Cidades mais atingidas por deslizamentos tiveram 'boom' habitacionalroletinha apostaáreasroletinha apostarisco:roletinha aposta

Crédito, EPA

Legenda da foto, Voluntários e bombeiros procuram vítimasroletinha apostaescombrosroletinha apostadeslizamentoroletinha apostaFranco da Rocha

Segundo levantamento da TV Globo, pelo menos 120 pessoas morreramroletinha apostadecorrência das chuvas entre 2016 e 2022 na Grande São Paulo. As mortes ocorreram principalmenteroletinha apostavirtuderoletinha apostadeslizamentos, inundações e desabamentosroletinha apostamoradias. Em 2015, durante um episódio semelhante, 25 pessoas morreramroletinha apostacidades como Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã.

Em Francisco Morato, três crianças e um adolescente morreramroletinha apostaum deslizamento nos últimos dias. A cidade é um exemplo desse crescimento acentuado nas últimas décadas. Entre 1990 e 2020, a população do município aumentou 134%, segundo projeção da Fundação Seade, órgãoroletinha apostaanáliseroletinha apostadados do governoroletinha apostaSP, que se utilizaroletinha apostainformações do IBGE. Em 1990, eram 74.699 habitantes - três décadas depois, eram 174.403 pessoas.

Franco da Rocha foi onde oito pessoas - quatro vítimas da mesma família - morreramroletinha apostaum deslizamento neste fimroletinha apostasemana. O município registrou um aumento populacionalroletinha aposta87% -roletinha aposta81 mil habitantesroletinha aposta1990 para 148 mil moradores três décadas depois.

Embu das Artes, com cinco vítimas da mesma família na última chuva, teve altaroletinha aposta82% (de 148 mil para 270 mil).

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Legenda da foto, Pelo menos 24 pessoas morreram no Estadoroletinha apostaSão Pauloroletinha apostavirtude dessas chuvas nos últimos dias

Mas não apenas as cidades afetadas pelo último temporal registraram fenômeno semelhante. Mairiporã, que nos últimos anos também sofreu com mortes causadas por deslizamentos, teve uma altaroletinha aposta193% emroletinha apostapopulação entre 1990 e 2020 (de 33 mil para 98,6 mil habitantes). Já Caieiras, que também enfrenta problemas com alagamentos, saiuroletinha aposta37 mil moradoresroletinha aposta1990 para 100 mil três décadas depois - altaroletinha aposta170%.

Segundo a Fundação Seade, o boom populacional nesses municípios é bastante superior ao crescimento da capital paulista, que marcou altaroletinha aposta29% no mesmo período, e da região metropolitana como um todo, que cresceu 40%.

"De fato há uma relação entre crescimento populacional e urbano nessas regiões e a ocupaçãoroletinha apostaáreasroletinha apostarisco que estão sujeitas a tragédias", diz o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, professor do Instituto das Cidades da Universidade Federalroletinha apostaSão Paulo (Unifesp).

"Esse processo é recorrenteroletinha apostanossa urbanização, principalmente entre a classe trabalhadora eroletinha apostabaixa renda. Ela aconteceroletinha apostamaneira aceleradaroletinha apostaáreas periféricas, com terreno frágil, sem planejamento urbano e acompanhamento técnico. O que temos é a população pobre que, sem conseguir se firmarroletinha apostaáreas centrais, acaba ocupando,roletinha apostamaneira informal e sem regulação, as encostasroletinha apostamorros, margensroletinha apostarios e córregos, fundosroletinha apostavales e aterros sanitários", afirma.

'Hiperperiferia'

Para Nakano, o poder público não acompanhou esse crescimento, que ele e outros urbanistas chamamroletinha aposta"hiperperiferia", ou seja, áreas da região metropolitanaroletinha apostaSão Paulo que, ocupadas por famíliasroletinha apostabaixa renda oriundasroletinha apostaoutros pontos, formaram grandes contingentes populacionais para além dos tradicionais bairros periféricos da capital paulista. Cidades como Ferrazroletinha apostaVasconcelos, Taboão da Serra e Carapicuíba também fazem parte dessa massa.

Essas áreas no entornoroletinha apostaSão Paulo também são conhecidas como "cidades-dormitório", com poucas opçõesroletinha apostaserviços públicos, trabalho e lazer, e para onde os moradores só vão praticamente para descansar.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Pelo menos oito pessoas morreramroletinha apostaFranco da Rocha

"Essas cidades que cresceram muito nas últimas décadas não têm capacidade institucional nem econômica pra realizar uma politica urbana e habitacional. Nunca houve um processo contínuoroletinha apostaplanejamento e investimento urbano com objetivos claros: essa política sempre foi fragmentada, descontínua e ineficiente. Essas ocupações se formaram à revelia do poder público", explica.

Segundo Isadora Guerreiro, pesquisadora do LabCidade da Faculdaderoletinha apostaArquitetura e Urbanismo da USP, o crescimento dessas ocupaçõesroletinha apostamorros da Grande São Paulo ocorreu por uma sérieroletinha apostaproblemas relacionados à política habitacional, como a exclusãoroletinha apostafamíliasroletinha apostarenda inferior a três salários mínimos durante a expansãoroletinha apostaprogramasroletinha apostahabitação popular, como Minha Casa, Minha Vida e Casa Verde e Amarela.

