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'Vamos falar a realidade das coisas': mãe negra conta por que decidiu falaresportes da sorte mobileracismo desde cedo para os filhos pequenos:esportes da sorte mobile
O diálogo entre pais e filhos sobre racismo voltou a ser debatido intensamente nos últimos dias após a repercussãoesportes da sorte mobileum ato racista contra dois filhos dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. O casal estavaesportes da sorte mobileum restauranteesportes da sorte mobilePortugal quando as crianças foram vítimas do ataque.
A agressora é uma mulher branca, que, segundo testemunhas, também ofendeu outros clientes negros. Ela foi levada para uma delegacia da Guarda Nacional Republicana, onde prestou depoimento e foi liberada.
Nesta segunda-feira (1/8), a políciaesportes da sorte mobilePortugal confirmou ao Jornal Hoje, da TV Globo, que recebeu uma queixa formal sobre o caso e abriu uma investigação. Ainda segundo o telejornal, a mulher pode pegar uma penaesportes da sorte mobileseis meses a cinco anosesportes da sorte mobileprisão - tudo dependeesportes da sorte mobilecomo a Corte Portuguesa vai enquadrar o caso.
A atriz Giovanna Ewbank disse, durante a entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, que "fala muito sobre" racismo com os filhos.
"É muito cruel pensar que Titi e Bless, que têm 9 e 7 anos, já têm que ser fortes. Que eles já precisam ser preparados para combater o racismo, sendo que com 9 e 7 anos são duas crianças que teriam que estar vivendo sem pensaresportes da sorte mobileabsolutamente nada", lamentou a atriz durante a entrevista.
Ewbank disse ainda como o fatoesportes da sorte mobileela ser branca pode ter mudado a forma como foi encarada aesportes da sorte mobilereação após os filhos serem vítimas do ato racista - a atriz enfrentou a responsável pelo ataque e contou que houve confronto físico.
"Acho que ela nunca esperava que uma mulher branca fosse combatê-la como eu fui, daquela maneira. Eu sei que eu, como mulher branca, indo lá confrontá-la, a minha fala vai ser validada. Eu não vou sair como a louca, a raivosa, como acontece com tantas outras mães pretas, que são leoas todos os dias, assim como eu fui nesse episódio", disse Ewbank ao Fantástico.
Joice afirma que se uma mãe negra reagisseesportes da sorte mobileforma semelhante à atriz, a situação poderia ter outro contorno. "Se fosse uma mãe negra no Brasil, possivelmente iam depreciar, falar que é doida e agressiva, violenta e ocorreria um racismo triplo, envolvendo as crianças e a mãe."
'Enquanto o racismo reverberar na sociedade, não há como ignorar'
Para Joice, conversar com os filhos sobre racismo foi um "um processo natural". "Não deveria ser, mas é. Enquanto o racismo reverberar na sociedade, não há como ignorar. É preciso lidar. Sou muito prática. Quando a gente tem que resolver um problema, é preciso resolver a fundo", diz.
Ela relembra que a faltaesportes da sorte mobilediálogo com os seus paisesportes da sorte mobilerelação ao tema durante aesportes da sorte mobileinfância e adolescência tornou ainda mais difícil enfrentar o preconceito.
"Desde os cinco anos, quando entrei na escola, sofri racismo por conta do meu cabelo. A minha mãe fazia tranças e outras crianças queriam pegar. Os professores falavam que isso tumultuava as aulas. Além disso, sofri várias formasesportes da sorte mobileracismo", relata.
Durante a adolescência e o início da vida adulta, ela concluiu que o racismo não era "coisa daesportes da sorte mobilecabeça". Isso ocorreu, diz Joice, quando teve contato com o hip-hop e também ouviu outras pessoas negras, como os Racionais MC's, falando abertamente sobre o racismo. "Foi libertador. Vi que não é maluquice, que realmente existia um problema na sociedade e não comigo", diz Joice.
E foi justamente essa ideiaesportes da sorte mobileque o problema está na sociedade que ela quis que os filhos entendessem desde pequenos.
