A mulher que livrou a si mesma e a centenasesportiva bet aviatorpessoas do corredor da morte:esportiva bet aviator

Crédito, Isaac Kasamani/BBC

Legenda da foto, Kigula conseguiuesportiva bet aviatorliberdade e aesportiva bet aviatoroutras centenasesportiva bet aviatorpessoas

"Eu cresci sendo a filhinha do papai", conta ela. "Eu dizia para ele que queria trabalharesportiva bet aviatorum banco, porque me parecia um bom trabalho. E eu seria forte e independente se tivesse um trabalho. Eu sonhava muito com o futuro, porque meus pais me fizeram acreditar que todos os meus sonhos poderiam se tornam realidade."

Kigula e seus três irmãos tiveram uma infância seguraesportiva bet aviatorclasse média,esportiva bet aviatoruma comunidade religiosa pequena e muito unida. As crianças brincavam no campo à tarde e jantavam com os pais à noite.

"Minha infância feliz não me preparou para o que viria na vida adulta", conta.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Susan Kigula e Constantine Sseremba moravam juntos e tinham uma filha

Kigula trabalhavaesportiva bet aviatoruma lojinhaesportiva bet aviatorpresentesesportiva bet aviatorKampala, na capital no país, quando conheceu Constantine Sseremba. Aos 28 anos, ele era dez anos mais velho que ela.

Os dois começaram a namorar e foram morar juntos. A casa era pequena,esportiva bet aviatordois cômodos, mas Kigula diz que era ideal para a família. Sseremba tinha um filhoesportiva bet aviatoroutro relacionamento e logo o casal teve uma filha.

"Nós nos amávamos muito", diz ela. "As pessoas brincavam que éramos gêmeos, porque estávamos sempreesportiva bet aviatorsintonia. Não éramos ricos, mas éramos felizes por termos um ao outro."

Em 9esportiva bet aviatorjulhoesportiva bet aviator2000, a vida da Kigula mudaria para sempre.

A família jantou junto, como fazia todas as noites. Kigula, Sseremba e as duas crianças foram para a cama. Todos dormiam no único quarto do apartamento. A empregada da família, Patience Nansamba, dormiaesportiva bet aviatorum colchão na sala.

Kigula diz que acordouesportiva bet aviatormadrugada ao sentir a nuca ser perfurada por um golpe rápido.

"Senti sangue quente saindoesportiva bet aviatoruma ferida na nuca. Os lençóis estavam ensopadosesportiva bet aviatorsangue, que não era só meu."

"As luzes estavam apagadas, então eu não consegui ver o que estava acontecendo imediatamente."

Kigula conta que sentou na cama, confusa, ao mesmo tempoesportiva bet aviatorque uma luz das lanternasesportiva bet aviatorsegurança acendiam do ladoesportiva bet aviatorfora e iluminavam parte do quarto.

"As crianças não tinham sido machucadas. Estavam acordadas e chorando. Constantine estava no chão, gemendo. Seu pescoço estava cortado", diz ela.

"Tudo estava acontecendo muito rápido. A empregada, Patience, entrou no quarto dizendo que viu duas pessoas saírem correndo do apartamento segundos antes."

"Minha visão estava turva e eu não conseguia andar direito, mas consegui sair e pedir ajuda aos vizinhos. Me enrolaramesportiva bet aviatorum cobertor – eu não tinha percebido que saí da casa nua."

Kigula ainda estava sangrando pelo pescoço e acabou desmaiando.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pai da filhaesportiva bet aviatorKigula, Constantine Sseremba foi assassinadoesportiva bet aviator2000

Ela acordou horas depois,esportiva bet aviatorum hospital. A feridaesportiva bet aviatorseu pescoço ainda doía quando lhe contaram que seu parceiro havia morrido. Sua família estava cuidandoesportiva bet aviatorsua filhaesportiva bet aviatorum ano, Namata, e os paisesportiva bet aviatorSseremba – com quem ela tinha uma relação fria e distante – tinham levado o filho dele,esportiva bet aviatortrês anos, para a casa deles.

Ela percebeu que até aquele momento, tinha vivido uma vida feliz: uma infância alegre, um relacionamento bem sucedido, um bom trabalho. Agora tudo isso estava perdido, ela pensou.

O paiesportiva bet aviatorKigula a avisou que as famílias tinham organizado o funeralesportiva bet aviatorSseremba para o dia seguinte.

