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As mudanças na LeipropawinCotaspropawindisputa na Câmara:propawin
"Os projetos contrários à lei querem o fim da cota racial. Não acreditamos, no entanto, que possa haver recuos. Mas todo cuidado é pouco com esse governo reacionário. Por isso, existe a possibilidadepropawinadiar a revisão", diz o líder do PSB na Câmara, Bira do Pindaré, relator do projetopropawinLei 3422/21 favorável à LeipropawinCotas.
O senador Paulo Paim (PT-RS) também não descarta a possibilidadepropawinpostergar a análise da legislação diante do atual cenário político.
"A lei precisa ser avaliadapropawinum conjuntura política mais favorável. O que eu e os movimentos negros podemos garantir é que a leipropawincotas não será reduzida, ela poderá ser ampliada, mas não esvaziada", diz Paim, autor do PL 4656/2020, que assegura a continuidade das cotas epropawinaplicação às instituições particularespropawinensino. A interpretaçãopropawinque a revisão pode significar o fim da lei preocupa políticos e pesquisadores.
"A lei não expira e nem tem prazopropawinvalidade. Isso aparecepropawinmuitas matérias e debates sobre o tema. É um equívoco. O Artigo 7º prevê apenas uma revisão", diz Luiz Augusto Campos, professor no InstitutopropawinEstudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do RiopropawinJaneiro (IESP-UERJ), onde coordena o Geema.
A garantiapropawinpermanência da lei prevista nos dois projetos converge para análise feita pelos pesquisadores Adriano Senkevics, do Instituto NacionalpropawinEstudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Ursula Mattioli Mello, do Institute for Economic Analysis (IEA).
"O balanço é bastante positivo. É uma leipropawinabrangência nacional, que abarca todas as instituições federais, todos cursos e todos os turnos. Por ter essa característica, a lei levou alterações também a cursos mais elitizados com patamares baixospropawininclusão e mais reativos a uma pauta inclusiva, como medicina e engenharia", destaca Senkevics, autor, junto com Ursula, do artigo Um balanço dos dez anos da política federalpropawincotas na educação superior.
Escassezpropawininformações
Outro avanço destacado por Senkevics é o caráter multidimensional da legislação: "Ela tem uma atenção às dimensões socioeconômicas e étnico-raciais, além das pessoas com deficiência ".
No artigo, os dois autores analisam a lei e sugerem alterações na legislação e no processopropawinavaliação. Uma das propostas dos pesquisadores contempladas no projeto da Câmara é o acompanhamento constante da aplicação da lei e a promoçãopropawinmudanças, quando necessárias.
"Inicialmente, o PL previa a renovação da lei por 50 anos. O relator, porém, fez uma mudança positiva para um sistemapropawinmetas alcançadas. Por exemplo, quando universidadepropawinum determinado estado com 70% da população compostapropawinnegros alcançar o mesmo percentualpropawinpretos e pardos matriculados, haveria uma revisão", afirma o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) autor do PL 3422/21 junto com Valmir Assunção (PT-BA) e mais 39 parlamentares.
A nova metodologia exige, segundo especialistas, coleta, processamento e divulgaçãopropawinmais dados por parte do governo. E a escassezpropawininformações é um dos principais problemas apontados por parlamentares e pesquisadores na verificação dos avanços da legislação.
"Há uma carênciapropawindados. Deveria ser implantada alguma ferramentapropawinforma participativa que fizesse o monitoramento e o acompanhamento constante para implementar mudanças sempre que necessário", afirma Tatiana Dias Silva, pesquisadora do InstitutopropawinPesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Doutorapropawinadministração pela UniversidadepropawinBrasília, Tatiana defende uma ampla discussão do processopropawinavaliação epropawinmonitoramento antes mesmopropawininiciar a revisão da lei e destaca a alteração no artigo 7º feitapropawin20016.
O texto originalpropawin2012 previa que a avaliação deveria ser promovida pelo Poder Executivo. Com a mudança, a nova redação diz que "será promovida a revisão do programa", sem especificar o agente.
"Ficou mais ambíguo", afirma Tatiana Silva.
O parágrafo 6º da lei, no entanto, põe o Ministério da Educação e a Secretaria EspecialpropawinPolíticaspropawinPromoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, como os "responsáveis pelo acompanhamento e avaliação do programa".
