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Em meio a eleições e pandemia, o esforço para dar mais espaços (seguros) às crianças nas cidades brasileiras:poker offline pc
Em última instância, argumentam urbanistas, as cidades se tornam mais inóspitas para todos.
O tema, embora não costume despertar muita atenção nem mesmopoker offline pcépocapoker offline pceleições municipais, ganha nova relevância por conta da pandemia, que aumentou a preocupaçãopoker offline pccomo garantir espaços seguros ao ar livre, onde as chancespoker offline pccontaminação são menores do quepoker offline pclocais fechados.
Ruas adotadas
No ano passado, 12 ruaspoker offline pcseis bairros na região periféricapoker offline pcParelheiros, também no extremo sulpoker offline pcSão Paulo, foram ocupadas por pinturas no asfalto, jogos e atividades extras (como apresentaçõespoker offline pcteatro e campanhaspoker offline pcvacinação). Os mais velhos acompanhavam tudo sentadospoker offline pccadeiras dobráveis colocadas nas ruas.
Nos diaspoker offline pcsemana, as escolaspoker offline pceducação infantil passaram a usar as próprias ruas como espaçopoker offline pcensino, levando as crianças pequenas para brincar na natureza e fazer atividade física.
O projeto, batizadopoker offline pcRuas Adotadas, foi encampado pelas próprias mãespoker offline pcParelheiros: a comunidade escolhia ruas para serem sinalizadas (de forma a limitar a circulação dos carros) e transformadaspoker offline pcespaçospoker offline pcconvivência.
"A ideia époker offline pcque a rua é perigosa, mas não, a rua é da comunidade", diz à BBC News Brasil Vera Lion, coordenadora do Instituto Brasileiropoker offline pcEstudos e Apoio Comunitário (Ibeac), que abriga o projeto encampado pelas Mães Mobilizadoraspoker offline pcParelheiros.
"Fez uma superdiferença na comunidade. Teve muito essa coisapoker offline pcrecuperar (o espírito de) criança nos adultos. Nas nossas reuniõespoker offline pcagora, muitos falam, 'que saudades da rua adotada'."
O projeto pretendia adotar mais ruaspoker offline pc2020, mas foi suspenso por causa da pandemia. Ainda não há previsão para a retomada, embora haja expectativaspoker offline pcfazê-lopoker offline pc2021.
"Por enquanto temos evitado coisas com grupos maiores, porque controlar as crianças é superdifícil", prossegue Lion. "E não foi fácil fazer o isolamento social na periferia, até por causa do tamanho das casas. Então por enquanto não queremos estimular aglomerações."
O projeto, mesmo que paralisado, é partepoker offline pcum grupopoker offline pciniciativas que tentam unir comunidades, entidades privadas e poder público para criar mais espaços abertos, coloridos e comunitários, inclusive pensando no pós-pandemia.
"A crise da covid-19 trouxe a necessidadepoker offline pcrepensar a utilização dos espaços públicos e as diferentes formaspoker offline pcse locomover pela cidade", afirma o Institutopoker offline pcPolíticaspoker offline pcTransporte e Desenvolvimento (ITDP), que promove as chamadas "práticaspoker offline pcurbanismo tático" — as quais, à semelhança do projetopoker offline pcParelheiros, limitam a circulaçãopoker offline pccarros (ou forçam a reduçãopoker offline pcvelocidade)poker offline pcdeterminadas ruas, promovem o alargamentopoker offline pccalçadas e, com tinta no chão, "dedicam espaços para os pedestres e ciclistas se deslocarem pelas cidades".
O ITDP cita o caso da Nova Zelândia, onde o governo anunciou, dentro das medidaspoker offline pccombate à covid-19, 72 iniciativaspoker offline pcurbanismo tático para até junhopoker offline pc2021, com objetivopoker offline pc"reduzir o trânsito e criar ambientes mais agradáveis para adultos e crianças andarem, pedalarem e brincarem (...) e deixar nossos distritos comerciais mais vibrantes".
No Brasil, já existem experiências com o urbanismo tático. Um exemplo vempoker offline pcBelo Horizonte, onde o ITDP implementou,poker offline pc2019, com a Empresapoker offline pcTransporte e Trânsito da cidade, uma intervenção temporária para reduzir a velocidade dos veículos e aumentar a segurançapoker offline pcpedestrespoker offline pcCachoeirinha, um bairro que concentra três escolas.
