Paulo Gustavo: o que a ciência diz sobre a asma, citada erroneamente como 'comorbidade' do ator:slot r

As informações desencontradas confundiram ainda mais pessoas com asma e seus familiares, que ficaram assustados com um eventual risco aumentadoslot rdesenvolver formas graves da covid-19.

"Recebo uma ligação atrás da outra. Eu tento sempre acalmar os pacientes e passo as orientações baseadas nas evidências científicas", conta o pneumologista Guilherme Freire Garcia, da Santa Casaslot rBelo Horizonte.

Pelo que se sabe até o momento, a asma não representa um fatorslot rrisco para a covid-19.

"De forma geral,slot rcomparação com o resto da população, os portadores da enfermidade não têm mais chanceslot rpegar o coronavírus, desenvolver as formas graves da infecção, ir para a terapia intensiva ou morrer", responde Garcia, que também integra o Comitêslot rAsma da Sociedade Brasileiraslot rPneumologia e Tisiologia (SBPT).

Um aparente contrassenso

No início da pandemia, durante o primeiro semestreslot r2020, pneumologistas e imunologistas acreditavam que a covid-19 poderia ser mais grave e até potencialmente fatal nos asmáticos.

A suspeita baseava-se no fatoslot rque outros vírus causadoresslot rinfecções respiratórias, como o rinovírus (resfriado) e o influenza (gripe), costumam ser mais preocupantes e complicados nesses indivíduos.

Logo, não era estranho imaginar que o coronavírus também pudesse causar mais estragos nos pulmões dos portadores dessa condição crônica.

Mas, contrariando todas as expectativas, os estudos científicos não encontraram essa relação, para surpresa dos próprios especialistas.

"Desde as primeiras pesquisas, observamos que a taxaslot rpacientes com asma leve e moderada sob controle que precisaram ser internadosslot rrazão da covid-19 não era superior ao restante da população", detalha o imunoalergologista Pedro Giavina-Bianchi, coordenador do Departamento Científicoslot rAsma da Associação Brasileiraslot rAlergia e Imunologia (Asbai).

"Isso nos permite afirmar, portanto, que o asmático não é considerado gruposlot rrisco para a covid-19", completa o especialista, que também é professor da Faculdadeslot rMedicina da Universidadeslot rSão Paulo.

Pelo que se sabe até agora, a maior probabilidadeslot ragravamento só acontece mesmo nos pacientes com os quadros mais sérios,slot rque nem o melhor tratamento disponível consegue conter as crisesslot rfaltaslot rar.

Para acabar com as dúvidas, a Asbai, a SBPT e a Associação Médica Brasileira se reuniram e publicaramslot rfevereiroslot r2021 um documento com orientações e informações para seus pacientes durante a pandemia.

"Nos estudos que avaliaram a gravidade da covid-19, o diagnósticoslot rasmaslot rgeral não foi associado a piores desfechos, independentemente da idade, obesidade ou outras comorbidadesslot ralto risco. Não houve diferença significativa no temposlot rinternação hospitalar, necessidade e temposlot rintubação, traqueostomia, readmissão hospitalar ou mortalidade entre pacientes com e sem asma. Portanto, no momento, não existem evidênciasslot rpiores desfechos clínicos relacionados à covid-19 no asmático leve a moderado com a doença controlada", ratificam os autores.

Pelas poucas informações disponíveis, o humorista Paulo Gustavo provavelmente tinha, no máximo, um quadro leveslot rasma, que estava controlado há tempos.

Portanto, essa enfermidade não serviria para explicar a evolução ouslot rmorteslot rdecorrência da infecção com o coronavírus.

Uma conjunçãoslot rfatores

Alémslot rnão encontrarem um risco elevado na grande maioria dos asmáticos, os cientistas fizeram uma descoberta ainda mais curiosa: a doença crônica poderia até ser um fator protetor contra a covid-19.

Mas como explicar esse achado surpreendente?

Embora ainda sejam necessários mais estudos para esclarecer a questãoslot rvez, há pelo menos duas prováveis hipóteses.

Primeiro, os quadrosslot rasma relacionados às alergias,slot rque ácaros, pelosslot ranimais e outros produtos funcionam como gatilhos para as crises, estão relacionados a uma menor presença do receptor ECA-2 na superfície das células pulmonares.