O governo, na opinião do deputado Bira do Pindaré, não fez o deverpropawincasa.
"Hoje não temos dados porque o governo não produziu. Não apresentaram nenhuma informação oficial dessa política pública. A gente se baseiapropawinestudospropawinpesquisadores epropawinuniversidades", lamenta o parlamentar.
Subdeclaração dos dados
A solução apresentada pelo projeto da Câmara para a escassezpropawindados é similar à proposta por Tatiana Silva. O PL cria o Conselho Nacional das Ações Afirmativas, formado por representantes do governo e da sociedade civil. Se for instituído, o órgão terá a funçãopropawinmonitorar e avaliar a lei, produzir relatórios e sugerir medidas complementares às universidades.
As informações que sustentam os artigospropawinpesquisadores e orientam os parlamentares resultampropawincruzamentopropawindados obtidospropawinórgãos epropawinpesquisas não dedicadas exclusivamente à políticapropawincotas, como a Pesquisa Nacional por AmostrapropawinDomicílios (Pnad) e números do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O processo fica ainda mais complexo diante da impossibilidadepropawinacessar determinados números oficiais.
"Nosso trabalho é artesanal. A base que utilizo é o Censo da Educação Superior do Inep, mas faltam dados, como renda domiciliar do aluno e subdeclaração dos dados raciais. Além disso, o MEC não divulga microdados individuais do Sisu (SistemapropawinSeleção Unificada), isso compromete qualquer tipopropawinanálise ou pesquisa", diz Senkevics.
Especialistapropawingestãopropawinpolíticas públicas, o autor aponta o atraso do Censo 2020 como um agravante e sugere a substituição do indicador por outro.
"A lei exige que os percentuaispropawinnegros, pardos e indígenas estejampropawinacordo com os da federação, com base no último censo demográfico. O nosso é opropawin2010. A revisão da lei poderia substituir a âncora do último censo pela Pnad, realizada com mais frequência, ou uma projeção da população atualizada anualmente. O ideal é que essa determinação sejapropawinuma portaria, mais fácil alterar do que uma lei".
O esforço estatísticos dos acadêmicos é um contraponto a teses sem fundamento científico, que servem a argumentos contra a subcota racial. Uma delas é a crençapropawinque critérios sociais e econômicos são suficientes para ampliar o ingressopropawinpretos e pardos no ensino superior.
Estudo sobre a mudanças no perfilpropawinalunos nas universidades federais, entre os anospropawin2004 e 2013, mostra uma maior eficiênciapropawinpolíticaspropawinação afirmativa para negros no ensino superior comparada à seleção socioeconômica.
Assinada pelos economistas Renato Schwambach Vieira, da Universidade CatólicapropawinBrasília (UCB), e Mary Arends-Kuenning, da UniversidadepropawinIllinoispropawinUrbana-Champaign (EUA), a pesquisa analisou dadospropawin170.555 estudantespropawin1.025 cursospropawingraduação que se submeteram ao Exame NacionalpropawinDesempenho dos Estudantes (ENADE) entre 2004 e 2010 no primeiro ano letivo.
Segundo Vieira, o trabalho foi baseadopropawininformações sociais e pessoais apresentadas pelos estudantes, que foram classificados como brancos, pretos, pardos, amarelos ou indígenas.
Os dois pesquisadores compararam os dadospropawininstituições com critérios étnico-raciais e sociais com os das universidades com seleção exclusivamente por indicadores sociais.
A presençapropawinestudantes pretos e pardos aumentou 1% no segundo grupo e 20,3% nas instituições com cotas para pretos e pardos.
A mesma conclusão chegaram Senkevics e Ursula Mello. No artigo, os dois afirmam que as "cotas raciais foram essenciais para ampliar o acesso ao ensino superiorpropawintodos os grupos contemplados pela LeipropawinCotas".
Na comparação entre programas com recorte racial e outros sem essa dimensão, o primeiro foi "quase duas vezes mais efetivo para o aumentopropawinmatrículaspropawinestudantespropawinescola pública e quase cinco vezes mais efetivo para o aumentopropawinmatrículaspropawinestudantes pretos, pardos e indígenaspropawinescola pública do que as cotas sem o critério racial".
