Por que a covid-19 pode se tornar endêmica no Brasil, como dengue e gripe:pay4fun betano

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Com controle precário e vacinação lenta, é possível que país conviva com o coronavírus por muito tempo ainda

O médico Plínio Trabasso, da Faculdadepay4fun betanoCiências Médicas (FCM) da Unicamp, também prevê que a epidemiapay4fun betanocovid-19 no Brasil vai longe, principalmente porque a vacinação não está sendo feitapay4fun betanomaneira maciça, ampla e simultânea.

Desse modo, ainda há um grande contingentepay4fun betanopessoas suscetíveis à doençapay4fun betanocirculação. "Para um controle mais rápido, é necessário que mais pessoas (idealmente todos os acimapay4fun betano18 anos) sejam vacinadas logo", diz. "Isso cria uma barreira imunológica à disseminação do vírus."

Crédito, Joao Paulo Burini/Getty Images

Legenda da foto, O mosquito Aedes aegypti é o principal transmissorpay4fun betanodengue, zika e chikungunyapay4fun betanoregiões urbanas do Brasil

De acordo com Trabasso, além da vacinação, é preciso testagempay4fun betanomassa, para identificar os potenciais transmissores e colocá-lospay4fun betanoquarentena, e mais distanciamento social. "São as maneiras mais eficazespay4fun betanoconter a propagação da covid-19", explica. "Claro que a higiene das mãos e o usopay4fun betanomáscara também são importantes, mas são medidas individuais, enquanto que a imunização e aplicação dos testes são açõespay4fun betanoEstado."

A ausênciapay4fun betanouma vigilância epidemiológica efetiva é outro aspecto problemático e preocupante da pandemia no país. "O Brasil tem recursos financeiros e profissionais capacitados para desenvolver um processo eficientepay4fun betanoidentificaçãopay4fun betanocasos, por meiopay4fun betanotestagem e busca ativa, e quarentena para todos os infectados, com apoio financeiro que garanta que a população não perca renda", diz a médica sanitarista Mariapay4fun betanoFátima Silianskypay4fun betanoAndreazzi, professorapay4fun betanoEconomia Política da Saúde da Universidade Federal do Riopay4fun betanoJaneiro (UFRJ).

Ela diz que na Europa, caso alguém seja identificado com covid-19 num avião, por exemplo, vai-se atrás dos que estavam próximos, testam-se e isolam-se todos os passageiros. "No Brasil, no casopay4fun betanoManaus, com a nova cepa identificada, não se interromperam os voos e mais, o Ministério da Saúde levou doentes infectados para outros Estados", critica.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, De acordo com Fredi Alexander Diaz Quijano, da USP, efeito que vacinas terão na redução da transmissão é incerto, mas evidências indiretas sugerem que não eliminará totalmente covid-19

O problema é que mesmo com a vacinação, o novo coronavírus não deverá desaparecer, ao contrário do que ocorreu o Sars-Cov-1, que causou a epidemiapay4fun betanoSars. "Algumas vacinas estão mostrando uma excelente proteção para prevenir formas gravespay4fun betanocovid-19 (a maioria, maispay4fun betano90%). No entanto,pay4fun betanoalgumas pessoas elas não conseguem impedir a infeção e,pay4fun betanomuitos casos, a apariçãopay4fun betanosintomas", explica o médico Fredi Alexander Diaz Quijano, do Departamentopay4fun betanoEpidemiologia, Faculdadepay4fun betanoSaúde Pública da Universidadepay4fun betanoSão Paulo (FSP-USP).

De acordo com ele, o efeito que as vacinas terão na redução da transmissão é incerto, mas evidências indiretas sugerem que não eliminará totalmente a covid-19. Um dos motivos disso é que novas variantes podem eventualmente conseguir escapar das vacinas - e talvez precisemos nos imunizar contra o coronavírus com a mesma frequência com que nos imunizamos contra a gripe, por exemplo.

Por tudo isso, é muito provável que o vírus continue circulando. "Não causará doença grave na grande maioria das pessoas vacinadas, mas existindo grupos suscetíveis que não tenham sido imunizados (por qualquer motivo), ainda haverá riscopay4fun betanosurtospay4fun betanocasos graves e mortes."

Em outras palavras, a covid-19 poderá ser tornar endêmica, como a aids, dengue, gripe, malária e tuberculose, por exemplo. "Endemias correspondem a situaçõespay4fun betanoque a incidência da doença não é tão elevada, mas que dura muito tempo, podendo sofrer variações sazonais, relacionadas às estações do ano, por exemplo", explica o médico Marcelopay4fun betanoCarvalho Ramos, professor titularpay4fun betanoInfectologia da FCM da Unicamp.

