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Bolsonaro luta para não ser culpado por 'negligência criminosa', diz especialistaditaduras latinas:
Para Peter Kornbluh, o rearranjoBolsonaro nas Forças Armadas e nos demais ministérios é uma tentativasobreviver ao que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chamou, na semana passada,"remédios conhecidos e amargos, alguns fatais", que poderiam ser adotados pelo Congresso caso a condução da pandemia não fosse alterada.
Lira se referia a um processoimpeachment. "Bolsonaro está lutando contra qualquer esforço político para responsabilizá-lo pela negligência criminosa que já levou a dezenasmilharesmortes desnecessárias e muitas milhares mais por vir", avalia Kornbluh.
Indicativoque Bolsonaro procura se defenderataques externos são os nomes que pinçou para os postos. Quase todos já estavamseu círculo mais próximo e são consideradosestrita confiança da família. O sucessorAzevedo e Silva na pasta é o general Walter Braga Netto, que até então chefiava a Casa Civil. Em seu lugar, entrou o General Luiz Eduardo Ramos, outro militar aliadolonga dataBolsonaro, que era o secretáriogoverno da Presidência, responsável pela articulação do Executivo com o Congresso.
Na vagaRamos entra a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), com a incumbêncianegociar com os colegas do centrão, da qual também faz parte. Além disso, para o lugar do chanceler Ernesto Araújo, cuja demissão era demanda explícita do Congresso, Bolsonaro também encontrou uma solução dentro do Palácio do Planalto: o embaixador Carlos Alberto França, que como cerimonialista da presidência conquistou a simpatia do mandatário.
"Obviamente, Bolsonaro está se fortalecendo contra o crescente - e justificável - descontentamento nacional comliderança", afirmou Kornbluh.
Para o especialista, é possível que além dos alertas domésticos, Bolsonaro esteja atento ao que tem acontecido com seu aliado internacional prioritário, o ex-presidente Donald Trump.
"Os ex-consultores da força-tarefa contra a covid-19Trump agora estão dizendo que suas ações negligentes, semelhantes àsBolsonaro, foram responsáveis por mais400 mil vidas perdidas nos Estados Unidos", diz Kornbluh,referência a uma entrevista à CNN dada, nesta segunda 29/3, por Deborah Birx, coordenadora da resposta contra a covid-19 na Casa Branca.
Ela afirmou que o presidente não levava a sério o problema e estimou o númerovidas que poderiam ter sido salvas se as medidas adequadas fossem tomadas.
Tanto Bolsonaro quanto Trump agiram contra medidasdistanciamento social, se recusaram ao longomeses a usar máscara, promoveram tratamentos sem eficácia cientificamente comprovada, como a hidroxicloroquina, e chamaram a doença"gripezinha".
Bolsonaro e 'a paixão pela era da ditadura militar'
Com a ressalvaque não tem conhecimento suficiente sobre o Exército brasileiro para afirmar que poderia haver alguma tentativagolpe agora, Peter Kornbluh vê com preocupação os movimentosrelação às Forças Armadas e o históricoopiniões do presidente sobre o assunto.
"Bolsonaro nunca escondeupaixão pela era da ditadura militar e suas próprias tendências autocráticas", afirmou.
Durante a campanha presidencial,2018, Bolsonaro afirmou que seu livrocabeceira era "Verdade Sufocada", do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos militares acusadostortura e assassinatos ao longo da ditadura. Em julho2016,uma entrevista à rádio Jovem Pan, ele afirmou: "O erro da ditadura foi torturar e não matar".
Autorlivros referência na área como O Arquivo Pinochet: Um Dossiê revelado sobre atrocidades e responsabilidades, sobre a ditadura militar chilena, e Por baixo dos panosCuba: A história secreta das negociações entre Havana e Washington, sobre o regime socialistaCuba erelação com os EUA, Kornbluh se mostra cético sobre as possibilidadessucessoBolsonaroseu movimento político, qualquer que sejam suas intenções por trás dele. Isso porque o númerovítimas da covid-19 apenas aumenta e deve seguir pressionando os políticos e a sociedade a demandarem respostas do Executivo. Nesta terça, 30/3, o país atingiu um novo recorde: 3.780 mortes24 horas.
"Tanto o povo brasileiro quanto os militares, como instituição, bem sabem que um regime liderado por Bolsonaro não pode protegê-los do inimigo invisível que assola o Brasil: o coronavírus".
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