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'Se aumentar mais, profissão acaba': alta dos combustíveis já levou 25% dos motoristas6 betapps a desistir:6 bet
"Eu ganhava6 betR$ 200 a R$ 300 reais por dia, mas eu gastava R$ 200 para encher o tanque com gasolina. Não valia a pena nem como complemento da renda", afirmou ela.
Essa foi a decisão6 betmilhares6 betpessoas cadastradas como motoristas6 betaplicativos6 bettransporte6 bettodo o Brasil,6 betacordo com o número apresentado por associações. Procurados, Uber e 99 — as maiores empresas do segmento no país — não apresentaram seus números ou discordaram desses dados.
As plataformas disseram que não têm nenhuma relação com o aumento dos combustíveis, mas que fazem parcerias com redes6 betpostos, o que garante descontos aos motoristas.
O presidente da Associação6 betMotoristas6 betAplicativos6 betSão Paulo (Amasp), Eduardo Lima6 betSouza, — que diz representar até 62 mil profissionais — afirma que as tarifas não são reajustadas desde 2015. Segundo ele, 25% dos motoristas6 betaplicativo deixaram6 bettrabalhar para a plataforma desde o início6 bet2020.
De acordo com o representante da categoria, esse número foi colhido a partir6 betuma base6 betdados da prefeitura. Souza diz que ela tinha 120 mil motoristas cadastrados no início6 bet2020 e, hoje, tem 90 mil.
"Os motoristas entraram numa fase crítica depois desses consecutivos aumentos dos combustíveis. Uma situação muito grave. Não tivemos reajuste6 bettarifa nem para acompanhar a inflação desde 2015. O motorista vem sentindo isso e muitos vêm desistindo desde o início da pandemia,6 bet2020", afirmou.
A 99 disse que conecta mais6 bet750 mil motoristas a passageiros6 betquase 2.000 cidades brasileiras e que este número se manteve estável mesmo durante a pandemia. "Podemos afirmar que não registramos diminuição significativa6 betmotoristas parceiros na plataforma", disse a empresa por meio6 betnota.
A empresa também admitiu que "o aumento6 betpedidos6 betcorrida pode ocasionar maior tempo6 betespera na plataforma". A 99 disse ainda que " penaliza o motorista parceiro que cancela6 betforma recorrente as corridas, assim como ocorre para passageiros".
A Uber disse que tem "equipes e tecnologias próprias que revisam constantemente as viagens e cancelamentos para identificar suspeitas6 betviolação e, caso sejam comprovadas, banir as contas envolvidas".
A Uber disse ainda que "os usuários estão tendo6 betesperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários6 betpico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens."
Valor do repasse
O presidente da associação pede que os aplicativos tomem medidas para aumentar os rendimentos dos motoristas. A principal é aumentar os valores repassados aos trabalhadores.
Souza diz ainda que a categoria está6 betnegociação com o governo paulista, a quem eles pedem uma redução do ICMS (imposto sobre mercadorias e serviços) dos combustíveis. Eles também querem a implantação6 betum programa para auxiliar os motoristas a converterem seus carros para o Gás Natural Veicular (GNV) — que permite uma economia6 betmais6 bet50%6 betrelação ao consumo6 betgasolina.
Para instalar o equipamento, porém, os motoristas dizem que precisam desembolsar até R$ 4.000. Caso a situação persista sem acordo, os sindicalistas ameaçam fazer protestos e até entrar6 betgreve.
"Queremos que o governo estadual zere o ICMS do combustível. Esses dias, abasteci R$ 220, mas R$ 94 foi apenas6 betimposto. Se a gasolina chegar a R$ 7, como dizem, não tem como trabalhar. A gente busca o diálogo, mas numa possível manifestação, a população também estaria do nosso lado porque os combustíveis e a qualidade do transporte impactam e também prejudicam diretamente a vida deles", afirmou Eduardo Lima6 betSouza.
Ele disse estar6 bet"negociação avançada" com o governo para a implantação do projeto sobre o GNV e que tem participado6 betreuniões com a Uber e a 99 para tratar6 betaumentos dos repasses.
Procurado, o Governo do Estado6 betSão Paulo resumiu a dizer que "houve reuniões sobre o tema e há interesse no projeto".
Daniela Cristina Teles, que desistiu6 bettrabalhar como motorista6 betaplicativos, começou a atuar na área6 bet2017, depois6 bet15 anos trabalhando como gerente6 betloja6 betum shopping6 betSão Paulo. Ela disse que migrou6 betprofissão na época porque já estava cansada, queria ter um trabalho sem ter6 betlidar com chefe e poder fazer o próprio horário.
"Atualmente, o motorista escolhe corridas porque tem algumas inviáveis. Deveria haver um reajuste6 bettarifas para fazer as corridas girarem e mais gente querer usar. As plataformas aumentaram o valor para os passageiros, mas ele não foi repassado para os motoristas e o serviço piorou. Todo mundo perdeu".
Vontade6 betdesistir
Usuários frequentes6 betaplicativos6 bettransporte ouvidos pela BBC News Brasil disseram que, no último ano, se tornou mais difícil fazer uma corrida, pois é comum motoristas cancelarem antes6 betbuscar os passageiros.
Motoristas disseram que isso é verdade e que ocorre porque muitas vezes o percurso não vale a pena, por conta do grande deslocamento até o local onde o passageiro está.
