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'Fico com pena e levo pra casa': o guardabetano 100SP que acolhe usuáriosbetano 100crack e moradoresbetano 100rua:betano 100
O Facebook é uma das principais ferramentas que Moraes usa para encontrar as famílias dos moradoresbetano 100rua.
Mas os compartilhamentos na rede também o levaram a conhecerbetano 100mulher, Karyne Santana Xavierbetano 100Moraes, 29. "Eu sempre compartilhava as postagens dele e a gente começou a conversar. Nos encontramos, namoramos dois anos e casamos", contou ela.
Hoje, Moraes vivebetano 100uma casa alugadabetano 100Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) com a mulher Karyne e o pedreiro Geraldo Martins,betano 10063 anos, que foi resgatado quando morava nas ruasbetano 100São Bernardo do Campo, também na Grande SP.
O guarda levou o desconhecido para dentrobetano 100sua casabetano 100fevereiro depoisbetano 100ver um alerta no Facebook para o caso dele - o senhor que saírabetano 100Pernambucobetano 100buscabetano 100um emprego e estava morando na rua.
"Ele trabalhabetano 100São Paulo e a esposa dele fica sozinha. Não sei como ele teve coragembetano 100me trazer. Ele confia demaisbetano 100mim. É amizade demais nós, parece que ele é meu filho", disse Geraldo com lágrima nos olhos. Até mesmo os dois gatos e o cãobetano 100estimação do guarda civil foram adotados da rua.
Leia o depoimentobetano 100Marcosbetano 100Moraes à BBC Brasil:
Eu nascibetano 100Mogi das Cruzes (Grande SP), onde moro até hoje. Tive uma infância muito boa, embora eu tenha perdido meu pai com seis anos. Um pai faz falta, mas consegui me adaptar muito bem com meu padrastro.
Todo menino quer ser herói e na minha infância os meninos sonhavambetano 100ser jogadorbetano 100futebol. Eu também, mas eu jogava muito mal. Então, eu me direcionei para ser policial e sempre queria ser o mocinho nas brincadeirasbetano 100polícia e bandido.
Vendi ferro-velho e,betano 1001990, comecei a vender cachorro-quente na porta da Universidade Mogi das Cruzes. Foi quando comecei a me aproximarbetano 100moradoresbetano 100rua.
No fim da noite, sempre chegavam um ou dois pedindo um lanche e, claro, eu dava. E aproveitava para perguntar o motivobetano 100estarem na rua. Cada um tinha uma história e ali começou a despertar a minha atenção para o lado dessas pessoas excluídas da sociedade.
Alguns diziam até que o prefeito os transportavam para uma área afastada e eles só chegavam novamente à noite no centro da cidade.
Depoisbetano 10012 anos vendendo lanches, passei a vender cerveja e,betano 1002008, eu fiz concurso e entrei na Guarda Civil Metropolitana (GCM). Foi lá que me realizei profissionalmente.
25 anos na rua
Na GCM, tive a oportunidadebetano 100me aproximar das pessoasbetano 100situaçãobetano 100rua para tentar ajudá-las da forma que eu pudesse.
Em oito anos na GCM, eu já encaminhei cercabetano 10050 moradoresbetano 100rua para clínicasbetano 100reabilitação oubetano 100volta para suas famílias. Até hoje eu tenho contato com alguns deles e até ligo para saber como estão.
Eu sempre converso com a família do senhor Claudiocir, que era viciadobetano 100crack e morou 25 anos na rua. Quando o conheci, perguntei se ele deixaria as drogas se eu encontrassebetano 100família, que moravabetano 100Poções, na Bahia.
Ele, que morava sob uma tábua, disse que sim e eu fui atrás. Pedi ajuda na rádio da cidadebetano 100Poções até encontrar a mãe dele. Vizinhos que ouviram o apelo e até o próprio radialista foram até a casa dela.
Disseram que a senhora até deixou o café no fogo e deu pulosbetano 100alegria quando soube notícias do filho.
O reencontro foi maravilhoso. A TV Record se interessou pelo caso, levou o rapaz para uma clínicabetano 100reabilitação e depois pagou a passagembetano 100volta.
Pedreirobetano 100Olinda
Alguém encontrou o seu Geraldo na rodoviáriabetano 100São Bernardo do Campo, na Grande SP, e publicaram a foto dele no Facebook dizendo que ele quer voltar para casa, mas ninguém o ajudava.
Eu e minha esposa fomos lá para ajudá-lo. Fizemos uma selfie na frente com uma brincadeira para ver o que faria. Ele brincou com a gente falando que estávamos fazendo uma foto dele. Em seguida, disse que não tinha problema.
Perguntei se ele queria mudarbetano 100vida porque eu estava disposto a ajudá-lo. Ele falou que queria porque aquilo não era vida.
Ele veiobetano 100Pernambuco com a promessabetano 100um trabalho, mas não conseguiu e foi para a rua. Isso acontece com a maior parte das pessoas que moram na rua.
O Geraldo tinha um pequeno problema com álcool porque hoje é praticamente impossível alguém estar na rua e não ser usuário, no mínimo,betano 100bebida alcoólica por conta do frio.
Eu então o chamei para ir embora comigo. Perguntei se ele não era pedreiro e disse que também tinha um serviço na minha casa que ele poderia fazer e ainda encontraria mais trabalho para ele.
