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O traumabet sport ioanimais que viveram com 'acumuladoresbet sport iopets':bet sport io
Ao adotar Rufus, passou a cuidarbet sport ioum pet muito amedrontado e traumatizado, que ainda é desconfiado e não interage com pessoas diferentes das que convive no dia a dia.
Não é agressivo, mas tem receio atébet sport iopassear, não gostabet sport iobola nembet sport iooutros brinquedos que as pessoas estão acostumadas a usar com os animaisbet sport ioestimação.
Com a orelha deformada por causa dos maus tratos, Rufus apresenta dificuldadesbet sport ioaudição, falhas na visão, catarata e outros males da idade.
Apesar disso, o cachorro tem a vida que seus irmãos sonhariam: muito conforto no apartamento onde mora com o tutor, banhos no pet shop, looks sincronizados com osbet sport ioLuchino (seja na praia, nas festasbet sport iorua ou passeios), e todo ano, no dia 7bet sport ioagosto, ganha uma festinha temáticabet sport ioaniversário, por ter sido a databet sport ioque foi adotado pelo empresáriobet sport io2019.
"Temos uma relação muito bonita. Fico imaginando como vai ser no diabet sport ioque ele se for — por ser idoso — e não gosto nembet sport iopensar muito nisso", diz Luchino, que até tatuou o rosto do cachorro no antebraço.
"Rufus já seria lembrado até o fim dos meus dias, mas agora ficou gravado", declarou o tutor sobre fazer o desenho.
A história com final feliz, no entanto, está longe da realidadebet sport iooutros animais.
Rufus, que até hoje tem sequelas e traumas, veiobet sport ioum local que ficou conhecido como Casa da Avenida Norte, no bairro da Encruzilhada, no Recife.
Em 2015, o donobet sport ioum imóvel descobriu que as duas inquilinas estavam criando maisbet sport io130 cãesbet sport iocondições insalubres.
Entre outros problemas, os animais estavam, literalmente, se matando ao brigar, devido à fome.
Com denúncias e ordembet sport iodespejo, entrarambet sport ioação o Ministério Públicobet sport ioPernambuco (MPPE), a Secretaria-Executiva dos Direitos dos Animais (Seda), a Secretariabet sport ioSaúde do Recife e o Centrobet sport ioVigilância Animal (CVA), alémbet sport ioprojetos sociais, ONGs e ativistas.
Com grande mobilização, eles foram castrados, vacinados e vermifugados, sendo que parte foi doada atravésbet sport ioprojetosbet sport ioadoção, e outra parte, a dos cachorros mais traumatizados ebet sport iodifícil convívio, foi ficandobet sport iohotéis e lares temporáriosbet sport ioprotetores independentes - como são chamados aqueles que não possuem ONGs registradasbet sport iocartório, e são maioria dentro da causa animal.
Quanto às duas mulheres, ainda foram autorizadas a levar maisbet sport io10 animais sem castrar, e o problema voltou à tona: cercabet sport iodois anos depois, foi descoberto que elas estavam, novamente, acumulando animaisbet sport ioum imóvel no mesmo bairro da Encruzilhada, sob condições precáriasbet sport iohigiene. Dessa vez eram cães e gatos.
Os ativistas denunciaram através do poder público,bet sport ioemissorasbet sport ioTV locais, e toda a comoção se repetiu, inclusive porque uma das inquilinas, já idosa com problemasbet sport iosaúde, foi encontrada morta no chão tempos depois, com os animais ao redor dela.
Após o falecimento, os defensores se mobilizaram para tentar ajudar os animais, mas muitos cães sumirambet sport ioforma inexplicável.
Reflexo da realidade
A advogada e jornalista Laura Atanasio, que acompanhoubet sport ioperto o caso da Casa da Avenida Norte e entrou para a causa animal naquela época, destaca que a experiência das duas mulheres deixou marcas incuráveis nos cachorros.
"Todos eles são muito assustados e traumatizados, como é o casobet sport ioRufus, que saiubet sport iolá. Eles nem permitem que a gente pegue nos braços, e muitos urinam ou defecambet sport iotanto medo se alguém pegar no colo. É importante dizer que existem aqueles defensores que acumulam cães e gatos por consequênciasbet sport ioabandonos, mas fazembet sport iotudo para não faltar nada para eles, principalmente amor e carinho."
