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Refeiçõesfamília: Como as crianças se beneficiam do contato com os pais à mesa:
Um dos estudos levantados pelo projeto foi feito2010 pela Universidade Columbia, e comparou adolescentes que faziam refeições familiares frequentes (cinco a sete vezes por semana) aos que faziam menostrês por semana - os últimos tinham o dobropropensãoexperimentar drogas. Um motivo por trás disso seria que as refeições davam aos jovens a chanceconversar com seus parentes sobre seus cotidianos.
Compilando dados desse tipo, o Projeto JantarFamília passou a elaborar e divulgar estratégias, receitas (em inglês) e até dicastópicosconversa para incentivar refeições familiares que sejam menos estressantes e mais benéficas para todos. O projeto atende a 12 mil famílias diretamente e a outras centenasmilhares online (para quem se cadastrar no site).
A BBC News Brasil levantou algumas dessas dicas e estratégias para famílias que queiram melhorar - e multiplicar - as refeições conjuntas.
Barendsen ressalta que não há uma cartilha ou regra única para ser adotada por todos: cada família pode avaliar o que serve ou não para suas necessidades e o que ajuda ou não a deixar suas refeições mais prazerosas.
Criar hábitos aos poucos, sem se preocupar com a perfeição
"Em geral, as famílias que acompanhamos têm diferentes obstáculos: faltatempo para cozinhar, o que gera estresse; reunir todos os membros da família ao mesmo tempo; não saber cozinhar; ter membros da família que sejam chatos para comer; ou estarmomentosdificuldade financeira, tendo que trabalharexcesso", diz Barendsen.
"A questão é identificar qual obstáculo dificulta as suas refeições e pensarmetas realistas, pequenas. Para uma família que só tem conseguido comer fast food todos os dias, não adianta esperar que todas as refeições passem a ser orgânicas. É um bom começo se eles passarem a comer melhor e juntos um dia por semana, ou a experimentar um alimento novo por semana, e aos poucos elas podem evoluir a partir daí."
Entre as 21 oportunidadesrefeiçãocada semana, se a família conseguir aproveitar uma ou outra para se reunir e conversar já estará dando passos importantes. Se o pai só chegacasa depoisos filhos terem jantado, a reunião familiar pode se dar durante a sobremesa.
*Sugestões:
- Tirar um tempinho do fimsemana para planejar as refeições da semana seguinte facilita a organização da família.
- Cozinharmaior quantidade e com antecedência, congelando porçõesseguida.
- "Trocar" refeições com outras famíliassituação parecida: você prepara uma quantidade dobrada da mesma comida e troca com a outra família o prato que ela fezdobro; assim, ambas vão ter uma variedade maiorpratos.
- Dividir as tarefas relacionadas às refeições é importante para evitar que um único membro da família (geralmente, a mãe) fique sobrecarregado com compras, preparo e limpeza. "Dá para criar tradições familiares e dividir as tarefascompras e limpeza, por exemplo, incluindo as crianças - cada dia da semana uma lava a louça", sugere Barendsen.
A conversa importa tanto quanto a comida
A pesquisadora sugere deixar assuntos espinhosos - notas na escola, por exemplo - para outros momentos da vida familiar. E preservar as refeições para conversas descontraídas, jogos e brincadeiras.
"A conversa e a diversão das refeições importam exatamente o mesmo que a (qualidade da) comida", afirma Barendsen.
"Se as refeições forem sóperguntas sobre o dia na escola, os jovens não vão querer participar, por exemplo. Se a conversa for algo leve, vai estimulá-los a expressar seus pontosvista, aprender a respeitar opiniões alheias e a desenvolver mais vocabulário até mesmo do que se os pais estivessem lendo com eles."
*Sugestões:
- Deixar cada membro da família ter um dia para escolher a música que será ouvida durante a refeição.
- Conversar sobre filmes e sériesTVvezescola ou trabalho, caso esses assuntos gerem discussões muito acaloradas e improdutivas.
- Termãos temas reflexivos para estimular as conversas com as crianças: "se você ganhasse na loteria, o que faria com o dinheiro?"; "se você pudesse voltar ao passado, que coisas traria para o presente?"; "conte duas coisas boas do seu dia."
- Ou,vezfazer perguntas, pode-se propor reflexões sobre partes do dia da criança ou adolescente. "Penseivocê na hora do almoço porque sabia que você estaria fazendo aquela prova difícil e fiquei torcendo para ir tudo bem". Não espere uma resposta, apenas veja se ela vai usar a deixa para conversar.
- Se ajudar a prevenir o estresse, talvez valha evitar a "fiscalização" constante do prato das crianças, dando a elas alguma autonomia. Ter maisum vegetal disponível na refeição permite, por exemplo, que a criança escolha um caso não queira comer o outro.