"Quando a gente começou a falar sobre racismo, eles (os filhos) ficaram mais quietos e ouviram. Conforme foram vivenciando as coisas, fomos estimulando o debate, até que se tornou uma constanteesportes da sorte mobilenossa casa", diz Joice.
Ela se preocupouesportes da sorte mobileincentivar a autoestima das crianças e fazer com que elas aceitassem suas características. "Conversamos também sobre colorismo (que define os negrosesportes da sorte mobileacordo com a tonalidadeesportes da sorte mobilepele eesportes da sorte mobileoutros traços físicos) e explicamos como a condiçãoesportes da sorte mobileter uma tonalidade mais clara funciona sensivelmente diferente."
Assim como outras tantas crianças negras, não demorou para que os filhos dela encarassem o racismo. Ela conta que eles logo foram alvosesportes da sorte mobileapelidos jocosos e ouviram comentários preconceituosos. Essa situação, diz Joice, fez umaesportes da sorte mobilesuas filhas ficar mais calada e perder a vontadeesportes da sorte mobileestudar.
"A minha filha chegou chorando porque falaram que o cabelo dela era uma vassoura, disseram que ela não tomava banho e por isso era daquela cor, que os pais dela eram macacos… Precisei fazer uma intervenção maior, fui na escola dela, falei com a diretora e pedi pra chamar os pais dos alunos para fazerem algo. Mobilizei a escola inteira", diz.
"Depois do relato dela, outras crianças negras da escola, que era uma escola pública e tinha muitas outras crianças negras, também começaram a falar sobre o que passavam", relembra Joice.
Jáesportes da sorte mobilerelação ao filho, ela relembra que a situação mais marcanteesportes da sorte mobilerelação ao racismo aconteceu quando ele foi parado pela primeira vez pela polícia.
"O meu filho começou a ser parado pela polícia aos 17 anos. Lembro que na primeira vez ele chegouesportes da sorte mobilecasa meio pálido, extremamente abalado e não falou nada. Tomou banho e não quis comer nada, só deitou. Só depoisesportes da sorte mobiledois dias consegui que ele me contasse que foi parado pela polícia", relata.
"Falaram que ele tinha roubado um celular. Ele disse que a sorte foi que isso aconteceu pertoesportes da sorte mobileonde ele pegava ônibus e as pessoas que estavam no ponto falaram que ele estava vindo do trabalho. Ele ficou bem mal depois disso e voltou para as atividades normais aos poucos, mas com medo", diz Joice.
Ela reflete que as mãesesportes da sorte mobilepessoas negras têm preocupações distintas quando se trataesportes da sorte mobilefilhos homens ou mulheres. "Quando é menino, a preocupação é com a abordagem policial. Quando são meninas, a principal preocupação é fazer com que a autoestima delas não seja destruída quando chegarem na idadeesportes da sorte mobilenamorar."
"Feridas profundas"
Mas nem sempre falar sobre racismo é tarefa simples para os pais. Muitos negros podem evitar abordar o tema com os filhos porque ísso também pode ser uma formaesportes da sorte mobilemexeresportes da sorte mobileferidas, avalia Joice.
"Esse diálogo pode ser muito precário até porque muitas vezes os pais também estão muito machucados pelo racismo. Ao mesmo tempoesportes da sorte mobileque falar sobre isso pode ajudar, também pode atrapalhar, porque acaba revivendo traumas dos pais, é inevitável."
"Você vêesportes da sorte mobilefilha chorando porque riram do cabelo dela e acaba lembrando quando riam do seu. Ou quando você vê seu filho sofrendo uma abordagem policial e lembra como ficava apavorada quando isso acontecia com seus irmãos ou com o seu pai", acrescenta.
No casoesportes da sorte mobileJoice, ela frisa que o racismo causou "feridas profundas", que até hoje fazem parte da vida dela. "Mas hoje tenho mais facilidade para falar com as pessoas sobre isso, até mesmo pelos caminhos que minha vida profissional seguiu", pontua.
A arquiteta e escritora destaca: é fundamental entender que o racismo é uma situação que a pessoa negra vive, "não que ela causa".
- Este texto foi publicadoesportes da sorte mobilehttp://vesser.net/brasil-62386331
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