Amazônia: Como El Niño ajudou a devastar 2,5 bilhõessport in bet ioárvores e cipóssport in bet iomeio a seca e incêndios:sport in bet io

Crédito, Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável

Legenda da foto, Queimadasport in bet iofloresta amazônica ao lado da BR 163 no Pará deixou grande númerosport in bet ioárvores mortas (na imagem, sem folhas e esbranquiçadas)

Crédito, Erika Berenguer/Divulgação

Legenda da foto, Floresta afetada pela seca e fogos na regiãosport in bet ioSantarém durante o El Niñosport in bet io2015

Os pesquisadores também calcularam quanto carbono foi liberado na atmosferasport in bet ioconsequência da morte dessas bilhõessport in bet ioárvores: 495 milhõessport in bet iotoneladassport in bet ioCO² — valor maior que o liberado pela florestasport in bet ioum ano inteirosport in bet iodesmatamento. E descobriram ainda que as árvores continuaram a morrer e a liberar mais carbono na atmosfera por causa da seca provocada pelo El Niño anos depois do fenômeno climático.

O estudo "Tracking the impacts of El Niño drought and fire in human-modified Amazonian forests" (monitorando os impactos da seca e incêndios do El Niñosport in bet ioflorestas amazônicas com interferência humana) foi publicado nesta segunda (19/7) no periódico científico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America).

Como monitorar tantas árvores?

Desde 2010, pesquisadores monitoram 21 parcelassport in bet ioterra da Floresta Amazônica espalhadas com até 100 kmsport in bet iodistância umas das outras na região do Baixo Tapajós.

Em 2015, observando a extrema seca causada pelo El Niño, resolveram verificar como o fenômeno impactaria as plantas daquela região.

Crédito, Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável

Legenda da foto, Autora principal do estudo, Erika Berenguer, monitora árvoressport in bet iouma floresta amazônica queimada durante o El Niñosport in bet io2015

Eles já tinham mapeado 6.117 delas — "como num jogosport in bet iobatalha naval", explica a bióloga Erika Berenguer, das universidadessport in bet ioOxford e Lancaster e autora principal do estudo. Cada árvore era registradasport in bet ioquadrantes diferentes, com seu "X" e "Y" correspondente para facilitarsport in bet ioidentificação.

Ao longosport in bet iotrês anos, entre outubrosport in bet io2015 e outubrosport in bet io2018, os pesquisadores voltaram trimestralmente para cada uma daquelas 21 parcelassport in bet ioterra e verificavam árvore por árvore para saber qual havia sido seu destino.

As árvores morrem pela seca ou pelo fogo causado por humanos. E esse fogo, porsport in bet iovez, pode ter diferentes origens. Uma delas, talvez a mais conhecida, é o desmatamento. Depoissport in bet ioderrubadas as árvores, o fogo é colocado para se livrar da floresta no chão. Outras origem são seu uso para a limpezasport in bet iopasto na Amazônia ou para incorporar os nutrientes da vegetação no solo — uma prática antiga que, no entanto, é afetada negativamente pela seca que deixa a paisagem mais inflamável.

Esses fogos controlados podem escapar da área designada e entrar dentrosport in bet ioáreassport in bet iofloresta. Em um períodosport in bet ioseca, isso é perigoso.

Crédito, Erika Berenguer/Divulgação

Legenda da foto, Incêndios florestais na Amazônia são feitossport in bet iofogos bem pequenos, com chamassport in bet io30 cmsport in bet ioaltura que se movem muito devagar durante dias e diassport in bet ioqueima

"A Amazônia é muito úmida. Normalmente esse fogo, se escapasse, morreria, igual fogosport in bet ioum pedaçosport in bet iopano molhado", explica Berenguer. Mas como, no período analisado por cientistas, o clima estava muito seco — foram oito mesessport in bet ioseca — "o fogo, quando escapava, entrava na floresta". "Ela estava como um pano seco parado no sol."

São fogos bem pequenos, com chamassport in bet io30 cmsport in bet ioaltura, e que se movem muito devagar durante dias e diassport in bet ioqueima. "É lerdo esport in bet iobaixa intensidade. Mas quando cobre grandes áreas, fica difícilsport in bet ioapagar", diz a pesquisadora. Além disso, é difícilsport in bet iover, porque as árvores são altas. Sua fumaça, sim, é visível.

Então, pesquisadores voltavam para aquelas parcelassport in bet iomata para ver se as árvores haviam morrido. É possível descobrir se uma árvore na Amazônia morreusport in bet ioacordo com diferentes fatores.

"Se não tem folha, é um sinal que já está morta, já que a maioria das árvores na Amazônia não perdem folhassport in bet iopartes do ano", explica Berenguer. Outra técnica: fazer um corte com um facão. "Você tira um pedaço da casca para ver se ela está seca ou não."

Crédito, Jos Barlow/Divulgação

Legenda da foto, Entre outubrosport in bet io2015 e outubrosport in bet io2018, pesquisadores voltavam trimestralmente para 21 parcelassport in bet ioterra e verificavam árvore por árvore

Ela explica que, diferentementesport in bet iooutros biomas, a Amazônia não evoluiu com o fogo. "As árvores não estão preparadas para lidar com o fogo, elas têm uma casca muito fina, sem o isolamento térmico que árvores do cerrado têm. A cascasport in bet ioárvores da Amazônia são iguais a uma folhasport in bet iopapel. Ela é superfina, sem proteção alguma", diz.