Quem estuda a Lei 12.711propawinperto observa a necessidadepropawinsubsidiar financeiramente o estudantepropawinbaixa renda e a importânciapropawinuma LeipropawinCotas na pós-graduação para manter o aluno na universidade até o fim da graduação e ampliar horizontes para o mestrado e o doutorado.
"Um mecanismopropawinexclusão no ensino superior é o custopropawinvida nas universidades. Se o aluno não tiver recurso, não vai conseguir frequentar cursos integrais, como opropawinengenharia. Se o sistema for melhor desenhado reduzindo a desigualdadepropawinoportunidades, aumenta a competitividade com aprovação dos estudantes mais talentosos tanto da camada mais rica quanto da mais pobre" afirma Michael França, pesquisador e coordenador do NúcleopropawinEstudos Raciais do Insper.
Condições para permanecer
A desigualdade econômica descrita por França pode ser reduzida pela "Bolsa Permanência" proposta no PL 3422/21. O valor a ser definido durante o debate no Congresso deverá cobrir gastos com alimentação, transportes e habitação.
"Não basta ter mais acessos às universidades, se (os estudantes) não tiverem condiçõespropawinpermanecer e terminar os cursos. Mas isso tem impactos financeiros, teremos que calcular um valor e discutir fontes para cobrir essa despesa" afirma o Bira do Pindaré, adiantando que o relatório será concluído aindapropawinmaio, após audiência pública, quando devem começar as negociações para tentar aprovar o projeto nas duas Casas.
Universidades públicas já adotaram sistemaspropawincotas na seleção para mestrado e doutorado acadêmicos e mestrado profissional, mas com segurança jurídica frágil. Em 2016, o Ministério da Educação (MEC) publicou portaria normativa (nº 13/2016) com as diretrizes sobre ações afirmativaspropawincursospropawinpós-graduação das instituições federaispropawinensino superior. Em 18propawinjunhopropawin2020, a normativa foi derrubada pelo Ministério da Educação, no último atopropawinAbraham Weintraub à frente da pasta. A portaria foi anulada cinco dias depois pelo próprio MEC, restabelecendo a 13/2016.
"É preciso uma lei. Mas o sistemapropawincotas deve vir alinhado à revisãopropawinprocessospropawinseleção, como programas exigindo a proficiênciapropawininglês. Se não tentar destravar essa barreira da língua, não vai conseguir ter efetividade na cota", diz Tatiana Silva.
De autoriapropawinOrlando Silva (PCdoB-SP) epropawinoutros sete deputados, o projeto 3425/2020 deve dar estabilidade ao programapropawininclusão e permanênciapropawinnegros, indígenas e pessoas com deficiência na pós-graduação.
O PL, que está sob a relatoria da deputada Lídice da Mata (PSB-BA), não trata especificamente da barreirapropawinlíngua, mas prevê que as universidades criem comissões para aperfeiçoar as ações.
O projeto também determina a elaboração por parte do CoordenaçãopropawinAperfeiçoamentopropawinPessoalpropawinNível Superior (Capes)propawinpesquisas sobre o perfil dos estudantes. Independentemente do futuro do PL, a fundação prepara um censo da pós-graduação brasileira, ainda sem previsãopropawininício.
Os dados oficiais disponíveis hoje na Capes retratam parcialmente os discentes. Relatórios ano base 2020 enviados pelos programas das universidades trazem o recorte étnico-raciaispropawinsomente 54% dos 305.557, seja porque o estudante não declarou ou simplesmente por não dispor dos dados. Se for considerado apenas as informações dos autodeclarados, ou sejapropawin164.935 alunos, os negros (12.403) e pardos (39.030) representam 31% desse total.
O vaziopropawininformações sobre a pós-graduação é parcialmente preenchido por trabalhopropawincientista que mostra um avançopropawinquase 50% nas ações afirmativas.
Durante pesquisapropawindoutorado no IESP-UERJ, Anna Carolina Venturini analisou cercapropawin2,7 mil editaispropawinseleçãopropawinprogramaspropawinpós-graduação acadêmicospropawinuniversidades públicas e verificou que, até o iníciopropawin2018, já existiam 737 programas (26,4% da amostra) com algum tipopropawinação afirmativa para ingresso nos cursos. No pós-doutorado do Centro BrasileiropropawinAnálise e Planejamento (Cebrap), a cientista política observou 1.090 programas (39,4% da amostra) com ação afirmativa, até outubropropawin2021.