"Mas esses são acumuladores do bem. E tem os acumuladores do mal, como o caso dessas mulheres, que alémbet sport iocriar um número muito maior do que o espaço permite, o fazbet sport iocondições insalubres e ainda maltratambet sport ioforma agressiva os animais", esclarece Laura, cofundadora do projeto SOS Amigo dos Animais, que trabalha com resgates, cuidados e adoçõesbet sport ioanimais abandonados na Região Metropolitana do Recife.
A advogada ressalta ainda que os problemasbet sport ioacúmulos dos cães são bastante comunsbet sport ioPernambuco porque muitas pessoas, principalmente as que têm condições financeiras mais humildes, se esforçam para ajudar os animais, sem contar com apoio.
"Elas dão o melhorbet sport iosi, passam necessidade para não deixar faltar nada para os bichos, mas quando outras pessoas veem que tem aquele determinado protetor animalbet sport ioum lugar, acaba sempre 'descarregando' mais um na conta", afirma.
"E cada vez mais esses protetores estão com suas casas repletasbet sport iocães e gatos, sem ninguém ajudar. O que não se levabet sport ioconsideração é a saúde mental desses defensores, que ficam prestes a enlouquecerbet sport iotanto estresse, com uma carga tão pesada. Muitos perdem o controle ou se afastam para não perder a vida própria e a saúde mental".
Um exemplo disso é Pollyanna Barros, defensora à frente do projeto Cats Recife, que cuidabet sport iomaisbet sport io38 gatosbet sport ioestados gravesbet sport iosaúde, e cuja mãe, Auristelabet sport ioBarros e Silva,bet sport io73 anos, cuidabet sport iomaisbet sport io35 cães dentrobet sport iosua própria casa - com graves riscos da estrutura despencar.
Pollyanna costuma pedir ajuda financeira aos seguidores nas redes sociais para arcar com as despesas, e são comuns os posts que ela faz à beira do desespero causado pela situação.
'Abrigos podem ser uma porta para o inferno'
Com envolvimento histórico na causabet sport ioPernambuco, Goretti Queiroz alerta para os riscosbet sport iomanter abrigos sem estruturas, na tentativabet sport ioajudar.
"Se o espaço não tem como separar os animais e oferecer uma qualidadebet sport iovida melhor do que ele teria na rua, não faz sentido porque eles vão brigar até se matarbet sport ioforma violenta, sem falar no riscobet sport ioum transmitir doenças para os outros", disse a protetora.
"Tentamos defender o conceitobet sport iocães comunitários, onde os animais que vivembet sport iodeterminados bairros são amparados pela população com uma casinha, comida e medicamentos. E os cães adotados por empresas, com direito a crachá e tudo, naquelas maiores. A ideiabet sport ioo protetor querer colocar os cães no abrigo é compreensível pela boa intenção, mas muitas vezes o abrigo, que deveria ser um paraíso para ele ao tirar o animal da rua, pode se tornar uma porta para o inferno".
Somando maisbet sport io50 mil castraçõesbet sport io15 anosbet sport ioativismo, Goretti defende a esterilizaçãobet sport iomassa desses animais.
"Toda semana arrecadamos dinheiro para fazer o que chamamosbet sport iomutirões, que são aquelas castraçõesbet sport iovários cães e gatos no mesmo dia. Não podemos esperar eles serem doados para isso, tem que castrar para depois doar."
Laura acrescenta que a castração pediátrica dos animais, antesbet sport ioatingirem a maturidade sexual, é fundamental tanto para o combate ao abandonobet sport iofilhotes nas ruas, quanto para a prevenção e controlebet sport iomuitas doenças degenerativas.
"É uma medida quebet sport iooutros locais funciona muito, masbet sport ioPernambuco as pessoas não concordam. Recife é atrasadobet sport iotermosbet sport iocastração. Fizeram um hospital veterinário público que não tem médicos ou equipamentos suficientes."
