Os riscos e benefíciosax pokerse enfrentar a menopausa com testosterona:ax poker

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Legenda da foto, Márcia decidiu recorrer a um novo médico depoisax pokertratamento convencionalax pokermenopausa fracassar

"Eu brigava no trânsito, discutia com pessoas na rua. Em casa, não tinha paciência com meus filhos e com meu marido. (A menopausa) também afetou totalmente minha vida sexual. Passado o período recuperatório, minha libido desapareceu totalmente, me sentia um ser assexuado", acrescenta.

Marcia acabou decidindo recorrer a um tratamento que muitos médicos consideram arriscado, mas que é cada vez mais comum: a terapia com testosterona.

Antes disso, porém, ela ainda tentou tratamentos mais tradicionais com seu ginecologista.

"(O médico) dizia para eu ter paciência, que era só uma fase. Ele entrou com um hormônio levinho (estrogênio) e eu sentia quase nadaax pokermelhora. Como viu meu desespero, entrou com uma medicação um pouco mais forte. Um hormônio sintético, Tibolona. Fiquei um pouco mais equilibrada e com zero libido. Continuava sem ânimo para nada, como se eu tivesse perdido a vontadeax pokerviver", lembra.

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Legenda da foto, Marcia toma injeções anuaisax pokertestosterona desde 2015

Foi aí que Marcia decidiu buscar uma segunda opinião, apesar da relaçãoax pokerextrema confiança que tinha com seu ginecologista. Ele havia feito os partosax pokerseus dois filhos. "Foi doído, mas eu não tinha mais condiçãoax pokerviver daquele jeito."

A pedido da nova médica, Márcia se submeteu a vários exames, para identificar a presençaax pokertumores.

"Os resultados estavam todos normais e como não tenho nenhum antecedente familiarax pokercâncer, ela me receitou a testosterona e o estradiol", explica.

E assim começou o tratamentoax pokerMarcia com testosterona, hormônio que é produzido pelo homemax pokergrandes quantidades eax pokerpequenas doses pela mulher.

Efeito na libido

Terapias à baseax pokertestosterona vêm ganhando adeptos internacionalmente, ainda que não haja estudos que comprovem a segurança desses tratamentos.

Na mulher, seu efeito mais conhecido é na sexualidade: age na fantasia sexual, no erotismo. E também na manutenção da massa muscular e no vigor físico.

Não há consenso científico sobre o tema, mas médicos ouvidos pela BBC Brasil associaram o usoax pokertestosterona a um aumento nos índicesax pokercolesterol e nos riscosax pokerarteriosclerose e do câncer.

Márcia diz ter sido informada sobre os riscos.

"Apesarax pokerser uma pessoa supernatureba para certas coisas, essa foi a forma que encontreiax pokercontinuar vivendo com qualidade", diz.

"A vida estava sofrida, desequilibrada e com tendência à depressão. A decisãoax pokertomar um hormônio mais forte foi a esperançaax pokervoltar a ser quem eu era", completa.

'Primeira injeção'

Márcia tomouax pokerprimeira injeçãoax pokertestosteronaax poker2015. As doses são anuais e, como as drogas podem aumentar o riscoax pokerenfartes, é preciso fazer uma avaliação cardiológica prévia alémax pokerexames periódicos para reavaliar os efeitos da medicação.

"A primeira coisa que percebi foi o retorno do sono. Voltei a dormir normalmente, por voltaax pokerseis horas por noite. A disposição melhorou. Pareiax pokerchorar - porque eu chorava muito. E a libido voltou. Voltei a viver", lembra.

"Meu marido amou. Ele estava achando que eu não tinha mais nenhum interesse nele e não era por aí. É que simplesmente você não consegue pensarax pokersexo. Algumas mulheres chegam à menopausa e a vida segue normalmente. No meu caso, tinha morrido para a vida. (Mas) não é todo mundo que pode tomar hormônio, então, a pessoa deve procurar um profissional competente para saber se tem condições ou nãoax pokerutilizar a medicação", ressalva.

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Legenda da foto, Antes do tratamento, Márcia diz que chorava o tempo todo e estava à beira da depressão

Terapia polêmica

Dúvidas quanto à segurança da terapiaax pokerreposição hormonal clássica, baseada principalmente no uso dos hormônios femininos, persistem na medicina há décadas e não há consenso sobre o assunto.

No caso da terapia à baseax pokertestosterona,ax pokeruso mais recente, a incerteza é ainda maior. Há menos estudos e os que existem tiveram curta duração.

Em 2014, as médicas Sandra Léa Bonfim Reis e Carmita Abdo, da Faculdadeax pokerMedicina da Universidadeax pokerSão Paulo (FMUSP), fizeram uma análiseax pokerestudos publicados entre 1998 e 2012 sobre benefícios e riscosax pokerterapias à baseax pokertestosterona para tratar a perdaax pokerlibido.