"Eu não conseguia entender o que tinha acontecido ou o porquê. Quem quer que tivesse nos atacado tinha ambos como alvo. Quem poderia querer ver eu e Constantine mortos? Pensei muito sobre isso. Ainda me incomoda", conta ela.

Não havia um motivo óbvio para o ataque. Nada havia sido roubado.

Depois do funeral, Kigula estava voltando do hospital quando ouviu uma notícia no rádio que a fez congelar. O locutor anunciava que Constantine Sseremba eesportiva bet aviatormulheresportiva bet aviator21 anos, Susan Kigula, tinham sido assassinadosesportiva bet aviatoruma tentativaesportiva bet aviatorroubo.

"Eu pensei: 'Meu Deus, a pessoa que tentou nos matar já tinha encomendado um obituário duplo, assumindo que nós dois estaríamos mortos'."

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Susan Kigula tinha 21 anos quando foi presa

Então, três dias depois, Kigula, recebeu uma visita da polícia. Ela ainda estava recebendo tratamento por conta do machucado no pescoço. Paraesportiva bet aviatorsurpresa, eles a acusaramesportiva bet aviatorhomicídio e a levaram para uma prisãoesportiva bet aviatorsegurança máxima próximo a Kampala, para esperar o julgamento.

A famíliaesportiva bet aviatorSseremba disse que o filho dele tinha visto Kigula e a empregada matando o seu pai.

"Eu fui ingênua naquele momento", diz ela. "Eu pensei que era óbvio que tudo aquilo era um engano. O menino estava traumatizado e confuso. Eu era inocente e me parecia claro que as pessoas iriam ver isso. Não tinha ideiaesportiva bet aviatorcomo o sistema jurídico funcionava."

Ela não contratou um advogado. Não tinha condiçõesesportiva bet aviatorpagar por um e,esportiva bet aviatorqualquer forma, confiava na Justiça.

Dois anos depois, Susan Kigula and Patience Nansamba foram condenadas pelo assassinatoesportiva bet aviatorConstantine Sseremba – com base na testemunha do filhoesportiva bet aviatorSseremba, então com cinco anos. A polícia também disse que um facão ensaguentado encontrado no apartamento pertencia a Kigula.

A condenação veio com uma sentençaesportiva bet aviatorpenaesportiva bet aviatormorte. As mulheres foram avisadas que o método seria enforcamento.

Kigula olhou paraesportiva bet aviatorfilha, então com três anos, sentada junto a seus pais, e caiu no choro.

Encontro

Depoisesportiva bet aviatortrês anos no corredor da morte,esportiva bet aviator2005, Susan Kigula conheceu o jovem estudante britânico Alexander McLean.

McLean tinha fundado o projeto African Prisons (Prisões Africanas), por meio do qual arrecadou dinheiro para criar instalações médicas para usoesportiva bet aviatorprisioneirosesportiva bet aviatorUganda.

Kigula começou a trabalhar comoesportiva bet aviatortradutora e o impressionou desde o início.

Crédito, African Prisons Project

Legenda da foto, Alexander McLean tinha 18 anos quando começou a trabalhar com prisioneirosesportiva bet aviatorUganda

Nessa época, Kigula já estava presa há 5 anos.

"Eu acordava todos os dias pensando: 'É hoje que serei enforcada'", diz ela.

Questionada sobre as condições no presídio,esportiva bet aviatorresposta é pouco emotiva.

"Prisão é prisão", diz ela, sem explicar.

A jovem dividia uma cela construída para uma pessoa com outras três mulheres. Elas usavam um balde como banheiro.

Um relatório sobre prisões ugandensesesportiva bet aviator2011, feito pela organização internacional Human Rights Watch, dizia que os prisioneiros dormiamesportiva bet aviatorlado, tão próximos que não conseguiam mudaresportiva bet aviatorposição. Eles eram confinadosesportiva bet aviatorsolitárias, frequentemente nus, algemados, e às vezes passavam fome. As celas às vezes ficavam alagadas, com águas na altura do calcanhar.

Kigula não gostaesportiva bet aviatorfalar sobre essas coisas. Mas é ávida para contar a históriaesportiva bet aviatorcomo obteveesportiva bet aviatorliberdade.

