Levado pela polícia aos 14, aprovado na OAB aos 23: 'Graças ao teatro mudei minha vida':esportes da sorte como funciona

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Alex mora até hoje na comunidade onde cresceu, na zona norteesportes da sorte como funcionaSão Paulo

"Passar na OAB significa muito para mim não só porque foi um grande orgulho para a família, mas pensando nesse passado, nos envolvimentos errados,esportes da sorte como funcionacomo eu poderia ter acabado indo por um outro caminho. Mostra que é possível a gente voltar pro caminho certo na vida", diz ele à BBC News Brasil, antesesportes da sorte como funcionamostrar uma reportagemesportes da sorte como funciona2013 que falava sobre o episódioesportes da sorte como funcionaque ele levou a arma para a escola.

Não há estatísticas oficiais sobre qual porcentagemesportes da sorte como funcionajovens com passagem pela Fundação Casa, cujo objetivo é ressocializar menores infratores, fizeram faculdade ou conseguiram se colocar com sucesso no mercadoesportes da sorte como funcionatrabalho. Mas a entidade está criando um programa para fazer esse acompanhamento. "Às vezes o jovem só precisaesportes da sorte como funcionauma oportunidade,esportes da sorte como funcionauma chance,esportes da sorte como funcionaum exemplo", diz Alex.

Em 2020, 56 jovens que ainda estavam na Fundação tiveram nota suficiente no Enem para disputar vagasesportes da sorte como funcionainstituiçõesesportes da sorte como funcionaensino. Já o índiceesportes da sorte como funcionareincidênciaesportes da sorte como funcionainfrações foiesportes da sorte como funciona26%esportes da sorte como funciona2021.

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Legenda da foto, O jovem comemorou a aprovação na OAB na lajeesportes da sorte como funcionacasa

Armaesportes da sorte como funcionafogo

Quando era criança, Alex e seu irmão aprenderam a se virar sozinhos desde muito novos. "Assim que crescemos um pouquinho a gente já ficava sozinhoesportes da sorte como funcionacasa, porque meus pais tinham que trabalhar, a escola não era integral, eles não tinham ficar com a gente ou como pagar alguém para olhar a gente", diz Alex.

Sem supervisão durante a tarde, Alex e o irmão passavam muito tempo na rua, onde, diz Alex, acabaram tendo maus exemplos e má influência. "A gente ficava na rua, e crescendo na comunidade você convive com tudo, desde os velhinhos simpáticos até com o maior bandido que tem ali."

Quando era adolescente, conta Alex, a faltaesportes da sorte como funcionadinheiro da família começou a gerar ainda mais angústias. "A gente via meus pais trabalhando pra danar, mas o dinheiro nunca dava. Quando eu era novo perdemos quase tudo porque a casa, que era abaixo do nível da rua, inundou durante uma chuva", conta.

"Às vezes eu me pegava chorando e comecei a pensar que precisava fazer alguma coisa. Consegui meu primeiro empregoesportes da sorte como funcionacobradoresportes da sorte como funcionalotação aos 13 anos."

"Mas eu ganhava muito pouco. Aí infelizmente veio uma ideia errada... dá para seguir outro caminho, mas eu entrei numa esteira que levava pro caminho errado. A gente via os caras vendendo droga e ganhandoesportes da sorte como funcionaum dia o que minha mãe ganhava no mês", diz ele, que começou a vender também maconha e cocaína.

"O problema é que a gente começou a usar também, fumar maconha e, mais tarde, a cheirar", conta Alex, hoje ciente dos danosesportes da sorte como funcionasaúde física e mental resultantes do usoesportes da sorte como funcionadrogas na adolescência.

Os adolescentes também começaram a temer pela própria segurança, diz ele e, acabaram furtando um revólver - que nunca chegaram a usar, mas carregavam sempre na mochila. "A violência era muito ruim na época, estava uma bagunça. Aí pegamos o revolver para proteção pessoal."

"Não era para roubar, eu não tinha coragemesportes da sorte como funcionafazer isso, eu sempre falava para o meu irmão: droga a gente não tá tirandoesportes da sorte como funcionaninguém, a gente só vende para quem quer comprar. Mas roubar não, vou tiraresportes da sorte como funcionaoutra pessoa que também trabalha, que também tá lutando pra viver", diz ele.

"Mesmo assim era um pensamento erradoesportes da sorte como funcionaquerer vender droga, hoje eu sei. Mas infelizmente a gente acabou se envolvendo com essas coisas, acabou tendo essas ideias, éramos jovens, com a cabeça fraca."

Os irmãos revezavam o porte da arma, cada hora na mochilaesportes da sorte como funcionaum, mesmo quando iam para escola.

"Foi muito pouco tempo depois, uma menina da escola viu o revólver e denunciou para a escola, que chamou a polícia", conta Alex, que foi levado para um DP e depois para a Fundação Casa ao lado do irmão.