Depoissport in bet iodescobrirem quantas árvores e cipós tinham morridosport in bet ioexcesso, os cientistas extrapolaram esse resultado para a área maior do Baixo Tapajós,sport in bet io6,5 milhõessport in bet iohectares. "A gente sabe o quantosport in bet iofloresta tem nessa área grande e o quantosport in bet iomédia a gente perdeusport in bet ioárvores nas parcelas. Se a gente perdeusport in bet iomédia tantas árvores nessas parcelas todas, o quanto a gente perdeu na região toda?", explica Berenguer.

O resultado foram os inacreditáveis 2,5 bilhõessport in bet ioárvores e cipós perdidos naquela região. Para Berenguer, os números surpreenderam ao mostrar a grandeza da mortalidade das árvores e a perdasport in bet iocarbono. "Quando você está andando na floresta, você sabe que a situação não está boa. Mas não sabíamos a magnitude disso."

Ver grande parte da floresta que monitorava havia anossport in bet iorepente morta foi "difícil emocionalmente", diz Berenguer. "Você cria ligações com a floresta, como se fosse o quarteirão onde você mora, com a árvore que você gosta."

Os pesquisadores também descobriram que os efeitos da seca do El Niño duraram maissport in bet iotrês anossport in bet ioflorestas afetadas pela seca e dois anos e meiosport in bet ioflorestas afetadas tanto pela seca quanto pelo fogo, com árvores ainda morrendo nesse período por conta do fenômeno climático.

O número menor para as florestas afetadas pela seca e pelo fogo parece,sport in bet ioinício, contraintuitivo. Mas "não é porque fogo causa menos dano", explica Berenguer. "É porque já morreu tanta planta no início, que acaba não tendo mais o que matar."

As árvores localizadassport in bet ioflorestas que já sofreram impacto são muito mais vulneráveis ao próximo fogo, com maior chancesport in bet iomorrerem. A floresta fica aberta, com maior entradasport in bet ioluz e vento, o que a deixa mais seca. "Se o fogo escaparsport in bet iooutros anos, é mais propíciosport in bet iose sustentar ali. Acaba criando um looping de feedback negativo", diz Berenguer.

Soluções

O El Niño acontece a cada dois a sete anos,sport in bet iomédia, e há estudos que apontam que as mudanças climáticas podem agravar o fenômeno. Seu efeito na Amazônia, como se vê, é devastador. Mas há ações que podem ser feitas para evitar que seja tão destrutivo.

Crédito, Erika Berenguer/Divulgação

Legenda da foto, Brasil pode fazer mapasport in bet ioriscosport in bet ioincêndio para evitar maiores perdassport in bet ioeventossport in bet ioseca

Um ponto fundamental é a prevenção, diz Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e da Rede Amazônia Sustentável e uma das autoras do estudo. Por meiosport in bet iosatélites, cientistas já têm a capacidadesport in bet ioprever secas. "E já sabemos que a seca é altamente relacionada com queimadas. Uma vez que o fogo inicia é muito difícil controlar."

Quando o desmatamentosport in bet ioum ano é muito alto, é possível inferir, também, que isso poderá se refletir no ano seguinte com uma possibilidade maiorsport in bet ioincêndios, já que regiões com áreas mais desmatadas e mais secas são mais vulneráveis a queimadas.

Por isso, diz Ferreira, o Brasil tem "toda a condiçãosport in bet iofazer um mapasport in bet ioriscosport in bet ioincêndio", como está sendo feito na região do Tapajós.

E há três pontos que podem ser endereçados. A seca, o fogo causado pela limpezasport in bet iopasto ou por comunidades para incorporar os nutrientes da vegetação ao solo e, claro, o fogo causado para "limpar" uma região desmatada.

Para diminuir as consequênciassport in bet ioum eventosport in bet ioseca como o El Niño, a médio e longo prazo, é preciso investir na restauração florestal, diz Ferreira, para reduzir a degradação das florestas. Dessa maneira, as matas ficam menos secas e, assim, menos vulneráveis a secas.

Para controlar o fogo que pode escapar quando usado para limpar o pasto ou para incorporar nutrientes ao solo, gestores podem fazer regras mais rígidas, determinando certas condições para a realização dessas queimadas.

Podem determinar, por exemplo, a quantos diassport in bet iodiferença da chuva esses fogos poderão ser feitos, impedir que sejam levados a cabosport in bet iohoráriossport in bet iomaior calor ou que sejam postos no contravento e não a favor do vento, entre outros.

O governo pode também disseminar técnicas agrícolas que dependam menos do fogo, diz Ferreira, e dar apoio para que populações tenham condiçõessport in bet iousar essas outras técnicas.

Por fim, é preciso combater o desmatamento — emsport in bet iomaior parte, ilegal. "É uma questãosport in bet iocomando e controle. As instituições têm que ser mais fortalecidas, devem ser mais rigorosas nas multas, na regularização ambiental das propriedades e realmente fazer esforço para utilizar recursos que tem para responsabilizar quem faz as práticas ilegais", diz Ferreira.

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