Tomar uma atitude

Nas primeiras semanas na prisão, Kigula, então com 24 anos, e as outras 50 mulheres emesportiva bet aviatorseção conversavam umas com as outras sobre a morte iminente e sobre quem cuidariaesportiva bet aviatorseus filhos.

"Conforme conhecia as mulheres, percebi que muitas, como eu, tinham sido falsamente acusadas. Algumas eram culpadas, mas nenhuma delas merecia penaesportiva bet aviatormorte pelos crimes que cometeram. Alguns eram resultadoesportiva bet aviatoranosesportiva bet aviatorabuso físico e sexual que sofriam dos parceiros", conta Kigula.

"Me tornei uma liderança entre as prisioneiras. Precisávamos fazer alguma coisa. Eu comecei perdoando as pessoas que me colocaram na prisão. E depois comecei a por a mão na massa."

Crédito, Jan Banning

Legenda da foto, Susan Kigula ficou anos no corredor da morte

Kigula criou um coral, escreveu músicas, começou a fazer esportes e criou um grupoesportiva bet aviatordança na prisão. Para manter-se animada, passava mais tempo com as prisioneiras que tinham menos pensamentos negativos.

Ela descobriu que os prisioneiros homens tinham acesso à educação, enquanto as mulheres, não. Ela pediu à administração para que um pequeno grupo delas pudesse ter aulasesportiva bet aviatorHistória, Economia, Teologia e Administração. Os responsáveis pela prisão questionaram como ela iria viabilizar uma escola sem professores.

"Vou começar sendo a professora", ela respondeu.

Elas usavam material didático doado e recebiam notasesportiva bet aviatorestudo da ala masculina. Tinham as aulas sob a copaesportiva bet aviatorárvores.

Quando os carcereiros viram que a jovem era dedicada, eles ampliaram os recursos e permitiram um número maioresportiva bet aviatoraulas. Kigula e algumasesportiva bet aviatorsuas amigas eram as professoras.

Ela diz que uma das pessoas que mais a incentiveram foi Alexander McLean, do projeto African Prisons.

"Eu vi o quanto Susan era dinâmica. Ela mobilizava e motivava as pessoas", diz McLean.

O jovem britânico vinha trabalhando com autoridadesesportiva bet aviatorUganda para tentar melhorar as condições não apenas da enfermaria, mas das prisões como um todo. Sua ONG patrocionou atividades esportivas, organizou gruposesportiva bet aviatorleitura para mães e bebês e instituiu aulasesportiva bet aviatoralfabetizaçãoesportiva bet aviatoradultos.

Kigula começou a agir como intermediária entre a entidade e administração da prisãoesportiva bet aviatorum projeto para criar uma biblioteca no presídio.

Crédito, Jan Banning

Legenda da foto, Susan Kigula conseguiu que as prisioneiras tenham direitoesportiva bet aviatorestudar

Em 2011, ela e um grupoesportiva bet aviatoroutras prisioneiras, com apoio do African Prisons, se tornaram as primeiras prisioneiras ugandenses a fazer um curso por correspondência na Universidadeesportiva bet aviatorLondres, estudando Direito.

O projeto foi um grande sucesso. Com o passar do tempo, até os carcereiros passaram a pedir conselhos legais a Kigula.

Ela então começou a tocar uma espécieesportiva bet aviatorescritórioesportiva bet aviatoradvocacia informal na prisão – ajudava prisioneiras com pedidosesportiva bet aviatorfiança, escrevia pedidosesportiva bet aviatorrecursos e as ensinava como representarem a si mesmas na corte – caso não pudessem pagar por um advogado. Ela ajudou dezenasesportiva bet aviatorcolegas a sair da prisão.

Mudar o país todo

Encorajada por seu sucesso acadêmico, ela decidiu, mesmo sem ainda ter o diploma, organizar pessoas para entrar com um pedido questionando a penaesportiva bet aviatormorte obrigatória para certos crimes.

"A populaçãoesportiva bet aviatorUganda normalmente é muito conservadora e relutante ao que pode ser visto como um 'afrouxamento' da lei", diz McLean.

O caso coletivoesportiva bet aviatorSusan Kigula e outras 417 pessoas contra a União é um caso emblemático. O objetivo do processo era acabar com a penaesportiva bet aviatormorte, declarando-a inconstitucional.

