Como faltapokerstarscomdinheiro prejudica inteligência e afeta decisões:pokerstarscom

A dupla emprega o termo "banda larga mental" para ilustrar a capacidade cerebralpokerstarscomsituações assim.

Um computador com muitos programas abertos vai ter dificuldades para processar informação. A internet fica lenta. Os vídeos vão travar o tempo inteiro.

Da mesma forma, uma cabeça cheiapokerstarscomproblemas financeiros terá a performance prejudicada: ficará sobrecarregada e levará a decisões ruins.

"A banda larga mental é muito limitada. Muitas vezes você precisa focar na urgência do agora e faz isso com competência: resolve o problema. Mas se esse movimento ocorrer o tempo inteiro nunca será suficiente. Vai negligenciar outras áreas dapokerstarscomvida", afirma o israelense Shafir à BBC News Brasil.

Para mensurar o impacto na inteligência, Shafir e Mullainathan realizaram um experimento semelhante à situação apresentada no começo do texto.

Foram a um shopping da cidade norte-americanapokerstarscomNova Jérsei e selecionaram pessoaspokerstarscomcondições econômicas distintas. Primeiramente os participantes eram confrontados com a necessidadepokerstarscomarcar com uma despesapokerstarscomUS$ 300 pelo carro que quebrou.

Na sequência foram aplicados testespokerstarscomRaven, que medem a inteligência fluida dos participantes. Os resultados não mostraram diferenças significativas entre ricos e pobres.

No entanto, quando o valor foi alteradopokerstarscomUS$ 300 para US$ 3.000 na situação hipotética apresentada, eles constataram que os mais pobres tiveram uma queda bastante considerável na pontuação (-13) aferida no método.

A inteligência prejudicada, claro, pode ser decisiva na tomadapokerstarscomdecisões — principalmentepokerstarscomum contexto social com pouca margem para passospokerstarscomfalso.

"Se eu cometo um erro, se faço um mau investimento, se esqueçopokerstarscompagar uma taxa, é só uma irritação. Mas a vida segue. Se você é pobre e comete esses mesmos erros, o preço na vida será muito mais alto. Há menos espaço para erros, assim a vida fica mais complicada, mais difícil", diz o psicólogo.

Pobreza e dívidas são constantemente atribuídas a faltapokerstarscomresponsabilidade financeira e disciplina para poupar.

É algo ecoado por coaches financeiros influentes e até pelo ministro da Economia. Em uma entrevista ao jornal FolhapokerstarscomS.Paulo, Paulo Guedes disse que "os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo".

Uma pesquisa recente do Serasa, no entanto, mostrou que 70% dos endividados com o cartãopokerstarscomcrédito usaram essa formapokerstarscompagamento para comprar comida no supermercado. Ou seja, a maioria ficou com o nome sujo para garantir algo básico do dia a dia.

Em 2019 um levantamento da Confederação NacionalpokerstarscomDirigentes Lojistas (CNDL) e do ServiçopokerstarscomProteção ao Crédito (SPC Brasil) indicou que 67% dos consumidores brasileiros não conseguem guardar nada do que ganham.

Desse total, 40% justificou que a renda muito baixa não permitia a poupança.

Mas muitos podem se perguntar: onde entra o esforço individual, a responsabilidade pessoal, para sair da pobreza?

"Responsabilidade pessoal é importante. Mas não é suficiente se o contexto trabalha contra você", diz Shafir.

"Nós sempre damos o exemplo dos pilotospokerstarscomavião. Se a cabinepokerstarscompilotagem foi bem projetada, bem construída, e o piloto é responsável e tem bom conhecimento da função, a pilotagem irá bem. Se houver problemas estruturais na cabine, pilotos muito capazes e responsáveis podem derrubar um avião."

O cientista comportamental afirma que pessoaspokerstarscombaixa renda,pokerstarscomfato, desenvolvem uma sabedoriapokerstarscomsobrevivência contra condições adversas. "Mas é apenas uma questãopokerstarscomtempo, azar ou circunstâncias antes que o tombo venha novamente." O cérebro vai dar um passopokerstarscomfalsopokerstarscomalgum momento.

Decisões impulsivas

Flavia Ávila, especialistapokerstarscomeconomia comportamental e fundadora da consultoria InBehavior Lab, diz que "um dos pontos-chave da pobreza é quepokerstarscommomentospokerstarscomescassez, sejapokerstarscomdinheiro oupokerstarscomtempo, você tende a tomar decisões impulsivas, instintivas e menos racionais no geral".

"Antigamente dizia-se que faltava informação para a pessoa pobre. Mas digo que apenas informação não é suficiente para gerar ação. Se gerasse, todo mundo estava milionário. Informação a gente tem demais. Raramente a informação vai gerar mudançapokerstarscomcomportamento."

