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Ratanabá: arqueólogo explica por que lendaqual é o site da bet365'cidade perdida na Amazônia' não faz sentido:qual é o site da bet365
Há maisqual é o site da bet36530 anos, o especialista integra uma redequal é o site da bet365pesquisadores que trabalham para revelar o passado da Amazônia e dos povos que viveram (e ainda vivem) por lá.
Na avaliação dele, o surgimentoqual é o site da bet365histórias como aqual é o site da bet365Ratanabá, que não tem fundamento algum nas publicações científicas recentes, presta um "desserviço à arqueologia".
"Há maisqual é o site da bet36520 anos, os arqueólogos que atuam na região defendem que existiam cidades na Amazônia, mas isso era visto como coisaqual é o site da bet365maluco", conta.
"Com o passar do tempo, a perspectiva foi mudando e a comunidade acadêmica começou a aceitar que, sim, existem evidênciasqual é o site da bet365sítiosqual é o site da bet365grande dimensão, estradas e aterros construídos há muito tempo", continua o especialista, que reforça que essas descobertas não têm nada a ver com civilizações antigas ou tesouros ocultos.
"Agora, todo o nosso esforço pode quase voltar à estaca zero com a históriaqual é o site da bet365Ratanabá e a propagaçãoqual é o site da bet365informações das maneiras mais estapafúrdias possíveis", completa.
A seguir, confira porque os principais argumentos utilizados para falar sobre a "cidade perdida na Amazônia" não fazem sentido — e o que as evidências científicas revelam sobre a ocupação humana na maior floresta tropical do mundo.
Uma conta que não fecha
O primeiro detalhe que chama a atenção nas postagens sobre Ratanabá são as datas utilizadas. Em alguns textos, está escrito que a civilização teria existido ali há 350, 450 ou até 600 milhõesqual é o site da bet365anos.
"Isso não faz o menor sentido do pontoqual é o site da bet365vista da história geológica e biológica do nosso planeta", responde Neves.
"Para ter ideia, nem os dinossauros existiam há 350 milhõesqual é o site da bet365anos. Nossos ancestrais mais antigos viveram há mais ou menos 6 milhõesqual é o site da bet365anos. Mas a nossa espécie mesmo, o Homo sapiens sapiens, surgiu há 350 mil anos na África", estima.
Ou seja: há um erroqual é o site da bet365cálculo de, pelo menos, 349.650.000 anos nessa história.
"Se alguém falasse que existiram cidades na Amazônia há 3.500 anos eu até pensaria que essa era uma questão para tentar entender melhor e pesquisar. Agora, uma civilização há 350 milhõesqual é o site da bet365anos? Não existe a menor possibilidade disso", assinala o arqueólogo.
Metrópoles do passado, pequenas cidadesqual é o site da bet365hoje
A segunda informação completamente errada sobre Ratanabá tem a ver com o suposto tamanho da cidade. Algumas postagens dizem que ela seria maior que a Grande São Paulo.
Mais uma vez, isso estáqual é o site da bet365desacordo com as evidências científicas. "Ainda não temos uma estimativa exataqual é o site da bet365quantas pessoas viviam nessas cidades da Amazônia, mas certamente elas não tinham o tamanhoqual é o site da bet365São Pauloqual é o site da bet365jeito nenhum", diz Neves.
"Para ter ideia, no século 16, as cidades mais populosas do mundo provavelmente eram Istambul, na Turquia, e Tenochtitlán, no México. E elas tinham 50 mil, no máximo 200 mil habitantes", calcula o professor da USP.
Atualmente, a Grande São Paulo abriga cercaqual é o site da bet36522 milhõesqual é o site da bet365habitantes.
Neves calcula que, antes da chegada dos europeus nas Américas, existiam cercaqual é o site da bet36510 milhõesqual é o site da bet365indígenasqual é o site da bet365toda a Amazônia. "E esse número caiu muito a partir do século 17 por conta das guerras e das epidemias", ensina.
