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Acadêmica brasileira viraliza unindo kimono e cabelo afro no Japão:gg bet paga
"As primeiras estudantes japonesas emprestaram dos seus irmãos a vestimenta para que pudessem frequentar a escola da mesma maneira que eles,gg bet pagaforma livre", ela contextualizou, no Twitter. "O hakama é uma conquista feminina, que celebra a possibilidadegg bet pagamovimentar o corpo, estudar e se colocargg bet pagapégg bet pagaigualdade aos homens."
Paulistana, Marina nasceu e cresceugg bet pagaItaquera, na zona lestegg bet pagaSão Paulo, até os 15 anos. Morougg bet pagauma casa simplesgg bet pagauma favela, ao ladogg bet pagaum lixão. Depois, mudou-se para o distrito da Vila Carrão, também na zona leste da cidade. Foi ali que ela passou a se interessar por língua japonesa.
Nos arredores onde a famíliagg bet pagaMarina vivia na Vila Carrão, viviam muitos imigrantes e descendentesgg bet pagaOkinawa, a menor e mais meridional ilha do arquipélago japonês. À época adolescente, ela cultivou interesse por desenhos e quadrinhos nipônicos como uma válvulagg bet pagaescape para a realidade paulistana periférica que vivia.
"Era divertido e me distraía do dia a dia", diz à BBC News Brasil.
Graças a uma bolsagg bet pagaestudos por desempenho, ela estudougg bet pagaum colégio particular. À parte, estudava inglês por conta própria e, a certo ponto, decidiu procurar um cursogg bet pagajaponês. Na capital paulista, que abriga a maior colônia japonesa do mundo fora do Japão, com cercagg bet paga325 mil pessoas segundo os últimos dados disponíveis, ela encontrou apenas um curso na zona leste. Aos 17 anos, tentou se inscrever.
"Fui fazer a matrícula e me perguntaram: 'Ah, você é descendente?' Não, respondi. E eles disseram: 'Ah, mas então por que você quer estudar japonês? Infelizmente, não vai ter vaga para você, não. Melhor dar a vaga para alguém que vai aprender e usar a língua japonesa, você não vai'. Saí chorandogg bet pagalá", lembra ela, visivelmente emocionada.
De Itaquera para a USP
Em 2010, a estudante passou no vestibular para o cursogg bet pagaletras na Universidadegg bet pagaSão Paulo (USP). Na horagg bet pagaescolher a língua na qual gostariagg bet pagase especializar, não teve dúvidas: japonês. "Pela primeira vez, ninguém me questionou 'por que japonês?' Foi um momento incrível", conta.
Aos 21 anos, Marina passougg bet pagaum processo seletivo para intercâmbio na Universidadegg bet pagaMie, entre 2013 e 2014. Foi a primeira vez que viajougg bet pagaavião.
"Nunca imaginaria que, um dia, estaria no Japão. Até então, o máximo, o mais distante que tinha conseguido ir foi a USP", lembra.
Literalmente, ela frisa: não viajava e transitava principalmente pela zona leste, logo foi um salto para o campus Cidade Universitária e, depois, para o campusgg bet pagaTsu, na província japonesagg bet pagaMie.
"Minha mãe dizia: estudo é a única coisa que nós, pobres, conseguimos e que ninguém pode tirar. É o que leva a gente longe", relata. "Você pode encontrar gente que olha torto, mas você não pode ficar com medogg bet pagasair pelo mundo. Medogg bet pagapreconceito? Estou preparada, calejada."
De volta a São Paulo após a conclusão do intercâmbio, Marina se formou bacharelgg bet pagaletras, com habilitaçõesgg bet pagaportuguês e japonês, e licenciaturagg bet pagaportuguês. Fez traduções e desenvolveu estudos sobre mangás (quadrinhos japoneses), cultura pop japonesa no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No Brasil, estudou estereótipos femininos no mangágg bet pagaestilo Shōjo, voltado ao público feminino adolescente.
