Caso Henry Borel: o que se sabe sobre a morte da criança4 anos e prisão da mãe e do padrasto:

Crédito, Tania Rego/Agência Brasil

Legenda da foto, O vereador Dr. Jairinho (foto) enamorada, Monique Medeiros, são investigados pela morte do menino Henry Borel Medeiros,4 anos

O vereador carioca Dr. Jairinho (expulso do partido Solidariedade) e a namorada dele, Monique Medeiros, foram presos8/4 sob suspeitaatrapalhar as investigações sobre a morteHenry Borel Medeiros,4 anos, ocorrida um mês antes. O caso ganhou grandes proporções depois que o casal passou a ser considerado suspeito da morte, cercadaperguntas sem resposta.

O garoto, filhoMonique, foi encontrado morto no apartamento onde morava mãe dele e o namorado com diversas lesões graves pelo corpo. O casal disse à polícia que Henry teria sofrido um acidente doméstico no dia.

O laudo do Instituto Médico-Legal (IML), porém, apontou que o garoto sofreu diversas lesões gravesdiversas partes do corpo. A perícia apontou ainda que a causa da morte foi uma hemorragia interna e uma laceração no fígado causada por uma ação contundente. Isso levou a polícia a descartar um acidente como a causa da morte.

Segundo o delegado responsável pela investigação, Henrique Damasceno, hoje o casal é investigado por homicídio duplamente qualificado. Isso porque teria sido usada tortura e por empregorecursos que causaram impossibilidadedefesa da vítima, segundo ele.

Crédito, Renan Olaz/CMRJ

Legenda da foto, Dr. Jairinho é vereador no Rio

O delegado disse que a babá do garoto, ThaynáOliveira Ferreira, que tinha um vínculo estreito com o casal, mentiu durante o depoimento. Isso indica, segundo ele, que houve uma interferência dos investigados.

A investigação também identificou, por meiocapturastelacelulares, que a criança sofria uma rotinasofrimento e agressão.

A Polícia Civil disse que o casal deve ser indiciado e, caso o promotor aceite a denúncia, os dois serão denunciados e levados a julgamento.

De acordo com a polícia, Dr. Jairinho também é investigado por agredir a filhauma ex-namorada dele. O político também foi identificado pela voz por jornalistas do veículo O Dia durante a tortura a que eles foram submetidos por causauma reportagem investigativa sobre milícias na zona oeste do Rio,2008. Dr. Jairinho e o pai, Coronel Jairo, negam envolvimento com milícias.

O delegado disse,entrevista coletiva à imprensa8/4, que foram "reunidas provas fundadas" que apontam o casal como responsável pelo crime. Os dois foram encontrados no momento da prisãoum endereço que eles não tinham informado no inquérito. Eles negam o crime.

Segundo reportagem do portal UOL, Monique foi recebida por outras detentas do presídio para o qual foi levada com gritos"uh, vai morrer".

Chutes e rasteira

O delegado responsável pelo caso revelou ainda conversas trocadas no dia 12fevereiro (pouco menos30 dias antes da morte do garoto) entre a babá e Monique, a mãeHenry. No diálogo, a funcionária relata agressões cometidas por Dr. Jairinho contra a criança.

Em um dos diálogos, a funcionária conta que Dr. Jairinho e Henry ficaram trancados no quarto por alguns minutos com a TV ligada com um volume alto. Quando a criança saiu do cômodo, teria contado a ela que levou chutes e uma rasteira, alémreclamardores no joelho e na cabeça.

Segundo o delegado Henrique Damasceno, isso prova que a babá mentiu no depoimento, já que ela disse que a relação entre eles era muito boa.

"Está bastante evidenciadoque ela mentiu. Ao invésnarrar qualquer incidente dentro daquela residência, ela disse que era uma relação harmoniosa. Verificamos que testemunhas estavam sendo influenciadas. Foi urgente a prisão porque havia um prejuízo nas investigações com a liberdade dos investigados", afirmou Damasceno.