Linhas retas no meio da selva
O terceiro argumento que confere musculatura aos boatos sobre Ratanabá tem a ver com túneis encontrados na região amazônica ou com imagens aéreas, que mostram linhas retas e quadrados perfeitos, visíveis entre as copas das árvores.
Esses túneis, defendem as postagens nas mídias sociais, serviriamqual é o site da bet365passagem secreta e conectariam diversas partes da América do Sul.
As linhas retas, porqual é o site da bet365vez, não existem na natureza e seriam frutoqual é o site da bet365trabalho humano, garantem os boatos.
Neves esclarece que realmente existem túneis na Amazônia. "As imagens divulgadas provavelmente vêm da região do Forte Príncipe da Beira,qual é o site da bet365Rondônia, que era um posto colonial português."
"Essas construções estão relacionadas às disputasqual é o site da bet365fronteira entre Espanha e Portugal nas proximidades do rio Guaporé ao longo do século 18", complementa.
Mas e as linhas retas? Pelas poucas imagens disponíveis, Neves acredita que elas sejamqual é o site da bet365uma região próxima da fronteira entre os Estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas.
"Essas formações são conhecidas há muito tempo e realmente parecem linhas perpendiculares, o que é uma coisa incomum", avalia.
"As principais suspeitas sãoqual é o site da bet365que seja uma formação naturalqual é o site da bet365calcário ou algum tipoqual é o site da bet365rocha que segue esse padrão", diz o arqueólogo.
"É improvável que aquilo sejaqual é o site da bet365autoria humana. Mas, caso realmente tenha sido feito pelos povos locais, essas construções não devem ter mais do que 2,5 mil anos", completa.
O que pode estar por trás do interesse no tema
Neves, que não possui nenhum perfil nas redes sociais, confessa que nunca tinha ouvido falarqual é o site da bet365Ratanabá até a segunda semanaqual é o site da bet365junhoqual é o site da bet3652022.
"Quando começaram a me perguntar sobre isso, até fui pesquisar e consultar outros colegas que estudam a arqueologia amazônica, mas ninguém conhecia essa história", relata.
Embora existam perfis nas redes sociais e até livros publicados sobre a tal "civilização perdida" nos últimos anos, o tema só ganhou o interesse popular e foi virar um assunto amplamente comentado nos últimos dias.
Na avaliaçãoqual é o site da bet365Neves, o fenômeno pode ser explicado por uma sériequal é o site da bet365fatores.
"Me parece uma mistura da ingenuidade das pessoas, que querem acreditar nesse tipoqual é o site da bet365coisa, com interesses econômicosqual é o site da bet365exploração da Amazônia", especula o especialista, que lembraqual é o site da bet365outras lendas parecidas, como a cidadequal é o site da bet365Eldorado, alvoqual é o site da bet365exploradores ao longo dos séculos por supostamente ser feitaqual é o site da bet365ouro.
"E também não podemos ignorar o racismo nesse contexto. Quando se fala que existiram civilizações 'avançadas' há 300 milhõesqual é o site da bet365anos, você está retirando dos povos ancestrais, que são os antepassados dos indígenasqual é o site da bet365hoje, a autoriaqual é o site da bet365todas aquelas construções", acrescenta.
"É algo parecido ao que vemos no livro Eram os Deuses Astronautas?,qual é o site da bet365Erich von Däniken. Ali, soa mais fácil explicar que as pirâmides do Egito foram construídas por seres extraterrestres do que dar o crédito aos povos africanos", compara.
"E tudo isso denota um profundo racismo com todas as populações não europeias, como os indígenas e os africanos, como se elas não fossem capazes", interpreta.
Por fim, o arqueólogo opina que o fatoqual é o site da bet365lendas do tipo ganharem fôlego justamente agora serve como uma espéciequal é o site da bet365balãoqual é o site da bet365ensaio.
"Elas funcionam como cortinaqual é o site da bet365fumaça num momentoqual é o site da bet365que temos duas pessoas desaparecidas e desviam a atenção do real problema da violência na Amazônia", completa.