"Essa política expandiu o mercadoroletinha apostahabitação popularroletinha apostaregiões periféricas, como as zonas leste e sulroletinha apostaSão Paulo, aumentando o preço das moradias, dos terrenos e do aluguel. Quem tem renda muito baixa e não consegue entrar nos programas nem pagar aluguel, acabou excluído. Essas pessoas precisaram migrar para áreas mais baratas. Onde elas conseguem pagar? Em morros e encostas na região metropolitana, ou áreasroletinha apostamananciais e atéroletinha apostapreservação ambiental, num mercado informar e irregularroletinha apostalotes. Em último caso, vão para a rua", explica.

Outro fator, aponta a pesquisadora, é a faltaroletinha apostaopçõesroletinha apostaterrenos vazios para construçãoroletinha apostacasas na periferia paulistana, o que também empurra a população mais pobre para loteamentosroletinha apostacidades próximas.

"Hoje, existem pouquíssimos lotes vazios na periferia da capital. Só consegue comprar uma moradia quem tem uma renda um pouco mais alta, pois os preços subiram nos últimos anos e muitos bairros da periferia estão se verticalizando. As pessoas que vivemroletinha apostaáreasroletinha apostarisco não fazem isso por escolha, mas por necessidade, como última opçãoroletinha apostamoradia" , diz.

Pacoteroletinha apostaproblemas

Crédito, EPA

Legenda da foto, Populaçãoroletinha apostaFranco da Rocha cresceu 87% desde 1990

Segundo Kazuo Nakano, a região norte e oeste da Grande São Paulo, que tem municípios como Francisco Morato, Mairiporã e Francisco Morato, tem um relevo conhecido como "marroletinha apostamorros".

"Há muitos morros com camadasroletinha apostaterra sobre rocha, e que estão sujeitos a deslizamentos. Sem planejamento urbano, o que temos hoje são milharesroletinha apostapessoas que, como única opção, têmroletinha apostaapostar na sorte", diz.

O geólogo Eduardo Macedo, do IPT (Institutoroletinha apostaPesquisas Tecnológicas), acredita que "um pacoteroletinha apostaproblemas" contribui para "tragédias anunciadas".

"O solo desses morros perde resistência com a água e é muito suscetível a deslizamentos. Esse solo é ocupado por moradiasroletinha apostamenor qualidade construtiva, às vezes com vários andares e muitos moradores da mesma família", diz ele, que no último fimroletinha apostasemana visitou áreas que desmoronaramroletinha apostaFrancisco Morato.

"Essas cidades praticamente dobraramroletinha apostatamanhoroletinha apostapoucos anos. Elas não são ricas, não têm capacidaderoletinha apostainvestimento e o serviço público éroletinha apostamenor porte. Com as mudanças climáticas e chuvasroletinha apostagrande volumeroletinha apostapouquíssimo tempo, como ocorreu neste fimroletinha apostasemana, a tendência é que esse problema se agrave", diz.

As áreasroletinha apostarisco nos três municípios já eram conhecidas pelo poder público. Um levantamento da Defesa Civilroletinha apostaSão Paulo apontou que Francisco Morato, por exemplo, tem 75 áreas com risco alto ou muito altoroletinha apostadeslizamentos, solapamento e inundações. Franco da Rocha tinha 95 pontos nessas condições. Já Embu da Artes, 17. Cada um desses pontos é normalmente formado por dezenasroletinha apostamoradias, aponta o documento.

A prefeituraroletinha apostaFrancisco Morato, comandada pela prefeita Renata Sene (Republicanos), afirmou que "o problemaroletinha apostaocupaçãoroletinha apostaáreasroletinha apostarisco é antigo na cidade". Diz que "realiza trabalhos constantesroletinha apostafiscalização, monitoramento, orientação e, recentemente, colocouroletinha apostaprática várias ações, entre elas um novo Códigoroletinha apostaObras e Edificações e um Planoroletinha apostaRegularização Fundiária".

Em nota, afirmou que realizou um planoroletinha apostareduçãoroletinha apostariscos para as chuvas deste verão. "É um planejamento que traça protocolos para resposta a desastres causados por chuvas intensas, que faz um trabalhoroletinha apostamonitoramento, informação e acolhimento a munícipes que residamroletinha apostaáreasroletinha apostarisco".

Já a prefeituraroletinha apostaFranco da Rocha, ocupada por Nivaldo Santos (PSDB), afirma que tem um programaroletinha apostaauxílio-aluguel com 10 mil famílias, alémroletinha apostater entregado,roletinha aposta2016, "cercaroletinha aposta1.100 apartamentos do programa Minha Casa Minha Vida, e já temos contratadas mais 500 unidades".

Também afirma que elaborou,roletinha apostaparceria com a Universidade Federal do Grande ABC, um planoroletinha apostagestãoroletinha apostariscos, "que apontou a existênciaroletinha apostacercaroletinha aposta230 edificaçõesroletinha apostaáreasroletinha apostarisco na cidade, cujo custo estimadoroletinha apostareparo está orçadoroletinha apostacercaroletinha apostaR$ 120 milhões, incluídas a remoção e realocação das famílias, investimento para o qual a prefeitura busca parcerias para executar".

A gestãoroletinha apostaNey Santos (Podemos), prefeitoroletinha apostaEmbu das Artes, não respondeu aos questionamentos até a publicação desta reportagem.

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