Crédito, Science Photo Library

Legenda da foto, Para entrar na célula, o vírus SARS-CoV-2 se liga a uma molécula presente na superfície da célula (seu receptor)

Mas por que algumas doenças se tornam endêmicas e outras, não?

"Uma enfermidade infecciosa endêmica é aquela que conseguiu um certo equilíbrio napay4fun betanotaxapay4fun betanoreprodução", responde Quijano. "Isto é, quando cada pessoa contaminada passa essa condição para (em média) uma outra. É o que se conhece como número reprodutivo efetivo (R), que é a médiapay4fun betanonovos infectados que alguém com o vírus produz diretamente. Em outras palavras, no caso das endemias o valorpay4fun betanoR permanece próximopay4fun betano1."

Quando esse número é superior a 1, então a doença progride rapidamente e causa surtos (ou até grandes epidemias), como é o caso da covid-9, cuja estimativa do R, no início da pandemia, era 3. "Se esse valor é muito superior a 1 (por exemplo, maior que 10) ela se espalha depressa, às vezes tão rápido que se acabam rapidamente as pessoas suscetíveis a ela", explica. " Por outra parte, valorespay4fun betanoR inferiores a 1 conduzem a que o númeropay4fun betanocasos progressivamente diminua, levando eventualmente à eliminação da doença numa comunidade."

Foi o que aconteceu com a Sars: o vírus Sars-Cov-1 não adquiriu essa capacidadepay4fun betanose perpetuar. O novo coronavírus já obteve esse salto evolutivo, no entanto. É por isso, que os especialistas acham que a covid-19 se tornará endêmica.

"O Sars-Cov-2 já se mostrou capazpay4fun betanosofrer mutações, como demonstram as variante do Reino Unido, da África do Sul e do Amazonas", diz Trabasso. "Algumas delas, ou outras que surgirão, podem fazer com que haja escape do vírus à imunidade adquirida, seja pelo contato com a variante 'selvagem' seja por meio da vacinação."

Segundo ele, esses mutantes poderão causar microssurtos, até que nova vacina surja e novo contingente populacional desenvolva imunidade suficiente, para criar uma nova barreira imunológica. E assim por diante.

"É o que ocorre com a influenza, por exemplo", explica Trabasso. "Todos os anos, a população tem que ser vacinada, porque podem ocorrer mutações no vírus e a imunidade adquirida pela infecção ou vacinaçãopay4fun betanoanos anteriores não garante proteção contra a variante presente naquele ano. Assim deve se comportar o novo coronavírus daqui por diante."

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Sem açõespay4fun betanoprevenção coletiva, como o usopay4fun betanomáscaras, distanciamento social e higiene pessoal, somente a vacina não será capazpay4fun betanointerromper a transmissão

Werneck acrescenta outros aspectos que podem levar a covid-19 a permanecer ainda por muito tempo entre os humanos. De acordo com ele, circulação do vírus só poderia ser interrompida com níveis altospay4fun betanoimunidade na população.

"Ocorre que nosso conhecimento sobre imunidade ao novo coronavírus é ainda precário, particularmente sobre a duração dela conferida pela infecção ou pela vacina", explica. "Ao mesmo tempo, o que se sabe sobre a eficácia das vacinas disponíveis, até o momento, é que elas não fornecem proteção efetiva contra a infecção, mas sim para o desenvolvimentopay4fun betanoformas clinicas e graves da doença."

Ou seja, são imunizantes que protegem as pessoas, porque evitam que elas desenvolvam sintomas e formas severas da covid-19, mas não impedem que se infectem e, eventualmente transmitam a infecção.

"Além disso, as vacinas utilizadas no Brasil (até o momento, apay4fun betanoOxford-AstraZeneca e CoronaVac) têm efetividade da ordempay4fun betanocercapay4fun betano70% mais ou menos, ou seja, têm boa eficácia, mas não nos níveis ideais", diz Werneck. "Assim, mesmo com cobertura vacinal alta, ainda poderemos ter transmissão."

Isso significa que, sem açõespay4fun betanoprevenção coletiva, como o usopay4fun betanomáscaras, distanciamento social e higiene pessoal, somente a vacina não será capazpay4fun betanointerromper a transmissão. "Junte todos esses problemas num contextopay4fun betanoque faltam vacinas e que uma alta cobertura vacinal da população ainda vai demorar", acrescenta Werneck.

"Estamos, então,pay4fun betanocondições propícias para permitir a circulação do vírus e o aparecimentopay4fun betanonovas variantes, tudo contribuindo para a permanência da infecção entre nóspay4fun betanoforma endêmica."

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