E é justamente esse o receptor usado pelo coronavírus para invadir as células e iniciar a infecção — sem ele, portanto, o agente viral certamente vai encontrar mais dificuldades.

A segunda teoria aponta para a açãoslot ralguns dos remédios utilizados no tratamento da enfermidade.

"Na situação específica desses pacientes, o usoslot rmedicamentos da classe dos corticoides também poderia ter algum papel que ainda precisa ser melhor esclarecido neste contexto", aponta Bianchi.

Que fique claro: o fatoslot rter asma pode até eventualmente representar uma proteção extra contra a covid-19, mas isso não significa que essas pessoas estão livres das medidas preventivas, como o usoslot rmáscaras, o distanciamento físico, a lavagem das mãos e o cuidado com a circulaçãoslot rar pelo ambiente.

"Quem tem asma apresenta o mesmo riscoslot rpegar o coronavírusslot rum indivíduo sem a doença. Portanto, é preciso se cuidar", arremata o médico.

E a precaução maior tem outro efeito colateral positivo: todas essas medidas também ajudam a evitar quadrosslot rgripe e resfriados.

E isso, porslot rvez, se reverte num menor riscoslot rcrises e complicações por essas outras doenças infecciosas.

E a vacinação?

Outro pontoslot rconfusão constante é a imunização contra a covid-19.

Afinal, quem tem asma faz parte do público-alvo para receber as doses ou não?

De acordo com as últimas diretrizes do Ministério da Saúde, por enquanto a vacina só estará disponível para aqueles com quadro mais grave da doença.

Os demais, que apresentam graus leves e moderados, precisarão esperar mais um poucoslot rrazão da escassezslot rdoses e da urgênciaslot rresguardar outros grupos que correm mais perigo.

"Vale salientar que os pacientes que integram o público-alvo não precisam ficar com medoslot rtomar a vacina. As pesquisas não encontraram riscosslot rreações alérgicas neste grupo", indica Garcia.

E isso vale inclusive para aqueles que fazem uso contínuoslot rremédios da classe dos corticoides ou dos imunobiológicos.

Se você tem históricoslot ralergias graves e constantes e está com alguma dúvida, converse com seu médico para que ele possa passar uma orientação individualizada para o seu caso.

Continuidade das terapias

Bianchi lembra que, apesarslot rtodas as limitações da pandemia, é essencial que os asmáticos sigam o tratamento à risca.

"Independentementeslot rqualquer outro quatro associado, a asma ainda mata sete brasileiros todos os dias", calcula.

"Além disso, muitos dos sintomas da doença, como tosse, faltaslot rar e dor no peito, podem ser confundidos com os sinais da covid-19 e isso dificulta o diagnóstico", acrescenta.

Para piorar, as crisesslot rfaltaslot rar costumam exigir idas ao pronto-socorro — locais que, na atual conjuntura, representam um altíssimo riscoslot rinfecção pelo coronavírus.

Dianteslot rtudo isso, é ainda mais importante continuar tomando os remédios, segundo a orientação do médico que acompanha o caso.

Pelas últimas estimativas, essa enfermidade crônica atinge cercaslot r12% dos brasileiros (ou cercaslot r24 milhõesslot rpessoas no país).

Curiosamente, o Dia Mundial da Asma foi comemorado na quarta (05/05), um dia após a morteslot rPaulo Gustavo. A data chama a atenção para a necessidade do diagnóstico e do tratamento corretos da doença.

E,slot racordo com Garcia, a situação dos portadores melhorou muito recentemente.

"Nos últimos 15 anos, com a evolução terapêutica e a disponibilizaçãoslot rremédios gratuitos pelo Programa Farmácia Popular, conseguimos diminuir o númeroslot rpacientes com quadros gravesslot rasma que necessitavamslot rinternaçãoslot rmaisslot r50%", calcula.

E tudo indica que mais avanços devem ocorrer num futuro próximo.

"Estamos propondo algumas mudanças no protocolo nacionalslot rtratamento da asma, que deve incluir novas medicações para os casos mais graves", finaliza o pneumologista.

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