"Encheuesportes da sorte como funcionapolícia na escola, eles me colocaramesportes da sorte como funcionaalgemas, eu saí da escola algemado, com todo mundo olhando. Fiquei morrendoesportes da sorte como funcionavergonha, fiquei mal pela minha mãe, que falava não sabia o que tinha feitoesportes da sorte como funcionaerrado pra gente fazer isso, porque não foi assim que ela educou", conta Alex.

"No DP a gente conheceu um menino que era filhoesportes da sorte como funcionaum irmão (membro do PCC) e já tinha passado por várias unidades. A gente não sabiaesportes da sorte como funcionanada sobre ser internado, né, ele explicou. Ele falou que algumas são comandadas pela facção, outras não. Explicou que tem algumas melhores, outras que são bem ruins", conta Alex.

Sua passagem pela Fundação Casa foi breve, mas o marcou profundamente. Como os dois eram primários, frequentavam a escola, tinham responsáveis, e porteesportes da sorte como funcionaarma é um ato infracional não violento, o juiz aplicou como medida socioeducativa prestaçãoesportes da sorte como funcionaserviços à comunidade (PSC)esportes da sorte como funcionavezesportes da sorte como funcionainternação.

"Me marcou muito porque tem um estigma. A PSC era fazer faxinaesportes da sorte como funcionaum lugar que eraesportes da sorte como funcionafrente à escola onde tudo aconteceu - da qual eu fui expulso. Imagina todo mundo olhando para mim, me vendo ali? Eu estava morrendoesportes da sorte como funcionavergonha, arrependido, e aí o juiz me enviou para outro lugar", diz ele.

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Legenda da foto, Ter conseguido se formar é um grande orgulho para Alex

O poder da arte

Foi essa pequena mudança autorizada pelo juiz que acabou mudando a vidaesportes da sorte como funcionaAlex para melhor.

O novo local para o qual ele foi designado para fazer limpeza e outros serviços era uma Fábricaesportes da sorte como funcionaCultura, um equipamento do governo do Estado que oferece cursos e atividades culturais.

"Ali era demais, tinha um monteesportes da sorte como funcionacursos, várias atividades que eu podia fazer. E antes eu nem conhecia. Então eu fazia o serviço e depoisesportes da sorte como funcionaterminar continuava por lá o dia inteiro", diz o jovem.

Uma das oficinas das quais participou era a atuaçãoesportes da sorte como funcionauma peça - que Alex amou. A oficina era oferecida pelos Satyros, grupoesportes da sorte como funcionateatro que atua há maisesportes da sorte como funciona30 anosesportes da sorte como funcionaSão Paulo. Foi lá que Alex ficou sabendo do programa Satyros Teen - um curso com a companhiaesportes da sorte como funcionateatro que oferecia uma bolsa auxílioesportes da sorte como funciona600 reais.

"No princípio eu estava na dúvidaesportes da sorte como funcioname inscrever, porque era no centro, muito longe da minha casa, 4 horas para ir e para voltar. Mas quando soube da bolsa, eu fui. 600 reais era muito dinheiro, ia fazer muita diferença na minha casa, ajudar meus pais a pagar o aluguel. E eu ia poder ajudar sem fazer algo errado, fazendo inclusive uma coisa que eu tinha adorado".

Alex conta que a oportunidade virou um ciclo virtuoso emesportes da sorte como funcionavida.

Na cia.esportes da sorte como funcionateatro, o jovem conheceu e fez amizade com os fundadores, Ivam Cabral e Rodolfo Garcia Vazquez. "Eles me ensinaram muita coisa, me ajudaram a lidar com os sentimentos. Eu tinha muita raiva dentroesportes da sorte como funcionamim, das injustiças, das dificuldades que meus pais passavam, tinha ressentimento que as pessoas tinham dinheiro e minha família não, apesar do quanto meus pais trabalhavam", conta.

"Até que Luiza, que eu chamoesportes da sorte como funcionaminha madrinha, me perguntou: porque você não usa isso para a arte?", conta Alex. "Então eu criei um personagem para uma peça, e aprendi a canalizar todos aqueles sentimentos para uma coisa boa."

No programaesportes da sorte como funcionaensinoesportes da sorte como funcionateatro para adolescentes da companhia., uma das atividades era apresentar a peça - criada com as histórias dos jovens -esportes da sorte como funcionaescolas e outras instituições. No final, havia uma conversa onde os jovens conversavam com a plateia.

"Sempre perguntavam se eu queria seguir carreira no teatro, mas no Brasil viver da arte é muito difícil, né? Então eu sempre comentava isso e dizia que agora meu plano era fazer uma faculdade, conseguir um emprego", conta.

Alex então prestou direito no Enem. "Eu pensei, vou me formar e realizar o sonho da minha mãe, que sempre dizia que queria que seu filho fosse doutor."

