal do Ceará (UFC), integrante do Observatório da Energia Eólica (redebetfair 1 europesquisadoresbetfair 1 eurouniversidades públicasbetfair 1 eurocinco Estados brasileiros), pensabetfair 1 euromaneira semelhante. "A energia eólica não é livrebetfair 1 euroimpactos e se quisermos avançar na geração dela no país, teremos que pensarbetfair 1 eurouma melhor formabetfair 1 europlanejamento relacionado à implantaçãobetfair 1 europarques eólicos e à gestão dos benefícios sociais oriundos dessa indústria", diz.

Entre os principais impactos, Gorayeb cita a emissãobetfair 1 euroruído pelas hélices das torres, com consequências negativas para a saúde humana como distúrbios do sono, enxaqueca e estresse; interferência nas rotasbetfair 1 euroaves; modificação da paisagem natural e estresse cultural, com conflitos comunitários associados à alteração do modobetfair 1 eurovida tradicional (pescadores, quilombolas, indígenas); e danos aos sistemas ambientais litorâneos, que levam ao desmonte e à compactaçãobetfair 1 eurodunas e do solo, aterramentobetfair 1 eurolagoas interdunares e remoçãobetfair 1 eurovegetação.

Ela reconhece, no entanto, que a energia eólica é uma energia limpa, pois não emite gases que causam o efeito estufa. "Além disso, o Brasil precisa diversificarbetfair 1 euromatriz energética", diz. "Acreditamos que a eólica é uma boa soluçãobetfair 1 eurogeraçãobetfair 1 euroeletricidade, especialmente quando pensamos nas consequências das mudanças climáticas e da matriz energética voltada à queimabetfair 1 eurocombustível fóssil. Mas ela deve ser planejada e implementadabetfair 1 euromodo responsável e com justiça socioambiental."

Para o pesquisador Luiz César Marques, da Universidade Estadualbetfair 1 euroCampinas (Unicamp), toda formabetfair 1 europroduçãobetfair 1 euroenergiabetfair 1 eurogrande escala causa impactos nos ecossistemas e,betfair 1 euroúltima instância, no planeta,betfair 1 euromodo geral. "Obviamente, esse impacto será tanto maior quanto maior for o volume da energia produzida e consumida", diz. "A raiz do problema está na escalabetfair 1 euroque se dá o consumobetfair 1 euroenergia dos 10% ou 20% mais ricos das sociedades contemporâneas. Essa minoria é a grande responsável pelos impactos sobre o clima, a perdabetfair 1 eurobiodiversidade e a produção descontroladabetfair 1 euroresíduos."

Segundo ele, estudos demonstram já há alguns anos que o consumo dos 10% mais ricos é responsável por 50% das emissõesbetfair 1 eurodióxidobetfair 1 eurocarbono lançados na atmosfera, ao passo que o consumo dos 50% mais pobres responde por apenas 10% delas. "Portanto, os verdadeiros impactos decorrem do consumo extravagantebetfair 1 euroenergia dessa minoria", diz. "Mas há ainda outro fator: a velocidade alta da transiçãobetfair 1 euromatriz energética exigida pela emergência climática. Quanto mais rápida ela for, mais impactos causará, porque menos tempo será consentido à adaptação."

Apesar disso, Marques afirma que mudar a matriz energética é a única saída. "Continuar nos combustíveis fósseis significa nos condenar a curto prazo a aquecimentos superiores à nossa capacidadebetfair 1 euroadaptação", explica. "Se tivéssemos iniciado a transição energética 30 anos atrás, estaríamos hoje na posiçãobetfair 1 euroescolher entre diversas opções. Agora, a escolha é entre o ruim e o péssimo. Péssimo é a civilização termo-fóssilbetfair 1 euroque estamos todos naufragando. Diante disso, tudo o que nos ajudar a escapar da armadilha dos fósseis é positivo."

Marques minimiza, no entanto, o impacto dos parques eólicos nas populaçõesbetfair 1 euroanimais alados. "Os pássaros morrem muitíssimo mais vítimasbetfair 1 eurogatos domésticos e ferais e por colisões com vidros e paredes espelhadas das cidades do que por qualquer outra razão", afirma. "Os números são acachapantes. Nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, houve diminuiçãobetfair 1 euro29% das populaçõesbetfair 1 europássaros desde 1970. Quase 4 bilhõesbetfair 1 euroaves a menos desde então e isso não tem a ver com pásbetfair 1 eurousinas eólicas."

Menos danos que as demais

Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileirabetfair 1 euroEnergia Eólica (ABEEólica) – entidade que congrega e representa a indústriabetfair 1 euroenergia eólica no país, com maisbetfair 1 euro100 associados –, não nega os impactos do setor. Mas lembra que não existe nenhuma atividade econômica que não cause interferências ambientais, que podem ser maiores ou menores, dependendobetfair 1 eurocada uma. "O impacto depende do recurso que é usado. Combustível fóssil produz CO2. No caso da produçãobetfair 1 euroenergia renovável, você também gera CO2 ao produzir os equipamentos. Depende do que a sociedade escolher, sol ou vento", diz.

Gannoum afirma, no entanto, que a energia eólica é uma das que causam menos danos ambientais. "Em um parquebetfair 1 eurogeração, apenasbetfair 1 euro3% a 5% da área são efetivamente ocupados pelas torres", diz. "Além disso, ela não prejudica outras atividades econômicas, como a criaçãobetfair 1 eurogado ou plantações, que podem coexistir com as turbinas. Ou seja, ela é a única formabetfair 1 europrodução eletricidade que pode ser complementar a outras atividades."

Hoje, hábetfair 1 eurooperação no Brasil 7.477 aerogeradores, instaladosbetfair 1 euro608 parques eólicos, que têm capacidade instaladabetfair 1 euro15,1 GW e geram 200 mil postosbetfair 1 eurotrabalho.

Segundo Gannoum, o país teve a vantagembetfair 1 eurocomeçar a usar a energia eólica com tecnologias mais avançadas, como torres mais altas, que interferem menos na migraçãobetfair 1 europássaros, por exemplo. Também tem legislação rigorosa, com resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e diretrizes dos Estados, para o licenciamentobetfair 1 europrojetosbetfair 1 eurogeraçãobetfair 1 euroenergia eólica.

"Independentemente disso, o investidor não quer mais fazer parque eólicobetfair 1 euroáreabetfair 1 europroteção ebetfair 1 eurodunas, porque ele aprendeu que o potencial do Brasil para exploração da energia dos ventos é imenso,betfair 1 euro800 GW [maisbetfair 1 euro57 hidrelétricasbetfair 1 euroItaipu]", acrescenta. "Não é necessário construir nesses locais."

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