Ávila cita o Prêmio Nobel Daniel Kahneman, autorpokerstarscomRápido e Devagar: Duas FormaspokerstarscomPensar (editora Objetiva, 2011), que popularizou um modelopokerstarscomtomadapokerstarscomdecisõespokerstarscomque situaçõespokerstarscomescassez levam a julgamentos apressados - e eventualmente a más decisões.

Ela diz que o modelo é uma simplificaçãopokerstarscomum processo cerebral mais complexo, mas explica que "no sistema 1 existe a ideiapokerstarscomtomadapokerstarscomdecisões mais instintivas e no 2, mais lentas e refletidas. Quando você estápokerstarscomuma situaçãopokerstarscomescassez, 95% do tempo é do tipo sistema 1".

Shafir costuma ilustrar a situação com a imagempokerstarscom"um incêndio,pokerstarscomque você não pergunta quanto custa o balde d'água que você precisa para apagar o fogo que está consumindo apokerstarscomcasa".

Viés do presente

Fernando Fonseca, economista e professor da Universidade Federal do Tocantins, investigou napokerstarscomtesepokerstarscomdoutorado a capacidadepokerstarscompoupar (ou não)pokerstarscompessoaspokerstarscomcondiçãopokerstarscomextrema pobreza no Bico do Papagaio, região no norte do Tocantins.

Em outubropokerstarscom2021, o Brasil tinha 27 milhõespokerstarscompessoas na pobreza (renda até R$ 290 por mês), segundo levantamento da FGV Social.

Os entrevistados do estudopokerstarscomFonseca tinham ingressos econômicos instáveis e dificuldadepokerstarscomacesso a educação e saneamento básico.

O pesquisador analisou a "taxapokerstarscomimpaciência" dessa populaçãopokerstarscomquestionamentos do tipo "você prefere receber R$ 100 hoje ou R$ 150 daqui a uma semana?".

Uma das percepções foipokerstarscomque as tomadaspokerstarscomdecisão são orientadas pelo "viéspokerstarscompresente".

"Essas pessoas muito pobres e trabalhadoras têm o horizonte temporal muito curto, não se visualizam no futuro. Então não é que esses gastos sejam irracionais, mas dado o excessopokerstarscompreocupações que têm, desde alimentação, moradia e situações precárias, essas pessoas não conseguem ter nenhum tipopokerstarscomplanejamento", diz Fonseca.

Mesmo assim, algum esforçopokerstarscomeconomia era feito. Como se tratapokerstarscomum setor sem acesso a bancos, "desbancarizado", famílias no norte tocantinense tentavam uma espéciepokerstarscompoupança não-monetária: criar animaispokerstarscommédio e pequeno porte.

"Para atender uma necessidade imediata. O animal tem liquidez, embora talvez seja vendido por um valor abaixo do esperado. Isso é forçado pelo período da fome,pokerstarscomseca intensa, nessa região."

Como aliviar a 'banda larga mental'

Shafir,pokerstarscomPrinceton, diz que "de uma certa forma, nossa vida seria mais fácil se fosse verdade que os pobres merecem ser pobres porque não se esforçam o suficiente ou não têm capacidade. Mas não: pensando que há pessoas que acabam na pobreza mesmo que tenham mérito, capacidade e inteligência, a vida parece injusta".

"Os dados que temos mostram que os pobres são muito focados e têm grande conhecimentopokerstarscomcompra,pokerstarscomcomo conseguir o menor preço. Mas se você está focadopokerstarscomgarantir o dia seguinte ou a próxima semana, você nunca vai pensar sobre o ano que vem. E aí tudo vira um grande desafio", diz.

O psicólogo israelense considera que descobertas sobre economia comportamental fornecem um "otimismopokerstarscomque políticas públicas possam fazer diferença, com ações na educação, transporte ou mesmo uma renda mínima".

Ou seja, garantir padrões mínimospokerstarscomvida alivia a sobrecargapokerstarscomcima da "banda larga mental".

"E nem precisa ser apenas através do governo. Grandes corporações poderiam entender que dar melhores condições para seus funcionários leva a menos erros cometidos no ambientepokerstarscomtrabalho. Ou seja, ajuda a própria empresapokerstarscomnível corporativo fornecer padrões mínimos aceitáveispokerstarscomtrabalho."

Para Flavia Ávila, do InBehaviour Lab, a pobreza e a extrema pobreza afetam "a sociedade como um todo: influencia questões econômicas, climáticas e até temas menos palpáveis. Está bem amadurecida a ideiapokerstarscomque a desigualdade social é prejudicial a sociedades que prosperam".

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