Com ou sem revisão, a efetividade da LeipropawinCotas depende,propawinparte,propawinações para evitar fraudes nas subcotas étnico-raciais. Até o fimpropawin2020, das 69 universidades federais, pelo menos 53 universidades adotavam algum tipopropawincomissãopropawinheteroidentificação, segundo levantamentopropawinSales Augusto dos Santos, da Universidade Universidade FederalpropawinViçosa (UFV), citado no artigopropawinSenkevics e Ursula Mello.
Na pesquisapropawinSantos, foram constatadas instituições com comissãopropawinverificação, que analisam denúnciaspropawinfraudes nas subcotas raciais, e/oupropawinvalidação, que atuam para confirmar a autodeclaração étnico-racial dos ingressantes no atopropawinmatrícula.
Os critériospropawinaferição e o quórumpropawindeliberação do órgão colegiado, porém, são variados. A duplapropawinpesquisadores defende a criaçãopropawinuma lei com critérios objetivos e homogêneos para todo país com objetivopropawinmitigar os problemas.
Eles afirmam que não é raro processos judiciais motivados por denúnciaspropawinfraude se arrastarem por anos resultandopropawin"expulsãopropawinestudantespropawinsemestres avançados do curso, após uma contendapropawinrecursos por parte das instituições e dos acusados".
A proposta do relatório do PL é no sentidopropawinlegitimar e legalizar as comissões.
"É a melhor solução que se apresentou: as universidades organizam comissões para analisar as diversas denúnciaspropawindesvios e fazer os ajustes necessários. Como não há uma legislação que as ampare, as comissões acabam fragilizadas. Muitas das vezes, o judiciário mantém decisão que não confere com o objetivo da legislação", afirma Bira do Pindaré.
O percentualpropawinprofessores pretos e pardos no ensino superior federal está longepropawinrefletir opropawinestudantes. Números do IBGE e do MEC dão a dimensão da distância, apesar do primeiro ser mais abrangente.
Em 2018, negros eram 50,3% dos cercapropawin2,1 milhõespropawindiscentes do ensino superior da rede pública, segundo o IBGE. No mesmo ano, negros eram aproximadamente 16% dos docentespropawinuniversidades do país, cercapropawin65,2 mil, conforme dados do Censo da Educação Superior INEP-MEC.
O número é próximo aos 60,2 milpropawin2014, quando a legislação que garante cotapropawin20% para negrospropawinconcurso público federal começou a vigora.
A lei 12.900, porém, não foi efetiva para inclusãopropawinpretos e pardos a cargospropawindocentespropawinuniversidades. O motivo é a regra que só permite reserva a partirpropawintrês vagas.
"As universidades não estão reservando vagas. Elas são pulverizadas. Por exemplo, há dez vagas, mas uma é para história da arte e as outras sãopropawinjornalismo esportivo, redação etc. No final, nenhum desses concursos tem maispropawintrês vagas" afirma Tatiana Silva.
Apesar da Acórdão da Ação DiretapropawinConstitucionalidade (ADC) no 41/2017, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), condenar o fracionamento das vagaspropawinum edital por áreaspropawinconhecimento com menospropawintrês vagas e a proliferaçãopropawineditais para um mesmo cargo com menospropawintrês vagas, apenas 35 das 69 universidades federais reservaram os 20% a candidatos negros, como o previstopropawinlei, segundo artigopropawinLuiz Mello, professorpropawinsociologia na FaculdadepropawinCiências Sociais da Universidade FederalpropawinGoiás (UFG).
Números da Escola NacionalpropawinAdministração Pública (Enap) apresentados na pesquisapropawinMello mostram que, entre 2015 e 2019, apenas 0,53% dos docentes efetivos contratados por universidades federais ocuparam vagas reservadaspropawineditais para candidatos negros.
Nesse período, entre as 63 instituições que promoveram concurso, 36 não contrataram nenhum professor negro. Diante desses dados, o professor avança no debate: "Não basta a lei ser mais efetiva, é urgente uma políticapropawinreparação, considerando as vagas que deveriam ter sido preenchidas por candidatos negros e não foram".
O MEC e os deputados Dr. Jaziel (PL-CE) e Dayane Pimentel (União-BA), autorespropawinprojetos pelo fim da subcota racial, não responderam a pedidospropawinentrevista da BBC News Brasil.
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