(Falta de) pedras no caminho
Neves explica que a arqueologia amazônica enfrentou grandes percalços ao longo das últimas décadas.
"De forma geral, a Amazônia tem poucas rochas. Então, a principal matéria-prima utilizada nas construções do passado eram terra e madeira", contextualiza.
"Para compreender esses períodos, precisamosqual é o site da bet365uma equipe multidisciplinar, capazqual é o site da bet365trabalhar com objetos que foram deixados e resistiram ao tempo, como cerâmicas, restos orgânicos, amostrasqual é o site da bet365solo, pedaçosqual é o site da bet365comida, sementes e ossos", exemplifica.
Para ilustrar essa dificuldade, Neves cita como exemplo um artigo publicado há poucas semanas no periódico científico Nature por especialistasqual é o site da bet365universidades britânicas e alemãs.
A pesquisa revelou os detalhesqual é o site da bet365dois grandes sítios arqueológicosqual é o site da bet365147 e 315 hectares (uma área equivalente a 205 e 441 camposqual é o site da bet365futebol, respectivamente), inclusive com a existênciaqual é o site da bet365pirâmides, na Amazônia boliviana.
"Essas estruturasqual é o site da bet365terra são conhecidas há 60 anos, mas era muito difícil definir se eram naturais ou foram construídas por seres humanos", avalia o arqueólogo.
"Só foi possível obter essa resposta agora, porque temos uma tecnologia chamada Lidar capazqual é o site da bet365fazer esse tipoqual é o site da bet365análise."
O futuro depende do passado
Mas, afinal, diante das evidências científicas disponíveis no momento, o que os cientistas sabem sobre a história dos povos que habitaram essa região?
"Sabemos que a Amazônia foi densamente ocupada no passado e que os povos que viveram lá deixaram marcas muito visíveis do modoqual é o site da bet365vida que tinham, com valasqual é o site da bet365formato geométrico e estradas lineares", resume Neves.
"E temos dados que nos mostramqual é o site da bet365forma muito segura uma relação direta entre os indivíduos que fizeram essas construções no passado e os povos indígenasqual é o site da bet365hoje."
"Não se trata, portanto,qual é o site da bet365uma civilização perdida, que desapareceu há milhõesqual é o site da bet365anos", assegura o pesquisador.
De acordo com o Painel Científico para a Amazônia, publicação coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) que tem um capítulo sobre os povos que viviam na região antes da chegada dos europeus, há evidênciasqual é o site da bet365que essa floresta tropical é ocupada por indígenas há 12 mil anos.
"Durante essa longa história, as sociedades indígenas desenvolveram tecnologias que eram altamente adaptadas às condições locais e otimizadas para a expansão do sistemaqual é o site da bet365produçãoqual é o site da bet365alimentos", escreve o grupoqual é o site da bet365especialistas que assinam o documento, liderado por Neves.
"A arqueologia amazônica mostra quão profunda é a história indígena na região, caracterizada pela diversidade cultural e agro-biológica. Trata-sequal é o site da bet365um dos poucos centros independentesqual é o site da bet365domesticaçãoqual é o site da bet365plantas no planeta e um dos primeiros centros produtoresqual é o site da bet365cerâmica no Novo Mundo", segue o texto.
"Todas essas tecnologias podem inspirar novas formasqual é o site da bet365urbanismo, manejo dos dejetos e sistemas integrados do uso da terra", finalizam os autores.
Para Neves, esse conjuntoqual é o site da bet365evidências permite enxergar a Amazônia como um "patrimônio biocultural", com uma interação entre a ação humana e a natureza ao longoqual é o site da bet365milênios.
"Portanto, para proteger a Amazônia, precisamos fortalecer as populações locais, como os indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e os caboclos, porque elas têm um papel muito importante na construção e na manutenção desse patrimônio biocultural", conclui o arqueólogo.
- Este texto foi originalmente publicadoqual é o site da bet365http://vesser.net/brasil-61803303
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