Quando a Suprema Corteesportiva bet aviatorUganda chegou a uma decisão,esportiva bet aviatorjaneiroesportiva bet aviator2009, a penaesportiva bet aviatormorte não foi abolida. No entanto, a Corte determinou que a pena não deveria ser obrigatóriaesportiva bet aviatorcasosesportiva bet aviatorhomicídio, e que uma pessoa condenada não deveria ficar no corredor da morte indefinidamente. Se uma pessoa condenada não fosse executadaesportiva bet aviatortrês anos, a sentença automaticamente se transformariaesportiva bet aviatorprisão perpétua.

E, diante das mudanças, a corte determinou que pessoas no corredor da morte poderiam ter direito a um novo julgamento.

Nova sentença

Kigula teve um novo julgamentoesportiva bet aviatornovembroesportiva bet aviator2011.

Dianta da corte pela segunda vez, ela também reencontrou o enteado, agora com 14 anos. Sentindo todo o pesoesportiva bet aviator11 anos no corredor da morte desabaresportiva bet aviatoruma vez sobreesportiva bet aviatorcabeça, ela começou a chorar e disse a ele: "Você não sabe que eu te amo? Souesportiva bet aviatormãe!".

E, se voltando para a famíliaesportiva bet aviatorseu falecido companheiro, ela disse: "Sinto muito".

A imprensa local descreveu o episódio como se fosse uma cenaesportiva bet aviatornovela – uma confissãoesportiva bet aviatorum crime horrível. No entanto, diz Kigula, não era isso que ela queria dizer.

"Os jornais mentiram", diz ela.

Segundo ela, foi uma expressãoesportiva bet aviatortristeza por tudo o que seu enteado havia passado. Kigula se declarou inocente pela segunda vez, mas a corte – e a mídia – não estavam convencidos.

A Suprema Corte reduziu a senteçaesportiva bet aviatorKigula para 20 anos. Descontado o tempoesportiva bet aviatorque ela ficou presa preventivamente,esportiva bet aviatorpena terminouesportiva bet aviator2016 e ela foi solta.

Liberdade

Ela diz que foi como estaresportiva bet aviatorum mundo novo, completamente diferente.

"Foi como ir à Lua! Eu não podia acreditar no que estava acontecendo comigo", diz ela

Seu pai tinha morrido enquanto ela estava na prisão eesportiva bet aviatormãe foi mortaesportiva bet aviatorum acidenteesportiva bet aviatorcarro apenas dois meses antesesportiva bet aviatorsua libertação.

Crédito, Isaac Kasamani/BBC

Legenda da foto, Susan Kigula conseguiu se reencontrar com a filha, hoje com 19 anos

Kigula começou a traçar novos objetivos. Ela queria que as autoridades reduzissem a sentença das outras 417 pessoas que fizeram o pedido para a mudançaesportiva bet aviatorlegislação no país. Embora dezenas tenham sido libertadas, como ela, algumas ainda estão atrás das grades.

Trabalhando com Alexander McLean no African Prisons, Kigula quer criar a primeira escolaesportiva bet aviatorDireito do mundo funcionandoesportiva bet aviatoruma prisão – e o primeiro escritórioesportiva bet aviatoradvocacia. A ideia é que prisioneiros formados ajudem os colegas que não podem pagar por representação legal.

"A esperança é criar uma nova geraçãoesportiva bet aviatoradvogados que siga os passosesportiva bet aviatorSusan", diz McLean.

"A Justiçaesportiva bet aviatorUganda não é igual à do Reino Unido", afirma ele. "As pessoas podem ser presas por serem gays. Mulheres estão no corredor da morte por não conseguirem ajuda médica para os filhosesportiva bet aviatoráreas rurais, ou porque seus maridos cometeram crimes e não podem ser encontrados."

"Claro que há pessoas culpadas na prisão. Mas nós acreditamos que todo mundo tem o direito a um julgamento justo. Eesportiva bet aviatoruma segunda chanceesportiva bet aviatorser útil à sociedade. Susan sempre se declarou inocente e quer uma chanceesportiva bet aviatorservir a sociedade."

Depoisesportiva bet aviatorlibertada, Kigula foi morar com a irmã e com a filha, hoje com 19 anos.

"Minha filha diz que eu sou uma heroína. Era tudo o que eu precisava ouvir depoisesportiva bet aviator16 anos longe dela."

A vida voltou a ser boa, diz ela.