Nós atualizamos nossa PolíticaPrivacidade e Cookies
Nós fizemos importantes modificações nos termosnossa PolíticaPrivacidade e Cookies e gostaríamos que soubesse o que elas significam para você e para os dados pessoais que você nos forneceu.
A chinesa adotada nos EUA que terminou com 50 ‘pais biológicos’:
Jenna fez parte da primeira levacerca200 bebês chineses adotados por famílias americanas. Outros casos se sucederam - cerca80.000 crianças, sendo a maioria do sexo feminino, foram morar nos Estados Unidos, enquanto 40.000 seguiram para Holanda, Espanha e Reino Unido.
Ela sempre soube que tinha sido adotada.
"Nós falávamos sobre adoção assim como discutíamos o que teria para o jantar. Nunca vi isso como algo extraordinário", conta a jovem.
Mas,vezquando, ela se perguntava sobre suas origens.
"Olhando para o seu próprio umbigo, você pensa consigo mesmo: 'Eu costumava estar ligada a outro ser humano, ao corpoque fui gerada, mas quem é essa pessoa? Ela realmente existe? Tudo parece tão abstrato. Às vezes parece que você simplesmente apareceu no planeta".
"A maioria das pessoas cresce nas famíliasque nasceu e nunca pensa sobre isso. Já para quem foi adotado existe sempre a possibilidadeoutra vida", acrescenta.
Quando era adolescente, Jenna foi uma das quatro crianças chinesas a participar do aclamado documentário Somewhere Between,2011. A diretora Linda Goldstein Knowlton, que também tinha adotado um bebê na China, resolveu documentar a vida dessas jovens.
O nome do filme foi inspiradoalgo que Jenna disse: "Acho que nunca poderia me considerar totalmente chinesa ou totalmente americana - vou estar sempre no meio do caminho".
A jovem15 anos que aparece no documentário é uma estudante dedicada e com excelentes notas. É bem-sucedida e amada, mas vive assombrada por uma eterna dúvida. Por que seus pais a abandonaram? Ela teria feito algo errado?
Quando tinha 20 anos e estudava na UniversidadeYale, Jenna ganhou uma bolsa para viajar para a China e começarprópria busca. Em parte, se tratavauma atividade acadêmica - ela esperava que a pesquisa pudesse ajudar alguns dos 80.000 chineses que, assim como ela, foram adotados nos Estados Unidos. Mas é claro que também era algo profundamente pessoal. Por isso, pediu que a mãe adotiva, Margaret, a acompanhasse.
Jenna imprimiu folhetos com fotos suasdiferentes idades e as poucas informações que tinha sobre as circunstânciasque foi encontrada. Ela distribuiu o material nas ruasWuhan e ouviu diversos relatos.
"Eu tive um vizinho que tinha uma filha numa situação parecida". "Um primo abandonou o filho, mas não lembro se foi92 ou 93".
Jenna ficou fascinada. "Fiquei bastante surpresa com o fatoque as pessoas estavamfato prestando atençãomim. Vi que sou apenas uma históriameio a uma enorme migraçãocrianças da China", diz.
"Era como se eu fosse apenas uma gotachuva no oceano".
Uma semana apóschegada, um jornal local publicou um artigo sobrebusca. Era curto e estava escondido na página cinco, mas a chamada comovente chamava a atenção: "Pai, Mãe: Esperoverdade que eu possa abraçá-los. Obrigada por me colocarem nesse mundo".
A repercussão foi enorme. Nas semanas seguintes à publicação do artigo,25maio2012, a buscaJenna viralizou. Centenasmensagens começaram a chegar via redes sociais.
"As reações foram polarizadas", conta. Algumas pessoas diziam: "Aprocura é fantástica, espero que você seja capazencontrar seus pais e que seu sonho se torne realidade". Já outros afirmavam: "Esse é um erro tão grande, você está desperdiçando seu tempo e energia". Ou ainda: "Você é tão ingrata comfamília americana, você precisa voltar para a América imediatamente".
Dentre a enxurradamensagens, havia respostaspessoas que acreditavam ser os paisJenna. Ela chegou a uma lista50 famílias que diziam ter deixado um bebê na mesma ruaWuhan,março1992.
Alémficar chocada com o número, Jenna se surpreendeu com a iniciativa dessas famíliasse manifestar. Afinal, é contra a lei abandonar uma criança - e após a publicação do artigo no jornal, a televisão chinesa começou a acompanharperto abusca.