Crédito, Tania Rego/Agencia Brasil

Legenda da foto, Mensagens encontradas no celularMonique Medeiros (foto), mãeHenry, foram fundamentais na investigação, segundo a polícia

Mesmo sabendo das agressões, o delegado diz que a mãeHenry não procurou a polícia e também não afastou a vítima do agressor. No dia da morte do garoto, a babá não estava no apartamento.

De acordo com o delegado, Dr Jairinho não queria que o corpo do menino fosse para o IML e pediu para que o atestadoóbito fosse liberado ainda no hospital. O argumento que ele deudepoimento foique ela queria "virar logo essa página".

Mas um "executivo da área da saúde", segundo o delegado, negou o pedido.

Polícia usou software para recuperar mensagens apagadas do celular

Um dos principais caminhos nesta busca por respostas é um sofisticado programacomputador israelense, que permitiu à polícia do RioJaneiro desbloquear aparelhos e resgatar mensagenstexto e imagens que teriam sido apagadas dos celularesDr. Jairinho enamorada, Monique Medeiros, mãeHenry.

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Reproduçãosite criado pelo casal para se defender; eles alegam que Henry sofreu um acidente doméstico

O software, chamado Cellebrite Premium, tem uso restrito para autoridades e já foi usado no Brasilinvestigações importantes como a Operação Lava Jato e os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes,março2018.

Em entrevista coletiva no dia 8abril, o delegado Antenor Lopes, diretor do DGPC (Departamento GeralPolícia da Capital), afirmou que o celular da mãeHenry foi uma das peças-chave no quebra-cabeças que se transformou a investigação.

"Nós encontramos no celular da mãe printsconversa que foram uma prova extremamente relevante, já que são do dia 12fevereiro. E o que nos chamou a atenção é que era uma conversa entre a mãe e a babá que revelava uma rotinaviolência que o Henry sofria. A babá relata que Henry contou a ela que o padrasto o pegou pelo braço, deu uma rasteira e o chutou. Ficou bastante claro que houve lesão ali. A própria babá fala que o Henry estava mancando."

Segundo Lopes, o programacomputador israelense permitiu que a polícia resgatasse as mensagens. que se podem se tornar provas técnicas na apuração.

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Segundo o delegado responsável pela investigação, Henrique Damasceno, hoje o casal é investigado por homicídio duplamente qualificado

"Hoje temos todos os elementos probatórios e podemos sim afirmar que temos provas que essa criança foi assassinada e não foi vítimaum acidente doméstico", disse Lopes.

"O Cellebrite foi uma prova técnica essencial, muito forte, onde o delegado embasou seu pedidoprisão, que é corroborado pelo Ministério Público e acabou sendo deferido pela juíza do 2º Tribunal do Júri", afirmou,referência ao mandadoprisão expedido pelo colega Damasceno contra o casal.

"As mensagens que foram obtidas atravésuma prova técnicafato comprovam que essa criança vinha sofrendo agressões dentro do apartamento. Agressões praticadas pelo vereador e médico Dr. Jairinho. Todas as provas técnicas serão juntadas ao inquérito policial, mas neste momento podemos afirmar sim que houve toda uma arquitetura incompreensível caso fosse um acidente, a combinaçãodepoimentos. Algo que não se esperauma família enlutada. Todas as provas técnicas estão sendo finalizadas", disse Lopes.

À imprensa, no último dia 8, outra delegada que participa das investigações afirmou que o casal lançou celulares pela janela quando a polícia se aproximou,uma suposta tentativaeliminar provas.

Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, Fernando José Fernandes afirmou que o casal é inocente e alvoprisão irregular.

"Eu não tenho medo. Olha, coloca bem bonitinho aí que nós não temos medonada, tá? Eu ainda acredito que têm dois inocentes, tá? Mas isso ainda pode ser provado. Vou esperar, aguardar. Minha filha está presa, tem um monteirregularidade. Eu não posso comentar para não atrapalhar a investigação", disse Fernandes, avôHenry e paiMonique.

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