Reinfecção por covid-19: doença leve pode dar 'falsa segurança' sem garantir imunidade, alerta cientista da Fiocruz:asa casino

Em dois destes casos, os pesquisadores confirmaram por meioasa casinoexames genéticosasa casinoamostras do vírus coletadas nas duas ocasiões que se tratavamasa casinoduas variantes diferentes do Sars-CoV-2.

Nos outros dois, não havia restado amostras da primeira infecção, mas os cientistas dizem ser difícil não se tratarasa casinocasosasa casinoreinfecção com baseasa casinocritérios clínicos e epidemiológicos.

Os cientistas investigaram, então, por que os quatro pacientes voltaram a se infectar pelo coronavírus e concluíram a partirasa casinouma análiseasa casinoanticorpos que seus organismos não criaram uma memória imunológica após a primeira infecção.

Por isso, eles continuaram vulneráveis ao coronavírus e acabaram se contaminandoasa casinonovo.

"Isso é um sinalasa casinoalerta para as pessoas que podem ter uma falsa percepçãoasa casinosegurança após ter uma covid-19 branda na primeira onda ou no começo desta segunda onda que estamos vendo no Brasil e no mundo", diz Moreno à BBC News Brasil.

A pesquisa foi publicada no periódico Social Science Research Network e ainda não foi revisada por outros cientistas.

Como as reinfecções foram confirmadas

Ainda não existem dados suficientesasa casinonível global para entender o quão frequente é a reinfecção.

A agênciaasa casinonotícias holandesa BNO News está monitorando o assunto e apontavaasa casino24asa casinodezembro que havia 30 casos confirmados no mundo, dois deles no Brasil, e 2.290 sob suspeita.

De acordo com o Ministério da Saúde, até a última segunda-feira (21/12), havia no Brasil 58 casos suspeitosasa casinoanálise.

Uma dificuldade para confirmar estes casos é ter amostrasasa casinoum mesmo pacienteasa casinoambas as infecções para poder fazer o sequenciamento genético dos vírusasa casinocada ocasião para atestar que são cepas diferentes.

Isso prova que não se trataasa casinouma infecção persistente,asa casinoque um mesmo vírus voltou a se multiplicar depoisasa casinoum tempo. Mas sem isso é mais difícil comprovar a reinfecção, e esse foi um problema enfrentado por Moreno emasa casinopesquisa.

Foi possível comprovar a reinfecçãoasa casinodois dos casos, a mulherasa casinomeia idade e seu genro, porque exames genéticos mostraram que se tratavamasa casinocepas diferentes.

Mas não havia amostras da primeira infecção para dois dos pacientes: o homemasa casinomeia idade e a filha do casal. Mesmo assim, eles foram considerados casosasa casinoreinfecção por alguns motivos.

No primeiro caso, a mulherasa casinomeia idade estava isolada emasa casinocasa e pegou na primeira vez uma variante do coronavirus que chegou ao Brasil por meioasa casinoviajantes.

Seu marido havia entradoasa casinocontato com os pesquisadores para ser testado porque achava que tinha sido infectado por um colegaasa casinotrabalho que havia viajado ao exterior.

Os cientistas concluíram então que só o homemasa casinomeia idade poderia ter passado o coronavírus paraasa casinoparceira.

E, na segunda infecção, os dois pacientes pegaram uma cepa diferente da que foi identificada pelo exame genético do vírus que infectou a mulher da primeira vez.

O segundo caso foi considerado uma reinfecção porasa casinoligação com os outros, explica Moreno.

"É difícil olhar para casosasa casinocontatos domésticosasa casinoque dois se reinfectaramasa casinomaneira totalmente documentada e olhar para os outros dois e desconsiderar porque não tinha amostra da primeira infecção."

O que a análiseasa casinoanticorpos revelou

A partir desta constatação, os cientistas partiram para investigar por que estes pacientes ficaram doentesasa casinonovo. Eles encontraram uma respostaasa casinouma análise dos anticorpos que existiam no organismo dos quatro.