O desafio, nesses casos, é tirar ganhos permanentespoker offline pcintervenções temporárias.
Em São Paulo, uma ação do tipo transformoupoker offline pc2019 a ruapoker offline pcfrente a uma escolapoker offline pcItaquera (zona leste), onde a travessia a pé era insegura, ampliando a calçada e criando uma nova rotatória, ilha para pedestres e mudando a direçãopoker offline pcruas próximas, dentropoker offline pcum projeto piloto do programa Rota Escolar Segura.
Medição realizada pela Companhiapoker offline pcEngenhariapoker offline pcTráfego (CET) aponta que, desde então, diminuiu a velocidade média dos carros que passam por ali e aumentou a quantidadepoker offline pcpedestres que atravessam apenas nas faixas corretas. A sensaçãopoker offline pcsegurança dos pedestres aumentoupoker offline pc20% a 30%, a depender do ponto da travessia, para 80% a 90%.
No entanto, os desenhos lúdicos que coloriam a ruapoker offline pcfrente à escola foram se desgastando e desaparecendo com o tempo, conta à BBC News Brasil o líder comunitário local Eduardo Mello, que reivindicapoker offline pcmanutenção. "Muito pouco da pintura sobrou. Foi bom enquanto durou."
A assessoria da CET informou que está elaborando um projeto para "a revitalização da sinalização horizontal".
'Cidade sob a ótica das crianças'
"O temporário é uma estratégia para chegar no longo prazo, (...) para as pessoas pressionarem para que (iniciativas do tipo) sejam implantadaspoker offline pcforma definitiva", diz à reportagem Laís Fleury, coordenadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana,poker offline pcdefesa dos direitos da infância.
"Mudar, planejar e viver a cidade sob a ótica e necessidade das crianças é uma quebrapoker offline pcparadigma. Há inclusive uma inversãopoker offline pcprioridades. É deixarpoker offline pcinvestirpoker offline pcuma cidade para se passarpoker offline pccarro epoker offline pcespaços privados, e investirpoker offline pcum desenhopoker offline pccidade que seja voltado mais para as pessoas, que valoriza os espaços públicos e a caminhabilidade."
A organização recém-lançou no Brasil o livro gratuitoCidades Para Brincar e Sentar, relatando a experiênciapoker offline pcGriesheim, um pequeno município alemão que ganhou fama como "cidade para brincar" depoispoker offline pcimplementar intervenções urbanísticas simples — desde pontos coloridos no chão até barras para subir ou pular instaladas nas calçadas — que enriqueciam e tornavam mais seguro o trajeto das crianças.
De quebra, as intervenções serviam para idosos e mães com criançaspoker offline pccolo descansarem e se apoiarem e para orientar visualmente motoristas a reduzir a velocidade.
"Isso traz sensaçãopoker offline pcliberdade e aventura, algo por que as crianças anseiam", diz Fleury. No âmbito da pandemia, "quando pensamos no espaço público, temos mais espaço e arejamento. Junto com os cuidadospoker offline pcmáscara e distanciamento social, (esses locais) são um bom antídoto."
A ideiapoker offline pcGrisheim partepoker offline pcum pressuposto que já é aplicadopoker offline pcprojetos que começam a avançar no Brasil,poker offline pcprojetar ações literalmente sob a perspectiva infantil. É o motepoker offline pcuma iniciativa internacional chamada Urban95, que convida gestores a tentar enxergar a cidade a partirpoker offline pcuma alturapoker offline pc95 cm, que é a altura médiapoker offline pcuma criançapoker offline pc3 anos.
No Brasil, três cidades — Boa Vista, Recife e São Paulo — fazem parte do projeto desde o início, e outras 11 (Jundiaí-SP, Fortaleza-CE, Aracaju-SE, Campinas-SP, Ilhéus-BA, Niterói-RJ, Crato-CE, Pelotas-RS, Ubiratã-PR e Brasileia-AC) passaram a participar neste ano.
"É bom lembrar que 65% das crianças pequenas do Brasil estão fora da creche. Então o espaçopoker offline pcdesenvolvimento delas é justamente na cidade — acompanhando a mãe na farmácia, indo para a casa da avó ou brincando na rua", afirma Claudia Vidigal, representante no Brasil da fundação holandesa Bernard Van Leer, que cofinancia os projetos da Urban95 e dá consultoria a gestores públicospoker offline pccomo, por exemplo, incluir as necessidades da primeira infânciapoker offline pcsuas obraspoker offline pcinfraestrutura.