Ele nem parou para pensar na resposta. Se despediu dos amigos, entrou no meu carro e a gente foi embora.
Ele dormebetano 100um cômodo no fundo da minha casa e me ajudabetano 100uma obra. O seu Geraldo já faz parte da minha família. A comida que ele almoça é a mesma que a nossa, toma café da manhã com a gente, passeia, viaja. Ele está bem feliz.
O Geraldo tem 52 anos e é muito respeitoso. Eu saiobetano 100casa e deixo ele sozinho com a minha mulher, mas nunca tive nenhum tipobetano 100problema.
Ele até nos mostrou na internet a casa onde ele morabetano 100Pernambuco, onde os filhos e a mulher estão. A intenção dele agora é guardar um dinheiro através do trabalho e visitar a famíliabetano 100outubro.
Mas ele não quer morar lá. Ele quer passear e voltar para São Paulo. Ele diz que aqui é o lugar onde ele se sente feliz. Ele colocou uma arcada dentária nova, comprou roupas. O único mal dele hoje é o cigarro, mas ele prometeu que vai parar.
'Está com dó? Leva para casa'
Eu já ouvi muita gente dizer: "Está com dó, leva para casa". Esses são os primeiros a apontar, a dizer que eles estão ali [na rua] porque querem.
Não é assim. Os moradoresbetano 100rua merecem no mínimo serem ouvidos, merecem atenção.
Isso é antigo. Tem uma passagem na bíblia com o homem caído que é ignorado pelas pessoas que poderiam ajudá-lo. Mas um passa e vem para ajudá-lo. Esse sou eu. Se tiver no meu alcance, vou ajudar na hora.
E tem muita gente assim. Tem gente que não aguenta só ver, mas também ajuda. Se eu puder dividir um pratobetano 100comida eu divido.
Com o seu Geraldo não foi diferente. Ele se propôs a mudarbetano 100vida e está comigo até hoje. Levei para casa mesmo.
Fim da vidabetano 100casa
Eu encontrei o Felipe Furlán,betano 10023 anos, na portabetano 100um mercado na avenida Ipiranga, no centrobetano 100São Paulo. Me aproximei e perguntei se ele queria voltar para casa.
Ele respondeu que sim e quebetano 100família erabetano 100Piracicaba (a 160 km da capital). Lancei uma campanha no Facebook e os compartilhamentos chegaram até o irmão dele, que viu e me procurou. A família já tinha até feito um boletimbetano 100ocorrência por desaparecimento.
No dia do reencontro, paguei um banho para o Felipe numa pensão e fui na [rua] 25 [de Março] e comprar umas roupas para ele. Quando a mãe dele chegou, até passou direto porque não o reconheceu porque ela tinha como base as fotos que eu havia passado, dele com roupas sujas, barbudo e cabeludo.
Quando eles se encontraram, foi só alegria. Essa é a melhor parte da história. Nada pagar ver um filho voltar para casa nos braços da mãe, do irmão ebetano 100um primo.
O Felipe voltou para casa com eles e, passados dois anos, infelizmente ele sofreu um acidente veio a falecer. Mas a minha parte nessa históriabetano 100vida é que ele passou os dois últimos anosbetano 100vida ao lado da família. E isso não tem preço."
O dilema
Em 2008, me aproximeibetano 100um senhor na praça Buenos Aires,betano 100Higienópolis, no centrobetano 100São Paulo. Era o senhor Antônio, que falou: "A coisa que eu mais queria era rever meu filho, que hoje deve ter 25 anos. Eu não o vejo desde os 3 anos, quando briguei com minha mulher e saíbetano 100casa."
Achei o nome do filho dele numa listabetano 100concurso público e descobri que ele trabalhava como carcereiro. Consegui o telefone delebetano 100um boletimbetano 100ocorrência e liguei empolgado para dizer que tinha achado seu pai.
Ele atendeu o telefone e respondeu, exaltado, que seu pai estavabetano 100casa e que eu estava louco. Pedi desculpas e disse que me enganei.
Eu tinha certeza que aquele era o filho do Antônio, mas preferi tomar essa decisão para não estragar a família. A mãe dele deve ter encontrado outro homem e disse que era o pai dele, quando ainda tinha 3 anos. E nessa área, eu não posso entrar.
Voltei e disse para o Antônio que não encontrei o filho dele.
Ampliação
Eu dependo da ajudabetano 100muita gente para fazer esse trabalho social porque ninguém faz nada sozinho. E eu precisobetano 100muita gente para me ajudar. Não financeiramente. Quando há gastos, são meus.
A primeira coisa que a pessoa precisa é se alimentar, mas isso é obetano 100menos. Se a pessoa precisabetano 100uma passagem, eu que pago, comprar roupa, eu compro. O que tiver que fazer eu faço com o maior prazer, nunca me faltou nada.
Algumas pessoas já quiseram me ajudar com passagens. É sempre bem-vindo, mas eu quero profissionalizar isso, talvez criando uma ONG.
O meu comandante na GCM, Gilsonbetano 100Meneses, me dá todo o apoio necessário dentro da corporação. Se eu precisarbetano 100carro, tenho à disposição. Isso é muito importante.
Quando eu preciso fazer uma busca, o computador da guarda está à minha disposição também. Mas eu também faço issobetano 100casa como uma extensão desse trabalho social. Esse é o meu dom.
betano 100 Vídeo: Matheus Brant
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