A massoterapeuta Ana Paula Aparecida6 betOliveira,6 bet38 anos, trabalha há cinco como motorista6 betaplicativo, depois que se divorciou e abandonou o emprego na empresa do ex-marido. Com o dinheiro do trabalho com aplicativos, ela criou os dois filhos, hoje com 18 e 14 anos, mas agora reflete: "penso todos os dias6 betdesistir".
"É triste quando fecha o dia e eu saio para abastecer. Estou há muito tempo fora do mercado6 bettrabalho e tenho dois filhos para criar, senão eu voltaria para a minha área", afirmou.
Ana Paula é uma motorista exemplar e possui um status que os mais novos almejam: 25 mil corridas acumuladas nos aplicativos, sendo 15 mil na Uber e 10 mil na 99.
Ela ainda é avaliada pelos passageiros com nota 5 (máxima) na 99 e 4,99 na Uber. Quanto maior a nota e o número6 betcorridas, mais chances ela tem6 betser selecionada pelo algoritmo para transportar mais passageiros.
Com tamanha experiência no mercado, ela diz trabalhar 14 horas por dia, das 18h às 8h. Como a Uber só libera 12 horas6 betjornada por dia, as outras duas ela complementa com a 99.
"É uma jornada muito puxada, mas necessária. É um horário6 beturgência e emergência, no qual somos muito acionados. Se você ligar para a ambulância, ela demora, mas a preta aqui chega6 bet5 minutos", afirmou sorrindo.
Ela disse que dezenas6 betmotoristas relatam,6 betgrupos6 betWhatsApp que ela participa, que estão exaustos, deprimidos, com ansiedade e desesperados por não terem certeza6 betque conseguirão pagar as contas no fim do mês. Ela também se diz "lutando contra o psicológico", mas afirma que usa truques para não ficar no prejuízo. Entre eles, está a escolha6 betcorridas.
"Eu escolho corridas, não nego. Quando toca uma corrida longa, eu aceito. Já no horário6 betpico, se eu pego muitas curtas, o lucro é menor porque algumas vezes demora 10 minutos para chegar até o passageiro. Geralmente, eu perco esse tempo e gasto combustível para fazer uma corrida pequena", relatou.
Para ela, o ideal seria ter condições6 betinstalar um kit GNV no carro para economizar combustível.
"Assim, eu teria um fôlego maior. Eu tenho um carnê do carro para pagar, responsabilidades e dois filhos adolescentes6 betcasa. Eu pago R$ 3006 betluz. Eu queria ter uma válvula6 betescape, mas a minha área é descartável. As pessoas abrem mão6 betmuita coisa e deixam a minha área por último. Ninguém quer fazer massagem na crise", afirmou.
Escolha e cancelamento6 betcorridas
O presidente da Amasp, que também trabalha como motorista, disse que se tornou comum ocorrer situações nas quais o motorista gasta mais para buscar o passageiro do que ganha para levá-lo ao destino.
"Semana passada, tive6 betrodar 17 minutos (5,9 km) para chegar ao passageiro. Quando o peguei, percorri 1,5 km6 betcinco minutos. Ganhei R$ 8 pela corrida, o que mal deu para pagar o combustível, já que meu carro faz 5,9 km com um litro6 betetanol", afirmou Eduardo Lima6 betSouza.
Ele ainda critica o algoritmo do aplicativo, que, segundo ele, liga motoristas a passageiros que estão mais distantes. Ele mesmo disse ter feito testes com outros motoristas, que apontaram que o aplicativo acionou motoristas mais longe, ao invés6 betalguns que estavam mais próximos dos passageiros.
Souza também diz que o aplicativo, muitas vezes, cancela a corrida sozinho.
"As plataformas estão com problemas nos aplicativos e a culpa está caindo nos motoristas", afirmou.
Rosemar Pereira,6 bet48 anos, disse que só não desistiu6 bettrabalhar como motorista6 betaplicativo porque ganhou há um mês um kit GNV6 betum amigo.
"Eu só tive6 betpagar R$ 800 para instalar e R$ 600 para alterar a documentação do carro, mas te garanto que a economia é gigante. O problema é que a maioria dos motoristas não tem condição6 betfazer esse investimento. Eu mesmo tive6 betusar o cartão da minha esposa para pagar a instalação", contou.
Pereira é motorista profissional há mais6 bet20 anos. Já dirigiu táxi, ônibus e agora trabalha com aplicativos porque não consegue voltar para a área6 betorigem. Ele conta que já deixou o currículo dele6 betdiversas empresas6 bettransporte para voltar a dirigir ônibus, mas acredita que não é contratado por ser considerado velho para a profissão.
Na opinião dele, se a previsão6 betalguns economistas se concretizar e o combustível continuar aumentando, a categoria não conseguirá mais trabalhar e acabará.
"Se tiver mais dois aumentos, a profissão acaba, se torna inviável. Essas promoções que os aplicativos fazem para os passageiros são inviáveis para nós. Os carros são lavados pelo menos duas vezes por semana. Eu só não desisti porque não arrumei nada e ganhei esse kit que caiu do céu. Mas se os aplicativos diminuíssem a taxa deles e o governo reduzisse os impostos, ajudaria bastante o motorista".
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