O relatório das pesquisadoras, publicado na revista científica Clinics, do Hospital das Clínicas da FMUSP, concluiu que embora não haja dúvidas sobre os efeitos positivos da testosterona na resposta sexual feminina, todos os estudos publicados no período avaliado foramax pokercurta duração (no máximo, 24 semanas).

"Portanto, é impossível tirar conclusões definitivas a respeito dos efeitos colaterais do uso da testosterona a longo prazo", diz o estudo.

Médicos ouvidos pela BBC Brasil têm opiniões divergentes sobre o assunto.

O ginecologista Manoel Girão, chefe do Departamentoax pokerGinecologia da Unifesp (Universidade Federalax pokerSão Paulo), diz estar preocupado com o que considera uma nova tendênciaax pokertratamentos no Brasil.

"Essa tendência é bem perceptível, intensa e colocada muitas vezes como isentaax pokerriscos. No entanto, há riscos. E ela (a testosterona) está sendo usadaax pokerforma excessiva", alerta.

Riscos

A BBC Brasil procurou o laboratório Bayer, fabricante do remédio Nebido - à baseax pokertestosterona - para pedir dados sobre as vendas atuais no Brasil. A empresa não disponibilizou a informação.

"Não tenho um número exato mas, hoje, estudos da sexualidade atingem uma parcela significativaax pokermulheres com idades entre 45 a 55 anos. E (nesse grupo) o númeroax pokerpedidosax pokerterapias para melhorar a libido é alto, entre 20 e 25%", diz Girão.

"Os riscos mais conhecidos e usuais são aumentoax pokeralterações (nos índices)ax pokercolesterol e triglicerídeos. Alterações nos níveisax pokerlipídios. Aumento nos riscosax pokerdoenças vasculares, por exemplo, a arterioesclerose. E, a depender da dose, aumento nos riscosax pokercertos tiposax pokercâncer", acrescenta o especialista.

Girão ressaltou que múltiplos fatores interferem na libido feminina.

"A libido é o relacionamento, o estresse do cotidiano, o quadro hormonal. A testosterona resolveria uma partezinha desse todo, mas com riscos. Uma mulher, para sentir vontadeax pokerter relação, precisa se sentir bonita consigo mesma, admirada, cortejada, respeitada pelo parceiro. Ela precisa desse contexto todo", explica.

Por outro lado, diz o médico, a forma como a mulher vive e pensa a menopausa está vinculada a valores sociais.

"A sociedade está cobrando da mulher vigor e aparênciaax pokerjuventude para sempre. Não dá para esperar que uma mulherax poker60 anos se vista ou se porte como asax poker20 anos. É uma beleza diferente", pontua.

Girão reitera que não indicaria testosterona para resolver problemasax pokerlibidoax pokersuas pacientes.

Menopausa

A médica britânica Heather Currie, presidente da Sociedade Britânicaax pokerMenopausa, concorda parcialmente com o médico brasileiro.

"A libido e o desejo sexual são afetados por muitos fatores, não apenas a perda da testosterona", diz Currie à BBC Brasil.

"A menopausa produz muitos sintomas que, juntos, podem afetar a libido. Por exemplo, aumentoax pokerpeso e o ressecamento vaginal, muito comum nesse período", acrescenta.

Mas, quando a terapiaax pokerreposição hormonal convencional não funciona, a testosterona pode ter um papel a cumprir, opina Currie - "especialmenteax pokercasosax pokerque a paciente vivenciou uma queda brusca na produçãoax pokertestosterona por ter tido seus ovários extraídos".

"Essas mulheres têm maior probabilidadeax pokerse beneficiar da testosterona - mas somente se a terapiaax pokerreposição hormonal comum não funcionar", ressalta a médica.

"Nem toda mulher que teve seus ovários extraídos precisará tomar testosterona", acrescenta.

A médica Helena Hachul, especialistaax pokerginecologia e medicina do sono, responsável pelo Setor Sono na Mulher da Unifesp, vem oferecendo a testosterona - quando a terapia clássica não funciona e se as condições clínicas do paciente não oferecem riscos, explica ela.

"Chego a usar terapia androgênica (com testosterona)ax pokercercaax poker5% a 10% dos casos. Muitas mulheres pedem, vamos dizer, metade delas atualmente - acho que pela moda do tema. Mas quando explico as evidências e a linha acadêmica, elas aceitam sem problemas", assinala.

No entanto, o monitoramento da paciente é essencial, adverte Hachul.

"O androgênio pode piorar o perfil lipídico, aumentando o riscoax pokerdoenças cardiovasculares, por isso é importante acompanhar dosagensax pokercolesterol e a pressão sanguínea", diz.

Hachul tem, no entanto, uma visão positiva desse período na vida da mulher.

"Acredito que, exatamente após a menopausa, a mulher atinge a maior maturidade. Já é mais segura. Viveu bastante e tem muita experiênciaax pokervida", nota.

A médica conta que trabalhou com pacientes na menopausaax pokerseu doutorado e se apaixonou por essa fase na vida da mulher. Essas mulheres, diz ela, "me ajudaram a ver o mundo com outros olhos".