- Caso os pais achem válido brincar com a comida no prato, Barendsen sugere que fazer um rosto com cabeloalface e olhosazeitona, por exemplo, pode ajudar a tornar a refeição mais divertida.
A comida importa muito - mas pode ser simples e rápida
Poucas famílias têm tempo para elaborar múltiplos pratos complexos para todas as refeições - e isso nem é necessário.
"Dá para pensarpratos rápidos e nutritivos e envolver a família no preparo", diz Barendsen. "Lembrando que não há um número mágicoque as refeiçõesfamília começam a surtir efeito, e a única coisa que não pode faltar é desfrutar a companhia um do outro."
*Sugestões:
- As crianças estão com fome e a comida não está pronta? Uma ideia é usar frutas e vegetais como lanchinho - pedaçoscenoura, manga, brócolis, pepino ou azeitona, por exemplo. Daí você não precisa se preocupar quanto a se elas vão comer frutas e vegetais durante a refeição.
- Bolar refeições"uma panela só": um macarrão enriquecido com vegetais, um risoto com múltiplos ingredientes ou um wrap/sanduíche/panqueca/pizza caseiraque cada membro da família possa montar com os ingredientes (desde que saudáveis)sua escolha.
- Para manter as crianças sentadas à mesa e conversando por mais tempo, uma possibilidade é ter como atrativo sobremesas simples e saudáveis - raspadinhafrutas, sorvetebanana congelada, bolosfrutas.
- Envolva as crianças no preparo: por exemplo, oferecendo duas opçõesmenu e deixando elas escolherem uma; levando-as à feira para que conheçam os alimentos in natura e pedindo para que elas escolham um que nunca viram - depois, vocês podem bolar juntos uma receita para esse alimento novo. As crianças também podem se divertir ajudando a pôr a mesa, medindo ingredientes, ligando o liquidificador e (com muito cuidado e supervisão), dependendo da idade, cortando vegetais e mexendo na panela.
- Elabore uma listareceitas simples às quais você possa recorrer quando estiver com pressa e sem ideias, e mantenha ingredientes-chave na geladeira. Vegetais congelados, queijo e pedaçospão podem virar uma refeição improvisadaquestãominutos.
- Com bebês e crianças pequenas, é bom lembrar que é necessário oferecer o mesmo alimento diversas vezes - ediversos jeitos - para eles se acostumarem ao sabor. E pode ser que haja bagunça e sujeira. Se o resultado forem refeições mais divertidas, talvez valha relevar a confusão. Vai depender da dinâmicacada casa.
- Pensar fora da caixa: se não deu para se reunir no jantarontem, quem sabe dá para organizar um café da manhã juntos ou um lanchinho antesdormir? Se a mesajantar está cheiapapéis, dá para estender a toalha no chão e fazer um piquenique improvisado.
Permitir ou não eletrônicos?
Para Barendsen, cada família deve avaliar o que funciona ou não para si - e fazer acordos a partir disso. É o que vale, por exemplo, para o dilemapermitir ou não o usoeletrônicos durante as refeições.
"A ideia é, novamente, que não adianta esperar perfeição, e tem gente que não consegue ficar longe do celular, embora eu coloque os eletrônicos na listacoisas que podem perturbar as refeições", diz ela.
"Há famílias que vetam o usoeletrônicos, há as que permitem o uso se for alguma mensagem urgente e há as que usam os eletrônicosfavor das conversas e da integração familiar - para ver um vídeo que pode servirassunto ou para conversar via Skype com o pai que não chegou a tempo para o jantar."
Se a ideia for vetar os eletrônicos, ela sugere fazê-lopequenos passos e semprecomum acordo com a família.
Começar tradições familiares
Um dos mantras do Projeto JantarFamília é que "as refeições familiares têm o poderestimular o pensamento ético".
E Barendsen conta ter visto isso na prática. "Uma das famílias que acompanhamos éuma mãe que certa noite estava jantando com seus dois filhos, quando perguntou: 'se vocês ganhassem na loteria, o que fariam com o dinheiro?'. Ela esperava uma resposta brincalhona, mas ouviuum deles, 'eu daria o dinheiro para caridade'. Foi uma conversadez minutos no jantar que deu início a uma tradição familiar: eles reservaram um pote no qual juntam dinheiro para doar."
*Sugestões:
- Aproveitar as refeições para conversar sobre projetosfamília: uma viagem que queiram fazer juntos, uma decisão que queiram tomar (ter ou não um animalestimação?) ou um esforço coletivo (por exemplo, mudar os hábitos alimentarestodos).
- Celebrar pequenas conquistas cotidianas: transformar as refeiçõesocasiões especiais para comemorar não apenas aniversários, mas também quando um dos membros da família concluir um projeto difícil (desde aprender a andarbicicleta a entregar um trabalho escolar) ou fizer algo especial (resolver um conflito na escola ou iniciar um curso novo, por exemplo).
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