Como uma molécula descoberta no Brasil pode salvar o diabo-da-tasmâniacassino amambayextinção:cassino amambay

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Uma forma contagiosa e transmissível 'parasitária'cassino amambaycâncer pode extinguir diabo-da-tasmânia nas próximas décadas

Segundo o biólogo Pedro Ismael da Silva Júnior, pesquisador do Laboratório Especialcassino amambayToxinologia Aplicada do Instituto Butantan, que descobriu a gomesina, a doença que acomete o diabo-da-tasmânia se caracteriza por feridas na face, principalmente na boca e no nariz.

"Esses machucados vão aumentando e se espalhando, destruindo os rostos dos animais e os impedindocassino amambaycomer, o que lhes causa a morte por inanição", explica. "O câncer se espalhacassino amambaymaneira rápida e se apresentacassino amambay65% da ilha da Tasmânia. A cura do tumor pode salvar essa espécie da extinção."

Molécula sintética

É isso o que está tentando fazer um grupocassino amambaypesquisadores da Faculdadecassino amambayMedicina da Universidadecassino amambayQueeensland,cassino amambayBrisbane, na Austrália. Eles estão testando uma molécula sintética desenvolvida e patenteada por Silva Júnior a partir da proteína da A. gomesiana, e um peptídeo semelhante, encontrado na aranha da espécie Hadronyche infensa, que vive naquele país.

Os cientistas demonstraram que,cassino amambaylaboratório, a gomesina interfere no ciclo das células cancerosas, modificando a produçãocassino amambayvárias moléculas. Isso torna as células inviáveis, matando-as. O processo foi descritocassino amambayartigo publicado neste ano na revista online Cell Death Discovery, do grupo Nature.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pedro Ismael da Silva Júnior descobriu a gomesina

Nada disso seria possível, no entanto, sem a descobertacassino amambaySilva Júnior. Ele conta que sempre trabalhou com aranhas, a princípio estudando os pelos urticantes delas. Quando foi fazer o mestrado, no entanto, seu orientador morreu e ele precisou substituí-lo. "Minha nova orientadora, Sirlei Daffre, propôs que passássemos a pesquisar o sistema imunecassino amambayaracnídeoscassino amambaybuscacassino amambaypeptídeos antimicrobianos", lembra. "Eu topei e então começamos a buscar as moléculas bioativas no sangue das aranhas."

Durante o trabalho, que se estendeucassino amambay1994 a 2000, ele encontrou várias dessas moléculas, uma das quais muito potente e promissora.

"Demos o nome a essa proteínacassino amambaygomesina,cassino amambayhomenagem à espéciecassino amambayaranha caranguejeira Acanthoscurria gomesiana", conta. "A importância disso é que uma descoberta brasileira, financiada pela Fundaçãocassino amambayAmparo à Pesquisa do Estadocassino amambaySão Paulo (Fapesp) e com registro pelo escritóriocassino amambaypatentes da Universidadecassino amambaySão Paulo, está sendo utilizada por pesquisadores australianos para salvar da extinção um organismo vivo e único da região."

Novos antibióticos

Silva Júnior também explica por que se dedicou a verificar a presençacassino amambaymoléculas com atividade antibióticacassino amambayseu sangue (hemolinfa)cassino amambayaracnídeos. "Esses organismo vivem na Terra há maiscassino amambay450 milhõescassino amambayanos e os registros fósseis, principalmente no âmbar, mostram que eles mudaram muito pouco no curso da evolução", diz. "Então, por viveremcassino amambayambientes contaminados e não mudarem muito durante a evolução é que nos despertou a curiosidadecassino amambaycomo esses animais se defendiam."

Os estudoscassino amambaySilva Júnior demonstraram ainda que essa molécula também está presentecassino amambayoutros aracnídeos. "Essa informação, bem como a sequênciacassino amambayresíduoscassino amambayaminoácidos da gomesina, foi compartilhada por meiocassino amambaypublicações científicas, com acesso permitido a todos os cientistas do mundo", explica.

Crédito, Rogerio Bertani

Legenda da foto, Molécula foi identificada na aranha caranguejeira

"Na Austrália, os pesquisadores verificaram a presença dessa moléculacassino amambayuma aranha caranguejeiracassino amambaylá. Utilizaram tanto a proteína encontrada nessa espécie como a descoberta por nós aqui no Brasil (sintetizaram usando a sequênciacassino amambayresíduoscassino amambayaminoácidos disponívelcassino amambaybancocassino amambaydados) para avaliarcassino amambayatividade contra o tipocassino amambaycâncer que está levando à extinção o diabo-da-tasmânia."

Avanço médico

Mas não é só para tratar o câncer do diabo-da-tasmânia que a gomesina poderá ser empregada. Comcassino amambayatividade contra bactérias, fungos e vírus ela poder ser usada para o desenvolvimentocassino amambaynovos antibióticos, mais potentes que os atuais.

Nesse caso, ela poderia ser empregada no combate às várias espéciescassino amambaybactérias resistentes às drogas atuais. Mas é provável que um novo medicamento a partir dessa proteína seja desenvolvido primeirocassino amambayoutro país. "Temos a patente e já tentamos torná-la um produto, mas não conseguimos", lamenta Silva Júnior. "É muito difícil o desenvolvimentocassino amambayuma droga no Brasil."

O pesquisador esclarece que não tem nenhum trabalhocassino amambayconjunto ou colaboração direta com o grupo australiano. "A partircassino amambaynossas descobertas, o grupocassino amambaylá foi capazcassino amambayavaliar uma molécula contra esse tipocassino amambaycâncer e verificarcassino amambayfuncionalidade", diz. "Temos inúmeras publicações mostrando as diversas atividades da gomesina, inclusive a antitumoral. Cada cientista que descobre alguma coisa ajuda os pesquisadores do futuro."

Ele ressalta ainda que não há competição. "São grupos trabalhandocassino amambayprol do combate às doenças, cada um dandocassino amambaycontribuição e caminhando cada vez mais para frente", explica. "Não sou movido por vaidades. Espero realmente que um dia possamos todos estar desfrutandocassino amambayum medicamento que possa resolver nossos problemascassino amambaysaúde. Fruto da associaçãocassino amambaytodos os pesquisadores do mundo. Que estejamos acima das pobres políticascassino amambayciência e saúdecassino amambaynossos países."