Mas o jovem não passouesportes da sorte como funcionanenhuma universidade pública. "Depoisesportes da sorte como funcionaser expulso da escola, que já não era muito boa, eu fui para uma escola pior ainda, único lugar onde consegui vaga, que era uma escola para quem tinha repetido, sido expulso. Os professores nem ficavam na sala", conta Alex.

O jovem não desistiu e começou a fazer direito na Unip, cuja mensalidade custava todaesportes da sorte como funcionabolsa. Ele continuou trabalhando com a cia.esportes da sorte como funcionateatro, e, nas conversas com a plateia, começou a falar das dificuldades que sofria para conseguir estágio.

Ao finalesportes da sorte como funcionauma dessas conversas, um homem deixou um cartão com Alex.

"Ele estava muito bem vestido, estavaesportes da sorte como funcionaroupa social, e me perguntou: 'você está falando sério que quer um estágio? Se estiver falando sério me liga amanhã nesse número'", conta o jovem.

"Eu nem sabia o que falar na ligação, mas liguei. E ele me conseguiu uma entrevistaesportes da sorte como funcionaum escritórioesportes da sorte como funcionaadvocacia", conta.

Alex foi sincero - não falava inglês, não sabia mexer no computador direito porque nunca tinha tido um, não sabia usar e-mail, Word ou Excel. Mas contouesportes da sorte como funcionahistória, suas dificuldades,esportes da sorte como funcionapassagem pela Fundação Casa.

Contou como se esforçava na faculdade, que parecia ser muito mais difícil para ele do que para os outros por causa do seu ensino médio fraco. E conseguiu a vaga.

"Eu era o único estagiário que não era da USP, do Mackenzie, da PUC. Lá eles me ensinaram tudo, tudo. De mexer no computador à prática do direito. Sou grato demais pela oportunidade que me deram", conta.

"Eu tive que correr atrásesportes da sorte como funcionamuita coisa, porque, por mais que eu estudasse, todo mundo tinha muita bagagem que eu não tinha, sabe? De cultura mesmo,esportes da sorte como funcionaviajar,esportes da sorte como funcionaconhecer as pessoas, falar várias línguas. Coisas muito básicas eram diferentes - como o almoço. Eu tentava ir almoçar com o pessoal, mas não dava para ir sempre. Os outros estagiários, que não ajudavam a família, que já tinham dinheiro, iam almoçar nos restaurantes da Vila Olímpia. Eu levava marmita", conta.

"No começo eu me sentia um peixe fora d'água mesmo, mas todo mundo me recebeu muito bem, meu chefe fazia questãoesportes da sorte como funcioname incluir"

Quando se formou, Alex não passou direto na prova da OAB. "Não passei na primeira fase, que exigia conhecimentoesportes da sorte como funcionatodas as áreas. Fiquei arrasado, muito mal, e não podia pagar cursinho", conta. "Achei que todas minhas esperanças iam morrer."

Foi então que os sócios do escritório deram um presente - R$ 800 para Alex pagar o cursinho para prestar OABesportes da sorte como funcionanovo. E dessa vez ele passou - e agora é oficialmente advogado.

"Não tenho nem como colocaresportes da sorte como funcionapalavras a importância que o teatro tem na minha vida, e a importância da chance que me deram no escritório", conta Alex, que apesaresportes da sorte como funcionatodo o esforço que fez para mudar o rumo daesportes da sorte como funcionavida, diz que não gosta quando atribuem seu sucesso à "meritocracia".

"Eu me esforço muito mesmo, mas eu consegui porque tive uma oportunidade, me deram uma chance! Não existe meritocracia quando não existem oportunidades iguais, quando tantos jovens não têm oportunidade nenhuma", diz ele.

Alex ainda mora na mesma comunidade onde cresceu e ainda demora quase duas horas para voltar para casa, na zona norte, do trabalho, na av. Brigadeiro Faria Lima.

Às vezes, depoisesportes da sorte como funcionadescer do ônibus e começar a subir o morroesportes da sorte como funcionadireção àesportes da sorte como funcionacasa - ainda vestido com as roupas sociais que usa no trabalho - ele reencontra no caminho antigos colegas "do corre", como diz, seus amigos da infância e da adolescência, alguns dos quais também chegaram a cometer atos infracionais.

"Olha lá o doutor!", "Tá chique, hein?" eles cumprimentam.

"Outro dia um dos caras me parou e perguntou 'como que é esse negócio aíesportes da sorte como funcionafazer faculdade' e contei que é muito da hora, que minha vida mudou, que também dá para ele fazer e tal", diz Alex, com clara alegria na voz.

"Fiquei muito feliz. Às vezes as pessoas nem acham que têm essa possibilidade na vida, sabe? Falta oportunidade, informação, exemplos. E é muito bom sentir que eu estou sendo um exemplo positivo."

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