Outro eixo é facilitar o trânsito das crianças aos serviços básicos da cidade, como escolas e postospoker offline pcsaúde. "A ideia é pensarpoker offline pcforma intersetorial: no caminho para o serviço público, a criança tem algo lúdico, uma árvore, um banco?", explica Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, que participa dos projetos junto à Bernard Van Leer.
A continuidade dos projetospoker offline pcmeio a trocaspoker offline pcgestão é um desafio, diz Vidigal, mas no Urban95 as estratégias têm sido conduzidas por servidores municipaispoker offline pccarreira com os nomeados, "para que a agenda seja mantida" mesmo se houver mudançaspoker offline pcprefeitos.
De modo geral, porém, nem todas as propostas sobrevivem a cada período eleitoral. De volta ao Jardim Ângela, que abre esta reportagem, após as entrevistas com as crianças, foi elaborado um concurso para projetar intervenções urbanísticas que melhorassem e deixassem mais seguro o trajeto delas pelo bairro.
O projeto vencedor previa mudanças nas escadarias dos bairros, para transformá-laspoker offline pcpassagens mais acessíveis e aprazíveis para as crianças e para a comunidade, diminuindo os riscospoker offline pcatropelamento.
No entanto, o projeto, mesmo tendo sido doado à cidade, ficou parado com duas sucessivas trocaspoker offline pcgestão:poker offline pcFernando Haddad (PT) para João Doria e deste para Bruno Covas (ambos do PSDB).
"Depois da doação, conversamos com técnicos da prefeitura, mas o projeto ainda não se realizou. Assim, seguimospoker offline pccontato com a prefeitura procurando dar continuidade nesse tipopoker offline pciniciativa", diz o Estúdio Mais Um, escritóriopoker offline pcarquitetura responsável pela propostapoker offline pcintervenção.
Consultada pela BBC News Brasil, a Secretaria Municipalpoker offline pcDesenvolvimento Urbano afirma que o projeto não chegou ao conhecimento da atual gestão.
Em contrapartida, o órgão cita mais dois programas do tipopoker offline pcandamento na cidade: umpoker offline pcurbanismo socialpoker offline pcregiões vulneráveis e o Territórios Educadores, que implementa,poker offline pcáreas da periferia paulistana, intervençõespoker offline pcsegurança viária e requalificação do espaço público (por exemplo, bancos que sirvam tanto para crianças pequenas brincarem quanto para mãespoker offline pcbebês descansarem e trocarem fraldas), dentro da Política Municipal Integradapoker offline pcPrimeira Infância.
Ao mesmo tempo, diantepoker offline pctantos problemas estruturais nas cidades,poker offline pccalçadas intransitáveis à faltapoker offline pcsaneamento, por que priorizar ações do tipo?
Para Laís Fleury, do Alana, "não tem um problema mais importante do que o outro. O direito à cidade e à natureza é tão importante quanto os demais".
"Se olhamos sempre pela lógica da privação, não vamos ter direito a nada na cidade", argumenta.
"As cidades têm muitas áreas ociosas, como esquinas e locais que com restospoker offline pcobras, que podem ser ressignificados como espaçospoker offline pcconvivência e lazer a um baixo custo. Precisaremospoker offline pcmais espaços com árvores,poker offline pcespaços que tenham participação dos moradores, que sirvam para a desconexão, para a contemplação e como alternativaspoker offline pclazer."
Outro ponto levantado por especialistas é que investimentopoker offline pcpequena escalapoker offline pcqualidadepoker offline pcvida para crianças pequenas tem o potencialpoker offline pcoferecer substanciais ganhospoker offline pclongo prazo a cidades e países, ao aumentar as chancespoker offline pcprodutividade futura dos cidadãos, melhorarpoker offline pcqualidadepoker offline pcvida e reduzir custos com saúde, por exemplo.
Em tempospoker offline pceleições municipais, porém,poker offline pcmuitas cidades do país a infância não costuma ser um público-alvopoker offline pcpropostas políticas para além da construçãopoker offline pccreches, aponta Carolina Guimarães.
Nem todos os gestores, diz ela, "estão muito atentos a ver a cidade como um laboratório ou a pensar na política públicapoker offline pcreduçãopoker offline pcriscos epoker offline pccustos a longo prazo".
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