Ambas concordam, ainda, que o problemabet sport ionão ter dados disponíveis para formar uma estatística sobre abandono dificulta o trabalho dos protetores.
"Como não temos uma pesquisa oficial feita pelas prefeituras, seria interessante se aqueles agentesbet sport iosaúde ou vigilantes que fazem visitas domiciliares perguntassem nas casas quantos animais têm, e naquela determinada rua quantos vivem soltos. Assim, anotando isso, chegaríamos num número aproximado para planejar as castraçõesbet sport iotodos e atender com serviços veterinários os que ficam nas ruas", explica Goretti.
"Realizo um trabalho voluntário com um projetobet sport ioabandonobet sport iogatosbet sport ioum pontobet sport iozona nobrebet sport ioRecife. Estamos contabilizando, há quase um ano, quantos estão sendo largados para morrer, e são centenas", diz Laura.
"E quando pedimos audiência para resolver isso, o poder público diz com todas as letras que não pode fazer muita coisa a respeito".
Problema nacional
Enquanto na capital as defensoras ouvidas pela reportagem reclamam do descaso do poder público, no interior do Estado o problema é ainda maior. A ONG Amigos dos Animais,bet sport ioTaquaritinga do Norte, é um exemplo do que acontece no Agrestebet sport ioPernambuco.
Em três anos, maisbet sport io600 animais foram atendidos: muitos morreram, outros foram doados, e hoje a ONG atende maisbet sport io250 gatos e cachorros, sendo que estes ficambet sport ioum abrigo improvisadobet sport ioum galpão lotado, que se depara com o problema citado anteriormente: por faltabet sport ioestrutura, muitos se matam com violência.
"O ideal seria um espaço construído para isso, e é cada vez mais urgente, mas faltam os recursos, porque muito mal conseguimos manter os animais com comida e medicamento", diz a tesoureira e cofundadora da ONG, Maria Sandra da Conceição.
"O principal problema aqui é que está forabet sport iocontrole pelo descaso das pessoas:bet sport iouma semana, enquanto salvamos ou castramos um animal, já tem outras na rua no cio com maisbet sport io20 cães atrás delas", completa a defensora.
O problema, infelizmente, está longebet sport ioser caso isoladobet sport ioPernambuco. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que no Brasil existem maisbet sport io30 milhõesbet sport ioanimais abandonados, sendo cercabet sport io10 milhõesbet sport iogatos e 20 milhõesbet sport iocães.
Já um estudo realizado pelo Instituto Pet Brasil diz que o númerobet sport ioanimaisbet sport iosituaçãobet sport iovulnerabilidade aumentoubet sport io3,9 milhõesbet sport io2018 para 8,8 milhõesbet sport io2020. Além das estatísticas crescerem, os dadosbet sport ioadoção não acompanham.
O casobet sport ioacumuladores, como definiu Laura sobre a Casa da Avenida Norte,bet sport ioRecife, se repetebet sport iooutras partes do país: na última sexta-feira (21/10), após denúnciabet sport iovizinhos, as autoridades sanitáriasbet sport ioValparaíso,bet sport ioGoiás, recolheram 240 gatos e 120 cachorrosbet sport iouma acumuladora da região.
Entre eles estavam várias gatas prenhes, outras recém-paridas com filhotes desnutridos e doentes. Todos foram encaminhados para o Centrobet sport ioControlebet sport ioZoonoses local e os defensores animais se mobilizaram para ajudar.
Vale destacar que não é apenas faltabet sport iomedidas públicas. Teoricamente, muito já foi feito. Várias cidades reservam verbas após decretos municipais determinarem criaçãobet sport ioabrigos decentes. Já há lugares com a disciplinabet sport ioDireitos dos Animais nas escolas públicas, a fimbet sport ioeducar os jovens para o problema desde cedo.
Existem as leis que proíbem fogosbet sport ioartifício com barulho - que causam muitas mortes e fugas dos animais assustados. O abandono ou maltrato é crime previsto na Leibet sport ioCrimes Ambientais, desde 1998. Mas, na prática, o problema dos animaisbet sport iorua parece longebet sport ioacabar.
- Este texto foi publicado originalmentebet sport iohttp://vesser.net/brasil-63464250
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