Ter ou não ter um cachorro? A genética pode explicar essa decisão:

Crédito, Mikael Wallerstedt/Divulgação

Legenda da foto, A pesquisadora Tove Fall estudou a relação entre genética e o desejoter animaisestimação

O resultado foi que,mais da metade das vezes, a variação genética explica a posse dos cães - um componente hereditário impresso nos genes humanos que,certa forma, deve ter sido forjado ao longomilêniosevolução.

Estima-se que cachorros tenham uma relação próxima com os seres humanos há pelo menos 15 mil anos. Eles são considerados os primeiros animais a serem domesticados pelo homem.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A escolhapossuir e cuidarum cão depende parcialmente do arranjo genético, concluiram os pesquisadores

"Ficamos surpresos ao perceber que a composição genéticauma pessoa parece ter influência significativa no fatopossuir ou não um cão", explicou Fall. "Tais descobertas têm implicações importantesvários campos diferentes relacionados à compreensão da interação cão-homem ao longo da história. Embora ter cães e outros animaisestimação seja comumtodo o mundo, pouco se sabe ainda sobre como eles afetam nossa vida diária e nossa saúde."

A partir do estudo, a pesquisadora acredita que "algumas pessoas têm uma propensão inata maior para cuidarum animalestimação do que outras".

"Analisamos proprietários registradoscães e encontramos evidências robustasque a escolhapossuir e cuidarum cão depende parcialmente do arranjo genético, ou seja, os genes herdados dos pais", resumiu à BBC News Brasil o chefe do registro nacionalgêmeos da Suécia, Patrik Magnusson, professorepidemiologia no DepartamentoEpidemiologia Médica e Bioestatística no Instituto Karolinska, também da Suécia. "Algumas pessoas carregam genes que aumentam a probabilidadeque eles adquiram um cão."

Especialistainteração-homem animal, o pesquisador Carri Westgarth, da UniversidadeLiverpool, no Reino Unido, acredita que a pesquisa pode ser um passo importante para compreender os benefícios obtidos por algumas pessoas no convívio com animaisestimação. "Tais resultados sugerem que supostos benefícios para a saúdepossuir um cão, relatadosoutros estudos, podem ser explicados pelas diferenças genéticas entre as pessoas", pontuou.

Método

Utilizar gêmeos como pontopartidaestudos genéticos é um método bastante difundido na ciência, principalmente quando se pretende compreender diferençasbiologia ecomportamento. No caso do estudo sobre a predisposiçãoter ou não um cão, os cientistas tomaram o cuidadocomparar características e comportamentosgêmeos idênticos - aqueles que compartilham o genoma inteiro - com os não-idênticos - que têm variação genética entre si.

Ao analisar cada par, verificando quais combinavam no fatoter ou não um cão, os dados tabulados mostraram como a genética pode desempenhar um papel importantetal escolhavida.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Os cientistas usaram gêmeos para fazer o estudo

Os cientistas descobriram taxasconcordância da possecães muito maioresgêmeos idênticos do quenão-idênticos - sustentando a visãoque a genética desempenha um papel fundamentaltal escolha.

"Tal tipoestudo não pode nos dizer exatamente quais genes estão envolvidos, mas pelo menos demonstra, pela primeira vez, que a genética e o ambiente desempenham papéis iguais na determinação da possecães", afirmou Magnusson.

A pesquisa foi restrita a possecães porque não há dados completos sobre outros animaisestimação - como gatos ou peixesaquário - nos registros públicos suecos. "Só podíamos estudar cães, portanto", resumiu Fall.

Crédito, Mariana Veiga/BBC

Legenda da foto, A pesquisa foi restrita à possecães porque não há dados completos sobre outros animaisestimação nos registros públicos suecos

"Até agora, nossa única evidência é para cães, então não sabemos se o mesmo se aplica a outros animais", comentou Magnusson. "A razão pela qual poderíamos fazer isso para cães era que existem registrospropriedade desses animaisalta qualidade na Suécia, com boa cobertura. A baseregistrosgatos é menos completa e menos confiável."

Possibilidades

"O próximo passo óbvio é tentar identificar variantes genéticas a partir desse fato", prosseguiu o pesquisador. "Ou seja: como tais genes se relacionam com traçospersonalidade e outros fatores individuais, como alergias."

Magnusson acredita que pode estar no mesmo arranjo genético a explicação sobre por que alguns têm mais capacidadecompreender e interagir com cães do que outros, por exemplo. E até mesmo explicações sobre sentir ou não medo desses animais.

"Esta composição genética é provavelmente mais complexa e pode abrigar variações genéticas que afetam fenótipos como alergia a cães e diferentes característicaspersonalidade", completou Fall. "Vamos agora realizar um estudogenética molecular para descobrir mais."

Crédito, Siniscalchi

Legenda da foto, Algumas pessoas têm uma propensão inata maior para cuidarum animalestimação do que outras

São chaves até para compreender um pouco melhor a amizade duradoura entre humanos e cães. "O estudo tem grandes implicações para a compreensão da história profunda e enigmática da domesticaçãocachorros."

"Décadaspesquisas arqueológicas nos ajudaram a construir uma imagem melhoronde e quando os cães entraram no mundo humano. Mas os dados genéticos modernos agora vão nos permitir explorar diretamente o por quê e o como", comentou o zooarqueólogo Keith Dobney, do DepartamentoArqueologia da UniversidadeLiverpool.

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