"O que nos surpreendeu foi perceber que, depois da primeira infecção, eles não tinham um nível suficienteasa casinoanticorpos do tipo neutralizante", diz Moreno.

Esse tipoasa casinoanticorpo impede que nossas células sejam infectadas pelo coronavírus e é produzido por um dos dois tiposasa casinoresposta imunológica.

A primeira é a chamada resposta imune inata, uma primeira linhaasa casinodefesa que envolve células genéricas que entramasa casinoação ao detectar um invasor. Às vezes, isso basta para acabar com a ameaça.

Porasa casinovez, a resposta imune adaptativa é aquela que o organismo desenvolve especificamente contra um vírus ou bactéria.

Ela envolve a produçãoasa casinoanticorpos e,asa casinoalgum momento, uma memória imunológica que vai permitir que o nosso organismo nos protejaasa casinoum mesmo patógeno quando formos infectados novamente.

Mas ela leva alguns dias para ser desenvolvida e é produzida quando a doença é mais grave e duradoura.

Os cientistas acreditam que uma covid-19 leve,asa casinoque a pessoa fica menos tempo doente, não dá tempoasa casinogerar uma resposta imune adaptativa, que gera os anticorpos neutralizantes.

Os quatro pacientes do estudo terem poucos anticorpos neutralizantes é uma "prova inequívoca", diz Moreno,asa casinoque eles não desenvolveram uma memória imunológica depois da primeira infecção.

"Eles tiveram uma resposta imune inata muito forte no primeiro episódio e controlaram a infecção. Isso não foi suficiente para desencadear os mecanismos da memória imune gerada pela resposta adaptativa. Isso só foi alcançado depois da segunda infecção, quando detectamos um aumento dos anticorpos neutralizantes", explica o cientista.

'Exame sorológico positivo não é passaporteasa casinoimunidade'

Isso mostra que muitos podem estar equivocados ao pensar que está tudo bem se já tiveram covid-19. "Não está tudo bem, especialmente se foi um caso brando ou muito leve, quase assintomático ou assintomático", diz Moreno.

O cientista alerta que mesmo quem fez um exame sorológico que apontou a presençaasa casinoanticorpos contra a covid-19asa casinoseu sangue não pode se descuidar.

Ele diz que a qualidade destes exames é baixa por enquanto. Os testes sorológicos para o novo coronavírus são recentes e ainda não têm uma precisão ideal.

Por isso, podem falhar ao, por exemplo, identificar erroneamente os anticorpos para outras doenças como se fossem os anticorpos contra o Sars-CoV-2.

Ou podem ainda apontar corretamente a presençaasa casinoanticorpos contra o novo coronavírus, mas estes anticorpos podem não ser neutralizantes. Para descobrir isso, é preciso uma análise mais complexa que não é feita pelos laboratórios comerciais.

"Um exame sorológico positivo não é um passaporteasa casinoimunidade", adverte Moreno.

Como essa descoberta influencia a vacina?

A boa notícia é que essa pesquisa também indica que uma vacina para covid-19 deve ser baseadaasa casinoduas doses, e já é assim com muitos dos imunizantes que estão sendo pesquisados (e com todos que já tiveramasa casinoeficácia atestada até agora).

Mas o pesquisador da Fiocruz diz que ainda precisa ser melhor investigado o intervalo ideal entre a primeira e a segunda dose.

Além disso, ele defende que os esforços científicos a partirasa casinoagora devem se concentrarasa casinoentender o quão comum é a reinfecçãoasa casinocovid-19.

"Não temos mais que provar se a reinfecção existe ou não, porque já temos um número razoávelasa casinocasos documentados com todo o rigor científico. Temos que saber qual é a frequência na populaçãoasa casinogeral porque isso é importante para fazer a gestão das políticasasa casinosaúde pública."

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