"Essas pessoas tecnicamente cometeram um crime e estão dispostas a aparecer na televisãorede nacional. Isso era simplesmente impensável", diz .
Jenna e a mãe combinaramencontrar as 50 famílias. Alguns pais e mães foram sozinhos, enquanto outros levaram toda a família, inclusive os avós.
Ela abordou inicialmente os encontros sob um pontovista acadêmico. E disse a si mesma que estava lá para coletar histórias.
"Se eu tivesse ido a cada encontro pensando: 'Talvez seja essa (a família)', eu estaria totalmente esgotada ao fim do dia", afirma.
Jenna diz que estava preocupada com o que a família pensaria dela.
"Estava preocupada que talvez tivesse feito algo errado, e por isso que eles tinham me abandonado. Pensei que eles poderiam estar bravos comigo", revela.
A preocupaçãoJenna pode ser explicada pelo preconceito que cerca a questão.
"Nos Estados Unidos, existe uma crençaque os pais chineses abandonam as crianças porque não gostammeninas, e talvez nem sequer se lembrem delas", afirma.
Mas ela logo descobriu que não era o caso.
"Todos se lembravamseus bebês - era algoque eles realmente se arrependiam e nunca esqueceriam", conta.
Uma mulher levou um pedaçopano azul e vermelho - uma relíquia que ela guardava com carinho. Era o tecido da roupa do bebê que tinha deixado.
"Ela guardou esse retalho por 20 anos, como uma lembrança da filha. E sonhava que quando a reencontrasse, a filha teria a roupinhabebê e ela mostraria o tecido - como se fosse uma chave e a fechadura".
Infelizmente, Jenna não reconheceu o material.
"Eu só me lembrobalançar a cabeça, eu nunca tinha visto aquilo. E a pobre mãe simplesmente desabou, ela estava devastada", recorda-se.
Outro homem que conheceu, um motoristaônibus, passara muito tempo procurando a filha. Sempre que passava pela cidade, ele voltava ao local onde havia deixado a criança e perguntava por ela. Ele tinha deixado um bilhete com a filha, para que ela crescesse sabendo seu nome.
Cada família se aproximavaJenna como se ela fossefilha. Por um breve momento, eles representaram a parte que faltava um no outro. Uma mãe chegou até a pentear os cabelosJenna. Segundo ela, eles queriam saber se ela estava bem.
"Sua mãe adotiva é boa para você ou te magoa?" Ela te dá comida suficiente? ", questionavam.
Jenna então os tranquilizava, dizendo que estava sendo bem cuidada.
"Eles ficaram muito felizessaber que eu não estava sofrendo esse tempo todo".
E perguntava a eles, porvez:
"Eu fiz algo para que você me abandonasse? Se eu fosse mais bonita ou mais comportada e chorasse menos, isso mudariadecisão?"
Todos a tranquilizaram.
"Os pais só se lembravamsua bebêforma amorosa", conta.
Uma vez que as histórias batiam, as famílias passaram a buscar semelhanças físicas com Jenna - como altura, formatopé ou mão. Às vezes, procuravam marcasnascimento. E, se sentiam que havia semelhanças suficientes, colhiam amostrasDNA. No total, 37 famílias optaram por fazer o exame.
Infelizmente, o resultadotodos os testes foi negativo. Um duro golpe para Jenna.
"Foi difícil encarar os resultados negativosDNA porque eu queria muito ser filhacada uma daquelas famílias", diz.
"Ser a pessoa que poderia ajudar a aliviar o sofrimento deles - quem não gostariaser essa pessoa?", completa.
Apesar disso, Jenna acredita que a experiência foi positiva.
"Antes, tinha sempre uma pequena partemim que sentia que havia algo que eu poderia ter feito há 20 anos para ter mudado meu destino e não ter sido abandonada pela minha família", diz ela. "Mas depoisconhecer esses pais, eu percebi que estava realmente fora do meu controle", declarou.
Como acadêmica, ela mudou completamenteperspectiva.
"É uma experiência totalmente diferenteler um livrohistória sobre a política do filho único ou ler que os pais abandonavam seus filhos ou cometiam infanticídio", afirma.
"Conhecer pessoas que viveram essa experiência, ver seu enorme arrependimento e grande amor por aqueles bebês - é algo indescritível", completa.
Jenna passou o último verão trabalhando na China, mas reduziu o ritmosua procura.
"Eu adoraria ter a chanceme reunir com minha família biológica algum dia", diz ela. "Mas não posso dizer que vai acontecer".
Principais notícias
Leia mais
Mais lidas
Conteúdo não disponível