Depois da faculdade, foi trabalhargg bet pagauma associação cultural nikkeigg bet pagaOsasco. Nikkei quer dizer descendentesgg bet pagajaponeses nascidos fora do Japão. "Fui a primeira não-nikkei ali", diz ela, que é descendentegg bet pagaindígenas e negros.
Da USP para Tohoku
Marina se casou com Júlio César da Silva do Nascimento, 29, também graduadogg bet pagaletras na USP, também intercambista entre 2013 e 2014. Ele foi o primeirogg bet pagasua família a fazer faculdade.
Júlio conquistou uma bolsagg bet pagaestudos do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (Mext) para o programagg bet pagapós-graduaçãogg bet pagaEstudos Japoneses Globais na Universidadegg bet pagaTohoku. Ele se mudou para a cidadegg bet pagaSendai, a capital da provínciagg bet pagaMiyagi,gg bet pagaabrilgg bet paga2018. Ela, que também queria voltar a viver no Japão, escreveu a um professor, possível orientador para a pesquisa acadêmica que gostariagg bet pagarealizar.
O professor a aceitou como aluna ouvinte, o que lhe permitiu pedir o visto japonês. Ao longogg bet pagameses, organizou documentos, economizou R$ 5 mil e comprou a passagem, sógg bet pagaida. Depoisgg bet pagaum semestre como ouvinte, Marina passou no processo seletivo para o mestrado no programagg bet pagaEstudos Japoneses Contemporâneos da Universidadegg bet pagaTohoku, por coincidência, o primeiro campus do arquipélago a aceitar inscriçõesgg bet pagaestudantes estrangeiros e do sexo feminino,gg bet paga1913.
Marina conta que nunca passou situação crítica ou constrangedora por ser negra e estrangeira no Japão. Passou a dar aulasgg bet pagainglêsgg bet pagaum tipogg bet pagacursinho pré-vestibular à noite e aulasgg bet pagajaponês para crianças, filhosgg bet pagadekasseguis (descendentesgg bet pagajaponeses que migram para trabalhar temporariamente no país).
Na universidade, propôs uma pesquisa sobre feminismo japonês no século 19. "O tchan", diz ela, "foi o foco na autora Kishida Toshiko [1863-1901], uma das primeiras feministas japonesas."
A mestranda traduziu e analisou textosgg bet pagaKishida,gg bet pagaKyoto, engajada na defesa da igualdadegg bet pagagênero, inclusão e independênciagg bet pagamulheres diante dos homens no Japão. Em 1883, depoisgg bet pagarealizar um discurso público sobre a condição feminina, intitulado Daughters in boxes, Kishida foi presa, julgada e multada por fazer uma manifestação política sem autorização.
"Ela era questionadora, fazia perguntas: 'Mas quem determinou essas regras?', 'Quem disse que deve ser assim?' Tem um alinhamento forte com a teoria feminista atual, que não diz o que a gente deve ser, mas procurar pontosgg bet pagainterseccionalidade. Que mulher", diz.
Mais recentemente, Marina lançou os quadrinhos The bride of the fox, que contam a históriagg bet pagaNubia, a primogênita do reigg bet pagaum remoto arquipélago, um romance que também perpassa questões femininas. Tímida, ela conta que ficou surpresa com a repercussãogg bet pagasua história na internet e pretende emendar um doutorado. "Sempre quis ser professora, para fazer a diferença."
"Nos últimos dias, conversamos sobre o que significa estar neste momento. Educação não deve ser uma questão sógg bet pagaconquista individual, mas ter um impacto para motivar as pessoas a seguirem os estudos", diz Júlio, que já trabalhou com alfabetizaçãogg bet pagamoradoresgg bet pagarua e jovens saindo da Fundação Casa, instituição para menores infratores.
"Nós enfrentamos tantas dificuldades para estar aqui, estudar aqui. É fantástico que as pessoas olhem para alguém [como Marina] e pensem: é possível, estudar te leva longe."
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